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:: 14/fev/2018 . 23:14

VITÓRIA DO SAMBA DE PROTESTO

Carlos Albán González – jornalista

“Meu Deus! Meu Deus!

Se eu chorar não leve a mal

Pela luz do candeeiro

Liberte o cativeiro social”

Versos do samba enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, cantado com emoção e acompanhado dos gritos de “Fora, Temer”, pelo público das arquibancadas, no Sambódromo do Rio, durante a passagem da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, vice-campeã de 2018.

Tomei emprestado os versos dos compositores da escola Cláudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal, para ilustrar o meu comentário sobre seu oportuno artigo “Misturas de protestos, alegrias e tristezas”, publicado hoje no blog “aestrada”.

Como não se via desde os últimos anos da ditadura militar, as agremiações carnavalescas do Rio e São Paulo aproveitaram as crises nos modelos social, político e religioso do Brasil para levar seus protestos, através de alegorias, alas de passistas, samba enredo, fantasias e carros alegóricos.

Enredos batizados de “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, levado à avenida pela “Beija-Flor de Nilópolis”, campeã do desfile deste ano; versos como “Pecado é não brincar o Carnaval”, “Oh! Pátria amada, por onde andas/ seus filhos já não aguentam mais”. “Me chamas de irmão/ e me abandonas ao léu/ troca um pedaço de pão/ por um pedaço de céu”, reforçaram os clamores contra a corrupção, o desgoverno, a intolerância, o desrespeito, a violência, o desprezo ao menor abandonado, ao trabalho escravo, aos desempregados, às vítimas da seca no Nordeste, à desigualdade social, aos moradores de rua e às reformas trabalhista e da Previdência.

O bloco das ratazanas, de terno e gravata, carregando malas de dinheiro e dólares dentro das cuecas, se reportaram aos políticos, frequentadores da Casa de Mãe Joana (as casas legislativas do país); lobos em pele de cordeiro representavam magistrados corruptos. Destaques, respectivamente, das escolas “Beija-Flor de Nilópolis” e “Mangueira” e “Paraíso de Tuiuti”, o presidente Michel Temer, como um perfeito vampiro, com dólares presos na roupa, e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, dependurado com uma corda no pescoço, no papel de traidor do Carnaval carioca, por ter reduzido, como evangélico, as verbas das escolas de samba.

 

“DEUSES, TÚMULOS E SÁBIOS” (FINAL)

CIVILIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA DECAPITADAS POR AVENTUREIROS (Fernando Cortês / Montezuma II)

Final do século XV e início do século XVI. Era a época dos grandes conquistadores da Europa cristã, da inquisição. Como diz o autor do livro “Deuses, Túmulos e Sábios”, C.W.Ceram, um capítulo da história “tinto pelo vermelho do fogo e do sangue, recoberto de capuzes fradescos, demarcado pela espada.” Toda uma civilização foi decapitada por aventureiros sanguinários e cruéis.

Em viagem para a Índia (1492), o capitão genovês Cristóvão Colombo descobriu, na Costa da América Central, as ilhas Guanahani, Cuba e Haiti. Em viagens posteriores, Guadalupe, Dominica e Puerto Rico. Na mesma época, Vasco da Gama encontrou o mais próximo caminho para a Índia. Hojeda, Vespúcio e Fernão de Magalhães exploraram a costa sul do Novo Mundo.

Pedro Alves Cabral aqui chegou ao Brasil em 1500. Pizarro e Almagro invadiram o império dos incas, no atual Peru. O Novo Mundo guardava riquezas incalculáveis como nova fonte de comércio e como tesouro para saquear. Os conquistadores iam por conta de Fernando e Isabel, de Carlos V e do Papa Alexandre VI, o Bórgia, que em 1493 dividiu o mundo entre Portugal e Espanha. Os exploradores iam por conta da sua Majestade Apostólica, sob a bandeira da Virgem Maria contra os “pagãos”.

No dia 8 de novembro de 1519 o aventureiro Fernando Cortês com 400 espanhóis e seis mil nativos Tlascaltecos pisou no México, capital do Império Asteca. Com pompa, tapetes de algodão, com seus servos e ornado de ouro da cabeça até nas sandálias, foi recebido por Montezuma II.

