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O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA?

Os cafeicultores estão rindo de orelha a orelha por causa dos altos preços no mercado internacional, mas, mesmo assim, ainda dizem e choram de barriga cheia de que esses aumentos representam apenas uma reparação das perdas de anos passados. Os produtores preferem vender para o exterior pois vão auferir mais lucros. Como a cotação é em dólar, o nosso café também acompanha esta elevação. Diante do exposto, para os consumidores que apreciam a bebida, o café não é mais nosso de cada dia porque pesa no bolso, principalmente no das pessoas de menor poder aquisitivo. O café agora está sendo deles de cada dia. O Planalto da Conquista, incluindo Barra do Choça, a região da Limeira, Inhobim, Encruzilhada, Vila do Café, é o maior produtor de café arábica da Bahia, e quem mais ganha com isso, em termos de arrecadação, é Vitória da Conquista onde mora a maior parte dos cafeicultores. A produção da região daria para abastecer todo consumo local. Assim, o preço final ao consumidor não seria tão alto assim. No entanto, não é dessa forma que a banda toca quando se vive num sistema capitalista selvagem. Mesmo com os altos ganhos, a Coopmac – Cooperativa Mista Agropecuária de Conquista (grande parte de seus sócios são cafeicultores) está com a cuia na mão pedindo dinheiro aos governos municipal, estadual e federal (o dinheiro é nosso) para realizar uma exposição, exigindo que os portões sejam abertos, como se eles fossem os bonzinhos nessa história. A mídia acompanha essa cantilena de que vai ser tudo de graça para os visitantes, o que é uma grande mentira, ou omissão da verdade. Não existe almoço de graça, mas a grande maioria do nosso povo é manipulado e acredita nisso por ignorância.

PO*ÉTICA*MENTE

Autoria do professor e poeta Paulo Andrade, da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, da editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.

Poetizar com os pés no chão,

Fazer da mente uma escavadeira para buscar as palavras que ainda não são…

Tocar nas pedras no seu estado natural e modificar a percepção que medra na visão.

Forrar a cama e deixar o sono deitado para a noite.

Deixar o verbo verbalizar por entre a carne morna…

Andar com passos firmes na beira da praia, enquanto as ondas levam os pés para

Caminhar nos corais.

Tentar lembrar uma palavra e ao perguntar a alguém,

Ambos lembram, mas ela fica a flanar nas cordas vocais.

A SAÚDE EM CONQUISTA PEDE SOCORRO

– Vamos Investigar e apurar os fatos. É o que sempre dizem quando acontecem os absurdos contra os direitos humanos, seja em qualquer setor, só que o tempo passa e não há nenhuma resposta em termos de punição para os culpados pelos seus atos criminosos.

Isso já se tornou comum e até normal em todo Brasil. Vitória da Conquista não é nenhuma exceção. Temos vários casos na área policial, mas vamos focar aqui a questão da saúde pública que há anos pede socorro e só temos imagens de choros e lágrimas de familiares por conta de negligência e incompetência médica.

Podemos citar milhares de fatos que nos deixam indignados, revoltados e constrangidos. Os postos de saúde em Conquista vivem em estado de calamidade, mas o Hospital Esaú Matos está batendo o recorde com registros escabrosos no atendimento à mulher gestante, com a mortandade de bebês que poderiam ter sido salvos se houvesse uma boa gestão e bons profissionais.

Nesta semana, uma mãe perdeu o seu filho por erro médico que demorou de fazer um parto cesariano em tempo. Um cara desse não é um médico, mas um carniceiro admitido pela Prefeitura Municipal. Trata-se de um caso de polícia, mas toda sociedade sabe que nada vai acontecer e tudo vai continuar com dantes…

Nessa mesma maternidade, uma mãe pariu dentro de um banheiro, coisa que não mais se concebe em pleno século XXI. Esses fatos não são isolados e esporádicos. Estão se tornando uma rotina e não se tomam uma providência. Eles são esquecidos até outros surgirem, e aí se ouve a mesma lengalenga de que “vamos apurar e investigar”.

