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O TRABALHO REMOTO E A DESUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO

Com a grande pandemia da Covid-19 (anos 20 a 22), as pessoas saíram dos escritórios e se isolaram em suas casas para os chamados trabalhos remotos em seus computadores e aparelhos. Outros, jovens, idosos e desempregados também foram obrigados ao enclausuramento.

A partir disso, os problemas físicos e mentais (psicológicos) foram surgindo, como angústia, violências dentro de casa, comportamentos anormais e a depressão. Essas questões foram constatadas por especialistas no assunto. No entanto, teve gente, com o espírito mais centrado, que aproveitou o período para produzir arte. O certo é que o maldito vírus deixou muitas sequelas.

Por incrível que pareça, quem mais se beneficiou com isso foi o capital (nem está aí para a desgraça humana) que reduziu seus custos. Passado o tormento da Covid, entrou a onda do trabalho remoto que isola ou confina o ser humano num canto da sala, tornando-o cada vez mais antissocial.

As novas tecnologias da informática (redes sociais, inteligência artificial e outros aplicativos) e o cruel sistema capitalista aplaudem as mudanças e mostram suas “vantagens”. O ser humano embarca nessa corrente, mas não percebe, conscientemente, que ele está sendo usado como apenas uma máquina de triturar.

O trabalho remoto dos chamados nômades aparenta ser o ideal, mas o indivíduo está perdendo o que há de mais importante que é a sociabilidade, a solidariedade e o compartilhamento dos problemas da sua vida com seus semelhantes colegas e amigos. Com isso, o que estamos observando é uma desumanização e o surgimento de mais doenças mentais, principalmente a depressão.

Na verdade, entre guerras, ganâncias, consumismo, violências por todos os lados, inclusive entre as famílias, o ódio, o racismo e a intolerância, não somente religiosa, estamos vivendo num mundo desumanizado, e o pior é que não temos a certeza de um futuro humanista.

Alguém pode estar aí maldizendo que já sou um velho de mente retrógrada e que as coisas mudaram. O que tenho visto são muitos conhecidos e amigos entrando em depressão. Talvez essa doença seja o “mal de siècle”, como a tuberculose fora para os poetas e românticos no século XIX

Os jovens atualmente estão perdidos entre as tecnologias da internet das redes sociais e do ganhar dinheiro, não mais por vocação profissional, mas “focados” no qual setor oferece mais lucro. É o mundo da ambição, do isolamento de um só, sem o espírito de equipe.

“A DIVINA COMÉDIA-INFERNO” V

Dante Alighieri

Tradução de Pedro Xavier Pinheiro

O que Dante e Virgílio, os poetas, diriam em suas visitas ao inferno para os falsários e traidores da pátria brasileira? No Canto XXX, no décimo compartimento, são punidos os falsários, tornados hidrópicos. Eles são constantemente atormentados por furiosa sede.

Aqueles que falaram falsamente são perseguidos por febre ardentíssima. Em sua obra “A Divina Comédia”, Dante vagueia em XXXIV cantos onde narra personalidades pecadoras da sua terra Florença, religiosos, gigantes rebeldes, hipócritas, avarentos, reis e mistura figuras mitológicas gregas e romanas.

Sobre os falsários, em uma de suas estrofes, o autor descreve que “Quando a fortuna a cinzas reduzia/A pujança de Troia, em tudo altiva,/E com seu reino o morto rei jazia”.

No mesmo Canto XXX, discorre: “Súbito quando o corpo descobrira/Uivou qual cão, de angústia possuída./Tanto a pungente dor na alma a ferira”. “Escancaras a boca venenosa,/O moedeiro diz: por mal somente;/ Se sede eu tenho e a pança volumosa”.

No Canto XXXII, de acordo com o tradutor da obra, Pedro Xavier, os dois poetas se encontram no círculo, em cujo pavimento de duríssimo gelo estão presos os traidores. O círculo é dividido em quatro partes; na Caina, de Caim, que matou o irmão, estão os traidores do próprio sangue.

