O SUCATÃO DA POLUIÇÃO
O nome é “Sucata da Esperança”, localizado no Sobradinho, próximo do Miro Cairo, mas não tem nada de esperança, só desgosto, estresse e tristeza. A empresa bem que poderia ser denominada de “Sucatão da Poluição” sonora das máquinas e criadora de fuligens que incomodam diariamente os moradores daquela comunidade. O movimento das máquinas é infernal e tira o sossego das pessoas, mas o pior de tudo é a fuligem que solta no ar e deixa as casas infestadas de sujeiras, sem contar as doenças respiratórias que a poluição provoca. A comunidade que fica em seu entorno já se reuniu e fez uma abaixo-assinado à prefeitura municipal solicitando a sua relocalização para outro ponto mais adequado, mas até agora não deu em nada. São montes e montes de sucatas e ferros velhos que servem de moradia para todo tipo de insetos, ratos e outros animais peçonhentos. O local também é uma fonte de criação de mosquitos da dengue. É um absurdo que até o momento o poder executivo, a Câmara de Vereadores, o Ministério Público e órgãos sanitários da cidade não tenham tomado nenhuma providência para retirar de uma vez aquele sucatão que tanto vem prejudicando e perturbando os moradores há muitos anos, mesmo com um pedido de socorro por escrito. Os moradores daquele bairro não aguentam mais e precisam ser ouvidos em suas justas reivindicações. As pessoas não suportam mais tanta sujeira. Resido em Vitória da Conquista há mais de 30 anos e confesso que não sabia que existia um sucatão daquela dimensão naquele local tão impróprio para o ser humano conviver diariamente em meio a tanta poluição. Aquilo ali é um atentado à saúde pública e já passou da hora de ser totalmente interditado.
UM PÔR DO SOL DE FEVEREIRO DA TERRA FRIA
Autoria de Fernanda Quadros
Poema extraído da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano” – editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
As tardes da terra fria
Se vão vestidas
De vermelho quente.
As noites chegam no quadrado
Redonda e branda
Pintam tudo de laranja cinza.
A escuridão derramada,
Afaga a saudade
Na imensidão estrelada.
Lá, a Terra Quente,
Distante
Aqui, a Terra Fria,
Desconcertante.
MEDIDA PROTETIVA, DINHEIRO E FELICIDADE
A impressão que temos é que o ser humano gosta de ser enganado, principalmente o brasileiro que tem um baixo nível de percepção intelectual e questionamento. Existe um monte de coisas em nosso Brasil onde as autoridades e os poderes constituídos passam o tempo todo nos iludindo, passando imagens como verdadeiras, quando são falsas e mentirosas.
Uma das maiores ilusões que o cidadão ou a cidadã aceita é a tal medida protetiva, criada pelo judiciário para “proteger” a mulher agredida e ameaçada de morte pelo marido ou namorado. O cara usa de violência contra a esposa e aí o delegado ou delegada impõe a ele a tal medida protetiva, isto é, ele não pode se aproximar da vítima.
O mais engraçado e ilusório é que as pessoas da sociedade e a própria mulher acreditam nessa estorinha da carochinha. Ora, se o indivíduo foi “punido” com a tal medida protetiva, gostaria de saber e indagar se algum agente público (soldado ou policial) vai acompanhar o cara 24 horas para evitar que ele cometa o crime?
A resposta é bem clara que não, pois não existe um contingente suficiente nas corporações militares para realizar esse trabalho de seguir o agressor o tempo todo. Então, meu amigo e amiga, essa medida é falsa e só funciona na teoria. Na prática ela sempre tem resultado em morte e assassinato.
Ainda recentemente a mídia anunciou que uma mulher foi morta pelo marido ou namorado que estava sob medida protetiva. O mais grave era que o elemento ainda carregava uma tornozeleira. Ele tirou o equipamento e, tranquilamente, foi lá e deu cabo da mulher. Como este, são dezenas e centenas de casos que acontecem nessa situação. Portanto, é uma medida enganosa. Acredite se quiser.
O mesmo ocorre nessas tais prisões domiciliares, sobretudo para os bandidos chamados de colarinho branco, os corruptos no popular. O juiz expede o alvará de soltura da cadeia para o sistema domiciliar com tornozeleira e estabelece diversas condições, como não sair de casa, não usar celular, não conversar com cúmplices, não receber visitar e outras exigências que não são cumpridas.
