abril 2024
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  


TUDO É COM DEUS, OU A CULPA É DELE

Ao ler dois textos poéticos da minha autoria intitulados “Bruxa da Inquisição” e “Preciso Respirar”!, que falo da falta de apoio ao artista, hoje visto como demônio comunista, e sobre a natureza, meu amigo parceiro letrista Edilson Barros, lá de Fortaleza, da boa Ceará dos grandes talentos, me chamou de cruel. Simplesmente respondi que cruel é o homem com sua destruição que bota a culpa em Deus.

Ele riu, e disse ser verdade. Pois é, tudo que acontece hoje de anormalidade no clima, como a onda de frio fora do tempo no sul do país, seguida de ciclones de fortes ventos, foi Deus quem determinou, como se Ele fosse culpado de tudo. Quando as águas dos rios Madeira e o do Negro sobem no Amazonas, ou no Acre, e invadem as casas, o homem simples olha pesaroso e repete o mesmo.

Tem aquela história do “Deus que assim quis” para tudo que acontece de bom e ruim. Se chove demais, foi o Supremo Divino quem ordenou. Se bate a seca e o sertanejo dela foge em retirada, foi castigo de Deus. Na realidade, usam o nome Dele em tudo para esconder o conformismo e se eximir como vilão predador do meio ambiente.

Nem Freud e Lacan explicam essa psicologia do tudo pôr a culpa em Deus, e dizer que foi Ele quem quis, até quando se tem dez filhos em plena miséria humana. Não foi o Criador que lhe deixou na ignorância e sem educação, impedindo-o de prosperar na vida. Sem essa de que “a voz do povo, é a voz de Deus”, e ainda de que “Ele é brasileiro”. Seria muita maldade da Sua parte nos deixar nessa situação a qual vivemos hoje, com um maluco odioso, racista e homofóbico no governo, que manda “passar a boiada” para derrubar a Amazônia.

Em cada jogo de futebol que acontece nos campeonatos, Deus sempre está torcendo para algum time, e justamente para aquele que vence. “Ganhamos, graças a Deus”. “Fiz um gol, graças a Deus”. Até o pistoleiro faz a sua oração antes de partir para matar o seu “próximo” a mando do patrão do crime. Existe também a “guerra santa” dos islâmicos que explodem bombas contra outros em nome de Alá.

É comum a pessoa afirmar que Deus o salvou quando sobrevive a um desastre natural ou num trágico acidente. Quer dizer que Deus não estava ao lado dos outros porque eram infiéis? Até num jogo de baralho, dama, dominó ou nas lotéricas da Caixa Federal usa-se o nome em vão de Deus. Quando se pratica o mal, também, tanto que o cara se saia bem. É que Deus estava ao seu lado.

Esse Deus passa as 24 horas se “virando nos trinta”, inclusive para gente que não presta, não vale nada, como é o caso do capitão-presidente. Ele mesmo já disse certa vez ser o enviado de Deus. Será que esse Deus é tão ruim assim que escolheu ele para fazer maldades? Em nome de Deus, os pastores das igrejas evangélicas foram lá ao Ministério da Educação rezar e cobrar propinas dos prefeitos.

Para os fanáticos fundamentalistas, a pandemia da Covid-19 que ceifou milhões de vida no mundo foi obra de Deus para repreender a rebeldia e os malfeitos da humanidade. Por falar em pandemia, a mídia agora está dizendo que o analfabetismo dos estudantes é culpa dela. A educação no Brasil sempre foi uma das mais deficitárias no mundo, mas isso já é outro assunto.

CONQUISTA NÃO É PORTAL DA CHAPADA

Tem um movimento aí de empresários que querem transformar Vitória da Conquista em Portal da Chapada. Esse grupo deveria lutar junto ao poder público e toda sociedade para que Conquista se torne numa cidade turística de verdade, pois possui todo potencial para tanto, dependendo tão somente de um planejamento entrelaçado entre todos os segmentos.

Em minha opinião, Portal da Chapada nessa região mais próxima, é Ituaçu, Contendas do Sincorá, Dom Basílio e Nossa Senhora do Livramento, ali bem ao lado de Rio de Contas. Trazer turistas de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo ou Rio de Janeiro só serve aos interesses do setor hoteleiro e das agências de viagens. Aqui é o Planalto da Conquista.