Se não me engano, o Esaú Matos foi construído no primeiro governo do PT com Guilherme Menezes, para ser uma referência no atendimento à mulher na região sudoeste. Hoje está mais para um açougue ou matadouro de crianças. Pelo que vem ocorrendo nos últimos anos, esta unidade já deveria ter sido interditada pela Anvisa, Secretaria de Saúde do Estado ou Ministério da Saúde, sem falar na ação do Ministério Público e OAB que ficam de braços cruzados.

A nossa sociedade, infelizmente, é alienada, egoísta, comodista e insensível que sempre usa o silêncio diante de tantas barbaridades que ficam sem punição, como as que estão sendo cometidos na área da saúde em Vitória da Conquista. A vítima só reage quando um caso desumano acontece consigo ou com alguém da sua família. Tem gente que acha que o pior só ocorre com os outros.

Ainda nesta semana, quando um idoso foi indagar ou questionar sobre a demora na liberação de um exame da sua mulher, o funcionário simplesmente mandou que a senhora esperasse sentada.

– Mas ela tem problemas de hemorroidas. Então que ela espere deitada – respondeu o atendente. Uma pessoa dessa deveria ser sumariamente demitida e levada presa por crime por maltratos a um idoso.  Nunca deveria pisar numa repartição pública.

O contraditório e paradoxal é que existe uma norma ou lei onde um usuário pode ser punido por desrespeito ou desacato a um funcionário público. E quando ocorre o contrário? A maioria está ali por incompetência, na base do quem indicou politicamente ou fez um concurso público só para ter estabilidade e não servir bem o contribuinte.

O serviço de saúde pública de Vitória da Conquista é um dos piores de toda sua história, embora receba mais de 700 milhões de reais por ano do governo federal, sem falar na contrapartida do Governo do Estado. A situação é mais que precária, ao ponto de um paciente levar seis meses e até um ano para realizar um exame de média a alta complexidade.

A TAPERA E “TRÊS QUINAS”

Em tupi, o significado de tapera, aldeia velha em indígena, tem um sentido pejorativo de casa ou habitação destruída, abandonada, em ruínas, mas o distrito da Tapera, em Encruzilhada, na Bahia, possui história com personalidades folclóricas importantes. O lugarejo, de mais de dois mil habitantes, poderia até ser tombado como patrimônio histórico.

Tapera também tem a designação de casa rural ou fazenda, coberta de mato. É ainda casebre que servia de parada para os viajantes e de pouso para tropeiros, talvez seja o termo mais adequado para a nossa Tapera. Presume-se que aquelas terras tenham pertencido ao fundador de Vitória da Conquista, João Gonçalves da Costa. Por falar nisso, é a família Gonçalves a mais evidenciada entre seus moradores.

No Rio Grande do Sul existe um município com seu nome. A história vem da colonização por imigrante italianos e alemães onde os tropeiros que viajavam entre Cruz Alta e Passo Fundo se abrigavam. O município traz um legado de fé e perseverança.

A nossa Tapera de Encruzilhada também traz em sua origem esse testemunho de fé e perseverança, misturado com o profano. De gente simples e alegre, suas terras são férteis e ali plantando tudo dá, como escreveu o escrivão Pero Vaz de Caminha em relação ao nosso Pindorama, Terra de Vera Cruz ou Brasil.

Vamos deixar desse blábláblá e ir direto para Tapera e “Três Quinas”. É o assunto em foco e de fundamental importância para nossa história literária. Para começar, lá ainda existe coronel de patente da Guarda Nacional. Acredite se quiser.

Tem o “Toninho” do mercadinho que sabe da vida de todo mundo porque passa o dia ali escutando todas fofocas, prosas e conversas fiadas. Aliás, ele é ainda dos tempos das cadernetas de anotações de compras de seus fregueses ou consumidores assíduos. Todo mundo paga certinho, salvo algum caloteiro de passagem.

Na realidade, o que mais interessa mesmo é o “Três Quinas”, o maior fã do programa “Camponês”, da Rádio Clube. Alô meu amigo Camponês, dê um alô para nosso querido “Três Quinas” da Tapera! Ele está sempre colado com você com o ouvido no rádio todas manhãs.