Como a tal medida protetiva, perguntaria se alguém do judiciário ou da polícia vai vigiar o sujeito para que ele não cometa delitos? Não me venham com essa que o cabra está sendo observado virtualmente. É mais uma mentira, uma fake news. A gente prefere ser enganado e acreditar.
Outro faz de conta é “vamos investigar e apurar os fatos” quando existe abuso de puder ou de autoridade por parte da polícia, negligência médica, crime de mando, erros judiciais ou acidentes dolosos. A imprensa noticia o fato e, como sempre, o episódio criminoso cai no esquecimento. A sociedade não cobra e outros absurdos ocorrem com a mesma intensidade, com a conversa fiada de que haverá punição “doa em quem doer”. Prevalece sempre a impunidade.
Outro papo furado é a pessoa, para consolar o outro que está em situação difícil e endividado financeiramente, dizer que dinheiro não traz felicidade. Pode até ser que em certas circunstâncias, como no caso de doença grave e terminal de um amigo ou parente, essa frase seja assertiva.
No entanto, no geral, o dinheiro traz sim felicidade para realizar seus desejos e sonhos, mesmo porque vivemos num sistema capitalista onde o danado cobiçado é o deus maior. Quando a pessoa está sem nenhuma grana e num beco sem saída, ela fica desesperada; entra em depressão; fica irritada, mal-humorada e até violenta. Em muitas ocasiões, a falta do money provoca até separação entre casais; desagrega famílias; e resulta em infelicidade.
Nos acostumamos a aceitar determinadas coisas sem questionar se estão corretas ou não, se são enganação ou não, porque somos comodistas e individualistas por natureza. Em algumas questões, por baixa capacidade cognitiva e intelectual e outras porque distanciamos muito do coletivo e escolhemos não darmos ao trabalho do refletir e pensar o que é certo e errado, bem como diferenciar o normal do anormal.
CÂMARA DE VEREADORES QUER NOVA SEDE
Quando os vereadores se reúnem com a prefeita com intuito de construir uma nova sede para a Câmara Municipal, isso me faz lembrar dos equipamentos culturais que estão fechados há anos por falta de reforma, mesmo diante de tantos pedidos dos artistas, com documentos e abaixo-assinados.
O argumento dos parlamentares, que já contaram com o apoio do poder executivo através da concessão de um terreno, é de que o prédio na rua Coronel Gugé com o antigo anexo da rua Zeferino Correia, erguido em 1910, não comporta mais o contingente de 23 vereadores (há 30 anos eram 11) e que a plenária tem espaço limitado para receber os participantes das sessões.
Nosso povo tem pouca memória quando eles mesmo disseram que o aumento no número de edis não iria implicar em custos para os contribuintes. Trata-se de uma grande falácia para enganar a nossa gente que está sempre sendo manipulada e é, infelizmente, comprada na hora da votação.
O aumento de vereadores não tem como não gerar mais custos no orçamento municipal, com mais gabinetes, salários para o vereador e seus auxiliares, verbas de indenização e outros benefícios concedidos pelos cofres públicos, boa parte vinda do Fundo de Participação dos Municípios.
Outra enganação é que a plenária ou o auditório já está limitado para receber os conquistenses que frequentam as sessões. Ora, aquele auditório Carmem Lúcia só lota poucas vezes em sessões especiais em homenagem a uma determinada categoria ou em eventos mais solenes. Na maioria das reuniões ali está sempre vazio.
Portanto, considero mais um absurdo a prefeitura despender mais recursos para construir outra sede luxuosa quando não atende as reivindicações do setor cultural que vem lutando pela abertura do Teatro Carlo Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha, na rua Dois de Julho, cujos espaços estão sendo destruídos pela ação do tempo. É por essas e outras que venho afirmando que a prefeita Sheila Lemos sepultou nossa cultura.
Pelos últimos números, existem no Brasil 60.311 vereadores. Até 2013 eram 51.748. O país gasta anualmente cerca de 24 bilhões de reais com os mais de 60 mil vereadores, dinheiro que poderia muito bem ser empregado nas áreas da educação e da saúde.
Até o período do regime militar, no início da década de 60, o vereador não era remunerado e as câmaras funcionavam bem melhor em termos de prestação de serviços à população.
Em Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com cerca de 400 mil habitantes, só são realizadas duas sessões por semana, com pautas de poucos projetos e mais de indicações e moções de aplausos.
