maio 2025
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031


CÂMARA DE VEREADORES QUER NOVA SEDE

Quando os vereadores se reúnem com a prefeita com intuito de construir uma nova sede para a Câmara Municipal, isso me faz lembrar dos equipamentos culturais que estão fechados há anos por falta de reforma, mesmo diante de tantos pedidos dos artistas, com documentos e abaixo-assinados.

O argumento dos parlamentares, que já contaram com o apoio do poder executivo através da concessão de um terreno, é de que o prédio na rua Coronel Gugé com o antigo anexo da rua Zeferino Correia, erguido em 1910, não comporta mais o contingente de 23 vereadores (há 30 anos eram 11) e que a plenária tem espaço limitado para receber os participantes das sessões.

Nosso povo tem pouca memória quando eles mesmo disseram que o aumento no número de edis não iria implicar em custos para os contribuintes. Trata-se de uma grande falácia para enganar a nossa gente que está sempre sendo manipulada e é, infelizmente, comprada na hora da votação.

O aumento de vereadores não tem como não gerar mais custos no orçamento municipal, com mais gabinetes, salários para o vereador e seus auxiliares, verbas de indenização e outros benefícios concedidos pelos cofres públicos, boa parte vinda do Fundo de Participação dos Municípios.

Outra enganação é que a plenária ou o auditório já está limitado para receber os conquistenses que frequentam as sessões. Ora, aquele auditório Carmem Lúcia só lota poucas vezes em sessões especiais em homenagem a uma determinada categoria ou em eventos mais solenes. Na maioria das reuniões ali está sempre vazio.

Portanto, considero mais um absurdo a prefeitura despender mais recursos para construir outra sede luxuosa quando não atende as reivindicações do setor cultural que vem lutando pela abertura do Teatro Carlo Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha, na rua Dois de Julho, cujos espaços estão sendo destruídos pela ação do tempo. É por essas e outras que venho afirmando que a prefeita Sheila Lemos sepultou nossa cultura.

Pelos últimos números, existem no Brasil 60.311 vereadores. Até 2013 eram 51.748. O país gasta anualmente cerca de 24 bilhões de reais com os mais de 60 mil vereadores, dinheiro que poderia muito bem ser empregado nas áreas da educação e da saúde.

Até o período do regime militar, no início da década de 60, o vereador não era remunerado e as câmaras funcionavam bem melhor em termos de prestação de serviços à população.

Em Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com cerca de 400 mil habitantes, só são realizadas duas sessões por semana, com pautas de poucos projetos e mais de indicações e moções de aplausos.

Além das câmaras de vereadores e assembleias legislativas, temos um Congresso Nacional (531 deputados e 81 senadores) mais caro do mundo, conservador e que legisla visando seus próprios interesses, num país com o mais profundo índice de desigualdade humana. Podemos dizer que é o maior cancro do Brasil.

 

A COLUNA PRESTES NO SARAU

Foi mais uma noite memorável cheia de programação cultural, tendo como tema principal “A Coluna Prestes e seus Desdobramento Políticos” na palestra do nosso companheiro Eduardo Morais. Estamos falando de mais uma edição do Sarau A Estrada, realizado no último sábado (dia 12/04/25), no Espaço Cultura do mesmo nome, com a participação de mais de 30 pessoas entre jovens, artistas, intelectuais, professores e interessados pela cultura.

Os trabalhos foram abertos pelo membro da comissão Dal Farias e logo depois o jornalista Jeremias Macário e sua esposa Vandilza Gonçalves fizeram o anúncio da mudança para outra casa, mas todos garantiram que o Sarau, que   está completando 15 anos de existência, vai continuar com suas atividades artísticas.

Jeremias aproveitou a ocasião para prestar uma homenagem ao ativista cultural Massimo Ricardo de Benedictis, com um minuto de silêncio pelo seu falecimento na semana passada. Ricardo deixou seu legado na cultura de Vitória da Conquista, com seus projetos e promoção de eventos importantes.