Por enquanto, o visitante que vier para aqui de avião não tem praticamente nada para se ver em Conquista, não passando de simples passageiro de pernoite, do tipo bate e volta. A agência de viagem leva ele para a Chapada e no retorno pega seu voo e vai embora. Conquista hoje só tem um monte de bares e restaurantes que oferecem músicas ao vivo (nem todos) onde isso existe em todos lugares.

Para começar e dar vida à cidade, precisamos instituir uma política pública cultural, com atividades definidas durante todo ano, não somente as festas de São João e Natal. Infelizmente, não temos uma feira literária, um festival de música (não falo desse da TV Bahia), um salão de artes plásticas, uma semana do teatro e da dança, uma jornada de cinema e audiovisual, entre outras festas culturais.

Para movimentar todo ano com apresentações variadas, Conquista conta com bons equipamentos, como o Teatro Carlos Jheová, o antigo Cine Madrigal, Casa Glauber Rocha, adquirida pela Prefeitura Municipal, os museus Regional, Padre Palmeira, de Kard, Cajaíba, localizado na Serra do Periperi, o monumento do Cristo de Mário Cravo, o Espaço Glauber Rocha e o Memorial Regis Pacheco, só que são subutilizados, e muitos estão desativados. O Museu de Kard, o maior a céu aberto do Norte e Nordeste, já constitui numa grande apresentação lá fora.

Numa ação conjunta, num sistema de parceria público privada, esses pontos carecem de reformas e instalações adequadas parta que funcionem, cada um exercendo a sua função, com total incentivo e apoio aos artistas para que desenvolvam suas expressões e suas linguagens. Temos grandes talentos, só que estão adormecidos.

A área do Cristo deveria ser estruturada com um estacionamento, um restaurante e lojas de artesanato e comidas típicas. Como no Rio de Janeiro (claro que não necessita dos mesmos equipamentos), um bonde elétrico faria a ligação entre o centro da cidade e o topo da Serra, inclusive até certo horário da noite, sem falar da vista do pôr-do-sol. Tudo isso com total segurança das polícias e da guarda municipal. É um projeto arrojado, mas realizável através de parcerias e decisão política.

Ainda como parte desse pacote turístico, os museus teriam que abrir suas portas nos finais de semana, como acontece em outras partes do mundo. Conquista ainda deveria ter uma praça dos artistas, com bares oferecendo saraus, músicas ao vivo, comidas de botecos (concursos), lojinhas de biscoitos, artesanatos, livros de autores regionais e outros objetos da terra.

Depois de toda essa estrutura de opções montada e organizada, os poderes público e privado entrariam com a divulgação massiva nos meios de comunicação para atrair e convencer os turistas de passagem a ficarem mais tempo aqui. Todos ganhariam com isso, desde o artista aos empresários, comercial, de serviço e o industrial.

Como passeios ecológicos ainda poderiam ser criadas trilhas no Maçal, pela Serra do Periperi, visitas à Barragem de Anagé, fazendas de café e outros caminhos com guias treinados. Teríamos ainda roteiros programados aos terreiros de candomblé. Enfim, todos tirariam proveito, e Conquista passaria a ser conhecida como uma cidade turística, e não como Portal da Chapada.

 

“ANTÔNIA ONÇA E O MESTRE EM AMANSAR BRANCOS”

TRAJETÓRIAS E SABERES INDÍGENAS E AFRICANOS NO SERTÃO DA BAHIA

Esta semana foi profícua no lançamento de livros em Vitória da Conquista. Na quarta-feira (dia 18/05), o historiador Washington Nascimento, como organizador, lançou na área do Proler, do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, a obra “Antônia Onça e o Mestre em Amansar Brancos”. Na quinta (dia 19/05), na Livraria Nobel, o ex-deputado Aldo Arantes, como prefaciador, apresentou a biografia do baiano de Caetité, Haroldo Lima, também ex-deputado federal do PC do B e que fez parte das lutas contra a ditadura civil-militar de 1964.

Quanto ao primeiro lançamento, a professora Marisa de Santana, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), comenta que nesta obra se aliam história e antropologia, quando se busca pensar que, para além dos documentos, são importantes os dados orais”.