É uma figura falante, o mais conhecido, que adora uma cachacinha, o mé, como se diz no popular, e adora falar da sua vida de 64 anos, mas sempre nega que é aposentado. Talvez tenha receio que alguém passe a mão em seu pequeno benefício rural.

Outro fato curioso é que quase ninguém na Tapera sabe a origem da sua alcunha de “Três Quinas”. Como jornalista é bicho que gosta de escarafunchar as coisas, insisti e ele terminou revelando o porquê de lhe chamarem assim, com voz bem mais baixa do que de costume.

– Isso foi coisa de brasileiro malandro, Jirimia. Quando eu tinha doze anos usava uma calça que batia nas canelas. Um tanto tímido e envergonhado sempre ficava em pé numa esquina de rua, de forma que juntando a esquina com as duas pontas das bocas da calça davam a visão de três quinas. Um safado, então, me apelidou de “Três Quinas” e assim ficou conhecido por todos até hoje.

Seu nome verdadeiro é Sinvaldo de Araújo e mais alguma coisa, que foi vítima de bullying quando ainda era um menino, mas não ficou com traumas e nem teve que se tratar com um psicólogo. Bullying hoje é considerado uma agressividade passível de punição que ainda acontece no ambiente escolar.

Além de algumas de suas casas coloniais, a Tapera tem outras figuras que merecem destaque, como Danilo que dificilmente está sóbrio. Tem ainda o famoso bar do Dema, de cinco portas, onde você encontra a turma do baralho e os “perus” que ficam em redor dando seus palpites.

Como em Salvador, tem a “cidade” alta e a baixa onde ocorre o maior movimento, como se fosse ponto de encontro. Em final de semana é aquela zoeira de carros de som no bar do Cacau que se situa próximo da igreja de um pastor evangélico que berra para um punhado de fieis em nome de Deus e do satanás. Mesmo com aquele barulho infernal, os dois conseguem sobreviver e dar seus recados, Cada um ganha suas granas etílicas, ou dízimos religiosos.

Diante daquela agitação toda, o que não acontecia antigamente, para quem está procurando sossego, não recomendo ninguém passar um final de semana num povoado ou distrito nos tempos atuais tecnológicos.

A Tapera me faz lembrar o povoado de Jenipapo, em Jacobina, onde moram minhas irmãs e sobrinhos. Lá também tem seus tipos folclóricos, uma Igreja Católica e um bar ao lado com aqueles carros de som, com músicas de lixo na maior altura. Ah, me veio também a lembrança de Andaraí e a Tabela, em Piritiba!

 

A NOVELA DA VIA BAHIA E O ANEL VIÁRIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA

Trafegar pela BR-166 (Rio-Bahia) é o mesmo que enfrentar a morte de cara. Senti isso nesse final de semana e ontem (segunda-feira) apenas num trecho de 50 quilômetros de Vitória da Conquista até a entrada para Inhobim e vice-versa.

A maior imprudência é dos caminhoneiros que fazem ultrapassagens em lombadas e faixas contínuas jogando carros pequenos no acostamento. A impressão é que eles rodam dopados e carregam consigo o instinto assassino, como se dissessem saem da frente que somos pesados. Eles se acham donos da rodovia e cometem todos os tipos de infrações.

Não é nenhuma justificativa as atitudes absurdas desses motoristas irresponsáveis, mas essa grave situação poderia não estar ocorrendo se a pista do Paraguaçu até Cândido Sales tivesse sido duplicada pela Via Bahia, cuja novela teve um final inacabado e triste, tudo por incompetência do governo federal que está pagando 900 milhões de reais de indenização, dinheiro do povo.

Nessa novela macabra existe também uma parcela de culpa da sociedade civil que não se uniu e se mobilizou o suficiente para pressionar o poder executivo e a empresa. São coisas que só acontecem no Brasil, terra de ninguém.

Mesmo a Via Bahia deixando a concessão, os usuários continuam pagando pedágios. Esse contrato de casamento nasceu conturbado e está tendo uma separação litigiosa. Se a duplicação já era improvável, agora as chances são zero a médio prazo.