Mais alguns informes da presidente da comissão, Cleu Flor sobre a prestação de contas da arrecadação do fundo, o processo do andamento do registro do Sarau em cartório e Eduardo fez um relato histórico e político da Coluna Prestes, que teve seu início com o movimento tenentista de São Paulo, em 1918.

A partir da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, a Coluna, dirigida por Luis Carlos Prestes, cortou todo Nordeste brasileiro percorrendo mais de 25 mil quilômetros e terminou por volta de 1927/28 no Sul do Mato Grosso quando seus membros se dispersaram e adentraram na Bolívia, por causa das perseguições do governo federal de Venceslau Brás.

O movimento, que buscava mudanças na política, reformas nas áreas social e educacional, principalmente, como bem pontuou Eduardo, foi inspirado nas ideias socialistas da Revolução Russa de 1917.  Ele fez um relato sobre a passagem da Coluna pelo Nordeste que lutou no combate ao coronelismo da época e às injustiças sociais contra o sertanejo do interior urbano e do campo.

Como em outras revoltas e rebeliões pelo Brasil em defesa da liberdade e da democracia, a Coluna representou um marco na história, segundo o palestrante. Para depreciar suas ações, os coronéis disseminavam que seus membros eram revoltosos, matavam crianças, idosos e estupravam mulheres. Diante desses boatos, as pessoas temiam quando eles chegavam nas cidades.

Logo no início da sua marcha, Eduardo destacou também a realização da Semana da Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, movimento liderado por Mário Andrade, Oswaldo de Andrade, Tarcyla do Amaral, Anita Malfatti, dentre outros, chamado de antropofágico por valorizar as artes nacionais e em prol da democracia.

Na Bahia, a Coluna passou por Condeúba, Mucugê e outras cidades. Muitos foram mortos pelas tropas do governo e quando chegaram em Mato Grosso restavam poucos. Carlos Prestes foi para a Bolívia e de lá para a União Soviética como exilado.

A nossa companheira Viviane Gama fez uma homenagem às mulheres falando de seus enfrentamentos pela igualdade entre os homens. Reviveu os tempos passados onde as mulheres tinham um lugar inferiorizado como simples donas de casa, mas que ainda existe muitas coisas para serem conquistadas na sociedade moderna.

Após os debates, o músico, poeta e compositor Manno Di Souza abriu as cantorias, juntamente com Alisson Menezes, nosso visitante, Dorinho Chaves e Alex Baducha. Como não poderia deixar de acontecer no Sarau, abriu-se uma rodada de declamação de poemas autorais onde muitos tiveram a oportunidade de expressar suas obras.

Foi mais uma noite de confraternização, de comes e bebes, num clima de harmonia, troca de ideias e conhecimento, como tem sido o Sarau a Estrada nesses seus quinze anos de existência, um período ainda novo, mas que já se transformou num ambiente familiar e de respeito às diferenças ideológicas de cada um.

Houve várias postagens no grupo com referência ao Sarau, como a de Cleide que enalteceu a luz radiante da Lua Cheia e a alegria ímpar dos benfeitores da cultura. Vida longa ao Sarau. Humberto disse que o evento ocorreu como sempre, num clima de completa paz e harmonia.

Para Humberto, o tema escolhido ainda é pouco comentado no cotidiano, mas bastante atual em razão do momento vivido pela nossa nação, o qual foi comentado pelo companheiro Eduardo e demais colaboradores. As expressões artísticas e culturais foram momentos de destaque. Outro fato foi a presença de novos seguidores, num clima de afetos. Os componentes da comissão estão de parabéns.

Dal Farias comentou sobre a trajetória do Sarau, repleto de conhecimentos vividos durante esses 15 anos, ainda adolescente. Foram anos de grandiosos acontecimentos e emoções arraigadas. Numa troca de energias, Jeremias e Vandilza surpreendeu a todos com a notícia de ares de mudança para um novo ambiente, um momento comovente, mas compreensível. Novos momentos virão, com um tempo novo. Agradeceu a todos pelas participações, num lugar de aconchego e admirável pelas suas instalações, o acervo, os adereços artesanais e a coleção de chapéus.