Por meio de entrevistas, os textos contam histórias culturais dos indígenas do centro-sul baiano e como elas se entrelaçam com as dos povos africanos. Como descreve a sinopse na contracapa, o livro percorre as histórias e lutas dos Maraká, Kariri-Sapuyá, Kamakã, Paneleiro, Botocudo… e o encontro de suas trajetórias e saberes com as populações africanas e negras, sobretudo no que se refere às práticas de cura e ao segredo de matriz indígena e africana, presentes nas umbandas e candomblés da região.

Washington, nascido em Jequi-Bahia, foi graduado em história pela Uesb; fez mestrado em Antropologia pela PUC-SP e doutorado em História Social pela USP. Atualmente é professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participou com artigos acadêmicos do livro “Intelectuais das Áfricas” e é também autor de outras obras que falam das questões africanas e indígenas.

Como organizador da “Biografia Haroldo Lima”, esteve em Conquista o ex-deputado Aldo Arantes para o lançamento da obra publicada pela Assembleia Legislativa da Bahia. Aldo também foi ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1961, e esteve à frente das lutas políticas contra o regime militar no Brasil.

O evento foi realizado na Livraria Nobel, na noite de quinta-feira (dia 19/05) e contou com as presenças do deputado estadual pelo PCdoB, Jean Fabrício, ex-deputado federal Elquison Soares, do vereador Chico Estrela, do advogado Ruy Medeiros, Elias Dourado, professores da Uesb, intelectuais e estudantes.

Conforme o prefaciador da obra, Aldo Arantes, na verdade, “Biografia Haroldo Lima” é praticamente uma autobiografia da vida do político que narra sua trajetória de vida desde estudante, ativista político durante a ditadura civil-militar, sua prisão e torturas sofridas durante a ditadura, sua participação nos movimentos pela redemocratização do país e como presidente da Agência Nacional do Petróleo nos governos do PT.

NOSSOS MUSEUS!

Nesta semana foi celebrado o “Dia Nacional do Museu”, tão pouco visitado no Brasil, tanto quanto a leitura de livros, o que denota que ainda somos um país atrasado culturalmente e, por consequência, não alcançamos um nível mais civilizado como em outras nações. Sem educação e cultura, não existe desenvolvimento. Vitória da Conquista não é uma exceção. Aqui temos o Museu Padre Palmeiras, o Museu Regional, as esculturas de Cajaíba, que estão no topo da Serra do Periperi, e agora o Museu de Kard, o maior do Norte e Nordeste a céu aberto, montado com recursos próprios do artista plástico Alan Kardec. Para o porte da cidade, com cerca de 400 mil habitantes, ainda são poucos. Mesmo assim, essas unidades, que guardam nossa história e conhecimento da arte, são raramente visitadas pelos seus moradores, a não ser algumas vezes por estudantes e professores, para cumprirem deveres escolares. Nos países europeus, eles são fontes de saber e renda. Estão sempre abertos, inclusive nos finais de semana. Aqui no Brasil, especialmente na Bahia e em Conquista, são fechados nesses dias, justamente quando deveriam estar com suas portas abertas. Além do mais, são mal preservados porque os governantes em geral não dão importância para a cultura. Tratam a arte como coisa secundária, sem valor. Os monumentos estão se perdendo com o tempo, como no caso do Cristo de Mário Cravo que pode vir abaixo por falta de manutenção.

NÃO SOU DESSE MUNDO

Mais um poeminha inédito de Jeremias Macário

Não sou desse mundo,

Do sistema que mata o humano;

Estou mais para amante,

Do poeta do canto profundo;

Na campina ouvir,

O solar do Bem-te-Vi.

 

Difícil ser romântico,

Nesse planetário quântico,

Conhecer a si mesmo,

Nesse vazio esmo.

 

Procuro quem sou,

Na angústia da dor,

Se sou caça, ou caçador.

 

Não dá para tapar,

O sol com a peneira;

Saravá, meu orixá!

Me salve dessa cegueira.

 

Na praça, a câmara me vigia;

Quer saber o que penso;

Segue meus passos noite e dia;

Acusa que não tenho senso,

Nem incluso nesse censo.