Na Antenora, de Antenor, troiano que ajudou os gregos a conquistar Troia, os traidores da pátria e do próprio partido; na Ptolomeia, de Ptolomeu, que traiu Pompeu, lá estão os traidores dos amigos; na Judeca, de Judas, traidor de Jesus, os traidores dos benfeitores e de seus senhores.

POR QUE SUIÇA BAIANA?

Carlos González – jornalista

As frases ditas há mais de meio século pelo polêmico jornalista Nelson Rodrigues continuam atuais, assim como sua obra literária, suas peças teatrais, seus princípios conservadores e seu amor pelo futebol. Uma de suas mais conhecidas teorias, a que deu o nome de Complexo de Vira-Lata”, coloca em discussão a baixa autoestima do brasileiro, pródigo em acatar o que vem de fora.

Se vivo estivesse, o escritor pernambucano, autor de “À Sombra das Chuteiras Imortais”, bradaria com veemência, com voz rouca e o cigarro no canto da boca, contra a ausência de orgulho do conquistense, inclusive da mídia local, ao se referir a sua terra como a “Suíça Baiana”.

Segundo os defensores do termo inadequado há uma semelhança entre as condições climáticas de Vitória da Conquista e da Suíça. O que não é verdade. Celebrado como modelo de desenvolvimento econômico e social, a Suíça registra entre dezembro e fevereiro temperaturas abaixo de zero. Aqui, os termômetros raramente chegam aos 10 graus.

De acordo com os meteorologistas, Piatã e Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, registram as mais baixas temperaturas na Bahia, seguidos de Vitória da Conquista. O inverno este ano não foi tão severo com a população conquistense, vítima do aquecimento global, como bilhões de pessoas neste planeta.

Como todos podem observar, o comércio varejista de artigos de vestuário deixou de vender como em anos anteriores e vai ter que esperar 2024 para repassar ao consumidor o que está estocado. No recente Festival de Inverno, as jovens usavam vestidos de alça, porque os termômetros, mesmo nas madrugadas, insistiam em marcar temperaturas amenas.

O autor dessa discordante comparação preferiu ficar no anonimato, ao contrário do romancista francês Albert Camus, que em 1949 deu ao Recife a alcunha de Veneza brasileira, fascinado com a topografia da cidade, cortada por pontes sobre os rios Capibaribe e Beberibe. Na verdade, o recifense nunca se revelou envaidecido pelo qualificativo dado por um europeu.

Arraial de Conquista foi o nome que o sertanista português deu em 1783 à região que se tornaria uma espécie de capital do Sudoeste baiano e do Norte mineiro. Em julho de 1891, a antiga vila foi elevada à categoria de cidade, batizada de Conquista, recebendo em dezembro de 1943 o prenome de Vitória porque já havia em Minas Gerais um município com o mesmo nome.

Com uma área de 3.254.186 km² e uma população de 387.524 habitantes (Censo de 2022), Vitória da Conquista exibe indicadores econômicos e sociais que a colocam no top 10 entre os municípios nordestinos, excetuando as capitais. No entanto, está longe de rivalizar com cidades do mesmo porte situadas no Sul e Sudeste, em parte por culpa dos seus gestores e legisladores, que substituem o trabalho pela politicagem.

No passado, Conquista foi rotulada como a “Capital do Café”. As lavouras da rubiácea ocupavam grandes áreas do Planalto Conquistense. Essa honraria foi “roubada” pelos nossos vizinhos da pequena, mas empreendedora Barra do Choça, que vem exportando para o exterior um café de ótima qualidade.

Do café ao biscoito. Por iniciativa do vereador Edvaldo Ferreira Jr. (MDB), Conquista poderá receber o título de “Capital Estadual do Biscoito”. O projeto de lei foi encaminhado ao deputado Tiago Correa (PSDB) para ser votado pela Assembleia Legislativa do Estado.