Para fazer outra licitação, o governo precisa gastar uns bilhões para deixar a estrada em bom estado. O movimento de empresários de Vitória da Conquista, por exemplo, agora está falando em fazer uma segunda pista nos dois sentidos, de Planalto até o entroncamento de Belo Campo, cerca de 80 quilômetros. Esta sugestão não resolve o problema e, mesmo que se faça, adeus duplicação.

Cadê a representação da bancada parlamentar da região e do ministro da Casa Civil? Em junho de 2023, José Maria Caires conta que esteve com o ministro, Rui Costa, e existia um sinal positivo para a duplicação que não deu em nada.

Ele afirmou que surgiu a ideia das faixas, mas se colocou contra naquela época, mas como não saiu a duplicação, sua posição atual é que se construa a segunda faixa, só que, lamentavelmente, não mais se falou nisso. “Essa obra é necessária, mas não existe nenhuma movimentação neste sentido. O movimento vai continuar cobrando e o governo tem a obrigação de olhar para o estado da Bahia”.

O assunto duplicação roubou a discussão em torno do Anel Viário de Vitória da Conquista, outra questão crucial que precisa ser resolvida. Em seu projeto inicial constava a construção de viadutos, conforme me relatou certa feita o ex-deputado Coriolano Salles, mas uma parte dos recursos o gato comeu.

Esses trevos são de alto risco e já ceifaram a vida de dezenas de pessoas. Existe até o Trevo da Morte que fica nas imediações do Centro Industrial. Mais uma vez fizeram um armengue e uma parte do anel já corta determinados bairros da cidade. Até quando vai continuar morrendo gente nesses trevos?

“UM POUCO DE AR, POR FAVOR”

Na primeira pessoa, com o narrador na terceira (protagonista), o escritor indiano-inglês George Orwell descreve com detalhes, em “Um Pouco de Ar, Por Favor”, a vida em Londres num período próximo da Segunda Guerra Mundial, mostrando os hábitos e costumes de uma comunidade em seu cotidiano.

A leitura é fascinante, e o autor da obra prende o leitor a partir dos primeiros capítulos, fazendo um autorretrato de uma pessoa gorda e como é visto pelos outros. George Orwell, um escritor conhecido mundialmente, fala, numa maneira ácida e amarga, como vivia a classe trabalhadora e a população geral londrina, num ar de suspense diante do espectro de uma guerra que estava por vir.

Sua prosa, como escreve o prefaciador da obra, “abre uma janela para mostrar a ansiedade do pré-guerra experimentada por pessoas comuns na Inglaterra, como o protagonista George Bowling, que transmite seus pensamentos com grande honestidade e humor autodepreciativo”.

Mesmo cheio de detalhes das pessoas e das coisas em geral ao seu redor, o personagem, gorda e de quarenta e cinco anos, na primeira pessoa, não é enfadonho, muito pelo contrário, leva o leitor a seguí-lo em sua narrativa.

Entre tantos outros em seu entorno, George cita Hilda, de 39 anos. “Quando a conheci, parecia uma lebre. Ainda parece, mas está muito magra e um tanto enrugada, com uma expressão taciturna e preocupada nos olhos”… É uma daquelas pessoas que curtem a vida ao prever desastres”.

Em sua narrativa, o autor faz uma descrição do bairro pobre em que vive, “com ruas que se alastram por todos os subúrbios, do centro ao interior”. Suas expressões são fortes quando afirma que “as casas são sempre as mesmas. Longas, longas fileiras de pequenas casas geminadas. Existe algum tipo antissocial”.

Sobre os trabalhadores, chega a enfatizar que existem muitas besteiras sendo faladas sobre o sofrimento da classe operária. “Não lamento tanto pelos proletários. Você já conheceu um marinheiro que fica acordado pensando na demissão? O proletário sofre fisicamente, mas é um homem livre quando não está trabalhando”.

Quanto a fraudes imobiliárias, aponta para sua própria área de seguros. No entanto, retruca “que é uma fraude aberta com as cartas na mesa. Porém, a beleza das fraudes na sociedade civil é que suas vítimas pensam que você está lhes fazendo uma gentileza”.