 

Não sou desse mundo covil;

Vou virar bicho mocó;

Viver em minha loca,

Sem ser pororoca,

Nem broca desse metal vil.

 

Não sou desse mundo,

De tanta amargura,

Sem quase ternura.

A CORRUPÇÃO VEM DOS TEMPOS COLONIAIS

Desde quando o Brasil passou a ser colonizado por Portugal, uma das marcas registradas em todos setores, inclusive durante os 350 anos do tráfico negreiro, foi a corrupção. A Coroa Portuguesa, que se esbaldou com as nossas riquezas, principalmente levando nosso ouro e diamante, era sempre passada para trás pelos seus enviados governadores e vice-reis que aqui chegavam com a missão de acabar com a roubalheira.

O jornalista e escritor Laurentino Gomes e visitantes estrangeiros retratam muito bem esse quadro ao longo de seus três livros intitulados “Escravidão”. Essa corrupção nasceu de cima para baixo e foi se espalhando por todas as camadas da sociedade, dos mais ricos aos mais pobres que sempre tiveram o intuito de tirar proveito em tudo. Ela passou a ser institucionalizada e até os mandatários ensinavam as técnicas do roubar para se dar bem.

Em diversos trechos de suas obras, Laurentino destaca depoimentos de visitantes que passavam pelo Brasil, sobretudo pelas atuais capitais do Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Essas observações mostram uma colônia isolada, como nos tempos atuais, atrasada e sem educação… dominada pela escravidão, que não se acabou.

“A maioria da população era pobre, analfabeta e carente de tudo. Foi o que registrou a inglesa Jemima Kindersley, em agosto de 1764, ao fazer uma escala em Salvador a caminho da Índia”. Entre outras coisas, ela diz que aquele povo lia pouquíssimos livros, “pois o conhecimento não está no rol de suas preocupações. É política assente do governo manter o povo na ignorância, já que isso o faz aceitar com mais docilidade as arbitrariedades do poder”.

Nada mudou, e tudo continua como antes, há mais de 300 anos. O filme é o mesmo. Tudo isso pode ser dito e repetido nos tempos atuais, talvez com mais ênfase. Vejamos o que fala o próprio autor dos livros sobre essa situação descrita por gente de fora: “Injusto, desumano e violento, o sistema escravista português e brasileiro era corrupto e corrompido dos alicerces até o topo da pirâmide. Seu funcionamento dependia do suborno, extorsão, malversação dos recursos públicos, contrabando, sonegação de impostos, clientelismo e nepotismo, entre outras contravenções”.

Autora de um importante estudo sobre o tema, segundo o jornalista, a historiadora Adriana Romeiro, doutora pela Universidade Estadual de Campinas e professora da Universidade Federal de Minas Gerais, assinalou “que durante o período colonial brasileiro, enriquecer no exercício de um cargo público não constituía, por si só, em delito. Ao contrário, esperava-se que os funcionários reais aproveitassem as oportunidades para acumular fortunas que pudessem engrandecer suas casas e redes de clientelas e parentelas”.

Nesse contexto, ela cita a frase pronunciada pelo rei dom João V, em 1495, ao se despedir do capitão-mor Lopes Soares de Albergaria, recém nomeado governador da Fortaleza de São Jorge da Mina, entreposto de tráfico de escravos na costa da África: “Eu vos mando à Mina, não sejais tão néscio (tolo) que venhais de lá pobre”. Sem maiores comentários em relação aos nossos tempos.

A IMPRENSA BRASILEIRA PRECISA DE UMA GRANDE REFORMA AGRÁRIA

Na semana passada estava aqui em meu “Espaço Cultural A Estrada” escarafunchando meus alfarrábios e encontrei uma entrevista que concedi, em 2007, ao informativo “O Piquete Bancário”, do Sindicato Regional dos Bancários, em que tratava da democratização dos veículos de comunicação, intitulada “A Imprensa Brasileira Precisa de uma Grande Reforma Agrária”.

Infelizmente, esse assunto foi esquecido, talvez por causa do advento da internet onde a mídia virou virtual, mas o problema continua o mesmo, isto é, a sociedade é dominada e manipulada pelas grandes emissoras de televisão e jornais do sul (São Paulo e Rio de Janeiro), que ainda conseguiram sobreviver à onda tecnológica da computação.