“A GUERRA ME FEZ BEM E MAL”

Na segunda parte do oitavo capítulo do livro “Um Pouco de Ar, Por Favor”, o escritor George Orwell fala do seu personagem George Bowling que participou da I Guerra Mundial e afirmou que “a guerra me fez bem e mal”. Em sua concepção, o pior é o pós-guerra.

“Você se lembra daqueles hospitais de campanha em tempos de guerra? As longas filas de cabanas de madeira que pareciam galinheiros, presas bem no topo daquelas colinas geladas bestiais – a “Costa Sul”, as pessoas costumavam chamá-la assim, o que me faz imaginar como seria a “Costa Norte” – onde o vento parece soprar em você de todas direções ao mesmo tempo”.

Através da sua personagem, o autor da obra detalha em minúcias como era a vida nas trincheiras fedorentas onde os soldados se arrastavam na lama e “um cigarro a cada homem era exatamente como alimentar os macacos no zoológico”.

Relata que os homens nas trincheiras não eram patriotas, não odiavam o Kaiser, não ligavam a mínima para a pequena e galante Bélgica, e os alemães estuprando freiras nas mesas (era sempre “nas mesas”, como se isso tornasse tudo pior) nas ruas de Bruxelas.

A guerra fez coisas extraordinárias com as pessoas – descreveu George Bowling. O extraordinário era a maneira como matava as pessoas e como deixava de matar. “Era como uma grande enchente que o empurrava para a morte e, de repente, atirava você em algum lugar isolado, onde você se pega fazendo coisas incríveis e inúteis e ganhando dinheiro extra por elas”.

George narra que “havia batalhões de trabalho fazendo estradas através do deserto que não davam a lugar nenhum, havia caras abandonados em ilhas oceânicas para cuidar de navios alemães que haviam sido afundados anos antes, havia mistérios disso e daquilo com exércitos de escriturários e datilógrafos que continuaram existindo anos após o fim de sua função, por uma espécie de inércia”.

Durante seu tempo na guerra, George revelou que lia todos os livros onde muitos ficaram esquecidos. “Engoli todos como uma baleia que se meteu em uma espicha de camarões. Apenas me deleitei com eles. Depois de um tempo, é claro, fiquei mais intelectual e comecei a distinguí-los entre imbecis e não imbecis”.

–  Eu peguei Filhos e Amantes, de Lawrence, e meio que gostei, e me diverti muito com O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e As Nove Mil e Uma Noites, de Stevenson. Wells foi o autor que mais me impressionou.

Num dos trechos da sua narração, George destacou que, se fosse fazer a conta, admitiria que “a guerra me fez bem e mal”. De qualquer forma, aquele ano de leitura de romance foi a única educação real, no sentido de aprender com livros, que já tive. Isso fez certas coisas em minha mente”.

Ainda sobre a leitura, ressalta que lhe deu uma atitude questionadora, que provavelmente não teria se tivesse passado a vida de uma forma normal e sensata. Ele diz que não foram os livros que lhe deixaram impressionados, mas a horrível falta de sentido da vida que levava.

Em 1918, segundo ele, foi um ano sem sentido. “Aqui estava eu sentado ao lado do fogão em uma cabana do exército, lendo romances, e, a algumas centenas de quilômetros de distância, na França, os canhões rugiam, e bandos de crianças infelizes, molhando suas calças de medo, estavam sendo empurrados para a barreira de metralhadoras, do mesmo modo que você atiraria um pedaço de carvão em uma fornalha”.

– A coisa toda tinha tanto sentido quanto o sonho de um lunático. O efeito de tudo, mais os livros que estava lendo, foi me deixar com um sentimento de descrença em tudo. Eu não era o único. A guerra estava cheia de pontas soltas e cantos esquecidos…

“Seria um exagero dizer que a guerra transformou as pessoas em intelectuais, mas, naquele momento, os transformou em niilistas. … Se a guerra não matou você, certamente fez com que começasse a pensar. Depois daquela confusão idiota indescritível, não seria possível continuar considerando a sociedade como algo eterno e inquestionável, como uma pirâmide. Você sabia que era apenas uma confusão”.