Autor de dois projetos qualificados como controversos (moção de aplausos para o empresário bolsonarista Luciano Hank (o homem do terno verde) e construção de um cemitério para cães de estimação), o vereador emedebista justifica sua proposta: “A fabricação do biscoito avoador coloca a cidade na rota do empreendedorismo e do turismo na Bahia e faz parte de uma enorme cadeia produtiva que gera emprego e renda para Conquista”. Edvaldo Jr. também idealiza criar a “Semana do Biscoito”.

Lembro que, em setembro do ano passado, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema Neto, sancionou a Lei 23.946, criando a “Capital Estadual do Café com Biscoito” e a “Capital Estadual do Biscoito Artesanal”, credenciais dadas, respectivamente, às cidades de São Tiago e Japomar.

Retomando a nossa conversa sobre Nelson Rodrigues, recordo sua paixão pela Seleção Brasileira e pelo Fluminense (“Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”). Na sede do clube, em Laranjeiras, no Rio, foi colocado um busto em homenagem ao criador do Sobrenatural do Almeida, uma espécie de anjo de guarda do Tricolor.

A Seleção Brasileira de 1958 foi a razão que levou Nélson Rodrigues a escrever a crônica “Complexo de Vira-Lata”, publicada na semana que antecedeu a estreia da equipe comandada pelo técnico Vicente Feola na Copa do Mundo da Suécia, onde ganhou sua primeira “Jules Rimet”.

Diante das frustrações causadas pelos times de 1950 (derrota para o Uruguai na partida final) e de 1954 (goleado pela Hungria nas quartas de final), o de 1958 levou na bagagem para a Suécia o descrédito do torcedor brasileiro. Um dos poucos otimistas, Nelson Rodrigues escreveu: “Perdemos em 1950 de maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: Obdulio Varela (“capitão” da equipe uruguaia) nos tratou a pontapés, como se vira-lata fôssemos”. A maldita expressão atravessou décadas e tem sido até hoje tema de estudos e debates nos círculos literários e sociais.

Peço licença aos meus colegas de imprensa que evitem se referir a Vitória da Conquista como a “Suíça Baiana”. Vamos lembrar do pequeno (área de 41.285 km²) país do centro da Europa como um exemplo de democracia, de economia estável, de excelente qualidade de vida, e um dos principais destinos turísticos do mundo.

 

 

 

NAS PORTAS DO INFERNO

O Secretário Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em seu pronunciamento, foi incisivo em suas palavras (realista) quando declarou que a humanidade abriu as portas do inferno. Ele estava se referindo ao aquecimento global advindo dos estragos contra o meio ambiente, seguidos das catástrofes e tragédias no planeta, e não estava exagerando. Concordo de que já estamos nas portas do inferno, e mais ainda, de que não existe mais retorno porque a ordem é cada vez mais consumir. O capital não para com os desmatamentos para expansão do agronegócio (plantar grãos e pastagens para bois) e, cada vez mais, joga CO2 e metano no ar. Os rios estão poluídos de substâncias tóxicas, e o que é reciclado e recuperado com plantios de árvores significam o mínimo em relação à destruição da terra. Milhões de toneladas de lixo são jogados todos os dias nos mares e no planeta a fora. A nossa terra treme e geme em todas as partes, até aqui no sudeste, as tempestades são avassaladoras, o calor ultrapassa os 40 graus, o deserto vira lama na África e já temos ciclones até no Brasil, coisa imaginária em tempos passados. Aqui mesmo em nossa casa, digo nossa região de Vitória da Conquista, nossos campos de florestas foram desmatados para se plantar café, eucalipto e criar gado. Fiquei a observar isso mais de perto nesta semana quando fui visitar uma fazenda entre Conquista e Barra do Choça. Por essas e outros é que sempre digo que a conta, entre o que é depredado e recuperado, nunca bate e não existe mais retorno para reduzir as temperaturas a níveis toleráveis.