A matéria, tipo pig-pong, de perguntas e respostas, diz na abertura que “tornam-se mais fortes os gritos de comunicadores, intelectuais, estudantes, entidades e movimentos sociais acerca da democratização da comunicação. São ativistas que buscam a caracterização de uma mídia onde estejam representadas a pluralidade e a diversidade de opiniões e interesses existentes na sociedade”.

No sub-lide, destaca a entrevista que “no Brasil, menos de dez famílias controlam a mídia escrita, falada e televisada (não mudou muito de lá para cá), caracterizando um verdadeiro latifúndio midiático. Sobre a democratização da comunicação, “O Piquete Bancário” conversou com o jornalista Jeremias Macário, autor do livro “A Imprensa e o Coronelismo no Sertão do Sudoeste”, e que tem contribuído com a discussão em nível de Bahia”.

Na indagação, por que se tornou tão relevante a discussão sobre o tema, o entrevistado assinala que o sistema de comunicação do Brasil é um dos mais verticalizados do mundo. Segundo ele, a imprensa brasileira tornou-se um latifúndio e, como no campo, precisa de uma reforma agrária. Cita que em 2006, Lula incluiu em seu programa de governo um projeto de democratização da comunicação. Na verdade, tudo ficou no campo das intenções.

Perguntado qual o modelo ideal, respondeu que estimulando e prestigiando a imprensa alternativa, como a do interior, mas sempre foi excluída. Não basta somente implantar Tvs públicas. Financiar pequenas empresas comunitárias corre-se o perigo das mesmas ficarem reféns dos governantes.

Como, então, estimular? Uma das formas seria elaborar um programa que inclua a comunidade no núcleo da informação, beneficiando as empresas na política de democratização. Na época, o Governo Wagner criou um núcleo de trabalho de políticas públicas de comunicação social através da promoção da Conferência Estadual de Comunicação Social, que não deu em nada. Sugeri a instalação de um fórum comunitário de comunicação, pois a informação é um direito de todos.

Por fim, digo que a democratização da mídia fortalece a democracia. Ainda temos uma democracia que engatinha (ainda está pior que isso), com a permanência de políticos da época do coronelismo (nada mudou). Poucos representam o povo. A maioria age em prol de seus interesses e das elites. Para atualizar, diria que ainda hoje poucos têm acesso à informática e, como consequência, são desprovidos de consciência crítica. Nesse caso, temos que ampliar o debate para a questão da pobreza na educação.

 

ESTÁ NO SISTEMA… ESTÁ NO SISTEMA…

O cotidiano nos oferece muitas matérias-primas para escrever nossas crônicas da vida. Tudo hoje, meu amigo do outro mundo, gira em torno do sistema, e não adianta protestar. Se ele sai do ar, é aquele estresse geral, uma reprovação de ira e revolta porque o tempo não para, e seu problema não é solucionado. A tecnologia do aplicativo do passo a passo quase sempre não funciona no Brasil. E você vai para a fila do presencial, levando sol e chuva.

Os funcionários burocráticos, técnicos do virtual se tornaram escravos do sistema, e não adianta apelar para sua razão humana, só vale o que está ali. O seu dia a dia vira um inferno, e você tem que ter nervos de aço, senão seu espírito vai para o espaço. O sistema diz que seus dias estão contados, e lá está escrito seu prazo de validade. As câmaras lhe vigiam dia e noite. Nada de reagir e se indignar. Ele é o ditador da sua vida.

É o sistema, meu amigo, e não adianta espernear. Na semana passada, por exemplo, fui garroteado pelo sistema, e por uma cara irredutível que o segue fielmente como se fosse seu Deus Supremo, como no caso de Abraão que foi mandado sacrificar seu filho. Só uma voz do além do todo Poderoso o impediu de derramar o sangue do menino Isaac no altar.

Para não pagar mais caro, fiz outro contrato na Vivo, transferindo meu nome para o da minha esposa, uma saída para não aumentar a prestação, conforme explicou o atendente. Tudo andou nos conformes, mas o operador do tal sistema não deu baixa do meu nome.