ALGUNS VERSOS

(Chico Ribeiro Neto)

Hoje eu tô pra versos.

POEMA DA CARNE

Ela tem uma angústia

que é natural

e resolveu fazer

medicina natural

 

Ela tem um corpo

que não se joga

e resolveu tomar

aula de yoga

 

Ela não tinha uma certa paz

que lhe fazia um certo mal

e resolveu trocar a carne

pelo arroz integral

 

Quando se aborrecia

parava e dizia: “Eu penso”,

mas começou a sentir falta

do cheiro de incenso

 

Entre a mesa e a dança

ela descobriu num abraço

que entre o arroz e o passo

está faltando um pedaço

XXXX

 

O menino que já me ensinou muita coisa

continua do meu lado.

Tem olhos bem abertos e mãos sujas de terra.

Seu calção é leve e dança cores debaixo do sol.

Traz na boca um sorriso leve

e seus pés preparam um grande pulo

para dentro do coração do mundo.

XXXX

 

ARMARINHO

 

no fundo do poço

parecia chave

mas era um osso

XX

 

ninguém duvida

olhos verdes

alumiam a vida

XX

 

dá prazer

fazer gol

dentro de você

XX

 

creia, rapaz,

zerei sua dívida

pra você comprar mais

XX

 

para melhorar

um mergulho

no mar

XX

 

para piorar

o carro acaba

de quebrar

XX

 

creia, senhor,

dá samba

riso e dor

XX

 

algo quente no ombro

bala perdida?

cocô de pombo

XX

 

coisa boa é

tênis velho

conhece o pé

XX

 

cheio de moedinha

meu porquinho fugiu

com a porca da vizinha

XX

 

falta sempre uma coisa

pagar o boleto

consertar o dente

visitar um parente

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

O SARAU DOS QUINZE ANOS

Logo mais, entre junho/julho, o nosso “Sarau A Estrada” estará celebrando 15 anos de existência, o mais longevo de Vitória da Conquista que resistiu a diversas dificuldades, inclusive durante a pandemia de 2020 a 2022 quando realizamos encontros virtuais e a produção de vídeos que renderam duas edições documentais memoráveis. Antes disso, porém, temos um evento marcado com os amigos frequentadores e demais visitantes neste sábado (dia 12/04/25), no Espaço Cultural A Estrada, cumprindo a nossa programação bimensal, com o tema (carro-chefe do sarau) sobre “A Coluna Prestes e Seus Desdobramentos”, que abrirá nossos trabalhos depois dos informes e homenagens. O palestrante será nosso companheiro historiador, Eduardo Moraes, membro da comissão, e a cantoria ficará por conta do músico, poeta e compositor Manno Di Souza (voz e violão). Tudo indica que vamos ter mais apresentações com a presença de outros músicos. Além dos cancioneiros e violeiros, haverá declamação de poemas autorais e a contação de causos e estórias. Toda organização está sendo feita pela comissão composta por Cleu Flor, Dal Farias, Alex Baducha e Eduardo Moraes, a qual promete novidades nos comes e bebes. Tudo começou há 15 anos num bate-papo festivo e descontraído numa noite de inverno entre Jeremias Macário, Manno Di Souza e José Carlos D´Almeida, os primeiros fundadores, com o nome de “Vinho Vinil”. O propósito era só tomar vinho e ouvir vinis, mas o grupo foi crescendo e tomou outras proporções. De lá para cá realizamos vários projetos, como um CD autoral, vídeos e até uma apresentação pública no Teatro Carlos Jheovah. Pelo seu reconhecimento cultural, o Sarau A Estrada foi premiado no ano passado com o troféu Glauber Rocha, indicação do Conselho Municipal de Cultura e entrega solene pela Câmara Municipal de Vereadores.

EU GOSTARIA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Alô, poetas cancioneiros!

De viagens passageiras,

Desse sarau, estradeiros!

Está é uma canção que faço

No compasso do coração,

Em noites etílicas e bíblicas,

Que ficam em nossos anais

Nesses debates intelectuais.

 

Eu gostaria,

Que não houvessem

Mais barreiras nas fronteiras,

Que todos fossem livres,

Para expressar seu pensamento,

Num mundo de paz e harmonia,

Sem escravos nessas caravelas,

Nem ódio nas paralelas,

Adorar o pôr-do-sol,

O alvorecer do dia,

Com amor e alegria.

 

Eu gostaria

Que banissem a guerra,

Nesta tão castigada terra,

Sem mais os preconceitos,

Que cada um respeitasse os conceitos,

Com apertos de mãos,

Como diferentes irmãos.

 

Eu gostaria,

Que abrissem todas telas,

Das coloridas aquarelas,

Apagassem todas as mazelas,

Que não queimassem nossas florestas,

Tudo fosse só festas,

Aparassem todas arestas,

Mas esse sonho é uma quimera,

Não passa de uma utopia,

De filosofia e poesia,

Numa noite florida de primavera.

 

 

 

A PECHINCHA E OS GENÉRICOS

Duas coisas que me deixam encabulado são esses negócios de pechincha e remédios genéricos. A origem da palavra pechincha é obscura e incerta, mas avalio que tenha surgido a partir das trocas de mercadorias desde as primeiras civilizações nas feiras livres entre as aldeias.

Por falar em feiras livres (compre três pimentões e leve quatro), acredito que sejam os lugares apropriados, no âmbito econômico, destinados à classe mais pobre, onde se praticam mais a pechincha, além das prestações de serviços. É aquela história: O preço é este, mas tem conversa.

No comércio em geral, um dos setores onde não existe a pechincha e o de supermercado. A empresa faz o seu tabelamento etiquetado e o cliente não tem essa de pechinchar quando passa no caixa, mesmo quando existem as tais promoções enganosas.

Sabemos que a pechincha é uma maneira mais fácil de negociar um produto entre um vendedor e comprador ou consumidor, de forma que ambas as partes saiam ganhando e satisfeitas. Só não entendo que o cara pede um preço determinado, mas vai logo avisando que tem pechincha.

Ora, se tem a pechincha, é claro que o comprador vai querer porque ninguém é besta nos tempos atuais de abrir mão de adquirir aquele bem por um custo mais baixo! Nesse caso, o vendedor anuncia seu preço, mesmo sabendo que, de antemão, vai receber menos.

Não é um paradoxo? Existe gente que não pechincha, mesmo não sendo endinheirada. Conheci uma amiga que foi completamente lesada em Salvador. Uma baiana, em frente ao Elevador Lacerda, lhe pediu 60 reais numa fitinha do Senhor do Bonfim, e ela prontamente deu, sem ao menos questionar. Nem pechinchou.

Nesse negócio da pechincha, uma cultura enraizada entre os brasileiros, principalmente nas feiras, só posso entender que é uma técnica de venda para atrair o comprador. Muitas vezes, o camelô ou ambulante de bugigangas de ruas pede um valor e termina aceitando a compra pela metade ou menos da metade do estabelecido.

A pechincha também é chamada de “dar uma chorada”, mas tem negociante que é duro na queda. No entanto, quando a pessoa está com a “corda no pescoço”, “na forca”, endividada ou arruinada financeiramente, como se fala no popular, ela se sujeita a vender seu objeto, bem móvel ou imóvel a um preço “baratinho”, com imenso prejuízo.

Os astutos, aproveitadores e oportunistas caem dentro, sem dor e compaixão, e deixa o outro numa situação financeira ainda pior do que estava antes. É a lei do mais forte, aí não é mais pechincha, é uma exploração impiedosa de quem tem o capital na mão.

E a questão dos medicamentos genéricos onde os preços chegam a ser mais baixos até numa percentagem de 80 a 90%? Se o farmacêutico garante que o remédio contém a mesma fórmula do chamado original, por que, então, não colocar todos genéricos?