O repórter e historiador Bernal Diaz que acompanhou o conquistador escreveu a respeito do acontecimento inédito dizendo que nunca se esqueceu daquele espetáculo. “Está na minha memória como se fosse ontem. Foram duas épocas que se encontraram”.

Um ano depois Montezuma II estava morto e a cidade destruída. Sobre o fato, escreveu o filósofo Spengler, de que “este é o único exemplo de uma civilização que teve morte violenta. Não definhou, não foi sufocada ou detida em uma marcha de progresso. Foi assassinada em plena floração do seu desenvolvimento, destruída como um girassol cuja flor é cortada por um homem que passa”.

Dezessete anos antes de ter partido para a conquista do México, ávido por conferir as notícias que circulavam sobre aquele reino, Cortês, com 18 anos desembarcou em Hispaniola. O escrivão do governador lhe recomendou que fosse cultivar as terras. Cortês respondeu que tinha vindo ao Novo Mundo para juntar dinheiro, e não lavrar campos.

Com 24 anos o aventureiro tomou parte, sob o comando de Velasquez, na conquista de Cuba. Lá foi preso por ter ficado ao lado do adversário do governador. Depois de fugir por duas vezes do cárcere, se reconciliou com mandatário. Foi enviado para uma fazenda. Criou gado, explorou minas de ouro e economizou 3.000 castelhanos.

Na época, o bispo de Las Casas, defensor dos índios, quando o conheceu falou a seu respeito de que só Deus sabia que ele acumulou vultosa quantia à custa do sacrifício de muitos nativos. Com ajuda de Velasquez, armou uma esquadra no intuito de partir para a lendária terra do México.

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MISTURAS DE PROTESTOS, ALEGRIAS E TRISTEZAS

Protestos nos sambódromos do Rio e São Paulo, muita curtição de um lado e violência do outro, sinais de revolta de um povo com prenuncio de convulsão social e a mistura do profano com o religioso. Mais um carnaval, como sempre com suas marcas contraditórias, mas que deixou o seu grito de explosão contra os desmandos dos políticos e governantes.

Muitas escolas com seus enredos levaram o protesto para o asfalto do samba no Rio de Janeiro, enquanto noutro asfalto, pouco distante dali, foi a violência que derramou o sangue de muitas pessoas e deixou centenas em estado de pânico e medo. Uns rindo e pulando com suas fantasias, outros chorando a morte de seus parentes e amigos. Uns curtindo e outros lamentando. Uma mostra de falta de sentimentos, de coletividade.

Com ironias e tudo, na quarta-feira da ressaca todos retornam para as realidades de suas vidas num país em crise de ética e de moral. Muitos cheios de dinheiro que ganharam nas festas e outros ainda mais pobres porque gastaram o pouco que tinham, Uns alegres e outros tristes numa mistura de prazer, de vazio e nostalgia. As críticas políticas fizeram a diferença num demonstração de descontentamento e de revolta.

Carnaval é euforia, revelações de personalidades, extravasamento, fanatismo, mentira, ilusão de prazer, foco de doenças, alienação, sensação de poder e até mistura do profano com o religioso onde mais se usa o nome de Deus em vão. Os cantores de axé enchem a boca para em nome de Deus agradecer por estar ali dando alegria aos foliões. Até parece que eles estão cantando e tocando de graça. E o cachê?

Com fé em Deus vamos ser campeões. Ganhamos, graças a Deus! São dizeres dos diretores das escolas de samba quando saem vitoriosos. Não sabia que Deus também se mete nesse meio e é torcedor de agremiação sambista. Quem perdeu foi porque Deus torceu contra e assim quis.

Na contagem dos pontos, o que mais se vê é gente rezando de terço na mão. Fazem promessas e apelam para tudo quanto é santo. Aliás, não é somente no carnaval que metem Deus no meio para tomar partido. O nome Dele está no futebol, em apostas, em jogos de azar, em mesas de dominó e baralho. Quando uma pessoa sai ilesa de um acidente grave, ela diz logo que foi Deus quem lhe salvou. Os outros morreram porque foi Deus quem tirou suas vidas e eram todos gente do mal.





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