O tempo se passou, crente de que tudo funcionou normalmente. Continuamos pagando tudo certo, todos os meses, como manda o figurino do todo mês você é freguês. Lego engano! Foi só eu solicitar uma portabilidade do meu celular da Oi para a Vivo que lá apareceu que não podia fazer porque estava devendo três parcelas. Foi um susto, e me senti constrangido perante outras pessoas no balcão de atendimento.

A solução estava nos comprovantes de pagamento e lá atestavam, como dois e dois são quatro, que tudo estava quitado, mas em nome da minha esposa. Tudo bem, pensei comigo, o que importa é que nada devemos. Não interessa se foi João, José ou Mané. O que conta é que tudo comprova quites. Assim é o raciocínio lógico do mercado, não?

Qual nada, meu amigo! Levei os comprovantes e expliquei como tudo ocorreu, tintim por tintim, nos mínimos detalhes, como dizia aquele cara chato do programa humorístico da “Praça é Nossa”. Gosto de explicar nos mínimos detalhes!

Do outro lado, com cara sisuda de quem não está ali por vontade ou satisfação do seu serviço que faz de receber com humor e gentileza os clientes (isso hoje é coisa cada vez mais rara.), o moço abriu o tal sistema e lá constava e registrava, impiedosamente, que estava devendo.

Entrei com meu argumento, que tudo bem, mas os recibos provavam que as três mensalidades estavam pagas, nada a dever, não importando o nome de quem fez a quitação. Nada adiantou gastar meus neurônios para convencê-lo que foi o colega dele que não deu baixa. Nada tinha a ver com isso. Não se tratava da minha culpa.

Indaguei a ele se era justo pagar tudo novamente para a empresa operadora. Nada adiantou minha pergunta, porque ele só repetia que estava no sistema e assim tinha que ser, sem apresentar, ao menos, uma forma de solução. Só respondia enfático: Está no sistema, está no sistema, está no sistema.  É o sistema, meu amigo!

Um funcionário interveio e se dispôs a resolver a questão, mas, até o momento, quem manda mesmo é o sistema, o senhor que nos conduz, nos molda, que funciona como bitola de trem e diz o que você é obrigado ou não a fazer, e ai de que não o obedece cegamente, porque você cai na rede dele e está preso condenado à morte.

CURIOSIDADES DO TRÁFEGO NEGREIRO (XX)

O livro de Laurentino Gomes, “ESCRAVIDÃO” mostra curiosidades do tráfico negreiro, muitas das quais de horror, mas que precisam ser conhecidas por historiadores, estudantes e todos brasileiros sobre o que aconteceu nos quase 350 anos de escravidão no Brasil.

Em prosseguimento aos relatos do autor, vamos destacar alguns deles sobre os sofrimentos dos negros no cativeiro:

A ESCRAVIDÃO, A IGREJA E A LEI ÁUREA

Treze de maio é o Dia da Lei Áurea e, sobre a data, a maioria dos movimentos negros não reconhece. Prefere homenagear Zumbi dos Palmares no 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Alega que a princesa Isabel só fez assinar um documento e nada em termos de reparação dos danos de 350 anos de escravidão, o que, em parte, é uma verdade. No entanto, ela bem que tentou, mas D. Pedro II sempre foi pressionado pelas oligarquias da cafeicultura e outros setores da economia que se posicionaram contra qualquer tido de indenização. As elites nunca aceitaram repartir e distribuir.

O jornalista e escritor Laurentino Gomes fala muito dessa questão em sua obra “ESCRAVIDÃO” em três volumes. No primeiro, em um trecho do seu livro ele tece comentários sobre a Igreja Católica, a qual sempre tomou partido favorável à escravidão e, em algumas vezes, seu posicionamento quanto ao tema era dúbio.

“Só em 1888, às vésperas da assinatura da Lei Áurea, o papa Leão XIII condenou a prática de forma inequívoca. São inúmeros os exemplos da íntima associação que, a partir dessas bulas papais, se estabeleceu entre Igreja, o tráfico de escravos e o Reino de Portugal. Em 1482, ao final da construção do Castelo de São Jorge da Mina, atualmente Gana, destinado ao comércio de cativos, o papa Sisto IV concedeu indulgência plenária a todos os cristões que ali falecessem a serviço da coroa portuguesa”.