Numa crítica ao capitalismo, num trecho do seu texto, assinala “que cada um desses pobres diabos oprimidos, suando até pagar o dobro do preço adequado por uma casa de boneca de tijolos,  que se chama  Belle Vue – que não tem vista e não é bela – cada um desses pobres otários morreria no campo de batalha para salvar seu país do bolchevismo”.

Bem, como todos já devem saber, George Orwell nasceu Eric Arthur Blair, em 25 de junho de 1903, em Bengala, na Índia, onde seu pai trabalhava para o Departamento de Ópio do Serviço Público Indiano da Grã-Bretanha. Estudou em instituições de elite e foi ele próprio durante cinco anos agente da polícia imperial da Birmânia. Viveu com os miseráveis em Paris e Londres. No final dos anos 20 lutou pela causa republicana na Guerra Civil Espanhola.

UMA IGREJA QUE POUCO SE RENOVOU, COM UMA ELEIÇÃO PAPAL FECHADA

Bem que o Papa Francisco tentou fazer algumas renovações nesses seus doze anos de ministério, mas sempre sofreu a resistência acirrada da ala mais conservadora. Sua marca maior foi levar a julgamento os padres e bispos pedófilos, um dos muitos pecados graves cometidos pela instituição religiosa ao longo desses mais de 2000 mil anos de cristianismo e catolicismo. Outra sua mudança foi a de ser mais compreensivo e flexível para com os homossexuais e gêneros LGBTs. Abriu mais as portas.

O pontificado de João XXIII, através do Concílio Vaticano de 1965, foi até revolucionário em termos interno e externo quando a Igreja se abriu para os problemas sociais e até tivemos os adeptos da teologia da libertação naquela década, cujos defensores foram perseguidos como comunistas e subversivos pelas ditaduras no Brasil e países vizinhos da América Latina. Outro ponto positivo foi mudar a liturgia, com a missa na língua vernácula e de frente para os fiéis.

Além dessas questões que me atrevo a tratar e são polêmicas, gostaria de focar aqui sobre as eleições papais, ao meu ver, fechadas e indiretas, feitas num conclave de 120 cardeais, a maioria já com idade avançada (tem que ter menos de 80 anos) onde o escolhido tem pouco tempo de “reinado”.

Na verdade, o pleito nunca foi democrático. Pelo menos deveria contar com a participação de diáconos, padres, monsenhores, bispos e arcebispos. O indicado deveria ter no máximo 70 anos como forma de colocar sangue novo na Igreja. Em casos mais recentes, o Bento XVI foi obrigado a renunciar e agora o nosso Francisco está convalescente prestes a deixar o cargo.

Como não se trata de dogmas (são 43 ou 49 divididos em oito categorias), os quais não se discute e são como sentenças judiciais que devem ser cumpridas, por que não estabelecer, então, um período de mandato de governo? Por falar em dogmas, sempre tive minhas dúvidas desde quando seminarista. É como a fé que é ministério e não se tem uma explicação exata. É diferente da ciência.

Quem sou eu para opinar sobre assuntos tão profundos e delicados! Assim deve estar imaginando muita gente, mas estamos em pleno século XXI e já se passaram tantos concílios! A Igreja pouco se modernizou e se adaptou às mudanças. Sua maior preocupação é criar mais e mais santos para a adoração de seus fiéis. A religião não é monoteísta. Penso que tenho direito a fazer a minha crítica e colocar o meu ponto de vista.

Até o século IV, os papas eram escolhidos por diáconos e padres. Quanto aos bispos, estes eram indicados pelos católicos. Os tempos atravessaram e tivemos centenas de papas, inclusive um jovem de apenas 20 anos, chamado de Bento IX. Nunca tivemos um papa negro, a não ser um designado assim por ser superior geral da Companhia de Jesus devido ao uso da cor de suas roupas e da ordem.

Por causa das relações restritas com o Oriente, a Igreja teve papas africanos (não foram negros), Vitor I (189/198), Melquíades (311/314) e Gelásio I (492/496), originários da Alexandria, Cartago e Hipona.

