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OS MORCEGOS, INIMIGOS DA LUZ

– Hei, turma! Vamos embora que está vinda aí a nossa inimiga luz do amanhecer! – gritou o chefe do bando dos morcegos que estavam se alimentando de frutas, insetos, do néctar das flores e alguns do sangue de bois, cavalos e aves.

– Hum, pera aí que ainda estamos terminando nossas refeições para passarmos o dia abastecidos lá na nossa caverna mística! Somos apenas sensíveis à luz -responderam os mais famintos.

– Eh, mas nosso grupo aqui está vivendo em árvores, forros de casas, garagens e outros pontos escuros – falou de lá o morcegão, explicando que o grupo fica escondido e bem disfarçado por causa dos humanos medrosos.

Por fim, cada um foi para seus pontos prediletos e antes de começar a dormir deram início a um converseiro de morcego, cada um a contar suas histórias da noite. Sempre existem aqueles mais falastrões, revoltados e queixosos.

– Dizem que existimos há 50 milhões de anos e até que o nosso ancestral é o camelo. Loucura! Pode isso? Outros que somos vampiros chupadores de sangue. Nos discriminam como bichos horríveis, nojentos e feios. Todo mundo tem pavor da gente e nem sabem que também somos importantes para o meio ambiente e temos ecolocalização noturna – ressaltou um deles, dando o ar de líder sabichão.

– Êta que o companheiro aí agora falou bonito! – respondeu um amigo de lá que também compartilhava de seus protestos. É, até nos culparam do vírus da Covid-19, vindo lá dos nossos viventes chineses! Pode isso? São uns caluniadores e difamadores!

– Não conhece essa corja que somos símbolos de coragem e força e que inspiramos os humanos a enfrentar seus medos. Sabem que nos usam como lendas desde os tempos antigos? Podíamos nos unir para cobrar nossos direitos de imagem – falou o pensador e conhecedor das leis.

– Êpa, lá vem o revolucionário. Explica isso aí melhor, porque não entendi foi nada. Só sei que sou um morcego desprezível herbívora, mas tem o camarada aqui que é carnívoro e até come peixe. Temos é que brigar e nos livrar das corujas e dos gaviões, nossos maiores predadores. Se dermos bandeira nos levam em seus bicos.

– É que você é ignorante e não tem conhecimento que o tal do Drácula, lá pelos anos 1897, e o Batman norte-americano usam nossas imagens e ganham os tubos de dinheiro. Nós não levamos nada com isso, só preconceito – replicou.

– Um sai do seu assombroso castelo, lá na Pensilvânia, para apavorar e sugar o sangue dos humanos, e o outro da sua caverna com a onda propagandista de superioridade de combater o mal. Os dois estão bilionários usando nossas figuras em filmes – acrescentou em tom de raiva.

Pulou de lá o morcego hematófago brasileiro e foi logo afirmando que esse papo de reivindicação e desagravo não ia levar a nada. “No país somos cerca de 180 espécies, das quais somente três se alimentam de sangue, e sou em deles”.

– Pessoal! Vamos parar com essa conversa chata, prosa ruim, que eu estou é com sono danado depois de ter sugado um cavalo ali no pasto. O sangue estava viçoso – afirmou o morcego brasileiro, quase dormindo.

´- E bom parar com essa zoeira que a esta hora já deve estar tarde do dia, com o sol tinindo lá fora. Minha companheira aqui está grávida de cinco meses e dentro de dois deve dar luz ao nosso bebê – bradou do seu canto um sisudo morcego mal-encarado e valentão. Se continuar esse papo, vou botar todo mundo para fora.

– Ih, bicho, tu viste? Ele falou dessa tal coisa de luz! Tá doido, vamos todos é morrer tostados lá fora! Melhor é acabar com esse falatório – aconselhou do outro lado da ponta da caverna um gaiato. Foi aquela gargalhada!

Os morcegos são animais noturnos, e na Europa até existem lendas mitológicas de entes vampiros meio-humanas sobre eles, mas centenas das 1. 200 a 1, 400 espécies do mundo são polinizadoras, como o beija-flor. Muitas dessas lendas surgiram entre os séculos XVIII e XIX, e até hoje falam que todo morcego é um drácula.

No Brasil, as pesquisas falam de 138, 164 e até 180 espécies, das quais mais de 80 vivem em centros urbanos, parques, copas de árvores, porões e garagens. São exímios voadores com suas membranas, e os hematófagos são mais encontrados no Nordeste por se adaptarem bem ao clima mais tropical.

Na vida real temos milhões de humanos morcegos que preferem a escuridão do que a luz do dia, ou a virtude do bem, inclusive são destruidores do meio ambiente. Vivem em apartamentos e casas luxuosas.

Uma grande maioria se alimenta do sangue dos mais pobres com suas falcatruas e corrupções. São espécies dominadoras que usam o Estado para domesticar sua própria espécie. Esses morcegos são os verdadeiros inimigos da luz. Não têm nada de sensíveis.

MELHOR SER CACHORRO QUE HUMANO NESSA INVERSÃO DE VALORES DA VIDA

Uma agente da área de assistência social, por recomendação da Prefeitura Municipal, foi até a casa de um senhor que se encontrava doente com uma ferida na perna. Lá chegando ela se deparou com um cachorro em estado de abandono. Comovida, tirou várias fotos do animal e se esqueceu de relatar sobre a situação do homem.

Nada contra a cachorrada, meus amigos, muito pelo contrário, mas esta bicharada está levando a melhor no tratamento em relação aos humanos, principalmente quanto aos mais carentes de baixo poder aquisitivo, que vivem na pobreza e na miséria, sem educação, saúde e saneamento básico.

Nessa inversão de valores em que vivemos no cotidiano da vida, os cachorros das madamas, dos famosos e das celebridades estão tendo mais atenção, carinho e amor do que as próprias crianças que ficam lá nas mãos das babás ou nas creches.

Muitos pais quando chegam em casa do trabalho pouco se dedicam aos filhos e, para ficar livres deles, dão um celular para navegar. Nessa os cachorros estão levando a melhor e têm até planos de saúde com alíquota reduzida na reforma tributária, aniversários e funerais chiques, entre outros mimos.

Cachorros de rico não podem sofrer traumas e estresses senão são logo levados a um psicólogo, psiquiatra, nutricionista ou especialista da área, com direito a divãs e clínicas de luxo, coisa que milhões de humanos no Brasil não têm acesso, a não ser um precário SUS onde se leva de um até dois anos para se fazer uma consulta médica ou um exame de maior complexidade.

Quando uma celebridade adota um pet, ela passa a ser “mãe” e a linguagem da mídia chega a confundir até o telespectador ou o leitor de que a mulher pariu mesmo um filho de verdade. Na reportagem sobre a ginasta Rebeca, que vai às Olimpíadas de Paris, seus dois cachorros receberam mais tempo de imagem do que a própria atleta.

Como entre os seres humanos (moradores de rua), especialmente em países como o Brasil, existe também aquela classe de cachorros que vivem em estado deplorável, caso dos chamados cães de rua. Estes têm uma vida literalmente de cachorro. No entanto, os criados pelos mais endinheirados recebem tratamento especial.

Todos conhecem a música (1972) de Waldir Soriano, filho de Caetité, cuja letra dizia “eu não sou cachorro não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro não, para ser tão desprezado. Tu não sabes compreender quem te ama e quem te adora… Pelo nosso amor, pelo amor de Deus, eu não sou cachorro não…” e por aí vai. Talvez hoje poderia se inverter para: Eu não sou humano não…

De acordo com pesquisas, todos os cães descendem de uma espécie de lobos (canis lúpus familiares). Dizem que eles vieram da Eurásia (Europa e Ásia) há 15 mil anos e foram domesticados na região que hoje seria o Nepal e a Mongólia.

Em 1817, Charles Darwin, em sua teoria, propunha que o cachorro descendia de coiotes, lobos e chacais. Existem cerca de 400 tipos de raças. Estudos também indicam que o homem de Neandertal, muito tempo antes, já andava com um cachorro ao lado para lhe ajudar na caça e na defesa.

 

OS PIPOQUEIROS DO FUTEBOL BRASILEIRO

Oh, quantas saudades do futebol brasileiro quando os jogadores vira-latas, como classificou o cronista Nelson Rodrigues, se transformaram em os melhores e os mais temidos do mundo! Hoje em campo não passam de pipoqueiros e vergonha da nação, que empatam até contra a Costa Rica numa Copa América bagunçada e confusa.

Assistir uma Eurocopa é coisa de primeiro mundo e aí, quando vira o outro lado, é um terror como foi domingo (dia 14/07) na partida entre a Argentina e a Colômbia, com um atraso de quase uma hora e meia, coisa inédita na história do nosso futebol. Torcedores invadiram o campo e ainda colocaram um show da Chaquira num intervalo de 30 minutos.

Não quero aqui falar das outras seleções americanas dirigidas por organizações corruptas e totalmente desorganizadas, mas da nossa com uma CBF (Confederação Brasileira de Futebol) ainda pior onde o Brasil corre o risco de ficar fora da Copa do Mundo de 2026 pela primeira vez (hoje está no sexto lugar na classificação das eliminatórias da América do Sul).

Na desastrada Copa América, ficou no meio do caminho com o Uruguai (perdeu nos pênaltis) depois de um sofrido empate com a Colômbia e olha que ainda ficou de bom tamanho. O negócio está tão feio que até tem comentarista esportivo dizendo que a história poderia ser outra se o Brasil tivesse cruzado com o Panamá na semifinal. Ora, serviria só para adiar a decepção, que poderia ser maior.

A nossa amarelada seleção de pernas de paus e pipoqueiros não passa de vira-latas dentro e fora de campo, com nomes desconhecidos dos torcedores, trazidos de times do exterior (a maioria da Europa), muitos dos quais de segunda divisão. O técnico Dorival Júnior fica com uma cara de tacho, todo tristonho na beira do gramado, mas ele não é o culpado.

Diante dessa situação tão caótica, a começar pela CBF, o torcedor brasileiro parece ter jogado a toalha e prefere ficar com seu time daqui, mesmo com o futebol “porradeiro” e rasteiro, do que torcer pela seleção, sem craques e sem aquela ginga de antigamente que empolgava o mundo e era temida por todos quando entrava em campo. Essa seleção não mete mais medo a ninguém.

Saudades quando se fala em Garrinha, Pelé, Amarildo, Tostão, Rivelino, Didi, Pepe, Djalma Dias, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Dirceu, Clodoaldo, Zagalo e tantos outros do mesmo naipe, além da última safra de Ronaldo, Bebeto, Romário, Ronaldinho, Cafu, Rivaldo, Falcão, Sócrates até chegar no Neymar baladeiro e moleque, o último dos moicanos.

Nos últimos 30 anos entramos numa fase de decadência total. Atualmente só temos jogadores medianos. Os melhorzinhos são logo comprados por clubes europeus e lá perdem o gingado da letra “s” de Brasil, pelo “z” de Brazil. De lá retornam como mercenários.

Por outro lado, muitos clubes daqui estão sendo vendidos a empresários e a empresas estrangeiras, perdendo suas identidades. Os jogadores são gringos da América do Sul. Não existe mais aquela referência da terra de cada estado. No Bahia, por exemplo, salvo engano, não tem um jogador baiano, como também nos outros times cariocas, paulistas, mineiros ou gaúchos.

Hoje, quem tem mais “bala na agulha”, mesmo com altas dívidas e sonegação de impostos, forma um bom plantel para ganhar um campeonato estressante e sem mais aquela motivação que existia no passado. No campo só se vê rasteiras, pernadas, cabeçadas de sair sangue e brigas, como se fosse um ringue ou uma arena de gladiadores, como no Coliseu de Roma.

Mesmo assim, os torcedores se matam como bárbaros, e a grande maioria fica sem comprar o leite das crianças, fazer a feira, pagar a escola dos filhos, o aluguel da casa e suas dívidas para ir a um estádio de futebol. É uma massa perdida sem cultura onde o cara abre a boca para dizer que o time é a sua vida e até tatua o corpo com o escudo do seu clube. Dia desses vi um do Corinthians que tinha tatuagem até na cabeça. Lá se foram os nossos craques! No lugar, só pipoqueiros.

 

“HÁ HOMENS QUE NADA SÃO…”

Em “Assim Falava Zaratustra”, de Nietzsche, no capítulo “Da Redenção”, ele conta que um dia Zaratustra passava por uma ponte onde estavam ”aleijados”, mendigos e um corcunda. Eles disseram que passaram a acreditar nos ensinamentos de Zaratustra.

No entanto, perguntaram se Zaratustra podia curar os cegos, fazer andar os paralíticos e aliviar um tanto o que leva às costas carne demais. Ele respondeu: “Quem tira da corcunda sua corcunda, tira-lhe ao mesmo tempo o espírito. Quem restitui a vista ao cego, este passa a ver na terra demasiadas coisas más. Passa a maldizer aquele que lhe curou”.

Em seguida, disse ter visto coisas bem piores, mas de uma não conseguia deixar de falar, dos homens a quem falta tudo. Foi aí que concluiu que “há homens que nada são, a não ser um grande olho, uma grande boca, ou um grande ventre… A esses chamo de “aleijados” às avessas”.

Quando saia de sua solidão ele atravessava pela primeira vez a ponte e não deu muito crédito para o que viu, mas não parou de olhar. Então, disse: “Isto é uma orelha do tamanho de um homem! Por trás dela movia-se algo tão pequeno, mesquinho e débil que dava dó”.

“Olhando através de uma lente ainda se podia reconhecer um semblante minúsculo e invejoso, uma alma vaidosa…” O povo dizia que a orelha era de um grande homem. “Eu, porém, nunca acreditei no povo quando falava de grandes homens e continuei a acreditar que se tratava sim de um “aleijado” às avessas que tinha pouco de tudo e uma coisa em demasia”.

Em sua narrativa sobre redenção, Zaratustra exclamou: “Meus amigos, ando entre os homens como entre fragmentos e pedaços de homens”. O mais espantoso, segundo ele, é vê-los destroçados e desconjuntados. São eles fragmentos, pedaços, mas não homens.

Para o filósofo, o presente e o passado são os mais insuportáveis. Há de vir uma ponte para o futuro. O povo perguntava quem era Zaratustra, e ele respondeu a pergunta com outras perguntas: “É um homem que promete? Ou que cumpre? Um conquistador? Ou um herdeiro? Um outono? Ou uma relha de arado? Um Médico? Ou um convalescente? É um poeta? Ou alguém que diz a verdade? Um libertador? Ou um dominador? Um bom? Ou mau?”

Ao invés de se dizer já era, que se diga assim quis – ensinava. “A isto eu chamaria de redenção”. “Vontade, assim se chama o libertador e o mensageiro da alegria. Esse foi meu ensinamento, meus amigos. A própria vontade é ainda escrava”.

Para Nietzsche, o querer liberta, mas como se chama aquele que aprisiona o próprio libertador? A vontade não pode querer para trás. Não pode aniquilar o tempo, e o desejo do tempo é sua mais solitária aflição”. Mais adiante, alerta que sua raiva acumulada é que o tempo não retrocede. O que foi já foi, assim se chama a pedra que a vontade não pode remover.

Remover pedra e vingar-se, para ele, é uma vontade libertadora que se torna maléfica e vinga-se de tudo o que é capaz de sofrer, por não poder voltar para trás. “É a vingança contra o que já foi, o ressentimento da vontade. Vive-se uma grande loucura em nossa vontade. E a maldição de todo humano é que essa loucura aprendeu a ter espírito”.

“Tudo passa e tudo merece passar, e é a própria justiça, essa lei do tempo, que o obriga a devorar seus próprios filhos. As coisas são ordenadas moralmente segundo o direito e o castigo. Ai! Como nos livrarmos do fluxo das coisas e do castigo de existir? Onde está, pois, a redenção?

“Nenhum fato pode ser destruído. Como poderá ser desfeito pelo castigo? Eis o que há de eterno no castigo de existir: A existência não pode ser outra coisa senão uma eterna sequência de fato e culpabilidade. A não ser que a vontade acabe por se libertar a si mesma e que o querer se mude em não querer”

Ainda sobre a redenção, Zaratustra assim diz que é preciso que a vontade, que é vontade de poder, queira alguma coisa mais elevada que a reconciliação. Mas como pode ocorrer? Quem ensinará também a retroceder?  No final, alerta ser difícil viver entre os homens porque é muito difícil calar, sobretudo para um falador.

Depois de toda conversa, o corcunda indagou: Por que é que Zaratustra nos fala de uma maneira e de outra a seus discípulos? Ele respondeu: Que há de surpreendente nisso? “Com os corcundas pode-se muito bem falar uma linguagem corcunda!”

EITA GENTE PERGUNTADEIRA!

(Chico Ribeiro Neto)

Eu estava com uma camiseta de Bariloche que meu filho Mateus me deu e logo ela me interpelou:

– Ah,o senhor também esteve em Bariloche? Que lugar lindo! Por enquanto, só conheço de fotos e vídeos. Minha filha esteve lá esse ano e para o ano vai me levar. Ela só não gostou muito dos argentinos, achou um povo meio rude, o senhor também não achou?

– Eu não sei dizer, senhora. Eu não estive lá, foi meu filho.

Uma mulher com um cachorrinho me aborda no canteiro central da Avenida Centenário:

– Você tem cachorro?

– Não, senhora.

– E gato?

– Não, senhora.

– Mas nem um passarinho?

– Não, senhora.

– Mas o senhor não sabe como é bom ter um bichinho dentro de casa. O senhor não pretende ter nenhum?

– Não, senhora, já vou.

Peguei um perguntador na fila de idosos do supermercado:

– O senhor tem problema de pressão?

– Não, senhor.

– E o senhor faz o quê para não ter?

– Nada, não, vivo normal.

– Dizem que a gente tem de caminhar todo dia. O senhor faz caminhada?

– Um pouco.

– E come de tudo?

– Sim, senhor.

– E não sente nada?

– Não.

– E dorme direitinho?

– Durmo.

– Pois eu tenho uma insônia terrível, levanto, bebo água, fico zanzando pela casa, ligo a televisão, faço um…

– Senhor, o caixa tá livre.

– E por que o senhor escreveu essa crônica?

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

POLUIÇÃO DE FIOS

Vitória da Conquista não é nenhuma “Suíça Baiana” – termo que serve de piada e chacota – nem mais a cidade das flores, como era conhecida antigamente, mas hoje pode ser considerada como dos quebra-molas e da poluição de fios, como bem mostra a imagem clicada pelas nossas lentes. Além de ser um atraso e irresponsabilidade dos órgãos (poder público, Coelba e operadoras de telefones), o perigo à população é constante. Só vão tomar uma providência quando acontecer uma tragédia. Na Avenida Rosa Cruz, próximo ao Centro de Convenções Edivaldo Franco, flagramos um monte de fios caídos no chão. Temos ainda, além da fiação, a poluição sonora e a visual no centro da cidade. É um absurdo e não se resolve porque um fica empurrando a responsabilidade para o outro. Conquista pode até ser a cidade do frio (existem outras com temperaturas mais baixas, como Maracás, Piatã e Morro do Chapéu), mas está bem longe de ser a “Suíça Baiana”. Vamos ficar nos quebra-molas e na poluição de fios nos postes.

POEMAS À MARGEM – AFLUENTES ATO I

De autoria da poetisa e professora Mariângela Borda, do livro Antologia de Contos e Poemas (Editora Saramago)

SOB O LEITO DO AMOR

Sob os afluentes

Do prisioneiro rio,

A copular

As águas

De um

Leito

Fluído

À margem

Do amor,

O corpo

Em concha

Se fecha

À espera

Do oceano,

Que da sereia

Enamorado,

Busca

Seu canto

Que se

Abre

Mulher

Em Ato

Do amor

Em

Si.

AS FOFOQUEIRAS (OS) E O CELULAR

As fofocas nunca se acabam, mesmo com as novas tecnologias de comunicação. As presenciais ainda são melhores e mais proveitosas que as virtuais, as quais têm mais sabor; são mais sentimentais e emocionais.

Falar bem ou mal um do outro vem desde o homem Neandertal. Tem gente que não quer saber da vida alheia, mas tem aqueles ou aquelas fofoqueiras (os) de línguas ferinas que se alimentam dos erros e defeitos dos outros, e nem querem saber das virtudes, só quando morrem. Pura hipocrisia! Fulano era bondoso e um santo; vai fazer muita falta na terra!

Antigamente, nas cidadezinhas do interior havia aquele hábito das pessoas no final da tarde colocarem as cadeiras no passeio para prosear, principalmente as mulheres, mas havia também os compadres que chegavam da roça ou de seus afazeres. Naquele tempo, a grande maioria das mulheres era domésticas. Quando o sol baixava no poente, na hora da Ave Maria, seis horas, todos se benziam e agradeciam o dia com um amém.

Ah, tinha também aquela fofoqueira-mor que ficava na janela ou na porta olhando o movimento calmo dos passantes e sabia da vida de todo mundo, de cabo a rabo, pelo verso e avesso. Era a época onde o tempo parecia ter parado na monotonia das coisas. Nada acontecia de importante, mas a fofoca comia solta de boca em boca. Com as correrias de hoje, as fofocas caíram de produção, mas permanecem vivas.

– Olha, lá vai lá o corno manso do Geraldo. A uma hora dessa a mulher deve estar com outro na cama – dizia a comadre para a outra, e aí a conversa rendia dando linha para a imaginação, o que não falta ao fofoqueiro (a), sempre criativos.

– Aquela “zinha” é uma vagabunda pecadora que fica se atracando com o Ferreirinha do Pão toda vez que o marido vai para o sítio trabalhar.

– E você acha que ele não sabe do sucedido, comadre? Dizem até que ele é meio fresco e “viado”, que até já pegou a mulher no flagrar. Para dar uma de valentão, arrastou um facão e disse apenas que ia cortar os dois na próxima vez.

– Lá vai o “mão de vaca” avarento do Quincas que faz caso até de uma goiaba podre na chácara. Lembra de uma vez que ele teve uma briga feia com o amigo por causa de um tostão? – apontou a outra. Acha que vai levar tudo no caixão quando morrer, e tome falar de quem se atrevia cruzar a rua. Não sobrava nem para crianças (moleques) e idosos.

– Ih, comadre, esqueci de botar mais água no feijão. Já estou sentindo o cheiro de queimado! Vou lá e volto logo. Naquele tempo o fogão era movido a lenha e a luz a motor diesel. Tudo se apagava por volta das dez horas da noite, mas antes tinha o sinal de alerta.

– Ah, comadre, quem passou aqui foi o coronel Juvêncio com seu capanga. Contam até que o cabra é pistoleiro matador pernambucano. Falam por aí que o coronel guarda dinheiro debaixo do colchão e até na cumeeira da casa. É um tipo seu Lunga, ranzinzo. Sabe que ele bate até na mulher?

– Olha o safado do “Caniço”, sonso e dissimulado, metido a moralista! O boato é que ele faz mal para a filha de 13 anos, com sua descaração, e a mulher, coitada, suporta tudo calada! O prefeito e a primeira dama também caiam no pau. O que mais rolavam eram as falcatruas dos dois. – Compraram até carro novo, e ela anda nos trinques!

Não faltavam também os homens fofoqueiros que falavam da seca, da cacimba sem água, das perdas das plantações, das dívidas e do dinheiro escasso, mas o papo também girava em torno de mulheres. Cada um mais machista que o outro.

– E aí, compadre, está sabendo do caso da filha de seu Joaozinho de Calu. Ficou mal falada com um cara aí que veio de São Paulo, todo metido a besta de óculos escuros, e depois foi embora.

– Pois é compadre, e a danada é fogosa das pernas grossas e peitos formosos. Também só anda com aquele vestido decotado, pra lá e pra cá se rebolando, mostrando a bunda para todo mundo. Dizem até que está prenha. É uma vaca!

No pé de ouvido, o outro revelou em segredo que comeu a dona Creuza, a vizinha que não parava de dar mole para ele, com aquela regaterice de sempre, toda serelepe.

– Cuidado compadre que o marido dela caminhoneiro é brabo e contam até que ele já matou um cara quando morava lá para aquelas bandas da Paraíba. Dizem que veio parar aqui corrido da polícia.

É, meus amigos, nos tempos que não existiam telefone com fio e celular móvel, as fofocas, os boatos e as fake news corriam soltos de bocas em bocas, muitas maldosas e outras verdadeiras, mas com exageros. Como no ditado popular: Onde há fumaça, há fogo.

Agora com o celular e as redes sociais, onde quase ninguém bota mais cadeiras nos passeios para papear por causa do progresso que gerou a violência, as fofocas não deixaram de existir. Continuam mais velozes e até mais agressivas, ofensivas e mortais.

 

 

AS ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL E A FALTA DE OBRAS DE CONTENÇÃO

Depois das tragédias no Rio Grande do Sul, os gaúchos começam a reconstruir suas vidas retornando para suas casas através de doações. As empresas e fábricas, com maior poder aquisitivo, voltam a abrir suas portas e até os turistas mostram suas caras, mas não vi e ouvi da parte dos governantes se falar sobre projetos preventivos de contenção para evitar que os fatos se repitam.

A única coisa que escutei de prepostos de uma prefeitura é que o poder público estava comprometido em instalar serviços de monitoramento das mudanças climáticas com sinais de alertas para as populações deixarem suas casas para os abrigos em momentos de riscos, como sempre em prédios escolares num amontoado de gente, e lá vem novamente as campanhas de doações.

Esse é o nosso Brasil que prefere fazer armengues e remendos do que planejar. Ora, essas providências paliativas anunciadas são de baixo custo e não resolvem o problema crucial das enchentes, principalmente dos lagos Guaíba e dos Patos. Até parece um deboche porque as casas continuarão sendo inundadas e as pessoas vão perder seus pertences.

Durante as enchentes de maio e junho, fora os recursos federais, grande parte dos brasileiros se uniu para arrecadar dinheiro, materiais diversos, mantimentos e outros produtos para socorrer as vítimas. Até o momento não ouvi falar sobre a quantia de valores monetários enviados para o Governo do Rio Grande do Sul e prefeituras atingidas e o que foi feito dessas verbas.

Ora, não deveria haver uma prestação de contas como forma de transparência e satisfação a quem se prontificou a contribuir? Onde esses recursos foram utilizados e quantos milhões foram arrecadados? Tenho certeza que a população em geral, que já paga impostos altos, colaborou bem mais que o governo federal.

Logo que passa a catástrofe, tudo é esquecido; dá-se uma merreca para os pobres; abre-se créditos, praticamente sem juros, para os empresários tocarem seus negócios; limpa-se as sujeiras dos entulhos e lixos; conserta-se as estradas e pontes; e nada de obras de proteção (canais e bacias para escoamento das águas), como foram realizadas em Nova Iorque, em Mahatma, e em Amsterdam, na Holanda.

Ouvi noticiários de uns técnicos arquitetos e urbanistas do exterior que apareceram no Rio Grande do Sul, mas que eu saiba, foi anunciado pelos governantes sobre possíveis projetos nesse sentido e início de obras para conter próximas enchentes.

Eles vão apenas dar uma ajeitada nos diques, fazer algumas reparações nas comportas que estavam enferrujados e nas casas de bombeamento de água. A partir daí, nada de manutenções nesses equipamentos que já demonstraram ser deficientes.

Numa tragédia desse porte, quem mais se lasca são os pobres e aqueles que perderam suas vidas (quase 200 pessoas). Os ricos possuem seus fundos de reservas; têm seus seguros; e se recuperam rapidamente. Os moradores estão reconstruindo suas casas nos mesmos lugares, bem como os pescadores e ribeirinhos.

Como já disse alguém por aí: Esse não é mesmo um país sério. Não existe planejamento e, ainda por cima, é um país comandado pela corrupção, pelo superfaturamento e pelo suborno. O que existe mesmo é a indústria da seca no Nordeste e agora das enchentes no Sul. Um exemplo está nas tragédias de Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro. Depois de anos, a situação permanece praticamente a mesma.

E por falar das secas nordestinas, onde levas e levas de retirantes deixaram suas terras para serem escravos em outros estados sulistas; exterminaram plantações e animais; e mataram crianças e idosos de desnutrição, nunca houve uma comoção geral dos brasileiros (campanhas de maciças de doações) do mesmo tamanho e em proporções iguais como agora no Rio Grande do Sul, que tanto menosprezou e depreciou os nordestinos, chamando-os de  inferiores porque não concordam com a mesma política expressa por seus moradores.

“VOX POPULI, VOX DEI”

Este é verdadeiramente um país cristão conservador com uma ala cada vez mais extremista e fanática, um viés que está ocorrendo em várias nações do mundo, como Estados Unidos, a França símbolo do saber filosófico, da igualdade, liberdade e fraternidade, bem como, de outros territórios da União Europeia.

Existem certas coisas na esfera religiosa que são ditas de forma impensada, emplacada no nosso subconsciente, que se tornaram máxima popular, mas sem nenhuma lógica. Uma delas é sair por aí falando que “vox populi, vox dei” (Voz do povo, Voz de Deus). Fico aqui com meus botões a imaginar que isso não é verdade, nem racional.

Vamos ficar só no nosso caso brasileiro. Um exemplo são as eleições onde a maioria dos eleitores vota por favor e simpatia em gente vagabunda, oportunista, corrupta e até em criminosos milicianos. Isso, então, é a voz de Deus? Será que tem o aval Dele?

Quando se comete injustiças sociais, linchamentos e mais de 50 milhões vão para frente dos quarteis e ruas gritar por intervenção militar, será que é a voz de Deus? O povo apoia e elege candidatos genocidas e exterminadores, como foi o caso de Hitler, na Alemanha, Mussolini, na Itália e mais recente o “Bibi” em Israel. Foi a voz de Deus? Foi Ele que assim quis?

Reis, imperadores e rainhas diziam que eles eram os escolhidos por Deus. Todos eram obrigados a acreditar, reverenciar, venerar e obedecer. Que Deus é esse que só falou com Moisés, Abraão, Isac, David e outros hebreus? É tudo cascata da Bíblia escrita pelos homens do poder com seus interesses políticos e expandir seu número de fiéis.

Que me desculpem os religiosos (respeito a todos), mas não consigo engolir essa de que o homem, e não se incluiu aqui a mulher, foi feito à semelhança de Deus. É um outro absurdo. Ai vão retrucar que tudo é mistério e questão de fé.

Alguém aí pode me responder como é esse Deus? Quais suas feições? A imagem que temos é de um ancião todo barbudo eremita das montanhas ou saindo das nuvens com seu velho cajado, todo sisudo. Tanta maldade na humanidade desde a Mesopotâmia, passando pelo Egito, Roma, os Cruzados, a Inquisição da Igreja Católica e somos semelhantes a Ele!

Outra coisa desses fanáticos religiosos aderentes pregadores de amor à pátria, família e liberdade (fazem tudo ao contrário) dizerem que Deus só ajuda quem está com ele! Como assim? Quer dizer, então, que Deus é como aquele político malvado, tipo o velho ACM, que falava que tudo para os amigos e nada para os inimigos, isto é, quem não estava com ele no voto, estava fora da sua ajuda.

Cristo, do alto da sua sabedoria e visão humanitária, não atendia apenas aos seus seguidores, mas também aos pecadores e muitos que eram seus adversários. Mais uma vez, como descrevem os ensinamentos da Bíblia, era o filho de Deus.

Ora, nesse pensamento enviesado e torto, quer dizer que Deus é um daqueles ditadores tirânicos que manda eliminar sumariamente quem é seu adversário? Só ajuda aqueles que estão ao seu lado? No entanto, do outro lado, o cristão prega que Ele é justo, piedoso, amoroso e está com todos, não importa quem.

Se é à sua semelhança, não pode abandonar quem não tem Ele no coração. Se Deus age assim, então a outra parte está com o demônio. Os terráqueos, então, são comandados por Deus e Satanás, o mais citado entre os evangélicos.

Além da nossa imaginação, entre os céus e a terra, no delírio individual e coletivo, existem mais coisas esdrúxulas e paradoxais, como um monte de gente na beira de uma estrada rezando para um pneu murcho.

O nosso planeta está em ebulição, em pleno aquecimento global, com vulcões expelindo suas larvas, tufões arrastando tudo pela frente, enchentes inundando tudo e matando milhões, secas acabando plantações e deixando humanos e animais com sede, tempestades fora do tempo e outras tragédias e catástrofes. Tudo isso é obra de Deus ou dos próprios humanos?

Outra tremenda idiotice e burrice é dizer no Brasil que todos somos iguais, inclusive perante as leis. Ora, nesse sistema cruel dos poderosos que mandam, todos somos diferentes. Sem essa de igual! O rico é diferente do pobre injustiçado e do negro discriminado.

Somos diferentes em gênero e raça e até nos problemas. Por que uns nascem saudáveis e outros não, com tantas deficiências e doenças malditas desconhecidas? Eu me sinto sufocado, preciso respirar e ser livre.

Esse ar está cada vez mais poluído e tóxico, físico e mentalmente. Procuro, dentro da minha solidão interior, me afastar desse delírio cognitivo coletivo, que não é mais delírio quando milhões acreditam no surreal.

 





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