Laurentino comenta mais na frente que, o simples fato de morrer no castelo do tráfico negreiro lhes garantia o total perdão dos pecados e a garantia da vida eterna. Descreve o autor que na África, as instituições religiosas possuíam e comercializavam escravos com a mesma naturalidade de qualquer outra empresa ou associação dedicada ao tráfico. Em Angola, por exemplo, os jesuítas tinham, em 1558, mais de 10 mil escravos trabalhando em seus quinhentos sítios e fazendas, de acordo com o relatório do governador João Fernandes Vieira enviado à coroa portuguesa.

Segundo o historiador Roquinaldo Ferreira, no começo do século XVII, a Companhia de Jesus era a maior proprietária de escravos de Angola. Da mesma forma, instituições religiosas ganhavam muito dinheiro vendendo escravos para o Brasil. Um outro resíduo da trágica história da Igreja relacionada à escravidão africana é o preconceito racial. Conforme a historiadora Larissa Viana, a Ordem dos Carmelitas Descalços Teresianos, estabelecida em Olinda, em 1686, manteve a mais rigorosa e persistente contra pessoas de alguma descendência africana, mesmo que longínquo.

Como pregava o padre Antônio Vieira, os pardos eram quase sempre malcriados e foram banidos do colégio porque as famílias brancas não toleravam ver seus filhos ao lado de pessoas de vil e obscura origem, de costumes corrompidos e com audaciosa soberba. Acrescentava que por esta razão, nesta costa do Brasil, já lhes está totalmente fechado o ingresso ao sacerdócio e aos claustros religiosos e a qualquer função governativa.

De acordo com o autor das obras “Escravidão”, “a pureza de sangue do seminarista tinha de ser provado por meio de inquérito judicial para apurar se pais e avós de ambos os lados estavam isentos das tais máculas raciais, ou “sangue defeituoso”, e aí estavam também incluídos os judeus. Os estatutos da Ordem Terceira de São Francisco, de Mariana (MG), determinavam que todo candidato à confraria teria de ser de nascimento branco legítimo…”

Não entendo essa quizila toda dos movimentos negros contra a princesa Isabel que sempre foi defensora da abolição e concedeu centenas e milhares de cartas de alforrias. Com a Igreja Católica, existe hoje um sincretismo religioso entre o candomblé e o catolicismo, sem ranços raciais, talvez por consciência pesada pelo que cometeu de maldades no passado.

Contra a Igreja não existe essa renegação, como contra o 13 de maio. Na época, final do século XIX, o próprio Ruy Barbosa, ministro da Fazenda, por pressão dos fazendeiros e empresários em geral, mandou para a fogueira vários documentos para evitar pedidos de indenização por parte dos escravos, que nunca receberam seus direitos por trabalharem séculos debaixo da chibata. A escravidão no Brasil, na verdade, não acabou, e está aí mais que visível nos fatos do dia a dia, principalmente com a reforma trabalhistas, que está mais para reforma escravista.

 

ROLINHAS E O PERFUME DAS FLORES

Na barafunda das cidades de concreto, do corre-corre e do vaivém das multidões, cada um com seus problemas existenciais, ainda existe um pouco de verde que acolhe nossas aves, inclusive do nosso sertão catingueiro, como as rolhinhas que, vez por outra, visitam meu modesto quintal, talvez atraídas pelo perfume das flores. Outros pássaros aqui pousam para cantarolar, principalmente ao amanhecer e no poente, para sugar o néctar do café da manhã e do jantar antes do pernoite. O flagrante das nossas lentes sempre está a registrar esse aconchego da natureza que faz acalmar nossos espíritos atribulados diante de tantos fatos desumanos que não se cansam de acontecer. Tudo isso nos faz refletir mais e mais sobre a malvadeza do homem contra o nosso meio ambiente, o qual está sendo, pouco a pouco, destruído pela ignorância e ambição gananciosa desse capital assassino que só visa o consumismo. Quando a harmonia entre o homem e a natureza se esvai, é sinal de que o fim está se aproximando. Abençoados sejam as rolinhas e o perfume das flores do meu quintal.





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia