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BRUXA DA INQUISIÇÃO

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

A arte virou bruxa da inquisição,

Com vassouras e armas na mão.

 

Não me encontro nesse presente;

Do passado, aprendiz das lembranças;

Prefiro seguir em frente,

Na procura de um novo futuro,

De um porto firme e seguro,

Sem as amarras dessas alianças.

 

Arrebentaram as cordas do meu violão,

Minha voz está ferida e rouca,

Foi-se o perfume da linda canção;

A linguagem ficou louca,

Até a flor da arte está murcha,

Virou bruxa da inquisição.

 

Não sou nenhum Dom Quixote,

Nesse moinho de tanta ilusão,

Nem açoite dessa boiada;

Perdi o compasso do mote,

Nessa cultura ensanguentada;

Não mais viver nessa contramão.

 

A FELICIDADE NO TRABALHO

Quantos no Brasil de hoje, principalmente depois da reforma escravagista do Temer, o mordomo de drácula, se sentem felizes no trabalho que faz? Nesta semana estava ouvindo uma reportagem na TV sobre ter felicidade no emprego, como se isso fosse possível num sistema capitalista selvagem que só faz explorar e sugar o trabalhador o quanto pode.

Na teoria é muito fácil esses palestrantes burocráticos falarem em realização no trabalho, quando o indivíduo passa todo tempo na empresa sendo pressionado para cumprir as tais metas, sob o risco de perder o emprego. Como se diz no popular, ser mandado para o olho da rua. Muitos nem dormem direito, pensando no que será o dia do amanhã.

O operário braçal da construção civil, o metalúrgico numa fornalha de uma siderúrgica, o encanador ou mesmo o limpador de rua estão felizes em suas funções? Acredito que estão mais por necessidade porque não tiveram instrução para galgar melhores cargos no mercado.

Esse negócio de felicidade é coisa passageira, e até serviu de mote para Marx fazer sua revolução da luta de classe no século XIX após o advento da Revolução Industrial na Inglaterra. Foi a partir dali que o trabalhador descobriu sua infelicidade nas minas de carvão ou nos teares têxteis.

A máquina trouxe progresso e, em seu pacote desumano, a infelicidade de ter que trabalhar o tempo todo só para sobreviver, sem ser reconhecido como ser humano. O trabalhador nesse bruto sistema, só serve enquanto presta. Para aliviar suas tensões, ele se chafurda no consumismo, o qual lhe passa momentos ilusórios de sensação de felicidade.

No nosso país atual, de tanta exploração do homem e da mulher, a felicidade no trabalho atua como se fosse uma droga que se toma todos os dias, mas vira depressão quando se cai na velhice ou perde seu prazo de validade.

Nem os espertos malfeitores, ladrões e corruptos conseguem alcançar essa tão almejada felicidade, porque ela não está apenas no dinheiro, mas na satisfação espiritual, que nunca é plena. Portanto, falar em felicidade no trabalho nessa era tão conturbada, é coisa complicada.

O ESTADO MÍNIMO E A INFORMALIDADE

Diz lá o entrevistado de uma emissora de televisão, com ar de sabichão e profeta dos tempos, que a tendência geral dos países é a de que todos trabalhadores vão passar a atuar na informalidade, principalmente a partir da evolução tecnológica da internet, nessa nova era da revolução da informática.

Confesso que tudo isso soa para mim como um mundo desumano de um Estado mínimo, e não me sinto mais pertencente a ele. Sou como um peixe fora do aquário. O outro entregador por aplicativo revela que tira R$1.5000,00, um pouco maior quando trabalhava com carteira assinada, e que prefere sua nova atividade, mesmo sem o amparo das leis.

Fiquei a imaginar comigo como será esse jovem daqui a uns 30 ou 40 anos, sem uma aposentadoria certa e os benefícios trabalhistas. De um modo geral, nesse desgoverno desastrado, as pessoas não querem mais estudar, se especializar em alguma profissão e adquirir conhecimento.

Esse jovem não vai passar, quando estiver com 50 ou 60 anos, de um simples entregar por aplicativo, transportando encomendas ou comidas para seus patrões (o dono do negócio e o que recebe o pedido), ou estará noutro ramo do mesmo nível. Ele não é mais que um simples número.

Segundo as estatísticas, mais de 40% dos trabalhadores brasileiros estão na informalidade e, desse contingente, quase dois milhões são de entregadores que passam o dia arriscando suas vidas no trânsito do asfalto assassino. Quando sofrem um acidente grave, são levados diretamente para o SUS e, se forem acometidos de alguma deficiência física, vão receber uma migalha desse Estado mínimo, ou anos para conseguir uma pensão mixuruca.

Em outros países desenvolvidos, esses operários, mesmo na info9rmnalidade, são protegidos por leis estatais, não aqui no Brasil ignorante e selvagem onde fizeram uma reforma escravagista que coloca o ser humano como um lixo que não serve nem para ser reciclado.

É esse Estado mínimo dragão, pior que neoliberal em que vivemos, onde o brasileiro está sendo incentivado a não mais fazer uma faculdade ou universidade. Não posso dizer que me sinto animado e cheio de boas expectativas futuras, senão estaria traindo a mim mesmo ou sendo um hipócrita para agradar a maioria que pensa o contrário.

 

A PROVAÇÃO DA VACINAÇÃO

Carlos González – jornalista

Educação e saúde são os pilares de qualquer administrador público, ao assumir o compromisso de zelar pelo bem-estar do seu povo. Com raras exceções, nossos governantes, do presidente da República ao prefeito de cidadezinhas escondidas nos lugares mais remotos deste imenso país, estão mais interessados no “venha a nós, ao vosso reino nada”. Vitória da Conquista, infelizmente, não foge à regra. No momento, vamos abordar a assistência médico-hospitalar que é oferecida aos conquistenses; o ensino escolar fica para depois.

Acompanhamos um idoso, com mais de 80 anos, ao posto de saúde batizado de Panorama, no Alto Maron, um dos quatro em todo o município onde está sendo aplicada a vacina contra a influenza. Essas unidades estão instaladas em bairros da periferia, a quilômetros de distância do Centro, da zona rural e de áreas populosas como Recreio e Candeias.

Depois de percorrer ruas e becos esburacados, com dezenas de quebra-molas, odiados pelos motoristas, adorados pelos donos de oficinas mecânicas e objeto dos requerimentos dos vereadores à prefeitura, chegamos ao posto, instalado numa ampla área, mas com suas dependências internas necessitando de reformas urgentes.

As horas se passavam e os pacientes (definição dupla) resignados observavam que somente estavam sendo chamadas gestantes e crianças, estas em busca de cobertura vacinal contra o sarampo. “Idoso não tem garantia de prioridade”, resposta de uma funcionária a um questionamento que fiz. Conclusão: meu acompanhante não foi imunizado.

Aluna aplicada

Aluna atenta das aulas de política de saúde ministradas por seu antecessor, Sheila Lemos vem dando continuidade aos métodos antipedagógicos de Herzem Gusmão (1948-2021), sob a fiscalização de alinhados herzistas, abrigados no seu gabinete (alguns deles levam os sobrenomes Lemos e Gusmão) e na Câmara de Vereadores. Herzem, nos seus quatro anos como gestor público, absorveu o obscurantismo que reprime a ciência, aplicado pelo seu mestre, o inseguro presidente Jair Bolsonaro.

Com olhos e pensamento voltados para a reeleição, a exemplo do capitão-presidente, Herzem não adotou medidas concretas para combater o coronavírus e nem para minorar o sofrimento do povo pobre que chega na madrugada e passa horas nas filas dos postos de saúde, em busca de tratamento, exames e cirurgias.

A cura para a Covid-19, acreditava o alcaide, estava nos medicamentos comprovadamente ineficazes, receitados pelo “novo Messias” de Brasília, que procurou sabotar as campanhas de vacinação e a adoção de medidas de proteção para a população. “E daí? Eu não sou coveiro!”, reagiu o ex-capitão ao número crescente de mortes, que hoje chegam a quase 700 mil, inferiores somente aos Estados Unidos. Em Conquista, Herzem alimentava um conflito injustificável com o governador Rui Costa, o verdadeiro responsável pelo envio dos primeiros lotes de vacinas para o município.

Prometendo priorizar a ciência (não se falou mais em cloroquina), Sheila Lemos assumiu a prefeitura em março de 2021, na fase mais viva da pandemia, quando a maioria dos municípios brasileiros já estava numa etapa mais adiantada da campanha de vacinação. Bolsonarista não declarada, a gestora deixou de cumprir decretos estaduais, cujo objetivo era de evitar maior disseminação do vírus, incorrendo no artigo 286 do Código Penal. As diretrizes de seu governo sempre colocaram em primeiro plano a sucessão estadual de outubro próximo e a sua própria, em 2024.

Uso da máscara

No mês passado, Sheila Lemos tirou a máscara, gesto acompanhado por uma grande parcela da população local, no momento em que o município registra 691 óbitos (uma das maiores taxas de letalidade do Estado) e 70 pessoas em recuperação ou sob suspeita de contaminação. Os que persistem em usar a máscara se queixam de que têm sido alvos de zombaria.

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) acaba de emitir   um comunicado, alertando para o risco de uma nova onda da Covid-19, com base na ocorrência da doença nos Estados Unidos, Reino Unido, França e leste da Ásia, atribuída pelos especialistas à flexibilização das medidas restritivas, principalmente à liberação das máscaras.

O aparecimento da variante Ômicron BA2 transferiu para 2023 a realização dos Jogos Olímpicos Asiáticos, previstos para setembro deste ano, na China. Notamos que houve um arrefecimento da imprensa na cobertura da doença no mundo.

 

 

 

 

A NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA, SEUS GRANDES ESCRITORES E POETAS IMORTAIS

A última flor do Lácio, descendente do latim, cortou séculos de mudanças e evoluções com seus dialetos e expressões em cada território; sofreu e ainda sofre misturas de outros idiomas, principalmente do inglês no Brasil, mas tem mantido régua e compasso em sua essência, suas raízes e sua árvore genealógica, imortal como o Baobá africano.

Foi comemorado nesta quinta-feira (05/05) o Dia Mundial da Língua Portuguesa, infelizmente sem muitos comentários públicos, a não ser fechados em quatro paredes de algumas instituições, academias e agremiações. Será que ainda é o complexo de vira-latas de que tanto falou o dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues?

Com cerca de 300 milhões de habitantes, dentre os que falam a língua portuguesa estão Portugal, o colonizador, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial, Cabo Verde, Timor Leste e Macau, na Ásia. Devido a opressão do conquistador, os africanos conseguiram suas independências somente nas décadas de 60 e 70.

Em 1996 foi criada a Comunidade de Países da Língua Portuguesa, para tratar, entre outros assuntos políticos e econômicos, sobre a uniformização da língua, quando foi instituída a Nova Ortografia, que não encontrou o respaldo de todos. Uma marca desses países são as ditaduras violentas que atrasaram seus desenvolvimentos e oprimiram milhões.

A quase totalidade dessas nações ainda está na classificação de subdesenvolvidos ou emergentes, sendo diariamente triturados pela globalização do sistema capitalistas perverso. Neles habitam a maior parte da pobreza mundial, excluídos de seus direitos universais básicos, como alimentação, justiça, liberdade, educação, moradia, saneamento e saúde para todos.

No Brasil de mais de 200 milhões de almas, vive-se hoje uma profunda crise de retrocesso em todos os setores, especialmente no âmbito das ideias, voltadas para a época da Idade Média, com suas discriminações e preconceitos. Na verdade, nosso país vem sofrendo um processo de destruição interna, inclusive da sua língua.

Sobre o emprego dessa nossa língua, sua gramática tem sido maltratada diante da baixa qualificação educacional de nossas escolas, sem contar a intervenção das redes sociais da internet com o uso codificado de suas palavras. Outro fator desastroso tem sido a invasão de idiomas estrangeiros em nossa língua, especialmente o inglês, numa mistura danosa de termos, como uma faca afiada que sangra aos poucos suas normas e regras.

No comércio em geral e nos shoppings, as lojas exibem placas, faixas, cartazes e letreiros em inglês que nos faz parecer que estamos nos Estados Unidos ou na Inglaterra. A maioria inculta nada entende, mas adquire camisetas e calças com frases em inglês, e saem por aí felizes da vida exibindo seus troféus.

Na mídia, nas propagandas, nas páginas de economia, em matérias jornalísticas e nos anúncios de reuniões, seminários e congressos, o que mais se ler são palavras, como hatera, cyberbilling, business, happy hour, webnario, workshop, commodities, website, compliance, Food Park Salvador, trolls, drive trhow e tantas outras que infestam nosso português.

Na data do Dia Mundial da Língua Portuguesa só temos mesmo que prestar uma eterna homenagem aos nossos imortais escritores e poetas, verdadeiros artistas das palavras, como Luiz de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Saramago e tantos outros portugueses.

Nos resta ainda homenagear os africanos Mia Couto, Pepetela, Amílcar Cabral, Vanhenga Xitu e os nossos brasileiros José de Alencar, Machado de Assis, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Euclides da Cunha, Gilberto Freire, Afrânio Peixoto, João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Olavo Bilac, Guilherme de Almeida, Castro Alves, Álvaro de Azevedo, Lima Barreto, Luiz Gama e outros milhares que fizeram do nosso português a morada do nosso saber.

 

A VOLTA DA SECA

Choveu bastante em Vitória da Conquista no final do ano passado e até nos primeiros dias de 2022, mas basta uma curta estiagem para a seca voltar com toda força nos distritos do semiárido do município. Aliás, a maior parte do perímetro de Conquista é caatinga, que não se sustenta com um ou dois meses de sol após uma chuvarada. A terra volta a estorricar, o sertanejo perde suas lavouras e a água se evapora rápido dos tanques, como o da foto clicada pelo jornalista Jeremias Macário, lá pelas bandas de “José Gonçalves”.  Do verde, a paisagem muda de cor para o cinzento, e os carros-pipas retornam a cortar as estradas poeirentas para matar a sede humana e dos animais. É assim a vida de quem labuta no sertão. O solo não aguenta sustentar as chuvas por muito tempo, e tudo volta novamente, como se fosse um castigo dos céus. No entanto, a esperança, a fé e a vontade de continuar tentando nunca se acabam. Foi-se a lama nas estradas e voltou a poeira que sempre persiste por mais tempo, principalmente com o aquecimento global que o próprio homem provoca com sua maligna insensatez de se autodestruir.

O CATINGUEIRO

Um soneto de Jeremias Macário, do seu livro ANDANÇAS

O catingueiro é tempestade do tempo e do vento;

Calmaria da caatinga de cor queimada do sol poente;

No sangue traz a seiva do mandacaru em pedregulhos;

Da seca, o sofrimento que o faz mais forte-resistente.

 

O catingueiro é cheiro da terra molhada e rachada;

Verde ou cinzenta, prosa cismada e desconfiada;

Poeira do sol a pino no arrasto do cabo da enxada;

Capanga cheia de sinais das nuvens das trovoadas.

 

O catingueiro carrega no corpo mãos calosas e espinhos;

Na alma, a sagrada palavra da prometida profecia,

De um Deus penitente, sem ler a escrita da sabedoria.

 

Pergaminho do sertão, cortando vereda e caminho;

Irmão da lua, esperança noturna, fé a lavrar todo dia;

Bicho do mato, tabaréu emboscado pela demagogia.

LIBERDADE E DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA

Nas comemorações do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (03/05) deve-se também se fazer uma reflexão sobre a democratização dos meios de comunicação no Brasil, que ainda estão nas mãos de poucos grupos de empresas, as quais têm sempre procurado manipular a informação a favor de seus interesses.

Nos últimos anos, pouco tem se comentado sobre esse tema democratização dos veículos, tão importante como meio de evitar a prática de um jornalismo tendencioso e parcial, descambando até para fake news disfarçadas, que os leigos não percebem. Nesse balaio, tem pontuada a mídia alternativa, mas logo é sufocada pelos poderosos, e termina com vida curta.

Todos de bom senso defendem a liberdade de imprensa, mas ela só se torna completa com a democratização, o que se torna difícil no sistema capitalista de monopólio e oligopólio onde só os fortes sobrevivem. É ingênuo imaginar liberdade absoluta e independência total quando um jornal, um rádio, uma televisão ou um simples blog depende de anúncios oficiais ou do setor privado para continuar circulando e funcionando.

Para acontecer essa liberdade mais ampla, da qual estamos falando, só os instrumentos do cooperativismo ou coletivização entre as pessoas da sociedade tornariam o veículo mais livre para expressar seus pontos de vista, com imparcialidade. Infelizmente, não se tem essa cultura na área jornalística num país que só visa o lucro do capital.

Para se criar esse ambiente de democratização da mídia, teria que se ter uma consciência mais culta em favor da liberdade, de modo a cooperar com o veículo pequeno para que ele não seja obrigado a se tornar refém dos órgãos públicos. Sem o coletivo, vamos cair no jornalismo “chapa branca”.

Diante do exposto, digo que essa liberdade é mambembe e maquiada pelos grupos que detém a maior fatia no bolo publicitário. Na Bahia, por exemplo na capital, o Jornal da Bahia tombou diante da pressão de um governo autoritário. A Tribuna da Bahia também sofreu seus ataques e esteve à beira da falência.

Por que se diz por aí que a linguagem da grande mídia, resumida em quatro tentáculos poderosos, é burguesa, que não fala para o povo? Não temos um jornalismo popular. Portanto, essa liberdade, da qual tanto desejamos, não é completa. Na verdade, o que existe mesmo é um disfarce onde as ameaças e os ataques são dirigidos aos trabalhadores jornalistas, as maiores vítimas desse jogo de poder.

Sobre essa violência, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) aponta que entre 2019 e 2021 o total de casos desse tipo contra jornalistas no Brasil somou 1.066 ocorrências, número bem maior do que a soma de todos os episódios registrados pela entidade de classe entre os anos 2010 e 2018, que totalizam 1.024 situações.

Existe sim uma escalada de violência que aumentou mais ainda nesse governo do capitão-presidente, que não respeita o operário da informação em seu papel que, quase sempre, segue a linha editorial da empresa da qual pertence. Falar em liberdade, tem também que se falar de democratização dos meios de comunicação, totalmente voltados para atender os anseios da população mais enfraquecida.

A HERANÇA COLONIAL

Por volta de 1682, final do século XVII, o bandeirante paulista Manuel de Borba Gato era um fugitivo da lei por acusação de ter matado o fidalgo português Rodrigo de Castelo, administrador das Minas. Com seu bando, se embrenhou na região do Rio das Velhas onde estava localizada a Serra de Sabarabuçu, atual município de Sabará.

Naquela época, como descreve o jornalista e escritor Laurentino Gomes, a Coroa Portuguesa estava falida e ávida por encontrar ouro em terras brasis, e foi isso que Borba conseguiu naquele ermo de mundo. Pelo seu feito, ele obteve o perdão real pelo crime do qual era acusado.

Em troca da localização das minas, o rei D. Pedro II, não só anistiou ou indultou o bandeirante, como lhe encheu de honrarias e terras nas quais poderia explorar os depósitos. Borba Gato deixou de ser considerado um criminoso para ser promovido ao posto de guarda-mor das minas de Caetés, tornando-se fidalgo do rei, conforme especificava a carta patente.

Borba Gato é hoje homenageado com uma estátua de dez metros de altura e vinte toneladas de peso no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Esse é só um dos exemplos para ilustrar como historicamente bandidos e malfeitores sempre são recompensados no Brasil através da “lei da impunidade”. É uma herança colonial impregnada em nossa cultura.

O caso do deputado Daniel, Silveira que praticou atentados contra a democracia e ameaçou ministros do Supremo Tribunal Federal, é parecido com o do bandeirante Borba Gato. Julgado pela corte, o rei lhe concedeu a graça do indulto, e o Congresso Nacional completou com cargos em comissões.

No Palácio, o deputado foi recebido pelo rei que lhe deu uma moldura do indulto, faltando apenas mandar construir uma estátua em sua homenagem, mas isso ainda pode ser possível. Infelizmente, isso aqui virou uma republiqueta de bananas dos tempos coloniais.

O parlamentar não descobriu nenhuma mina de ouro que tirasse o país dessa falência, ou tenha realizado uma grande obra, mas foi o porta voz do rei que ataca a democracia, a liberdade de expressão, destrói o meio ambiente, pede AI-5 e intervenção militar, ou seja, um regime de ditadura para o país, introduzindo a tortura para aqueles que se posicionarem contra as ideias retrógradas e fascistas do rei.

Por falar em Borba Gato com seu monumento em São Paulo, temos no Brasil de hoje inúmeras estátuas, prédios, pontes, viadutos, ruas, avenidas e praças com nomes de pessoas que cometeram crimes de torturas durante as ditaduras brasileiras; mandaram matar adversários; fizeram malvadezas com o povo e até foram exímios corruptos. A maioria passa por esses homenageados e nem sabe quem foram eles, isto porque não tem memória e história.

ELAS ESTÃO CHEGANDO COM O AÇOITE DOS FORTES E A ILUSÃO DOS FRACOS

De quatro em quatro anos, aliás de dois em dois, eles fazem “mudanças” ou remendos em seu sistema oligárquico oligopolista para que as coisas continuem no seu mesmo lugar. Elas estão chegando como sempre, antes de serem oficializadas por lei, com o açoite do reio cru no lombo dos mais fracos, que se rendem ao canto da sereia, na vã ilusão de melhores dias para se libertar do jugo da opressão.

Claro que estou me referindo às ditas cujas eleições onde os candidatos transgressores das normas já estão em plena campanha, com xingamentos, ódios, bravatas, mentiras, truques, intolerância e até ameaças de golpe, para que elas não aconteçam. Como um vício incurável, os dependentes “químicos” entram de cabeça na onda deles e se dividem na disputa para ver quem escolhe o pior, o mais ladrão, o mais corrupto, impuro e falsário.

Todo bruto esquema é montado com antecedência, e grupos se formam com os bilhões de reais de suas próprias presas para vencer a maratona do poder. Nesse ciclo nojento, infestado de sujeiras, o caçador sempre vence a caça, que é levada para seu altar dos sacrifícios humanos, em rituais dos mais macabros. Tudo não passa de um banquete masoquista onde irmãos odeiam irmãos e até famílias se separam.

Elas têm o nome chamadas urnas “democratas” ao molde tupiniquim, ultrapassado e arcaico onde se apertam os números dos votos que sempre elegem os mesmos cafajestes, porque tudo já é montado e estruturado para que não haja muitas renovações. Manda quem tem mais bala na agulha. As vítimas incultas e ignorantes são facilmente fisgadas e caem direitinho nas manjadas armadilhas ou alçapões da morte.

Depois, é só se fartar da gorda caçada com muitas orgias, comes, bebes e arrotos em suas mansões, longe das ralés desiguais sociais e famintas das degradantes periferias dos esgotos a céu aberto. A quem interessa toda essa campanha maciça para que os meninos manipuláveis de 16 a 18 anos vá ao encontro delas e votem?

Todos aqueles que se consideram inimigos na disputa se tornam castas amigas da mesma irmandade “religiosa”, cada um em nome do seu Deus, com tapinhas nas costas. Concluída a farsa, é só partir para o abraço e conchavos nos momentos certos, para cortar gargantas e decepar as pobres cabeças.

NAS CILADAS DA LUA CHEIA

Há cerca de uns três anos fiz uns versos intitulados “Nas Ciladas da Lua Cheia”, musicada pelo grande compositor e músico Papalo Monteiro que, no sentido figurado fala dos lobos que ficam moucos nessa época das eleições, no Planalto prateado do céu tropical, onde os bandos fazem sua ceia, vinda do arado suado do braço serviçal.

Prossigo falando sobre as hienas que viram renas na lua cheia, para a engorda gulosa do grande dia, enchendo seus trenós em cada aldeia, para mais quatro anos de mordomia.

Os ratos armam ciladas na lua cheia; os malignos vendem gatos por lebre; a mente fraca se encanta com o canto da sereia; e quem paga o pato é a plebe. Depois dessa festa, a chama da fé começa a minguar; o fio da esperança vai-se embora; chora o velho, a senhora e a criança, na falta da justiça, do remédio e do pão, e do direito de viver e sonhar de nunca mais ser boiada de patrão.

Arremato no final, dizendo que, no aboio ou no rasgo da guitarra, vamos embora gente valente. Não fiquei aí na espera do Deus dará. Vamos acabar de vez com a farra dessa corja bicharada em nosso lar, sem mais raposas uivando em nosso luar.

 

 





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