A partir de 1975 com Paulo VI, o papa é nomeado por um conclave de 120 cardeais a portas fechadas na Capela Sistina, de acordo com a Constituição Apostólica Universi Dominici  Gregis. Em 1996, João Paulo II oficializou o termo conclave dos cardeais.

É uma votação altamente secreta onde rolam até discussões políticas acirradas pelo poder, conforme comentam os especialistas no tema. Depois da eleição surgem os vazamentos na mídia. Os católicos do mundo inteiro ficam esperando a fumaça branca da chaminé do Vaticano e apenas comemoram com “Habemos Papa”.

Ao longo desses tempos da era cristã e católica tivemos vários concílios que mais serviram para manter o conservadorismo da Igreja, como o de Nicéia (ninfa na mitologia grega), na Turquia, no reinado de Constantino I, em 325, quando Silvestre I era o papa. A maior renovação registrada foi a tomada de decisão de separar o poder político romano da religião, bem como acabar com as perseguições.

Em Nicéia foi confirmada a teologia trinitária, a veneração de imagens e demais dogmas da Igreja, como Deus é o único trino, as verdades da fé, o Pai é o criador, o Espírito Santo é Deus, Jesus é Deus e homem, encarnado, morto e ressuscitado, a virgindade e a divindade de Maria (Concílio de Éfeso, em 431, como imaculada conceição mãe de Deus e sua assunção, o papa como vigário de Cristo e autoridade suprema, dentre tantos outros.

O de Trento, no papado de Paulo III (1545/64) serviu para firmar os dogmas da Igreja e foi um evento provocado para contestar as reformas luteranas. Tivemos ainda os concílios de Roma (382), Hipona, em 393, que estabeleceu o cânon bíblico.

Houve o Edito de Nantes, na França, em 1598, no reinado de Henrique IV que determinou a liberdade religiosa para os huguenotes (seguidores de João Calvino) visando exterminar a perseguição (36 anos – Noite de São Bartolomeu, em 1572) contra os protestantes em geral.

No entanto, esse concílio fortaleceu mais ainda os tribunais da Santa Inquisição, o maior pecado criminoso que mais manchou a Igreja, sem contar a sua participação direta na escravidão africana, inclusive entrando no comércio de escravos.

Por causa do seu conservadorismo, comodismo e restrição na mobilização entre as bases mais populares, a Igreja começou a perder espaço para os protestantes, sem falar na diminuição vocacional dos padres que são impedidos de se casar. A instituição proibiu o casamento de sacerdotes nos Concílios de Latrão, em 1123 e 1139.

O Concílio de Trento (1545/1563) impôs definitivamente o celibato obrigatório em toda América Latina. A prática do celibato já existia no século XI. Neste período, vários papas como Leão IX e Gregório VII reforçaram essas leis devido à degradação moral do clero. Maior degradação foi a pedofilia que existiu também aqui no Brasil. Quando estourava um caso, o bispo transferia o pároco para outra diocese. Era simples assim.

O celibato foi reafirmado pelo Papa Pio XII (1939/58) e no Concílio do Vaticano, em 1965. A Igreja defende porque os celibatários são mais livres e disponíveis. Também porque a vida de celibato separa o clérigo do mundo pecaminoso.

Nesse Concílio de 1965, houve mais uma abertura no sentido de que os padres pudessem deixar o sacerdócio para ser casar. Antes não podia. Muitos que entraram no seminário não tinham vocação e foram obrigados por pais católicos, muito das vezes pela mãe, que faziam promessas para ter um padre na família.

Essas versões são da Igreja, mas existem discussões de que a instituição instituiu o celibato por motivos de herança. Quando um casal falecia, a Igreja não ficava com nada. Seria tudo por causa do dinheiro?

O Papa Francisco já admite que o celibato pode ser revisado. Outra polêmica é a não admissão da mulher na celebração da missão como sacerdotisa. Em toda sua história, a Igreja sempre excluiu o papel da mulher. A própria Bíblia (Antigo Testamento) coloca o sexo feminino num papel inferior ou como se fosse uma ardilosa serpente pecadora. Somente agora a Igreja está abrindo mais espaços, mas ainda de forma tímida.

ELIZÉRIO DA PRAIA DO UNHÃO

(Chico Ribeiro Neto)

Encontro um velho amigo da turma dos Aflitos, que lembra logo dos “babas” no largo, da Praia do Unhão e de muitos que se reuniam à noite na esquina da rua Tuiuti com a rua Gabriel Soares, antes da TV chegar a Salvador.

“Cadê Bandeira, Delmar, Paulo Satanás, Habib, Vilela, Banha, Manteiga e Linhaça, Atum, Tristeza, Mondrongo, Pé de Valsa, Bico de Anum, Leonam e Gaguinho?”

Ele me falou de muito mais gente, e o pior é que eu não lembrava o nome dele. Por último, uma pergunta que me fez reviver muita coisa:

“E Eliziário? Você lembra de Eliziário?”

O velho Eliziário morava numa cabanazinha no meio da encosta da Praia do Unhão. Tinha somente a roupa do corpo, comia peixe cru e nadava muito todo dia. Quando eu ia “dar um fora” (era nadar até mais longe, lá de onde se avistava o Elevador Lacerda), muitas vezes via Eliziário boiando, com sua barba branca, olhando de longe para os banhistas, que certamente deveriam pertencer a uma outra tribo. Eliziário, com certeza, deve ter sido o primeiro hippie da Bahia.

Quando começava o “baba” na praia, Eliziário ficava de cócoras, no meio da encosta e na porta do barraco, espiando atento. Não torcia pra ninguém, apreciava aquele jogo de pernas e a bola correndo. Às vezes até devolvia a bola quando caía perto dele. Falava pouco ou quase nada.

Uma vez, com alguns amigos, tentei chegar perto da cabana de Eliziário. Ele estava na porta, olhando mais uma vez para o mar do Unhão, que ia bater em Mar Grande, mas quando viu que a gente se aproximava, entrou rapidamente na choupana, tão rápido como o bicho do búzio. Ele não jogava pedra em ninguém. Pelo contrário: alguns meninos abusados é que jogavam pedra nele. Se o aborrecessem muito, caía n’água e nadava pra bem longe, até que o esquecessem. Saía da água com a velha calça comprida amarrada de cordão. Esfalfado, comia uma pinaúna crua ou um peixinho garrião que pegava de mão no canto da loca.

Às vezes, a gente estava nadando ou boiando e de repente irrompia aquela cabeça de velho com cara de menino. Eliziário mergulhava muito e aparecia onde ninguém esperava. Não sei se ele morreu ou deu um mergulho mais profundo. Ou até, quem sabe, continua a sorrir pras estrelas, com seu jeito de quem nunca ligou pra esse mundo.

(Crônica publicada no jornal A Tarde em 24/3/1993)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

MELHOR

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Melhor não pensar muito

No sentido do existir,

Que somos mortais errantes

Porque você pode pirar,

Siga as ondas do mar,

Deixa o tempo fluir,

Melhor jogar prá lá,

Essa de quem sou,

Ou para onde vou,

Se existe céu e inferno,

O antigo e o moderno,

Se a fé é mistério,

Sem lógica e critério,

Acredite na ciência,

Melhor ter paciência,

Seguir sua mente,

Melhor ser realista,

Do que ser idealista,

Olhe pra frente

Que atrás vem gente,

Melhor não viver na ilusão,

Mas cada um faz sua opção,

A vida não é assim tão bela,

Como natureza em aquarela,

Por que um nasce perfeito,

Outros com seu defeito?

Nunca diga que seu filho,

Vítima da Zica, deficiente,

Foi teu Deus quem te deu,

Assim você xinga Ele

De injusto vingador,

Foi o presidente, o governador

Essa cruel humanidade,

Destruidora do meio ambiente,

De ganância e insanidade,

Que nos traz todo horror.

Seja paz, seja amor.

 

 

A INVASÃO DE PORTO DE GALINHAS

Carlos González – jornalista

Depois de quatro viagens este ano aos Estados Unidos, uma delas na companhia de sua madrasta, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) acionou uma “bomba”, ao anunciar um pedido de licença do mandato – pelo regimento da Câmara ele poderá se afastar, no máximo, por quatro meses – permanecendo, “por tempo indeterminado”, entre os ianques. Como declarou, vai usar esse período para trabalhar, ao lado da extrema direita norte-americana, sob a orientação do presidente Donald Trump, pela queda de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o inimigo nº 1 dos golpistas brasileiros. A “operação ´punitiva” deverá se estender aos outros poderes, concluindo o que começou em 8 de janeiro de 2023;

Numa linguagem fantasiosa, carregada de mentiras, uma doença crônica do bolsonarismo, Eduardo gravou um vídeo, infantil e incoerente, revelando que existe um plano, arquitetado por Moraes, para matar seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, ou colocá-lo em prisão perpétua. “Acredito que nunca mais verei meu pai”, exagerou, sendo desmentido pela Procuradoria Geral da República (PGR), mostrando que o ex-capitão circula livremente pelo país. O esvaziado comício de domingo (dia 16), em Copacabana, atesta a verdade dos fatos.

Num país onde o povo deixou de sorrir, salvo em Salvador, onde se pula carnaval o ano todo, usarei também da fantasia para contar como se dará a intervenção dos Estados Unidos no Brasil. Anteontem (dia 17), aqui mesmo neste espaço, meu colega e amigo, o jornalista e escritor Jeremias Macário, usou sua veia humorística para recordar a fuga de D. João VI e da Corte portuguesa para o Brasil, assim que foi anunciado que o imperador francês Napoleão Bonaparte, montado em seu cavalo branco, já se encontrava a caminho de Lisboa.

“Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil”, filme de 1995, dirigido pela atriz e cineasta Carla Camurati,  desvenda jocosamente o embarque às pressas do devorador de coxinhas de galinha, o rei D. João VI (interpretado pelo ator Marco Nanini), e a burguesia lusa, superlotando as embarcações. No momento em que as âncoras eram içadas chegaram mais caronas, os vereadores lisboetas, que aqui no Brasil proliferaram como os piolhos que vieram na expedição de 52 dias, obrigando a realeza a raspar as cabeças.  Sem saber o que estava acontecendo, a plebe ficou em terra, travando, dias depois, a Guerra das Laranjas contra o forte exército francês.

Voltando aos dias atuais, criativos membros do governo de Lula imaginam que Eduardo vai assessorar Trump num plano de invadir o Brasil. Mais uma vez a Central Intelligence Agency (CIA) executaria como estratégia o fracassado desembarque na Baía dos Porcos, em Cuba, ocorrido em abril de 1961. Autorizada pelo presidente Dwight Eisenhower e executada pelo seu sucessor John Kennedy , La Batalla de Girón tinha como finalidade retomar o governo de Cuba, devolvendo aos milionários anticastristas as mansões na belíssima Praia de Varadero. Quase 300 mil exilados cubanos participaram dos treinamentos dados pela CIA, na certeza de que teriam o apoio da aviação dos EUA. Mas, na hora “H”, os caças não apareceram. Sem cobertura aérea, o exército de exilados foi dizimado pelas tropas de Fidel Castro.

Temperando as histórias ficcionistas dos petistas, imaginemos que passe em suas cabeças um enorme grupamento de brasileiros, exilados em Miami e outras cidades norte-americanas, desembarcando na praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco, próxima ao Cabo de Santa Maria de la Consolatión,  atual Cabo de Santo Agostinha, descoberto pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón,  três meses antes de Pedro Álvares Cabral aportar no sul da Bahia. O desfecho da operação bélica fica ao critério de cada leitor.

Vale ressaltar que há possibilidade de uma marcha de religiosos fundamentalistas, empunhando suas bíblias,  se dirigir ao Dique do Tororó, para destruir com bombas, as imagens dos orixás cultuados pelos seguidores das religiões originárias dos povos africanos, e admirados pelos turistas que vêm a Salvador. Em 1986, a revista “Veja” denunciou, após ouvir o então capitão Bolsonaro, um plano para romper a adutora que fornece água ao Rio de Janeiro. Seus autores estavam inconformados com o fim da ditadura militar.

 





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