Além das câmaras de vereadores e assembleias legislativas, temos um Congresso Nacional (531 deputados e 81 senadores) mais caro do mundo, conservador e que legisla visando seus próprios interesses, num país com o mais profundo índice de desigualdade humana. Podemos dizer que é o maior cancro do Brasil.
A COLUNA PRESTES NO SARAU
Foi mais uma noite memorável cheia de programação cultural, tendo como tema principal “A Coluna Prestes e seus Desdobramento Políticos” na palestra do nosso companheiro Eduardo Morais. Estamos falando de mais uma edição do Sarau A Estrada, realizado no último sábado (dia 12/04/25), no Espaço Cultura do mesmo nome, com a participação de mais de 30 pessoas entre jovens, artistas, intelectuais, professores e interessados pela cultura.
Os trabalhos foram abertos pelo membro da comissão Dal Farias e logo depois o jornalista Jeremias Macário e sua esposa Vandilza Gonçalves fizeram o anúncio da mudança para outra casa, mas todos garantiram que o Sarau, que está completando 15 anos de existência, vai continuar com suas atividades artísticas.
Jeremias aproveitou a ocasião para prestar uma homenagem ao ativista cultural Massimo Ricardo de Benedictis, com um minuto de silêncio pelo seu falecimento na semana passada. Ricardo deixou seu legado na cultura de Vitória da Conquista, com seus projetos e promoção de eventos importantes.
Mais alguns informes da presidente da comissão, Cleu Flor sobre a prestação de contas da arrecadação do fundo, o processo do andamento do registro do Sarau em cartório e Eduardo fez um relato histórico e político da Coluna Prestes, que teve seu início com o movimento tenentista de São Paulo, em 1918.
A partir da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, a Coluna, dirigida por Luis Carlos Prestes, cortou todo Nordeste brasileiro percorrendo mais de 25 mil quilômetros e terminou por volta de 1927/28 no Sul do Mato Grosso quando seus membros se dispersaram e adentraram na Bolívia, por causa das perseguições do governo federal de Venceslau Brás.
O movimento, que buscava mudanças na política, reformas nas áreas social e educacional, principalmente, como bem pontuou Eduardo, foi inspirado nas ideias socialistas da Revolução Russa de 1917. Ele fez um relato sobre a passagem da Coluna pelo Nordeste que lutou no combate ao coronelismo da época e às injustiças sociais contra o sertanejo do interior urbano e do campo.
Como em outras revoltas e rebeliões pelo Brasil em defesa da liberdade e da democracia, a Coluna representou um marco na história, segundo o palestrante. Para depreciar suas ações, os coronéis disseminavam que seus membros eram revoltosos, matavam crianças, idosos e estupravam mulheres. Diante desses boatos, as pessoas temiam quando eles chegavam nas cidades.
Logo no início da sua marcha, Eduardo destacou também a realização da Semana da Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, movimento liderado por Mário Andrade, Oswaldo de Andrade, Tarcyla do Amaral, Anita Malfatti, dentre outros, chamado de antropofágico por valorizar as artes nacionais e em prol da democracia.
Na Bahia, a Coluna passou por Condeúba, Mucugê e outras cidades. Muitos foram mortos pelas tropas do governo e quando chegaram em Mato Grosso restavam poucos. Carlos Prestes foi para a Bolívia e de lá para a União Soviética como exilado.
A nossa companheira Viviane Gama fez uma homenagem às mulheres falando de seus enfrentamentos pela igualdade entre os homens. Reviveu os tempos passados onde as mulheres tinham um lugar inferiorizado como simples donas de casa, mas que ainda existe muitas coisas para serem conquistadas na sociedade moderna.
Após os debates, o músico, poeta e compositor Manno Di Souza abriu as cantorias, juntamente com Alisson Menezes, nosso visitante, Dorinho Chaves e Alex Baducha. Como não poderia deixar de acontecer no Sarau, abriu-se uma rodada de declamação de poemas autorais onde muitos tiveram a oportunidade de expressar suas obras.
Foi mais uma noite de confraternização, de comes e bebes, num clima de harmonia, troca de ideias e conhecimento, como tem sido o Sarau a Estrada nesses seus quinze anos de existência, um período ainda novo, mas que já se transformou num ambiente familiar e de respeito às diferenças ideológicas de cada um.
Houve várias postagens no grupo com referência ao Sarau, como a de Cleide que enalteceu a luz radiante da Lua Cheia e a alegria ímpar dos benfeitores da cultura. Vida longa ao Sarau. Humberto disse que o evento ocorreu como sempre, num clima de completa paz e harmonia.
Para Humberto, o tema escolhido ainda é pouco comentado no cotidiano, mas bastante atual em razão do momento vivido pela nossa nação, o qual foi comentado pelo companheiro Eduardo e demais colaboradores. As expressões artísticas e culturais foram momentos de destaque. Outro fato foi a presença de novos seguidores, num clima de afetos. Os componentes da comissão estão de parabéns.
Dal Farias comentou sobre a trajetória do Sarau, repleto de conhecimentos vividos durante esses 15 anos, ainda adolescente. Foram anos de grandiosos acontecimentos e emoções arraigadas. Numa troca de energias, Jeremias e Vandilza surpreendeu a todos com a notícia de ares de mudança para um novo ambiente, um momento comovente, mas compreensível. Novos momentos virão, com um tempo novo. Agradeceu a todos pelas participações, num lugar de aconchego e admirável pelas suas instalações, o acervo, os adereços artesanais e a coleção de chapéus.
“A GUERRA ME FEZ BEM E MAL”
Na segunda parte do oitavo capítulo do livro “Um Pouco de Ar, Por Favor”, o escritor George Orwell fala do seu personagem George Bowling que participou da I Guerra Mundial e afirmou que “a guerra me fez bem e mal”. Em sua concepção, o pior é o pós-guerra.
“Você se lembra daqueles hospitais de campanha em tempos de guerra? As longas filas de cabanas de madeira que pareciam galinheiros, presas bem no topo daquelas colinas geladas bestiais – a “Costa Sul”, as pessoas costumavam chamá-la assim, o que me faz imaginar como seria a “Costa Norte” – onde o vento parece soprar em você de todas direções ao mesmo tempo”.
Através da sua personagem, o autor da obra detalha em minúcias como era a vida nas trincheiras fedorentas onde os soldados se arrastavam na lama e “um cigarro a cada homem era exatamente como alimentar os macacos no zoológico”.
Relata que os homens nas trincheiras não eram patriotas, não odiavam o Kaiser, não ligavam a mínima para a pequena e galante Bélgica, e os alemães estuprando freiras nas mesas (era sempre “nas mesas”, como se isso tornasse tudo pior) nas ruas de Bruxelas.
A guerra fez coisas extraordinárias com as pessoas – descreveu George Bowling. O extraordinário era a maneira como matava as pessoas e como deixava de matar. “Era como uma grande enchente que o empurrava para a morte e, de repente, atirava você em algum lugar isolado, onde você se pega fazendo coisas incríveis e inúteis e ganhando dinheiro extra por elas”.
George narra que “havia batalhões de trabalho fazendo estradas através do deserto que não davam a lugar nenhum, havia caras abandonados em ilhas oceânicas para cuidar de navios alemães que haviam sido afundados anos antes, havia mistérios disso e daquilo com exércitos de escriturários e datilógrafos que continuaram existindo anos após o fim de sua função, por uma espécie de inércia”.
Durante seu tempo na guerra, George revelou que lia todos os livros onde muitos ficaram esquecidos. “Engoli todos como uma baleia que se meteu em uma espicha de camarões. Apenas me deleitei com eles. Depois de um tempo, é claro, fiquei mais intelectual e comecei a distinguí-los entre imbecis e não imbecis”.
– Eu peguei Filhos e Amantes, de Lawrence, e meio que gostei, e me diverti muito com O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e As Nove Mil e Uma Noites, de Stevenson. Wells foi o autor que mais me impressionou.
Num dos trechos da sua narração, George destacou que, se fosse fazer a conta, admitiria que “a guerra me fez bem e mal”. De qualquer forma, aquele ano de leitura de romance foi a única educação real, no sentido de aprender com livros, que já tive. Isso fez certas coisas em minha mente”.
Ainda sobre a leitura, ressalta que lhe deu uma atitude questionadora, que provavelmente não teria se tivesse passado a vida de uma forma normal e sensata. Ele diz que não foram os livros que lhe deixaram impressionados, mas a horrível falta de sentido da vida que levava.
Em 1918, segundo ele, foi um ano sem sentido. “Aqui estava eu sentado ao lado do fogão em uma cabana do exército, lendo romances, e, a algumas centenas de quilômetros de distância, na França, os canhões rugiam, e bandos de crianças infelizes, molhando suas calças de medo, estavam sendo empurrados para a barreira de metralhadoras, do mesmo modo que você atiraria um pedaço de carvão em uma fornalha”.
– A coisa toda tinha tanto sentido quanto o sonho de um lunático. O efeito de tudo, mais os livros que estava lendo, foi me deixar com um sentimento de descrença em tudo. Eu não era o único. A guerra estava cheia de pontas soltas e cantos esquecidos…
“Seria um exagero dizer que a guerra transformou as pessoas em intelectuais, mas, naquele momento, os transformou em niilistas. … Se a guerra não matou você, certamente fez com que começasse a pensar. Depois daquela confusão idiota indescritível, não seria possível continuar considerando a sociedade como algo eterno e inquestionável, como uma pirâmide. Você sabia que era apenas uma confusão”.
ALGUNS VERSOS
(Chico Ribeiro Neto)
Hoje eu tô pra versos.
POEMA DA CARNE
Ela tem uma angústia
que é natural
e resolveu fazer
medicina natural
Ela tem um corpo
que não se joga
e resolveu tomar
aula de yoga
Ela não tinha uma certa paz
que lhe fazia um certo mal
e resolveu trocar a carne
pelo arroz integral
Quando se aborrecia
parava e dizia: “Eu penso”,
mas começou a sentir falta
do cheiro de incenso
Entre a mesa e a dança
ela descobriu num abraço
que entre o arroz e o passo
está faltando um pedaço
XXXX
O menino que já me ensinou muita coisa
continua do meu lado.
Tem olhos bem abertos e mãos sujas de terra.
Seu calção é leve e dança cores debaixo do sol.
Traz na boca um sorriso leve
e seus pés preparam um grande pulo
para dentro do coração do mundo.
XXXX
ARMARINHO
no fundo do poço
parecia chave
mas era um osso
XX
ninguém duvida
olhos verdes
alumiam a vida
XX
dá prazer
fazer gol
dentro de você
XX
creia, rapaz,
zerei sua dívida
pra você comprar mais
XX
para melhorar
um mergulho
no mar
XX
para piorar
o carro acaba
de quebrar
XX
creia, senhor,
dá samba
riso e dor
XX
algo quente no ombro
bala perdida?
cocô de pombo
XX
coisa boa é
tênis velho
conhece o pé
XX
cheio de moedinha
meu porquinho fugiu
com a porca da vizinha
XX
falta sempre uma coisa
pagar o boleto
consertar o dente
visitar um parente
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
O SARAU DOS QUINZE ANOS
Logo mais, entre junho/julho, o nosso “Sarau A Estrada” estará celebrando 15 anos de existência, o mais longevo de Vitória da Conquista que resistiu a diversas dificuldades, inclusive durante a pandemia de 2020 a 2022 quando realizamos encontros virtuais e a produção de vídeos que renderam duas edições documentais memoráveis. Antes disso, porém, temos um evento marcado com os amigos frequentadores e demais visitantes neste sábado (dia 12/04/25), no Espaço Cultural A Estrada, cumprindo a nossa programação bimensal, com o tema (carro-chefe do sarau) sobre “A Coluna Prestes e Seus Desdobramentos”, que abrirá nossos trabalhos depois dos informes e homenagens. O palestrante será nosso companheiro historiador, Eduardo Moraes, membro da comissão, e a cantoria ficará por conta do músico, poeta e compositor Manno Di Souza (voz e violão). Tudo indica que vamos ter mais apresentações com a presença de outros músicos. Além dos cancioneiros e violeiros, haverá declamação de poemas autorais e a contação de causos e estórias. Toda organização está sendo feita pela comissão composta por Cleu Flor, Dal Farias, Alex Baducha e Eduardo Moraes, a qual promete novidades nos comes e bebes. Tudo começou há 15 anos num bate-papo festivo e descontraído numa noite de inverno entre Jeremias Macário, Manno Di Souza e José Carlos D´Almeida, os primeiros fundadores, com o nome de “Vinho Vinil”. O propósito era só tomar vinho e ouvir vinis, mas o grupo foi crescendo e tomou outras proporções. De lá para cá realizamos vários projetos, como um CD autoral, vídeos e até uma apresentação pública no Teatro Carlos Jheovah. Pelo seu reconhecimento cultural, o Sarau A Estrada foi premiado no ano passado com o troféu Glauber Rocha, indicação do Conselho Municipal de Cultura e entrega solene pela Câmara Municipal de Vereadores.
EU GOSTARIA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Alô, poetas cancioneiros!
De viagens passageiras,
Desse sarau, estradeiros!
Está é uma canção que faço
No compasso do coração,
Em noites etílicas e bíblicas,
Que ficam em nossos anais
Nesses debates intelectuais.
Eu gostaria,
Que não houvessem
Mais barreiras nas fronteiras,
Que todos fossem livres,
Para expressar seu pensamento,
Num mundo de paz e harmonia,
Sem escravos nessas caravelas,
Nem ódio nas paralelas,
Adorar o pôr-do-sol,
O alvorecer do dia,
Com amor e alegria.
Eu gostaria
Que banissem a guerra,
Nesta tão castigada terra,
Sem mais os preconceitos,
Que cada um respeitasse os conceitos,
Com apertos de mãos,
Como diferentes irmãos.
Eu gostaria,
Que abrissem todas telas,
Das coloridas aquarelas,
Apagassem todas as mazelas,
Que não queimassem nossas florestas,
Tudo fosse só festas,
Aparassem todas arestas,
Mas esse sonho é uma quimera,
Não passa de uma utopia,
De filosofia e poesia,
Numa noite florida de primavera.
A PECHINCHA E OS GENÉRICOS
Duas coisas que me deixam encabulado são esses negócios de pechincha e remédios genéricos. A origem da palavra pechincha é obscura e incerta, mas avalio que tenha surgido a partir das trocas de mercadorias desde as primeiras civilizações nas feiras livres entre as aldeias.
Por falar em feiras livres (compre três pimentões e leve quatro), acredito que sejam os lugares apropriados, no âmbito econômico, destinados à classe mais pobre, onde se praticam mais a pechincha, além das prestações de serviços. É aquela história: O preço é este, mas tem conversa.
No comércio em geral, um dos setores onde não existe a pechincha e o de supermercado. A empresa faz o seu tabelamento etiquetado e o cliente não tem essa de pechinchar quando passa no caixa, mesmo quando existem as tais promoções enganosas.
Sabemos que a pechincha é uma maneira mais fácil de negociar um produto entre um vendedor e comprador ou consumidor, de forma que ambas as partes saiam ganhando e satisfeitas. Só não entendo que o cara pede um preço determinado, mas vai logo avisando que tem pechincha.
Ora, se tem a pechincha, é claro que o comprador vai querer porque ninguém é besta nos tempos atuais de abrir mão de adquirir aquele bem por um custo mais baixo! Nesse caso, o vendedor anuncia seu preço, mesmo sabendo que, de antemão, vai receber menos.
Não é um paradoxo? Existe gente que não pechincha, mesmo não sendo endinheirada. Conheci uma amiga que foi completamente lesada em Salvador. Uma baiana, em frente ao Elevador Lacerda, lhe pediu 60 reais numa fitinha do Senhor do Bonfim, e ela prontamente deu, sem ao menos questionar. Nem pechinchou.
Nesse negócio da pechincha, uma cultura enraizada entre os brasileiros, principalmente nas feiras, só posso entender que é uma técnica de venda para atrair o comprador. Muitas vezes, o camelô ou ambulante de bugigangas de ruas pede um valor e termina aceitando a compra pela metade ou menos da metade do estabelecido.
A pechincha também é chamada de “dar uma chorada”, mas tem negociante que é duro na queda. No entanto, quando a pessoa está com a “corda no pescoço”, “na forca”, endividada ou arruinada financeiramente, como se fala no popular, ela se sujeita a vender seu objeto, bem móvel ou imóvel a um preço “baratinho”, com imenso prejuízo.
Os astutos, aproveitadores e oportunistas caem dentro, sem dor e compaixão, e deixa o outro numa situação financeira ainda pior do que estava antes. É a lei do mais forte, aí não é mais pechincha, é uma exploração impiedosa de quem tem o capital na mão.
E a questão dos medicamentos genéricos onde os preços chegam a ser mais baixos até numa percentagem de 80 a 90%? Se o farmacêutico garante que o remédio contém a mesma fórmula do chamado original, por que, então, não colocar todos genéricos?
O termo genérico, por já ser pejorativo, gera certa desconfiança da população. Será que tem o mesmo efeito? No mercado, essa coisa de remédio genérico ainda não foi totalmente esclarecida. Por que uns são genéricos e outros não?
Certamente porque alguns laboratórios nacionais não têm a permissão, nem a patente do fabricante estrangeiro para fazer o genérico. Por que em algumas farmácias você consegue o genérico e em outras não? É um esquema que não dá para entender. Você confia totalmente no genérico?