A CONTA NUNCA BATE

Autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário

Nesse ciclo de tanto estrago,

Entre consumo e o reciclável

Da economia sustentável,

A conta nunca bate,

Tomo mais um trago,

Que se reparte,

Na resistência da arte.

 

O capital só quer consumo,

Indica quem leva o fumo.

 

A chapa só esquenta,

Nas estações de forno,

Onde não existe retorno.

 

Nos raros telefones de amor,

Oh, meu Senhor!

Nesse vosso paraíso,

Do apocalipse final juízo,

Assola a solidão,

Na loucura da contramão,

Desse metal vil,

Dos ciclones até no Brasil.

 

A conta nunca bate,

E ninguém ouve o vate.

 

Treme e geme a terra,

Na guerra, frio e calor,

Da flora, lágrimas de fogo,

Larvas espirram dos vulcões,

Do caos devastador:

Brasas, fumaças e chamas,

Tempestades engolem multidões,

Nos desertos de lamas.

 

Do leste ao oeste,

Do norte ao sul,

Lá vem Deus deslizando

Entre raios e trovões,

Como profetizou

Nosso maluco Raul.

 

Conferências climáticas,

Para reduzir o metano,

O C O Dois,

Nas propostas temáticas,

E tudo fica para depois.

 

Meu peito sangra de dor,

Nas asas do beija-flor!

Tentando salvar a floresta

Que o homem incendiou.

Só que nesse embate,

Todos só querem festa,

E a conta nunca bate.

 

 

 

TÁ PEGANDO FOGO!

(Chico Ribeiro Neto)

Estava começando a dormir, umas 22 horas, e despertei com os gritos dos vizinhos: “Tá pegando fogo!”: “É incêndio!”; “Não usem o elevador!”. Assustado, corri pra janela para ver onde era o fogo. Será que dá pra pular pela janela sem quebrar nada? Aos 75 anos, tá difícil.

Havia muita fumaça, mas vi que o fogo era no prédio vizinho. E foi um corre-corre danado. O zelador disse depois: “Nunca vi tanto velho descendo correndo pela escada”. Num instante se formou uma multidão de curiosos e vizinhos. O grande Millôr Fernandes escreveu: “Os homens não são bons, são curiosos”.

O melhor são as versões. Cada um conta uma história:

– Eu soube que queimou o apartamento todo.

– Mentira, só queimou a sala e a cozinha. O banheiro chamuscou um pouquinho e nos quartos não teve nada.

– Eu soube que foi uma vela acesa.

– Já eu ouvi dizer que foi curto-circuito.

– Soube que foi a mulher que deixou o ferro ligado.

– Ela deixou foi a boca do fogão aberta. Quando o marido acendeu a luz, o pau quebrou.

– O marido dela deixou o celular carregando e foi pra rua.

– E o cachorro? Eles não tinham um cachorro?

– O cachorro morreu queimado.

– Mentira, o cachorro escapou, não teve nada.

– O cachorro fugiu quando o fogo começou e não voltou até agora.

– Eu soube que o cachorro só queimou o rabo.

– E tinha cachorro no apartamento?

E os bombeiros?

– Meu filho, quando os bombeiros chegaram, o incêndio já tinha acabado.

– Mentira, os bombeiros chegaram a tempo e jogaram foi muita água.

– Interessante, eu nem vi os bombeiros.

– Você não ouviu a sirene, não, homem?

Uma vizinha falava pra outra: “Minha filha, outro dia eu vi na Internet que a gente precisa ter em casa a Pasta do Incêndio. Você junta tudo de documento importante – escritura do apartamento, identidade, título, cartões do banco e de crédito, passaporte – e coloca tudo numa pasta. Na hora do incêndio é só pegar ela e sair correndo”.

Outro dia assaltaram uma farmácia na Pituba. Veja os comentários:

– Foram cinco assaltantes. Quatro entraram e um ficou do lado de fora dando cobertura se chegasse a Polícia.

– Não, senhor, eram seis, pois ainda tinha o que ficou no carro esperando.

– Eu tava lá dentro na hora pegando meu remédio de pressão. Só vi três: dois entraram e um ficou montando guarda lá fora.

– E teve assalto? Eu moro aqui do lado da farmácia e não vi nada.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

O PATINHO FEIO DOS GOVERNANTES

Quem tem medo de cultura? Não precisa responder. É só refletir. Os governantes e políticos devem achar que cultura não dá voto, mas não imaginam que também tira. É um menosprezo, desvalorização e total desrespeito para com a cultura, e isso é secular no Brasil. É, meus amigos, a cultura é mesmo o patinho feio dos governantes.

Esse quadro ficou bem visível durante a 7ª Conferência Municipal das Cidades, realizada no último sábado (dia 16/9), no auditório do Cemae, onde praticamente nada se falou sobre cultura, como se ela não fizesse parte da cidade. O regimento interno, em seus objetivos, finalidades e proposições, nem tocou no assunto. Os trabalhos foram abertos pela prefeita Sheila Lemos.

Os palestrantes, a doutora Grace Gomes, analista de trânsito e transporte da Prefeitura de Salvador e superintendente de Mobilidade do Governo do Estado (referiu-se à cultura de forma genérica) e o professor Cláudio Carvalho, não abordaram o tema cultura, como se ela nem existisse.

Os expositores centraram-se na parte técnica, no uso do solo, infraestrutura, desenvolvimento urbano, Plano Diretor e ficaram por aí mesmo. Somente nos debates, de apenas uma hora, dos três eixos, propuseram estabelecer um jeton para os conselheiros e criar a casa desses colegiados em Conquista.

O pior é que empurraram a Conferência goela abaixo, sem contar que a participação da sociedade deixou muito a desejar, com pouca gente. Houve uma nota de repúdio com relação à ausência de representantes da Câmara Municipal de Vereadores.

Na 5ª Conferência Municipal de Cultura, entre os dias 11 e 12 de setembro, no Centro de Cultura (ausência da prefeita e também do legislativo), foram seis eixos e as discussões demoraram bem mais tempo e, mesmo assim, ainda tiveram vozes de protestos (algumas agressivas) de que a organização estava sendo antidemocrática por tentar colocar ordem nas normas e no tempo das falas.

Até no almoço ficou demonstrado que a cultura é mesmo o patinho feio abandonado lá num canto escuro. Na Conferência de Cultura foi uma quentinha insossa, enquanto na das Cidades, a prefeitura ofereceu um verdadeiro banquete, com tratamento vip.

É uma pena, mas nossa cultura em Vitória da Conquista está sem alma, anima em latim. Não é somente em Conquista, a maioria dos prefeitos nem querem ouvir falar em cultura e resistem em não criar os conselhos.

Os artistas precisam se unir para dar um basta nisso. Pelo menos de forma independente aqui estamos avançando com a organização dos coletivos em alguns setores, a exemplo dos escritores na área da literatura e do audiovisual. A maior promessa, que deve sempre ser cobrada, é a definitiva criação do Plano Municipal de Cultura para não se ficar apenas nos calendários das festas juninas e de Natal.

Quanto a 7ª Conferência Municipal das Cidades, que elegeu 24 conselheiros (o de Cultura tem 20), o que teve mesmo de brilhante foi a palestra do professor Cláudio Carvalho que foi menos técnico e mais prático com relação à nossa realidade nas cidades. Ele criticou, de certa forma, o programa Minha Casa, Minha Vida por colocar as pessoas nas lonjuras sem olhar para o problema da mobilidade urbana.

Segundo ele, no Brasil existe um déficit habitacional de seis milhões. No entanto, existem onze milhões de imóveis vazios que poderiam ser ocupados. Afirmou que o capital é quem indica onde a pessoa da classe baixa deve morar, comer e se vestir. Na procura de melhorar a vida, as famílias vêm para a cidade e ficam amontoadas nas periferias, em bairros pobres deficitários de infraestrutura básica.

Indagou o porquê de uma casa com os mesmos cômodos e tamanho em Candeias e outra igual na Patagônia, por exemplo, terem valores bem diferentes. De acordo com ele, de um modo geral, as cidades são excludentes e construídas sem o devido planejamento.

Para demonstrar como é o capital que manda, Carvalho citou o caso da Via Perimetral Pedral Sampaio, em Vitória da Conquista, que vai até as Bateias. Por que ela teve seu início de construção justamente na junção com a Avenida Olívia Flores, num local deserto, sem nenhuma segurança, de muros por todos os lados, e não no Bairro das Bateias? – indagou o palestrante.

 

O ENCONTRO NACIONAL DO CAFÉ FOI UM SUCESSO DE PÚBLICO E ORGANIZAÇÃO

Numa realização da Fazenda Vidigal, com mostras de máquinas agrícolas e muitos estandes de expositores de variados produtos da terra e de outros estados, não somente do café, inclusive na área literária, prestigiando os escritores conquistenses, o 14º Encontro Nacional do Café, na Fazenda Vidigal, em Barra do Choça, foi mais um sucesso de público e organização.

Neste ano, o evento foi realizado no período de 17 a 19 de setembro com uma vasta programação de palestras, cursos e oficinas sobre o tema central. A área do encontro recebeu um grande número de visitantes locais, da Bahia e de outros estados.

O evento contou com apoio da Prefeitura Municipal de Conquista, Barra do Choça, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, Sebrae, Governo do Estado e uma variada gama de empresas privadas locais e de fora. A organização coube a Gianno Brito, Márcia Viana e a artística plástica e cafeicultora Valéria Vidigal.

Por intermédio de Bianca, do enLIVREs,  a artista Valéria Vidigal abriu um espaço de literatura para os escritores de Vitória da Conquista apresentarem suas obras. Foi um dos destaques inéditos do 14º Encontro Nacional do Café, numa mistura do agro com a cultura.

Houve também áreas abertas para a apicultura, informática, artesanato e outros segmentos da nossa economia, numa estrutura de grande porte a nível nacional, sem contar o esquema de segurança.

A abertura oficial dos trabalhos aconteceu no domingo (dia 17/09) pela manhã, com a presença de autoridades do agronegócio e visitantes; homenagem Medalha Honra ao Mérito João da Cruz Filho; apresentação musical de Rosa Aurich e Kleber Moreno. Logo após, na parte da tarde, foram realizados os fóruns Qualidade dos Cafés da Bahia e suas Potencialidades, As Flores do Cafezal: Nossa História Tem Sabor e Um Agro Forte para a Bahia!

No segundo dia 19/09, no auditório Francisco de Melo Palheta, o tema de abertura foi Manejo das Principais Pragas e Doença dos Cafezais e suas Atualidades, seguido de Colheita Mecanizada e Podas em Cafeeiros para Altas Produtividades.

Na parte da tarde, Potencial Tecnológico de Novos Cultivares e Pesquisas de Café, Bahia e Norte de Minas e Os Novos Caminhos para a Proteção do Produtor Rural Frente aos Contratos Abusivos.

Os palestrantes, na sua maioria foram técnicos especialistas da Bahia, como da Uesb, mas o encontro também contou com professores e agrônomos de São Paulo, Goiás e Minas Gerais que falaram sobre as últimas novidades da cultura cafeeira.

No último dia do evento, as atividades foram abertas com as palestras sobre Desafios de uma Cafeicultura Irrigada no Planalto de Conquista, Chapada Diamantina e Norte de Minas, a Arte de Cultivar o Solo e o Cafeeiro para Obtenção de Altas Produtividades com Qualidade.

Encerrando o 14º Encontro, na parte da tarde, os participantes entre estudantes, técnicos e produtores debateram as palestras sobre Espaço Geográfico, Cultura e Valorização do Café e Mel de Café: Mel de Terroir.

Durante os três dias de trabalhos, o Senac ofereceu oficinas de gastronomia com base no café, inclusive minicursos sobre plantas forrageiras e cultivos do umbu gigante pelo Senar e outras instituições. A Uesb também fez uma apresentação de pôster dos trabalhos científicos desenvolvidos pela universidade sobre o café.

 

OS MONSTRENGOS ELEITORAIS

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou dois projetos que formam a minirreforma eleitora.  Entre outros pontos, os textos alteram regras sobre prestação de contas e flexibiliza a cota de participação das mulheres. A proposta obriga a oferta de transporte público gratuito no dia das eleições.

Analistas criticaram a flexibilização excessiva, como regras de inelegibilidade, reduzindo o prazo de políticos condenados por crimes comuns (ficam inelegíveis nos oito anos após a data da condenação), acaba com as prestações de contas parciais, permite a compra de aviões e barcos com uso do fundo partidário (uma aberração) e libera doações por meio do Pix. Os textos vão para o Senado e têm que ser aprovados até começo de outubro para serem adotados nas eleições de 2024.

Estava demorando! Toda véspera de eleições, de dois em dois anos, os políticos do Congresso Nacional, com seus cinismos e caras-de-pau, aparecem com seus monstrengos de minirreformas eleitorais para reduzir penas e confundir a cabeça do povo.

Mais de 90% da população de mais de 200 milhões de habitantes nada entende. Eles são como cérberos, monstros meios cães, meios dragões, com várias cabeças que, segundo a mitologia antiga, estão à guarda do inferno. O Pacheco diz que quando o projeto estiver pronto vai ficar amadurecido, só se for para eles saborear o fruto.

O sistema eleitoral brasileiro é como um barco velho apodrecido, todo remendado de massa de quinta categoria, cheio de ratos por todos os lados, navegando em águas poluídas. Nunca que eles se dispõem a adquirir uma embarcação nova e moderna, com equipamentos de primeira geração.

A grande maioria dos políticos prefere manter um navio arcaico, retrógrado e caduco, lotado de coronelistas com a chibata na mão para açoitar no lombo dos eleitores, a maior parte ignorante, analfabeta e serviçal que vota por favores, dinheiro e aparências.

O esquema pode ser comparado também a uma capitania hereditária que passa de geração a geração, de pai para filho e sobrevive do trabalho escravo numa economia rudimentar à base do jumento e do carro-de-boi. Eles resistem adotar uma tecnologia avançada, e de tudo fazem para que seus subordinados não recebam um ensino de boa qualidade.

Além de desrespeitar, menosprezar, desvalorizar, eles têm medo de cultura e ficam criando esses monstrengos, com asas de cera. São simoníacos, mercadores das coisas mais sagradas que são os votos, símbolos de uma democracia que, por causa deles, ainda não se tornou real para acabar com as injustiças sociais.

Por que eles nunca se juntam para fazer uma reforma eleitoral ampla e completa para reduzir o número de parlamentares em todas as esferas do país, pôr fim às mordomias das polpudas verbas indenizatórias, dos foros privilegiados, terminar de vez com as anistias das irregularidades e legislar de frente para o povo e não de costas?

Não, preferem os monstrengos onde fazem “mudanças” escabrosas e escandalosas para nada mudar e tudo continuar em seu devido lugar. O negócio é manter a casta vigorosa e firme com a plebe debaixo de suas botinas nojentas e sujas de lama.

O sistema ainda garante dominar os presidentes através de cargos, muita grana e ameaças de impeachment se não fazerem o que eles querem. São uns verdadeiros lobos com peles de cordeiros e ainda têm o desplante de dizerem que tudo fazem pelo bem do Brasil.

Ao longo dos anos – essa cultura vem desde os tempos coloniais das corrupções e da avareza – o sistema foi sendo contaminado de vermes e vírus que hoje são poucos os esquerdistas e progressistas sérios que não aceitam esses monstrengos, verdadeiras deformações humanas saídas das mitologias antigas.

Não são as reformas trabalhistas, administrativas, previdenciárias e tributária que vão tirar esses pais desse atoleiro ou dessa areia movediça em que vivemos há séculos, mas uma reforma política eleitoral completa que acabe de vez com esse “toma lá, dá cá” e que abra espaços justos, sem corrupções, trambiques e trapaças, para que a meritocracia e os bons participem também desse processo.

APELEJA DO QUERRECÔDE COM O “Q. DE BOI”

(Chico Ribeiro Neto)

Chego num bar da Barra, em Salvador, só tem cardápio no Querrecôde.  Peço cardápio impresso, não tem. “Eu ajudo o senhor”, diz o solícito garçom que tem todo o domínio da tecnologia e uma explicação: “É uma herança que ficou da pandemia”. Cara sabido, ele seleciona as opções de petiscos e vai passando no celular dele para que eu escolha. Cardápio no celular fica sem gosto.

O Querrecôde na mesa mata a história dos cardápios. Lembro de uma churrascaria em Amaralina onde o cardápio vinha numa capa de couro, tão bonita que alguns clientes chegavam a roubar levando-a embaixo do paletó.

Tinha um buteco na Avenida Vasco da Gama onde vinha escrito no cardápio “Q. de Boi”. Era culhão de boi, delicioso por sinal, e o dono me explicou: “Não posso escrever culhão de boi no cardápio, porque pode ter mulher na mesa e fica chato”.

Tem buteco onde o cardápio vem num pedaço de papelão e o dono reclama lá pra dentro: “Lindinalva, você esqueceu de alterar o preço da cerveja!” E completa: “Olha, moço, o que tem um X do lado é porque não tá saindo”.

“O senhor aguarda um pouco porque a casa só tem dois cardápios e estão ocupados”. Outros asseguram: “Tem coisa que não tá no cardápio, mas sai” Ou então dizem a célebre frase: “Peixe frito tem, mas terminou”.

Uma vez o garçom me disse: “Olha, do que está escrito aqui, só sai a batata frita”. Outro dia perguntei a um garçom de barraca de praia se o caldo misto (sururu, camarão e peixe) era bom e ele respondeu: “Olhe, eu não sou muito fã, não. Se for pra tomar, é uma vez na vida”.

Uma vez um amigo foi a uma churrascaria da orla marítima e não quis carne de boi nem frango, pediu somente coelho para acompanhar seu uísque, pois precisava evitar uma nova crise de ácido úrico. Foi comendo seus cubinhos de coelho e no segundo uísque viu o garçom sorrindo junto com outro. Desconfiado, perguntou o que estava acontecendo: “O senhor está comendo coelho que ronca”. “Como assim?” “É que o coelho acabou e o cozinheiro cortou uns pedacinhos de carne de porco e assou. Ficou igualzinho a coelho, não foi?”

Levei um amigo que mora em São Paulo ao tradicional restaurante Porto do Moreira, no centro de Salvador, que infelizmente foi fechado. Meu amigo, admirador de vinhos, viu várias boas marcas nas prateleiras e me perguntou se havia carta de vinhos. Perguntei ao velho Antonio Moreira, já falecido, e ele me gritou de lá: “Não, só tem Sedex”.

Já vi cardápios com mensagens de amor escritas, preço escrito num pedaço de esparadrapo que cobria o preço antigo, pingos de azeite de dendê, marca de batom e outras surpresas.

Pois é, devolvam meu cardápio impresso. Querrecôde, não. Tragam logo o cardápio, em papel ou papelão. Se tiver só um, espero. Não tem pressa, não.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 





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