O termo genérico, por já ser pejorativo, gera certa desconfiança da população. Será que tem o mesmo efeito? No mercado, essa coisa de remédio genérico ainda não foi totalmente esclarecida. Por que uns são genéricos e outros não?

Certamente porque alguns laboratórios nacionais não têm a permissão, nem a patente do fabricante estrangeiro para fazer o genérico. Por que em algumas farmácias você consegue o genérico e em outras não? É um esquema que não dá para entender. Você confia totalmente no genérico?

 

 

O SOM DA MADRUGADA

Se você dorme mais tarde, lendo, escrevendo ou fazendo algum trabalho intelectual, já parou para observar o som do silêncio da madrugada, mesmo que seja numa cidade grande agitada? Se nunca fez, experimente e vai descobrir muitas coisas interessantes. A madrugada é um laboratório de experiências.

Lá fora você pode até ouvir o farfalhar das árvores no balanço do vento, o latido do cachorro mais distante na rua ou a voz de um vizinho, o trânsito menos barulhento dos carros, um chiado vindo de longe, a pisada de algum solitário e, o mais poético, são os pingos da chuva calma, sem raios e trovões, nem tempestades!

Ao som da madrugada se escuta até o zunido de uma bala saindo do cano de uma arma. Nesse caso, o tema vira assassinato na madrugada. É um bom enredo literário de romance policial que dá até filme. O pior são as discussões agressivas entre homem e mulher que, às vezes, terminam em morte. Os dramas familiares! Os indivíduos da madrugada são testemunhas das violências.

É na madrugada, depois da meia noite, que se ouve batidas estranhas de fantasmas e “almas penadas” em casas mal-assombradas. Qualquer estalo é motivo de pânico ou medo de ser um ladrão ou coisa de outro mundo. Você fica mais atento a tudo que se move ao seu redor.

– Vejo outras coisas mais interessantes e picantes – disse um amigo meu que também vive da insônia e o chamam de corujão da meia noite. Conheci muitos que não conseguem dormir e já se habituaram com isso. Pode ser esquisito, mas é um requisito peculiar e privilegiado.

Ele me reportou, com seu tom jocoso e sarcástico, sobre a vida de um casal que mora um pouco abaixo do seu apartamento e tem noites certas de fazer sexo com aquele escândalo erótico. Naqueles tempos bicudos, só maiores de 18 anos podiam saber disso.

– Bicho, a mulher morena baixinha é uma histérico e, na hora do vamos ver, grita alto, geme e pede sempre mais e mais. É uma gulosa! Não para, não para – repete a mulher em tom exagerado como se estivesse sozinha num acampamento desértico.

– Aquilo me deixa doido! – Já sei, não precisa falar. Tem palavras que não são convenientes citar aqui, senão moralistas vão me levar para a inquisição. Você que está acompanhando esse papo deve estar imaginando os termos de amor, amor, amor, vai mais!

– É uma loucura, cara, também escuto esse tipo de coisa e me lembro de um casal com esse estilo tarado de transar quando morava em Salvador num prédio de apartamento. Batia o silêncio da madrugada e aí o pau comia. Outros são bem mais discretos na cama.

– Certos animais também têm esse comportamento selvagem dos humanos. Quem já não ouviu uma transa de gatos no telhado! Um negócio de louco! A Gata solta miados e sons estridentes. Eu que diga aqui em minha casa. É tanto barulho que me atrevo a interferir, mesmo sabendo que não tenho esse direito de empatar o amor ou a f… de ninguém.

Posso até ser processado e preso pelos defensores dos direitos animais por importunação e constrangimento ao amor (os humanos não ficam fora), mas é demais e não consigo suportar os chiados que me atrapalham esse tipo de som da madrugada.

Se os sons do silêncio da madrugada urbana chamam a atenção e lhe dão mais inspiração para escrever, filosofar consigo mesmo, refletir e poetar, agora pense como não é no campo, principalmente em noite de lua cheia que prateia o terreiro do seu chão. Lembrei dos uivos dos lobos, coiotes e até do lobisomem.

Lá você curte mais o vento bater na comieira da casa, o casco do cavalo, do burro ou da mula na estrada com seu cavaleiro, no galope cadenciado, o ranger dos galhos das grandes árvores na mata, e o sertanejo percebe de longe quando alguém se aproxima da sua casa.

Posso dizer que é um som mais poético porque já vivi por muito tempo na zona rural, inclusive naqueles tempos que não havia energia elétrica e nem televisão, quando muito um rádio cheio de ruídos. Meu pai sentia até quando um animal se aproximava do nosso rancho. São coisas do homem do campo.

TEMPOS DIFÍCEIS PARA OS JORNALISTAS NA COMEMORAÇÃO DESSE SETE DE ABRIL

  Para comemorar a data, de 7 a 11 de abril, o Sindicato dos Jornalistas-Sinjorba e a Federação Nacional dos Jornalistas-Fenaj estão realizando a Semana do Jornalista, com uma vasta programação de reivindicações, como o diploma obrigatório e a criação do piso salarial nacional. Uma comitiva está em Brasília para uma série de encontros com os três poderes. A mobilização é denominada de “Ocupa Brasília”.

Lembro quando comecei a dar os primeiros passos na profissão como revisor, no início de 1973, ano da minha graduação como bacharel em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Eram tempos difíceis em pleno cerco da ditadura civil-militar, anos de chumbo contra a liberdade de expressão quando os homens da farda faziam o papel de cão de guarda para censurar os veículos de comunicação, especialmente o jornal impresso onde atuava.

Apesar de toda mordaça, os jornalistas eram mais combativos e participativos e tudo faziam para driblar a opressão dos generais. Os sindicatos, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e as associações brasileiras de jornalismo (ABIs) eram mais fortes e unidas. Naquela época, nem se falava de “fake news”, que passaram a brotar com a chegada da internet e, consequentemente, das redes sociais, o chamado jornalismo virtual onde grande parte da atividade foi banalizada, e a maioria perdeu a responsabilidade maior de informar.

Nada contra a evolução tecnológica onde a notícia é mais veloz que uma bala e pode ser mortal se for infundada. Passados mais de 50 anos, onde cada um se acha jornalista (não precisa ser diplomado), o neoliberalismo de mercado estreitou os espaços da profissão, e poucos que optaram pela área e passaram a frequentar as escolas seguem a carreira. Caiu o nível de formação e aumentou o noticiário de matérias infundadas, mal apuradas pela falta de uma maior investigação.

Quando aqui cheguei, em 1991 fui o primeiro jornalista formado da cidade e logo passei a assumir a diretoria regional do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), chegando a vice-presidente. Atualmente, como graduado sou o decano e, durante essa longa caminhada, já enfrentei muitos desafios. Continuo escrevendo porque é o alimento da minha alma e, se tivesse que recomeçar, seria novamente jornalista.

DIA DO JORNALISTA

Toda essa abertura, em forma de “nariz de cera”, é para lembrar do 7 de abril, Dia do Jornalista (quinta-feira), infelizmente pouco comemorado. Mesmo no período duro do regime militar, existia mais união e celebração com aqueles memoráveis encontros, dos quais muito ajudei a realizar. É dia de reflexão e luta por mais espaço e reconhecimento do diploma, bem como contra a violência contra os profissionais, da qual fui uma vítima.

Vamos dar uma pequena pausa nesse comentário para focar propriamente no Dia do Jornalista, pouco lembrado pela própria classe (casa de ferreiro, espeto de pau). O dia foi criado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e foi estabelecido por alguns motivos, como numa reunião de coletiva de imprensa. Uns dos motivos é que no dia 7 de abril de 1908, foi criada a própria ABI. Idealizada pelo jornalista Gustavo Lacerda, a associação situa-se no Rio de Janeiro, e é um centro de ação que tem como objetivo assegurar os direitos à classe.

Também no dia 16 de fevereiro foi comemorado o “Dia do Repórter”, que está ligado a um episódio da nossa história do Brasil. A data foi designada em homenagem ao jornalista e médico Giovanni Battista Líbero Badaró, morto no dia 22 de novembro de 1830. Ele participou de diversas lutas a favor da Independência do Brasil. Era proprietário do jornal “Observador Constitucional” e um dos principais motivadores da liberdade de imprensa, hoje tão vilipendiada, bem como a nossa Carta Magna.

Libero Badaró teve uma morte misteriosa, mas, segundo a história, inimigos políticos atentaram contra a sua vida. O falecimento dele causou descontentamento à população e culminou na abdicação do trono de Dom Pedro I, justamente no 7 de abril de 1831.   

Só para reportar a história, a primeira faculdade de Jornalismo foi criada em 1912, na Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos. A faculdade foi fundada por meio da doação de dinheiro do jornalista Joseph Pulitzer, que ajudou a tornar a imprensa conhecida como o quarto poder e que dá nome ao principal prêmio concedido a jornalistas premiados.

No Brasil, a primeira escola de jornalismo foi criada em 1947. Atualmente, a instituição chama-se Faculdade Gásper Liberó e localiza-se no prédio da antiga Gazeta, na Avenida Paulista.

TEORIA E PRÁTICA

Quando adentrei na redação era um dos poucos graduados pela Faculdade de Jornalismo da Ufba. Existiam os antigos jornalistas provisionados no Ministério do Trabalho. Na década de 70, o diploma passou a ser exigido e isso criou uma animosidade entre os chamados velhos e novos. Dizia-se que jornalismo era uma vocação, uma forma de dom que se aprendia no dia a dia da notícia, o que não deixava de ser uma verdade, mas a formação teórica com a prática fortalece mais a profissão e dar mais credibilidade.

A briga gerou uma disputa de ações na justiça para derrubar a obrigatoriedade do diploma, isso, se não me engano, entre as décadas de 80 e 90. A ação caiu nas mãos do Supremo Tribuna Federal, em 2009. Recordo que um dos ministros, contrário ao diploma, fez uma leviana comparação entre a culinária e o jornalismo, dizendo que a pessoa para cozinhar não precisava ter diploma. Aquilo foi de uma insanidade sem tamanho.

As faculdades continuaram emitindo os atestados profissionais, como a própria Facom, da Ufba, a Uesb que começou seu curso em 1998 (fui um dos incentivadores e ajudei na sua estruturação) e tantas outras particulares. Mesmo com a não obrigatoriedade do diploma, vejo que as empresas dão mais preferência aos formados, valorizando a formação escolar e o conhecimento.

Para marcar a data, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os sindicatos dos jornalistas do Brasil e profissionais da área costumam fazer reflexões importantes sobre a carreira, o mercado de trabalho, os salários e o futuro da profissão.

O curso de Jornalismo é ministrado nas principais universidades do país durante quatro anos ou oito períodos. Os estudantes têm aulas teóricas, como teoria da comunicação, história da imprensa, ética e legislação, história da arte, práticas, como telejornalismo, jornalismo impresso e webjornalismo.  

O jornalista é o profissional que informa fatos à sociedade, um contador e fazedor de histórias, com responsabilidade perante a opinião pública. Ele pode atuar em meios de comunicação, como rádio, TV, jornal, revista e internet. Também é comum que jornalistas trabalhem como assessores de comunicação e imprensa e, mais recentemente, em mídias digitais, tais como redes sociais e blogs.

TEMPOS DIFICEIS E O ESTRESSE

De acordo com pesquisa entre cerca de sete mil profissionais no Brasil, 66,2% dos jornalistas se sentem estressados. Dos entrevistados, 34,1% foram diagnosticados clinicamente com lesões por esforços repetitivos; 40,6% sofreram assédio moral no trabalho; 11,1% assédio sexual. A categoria é formada por maioria de mulheres (58%), inclusive negras. Esses dados carecem de atualização.

É esse, mais ou menos, o perfil do jornalista brasileiro. Da amostragem, 44,2% disseram que seus esforços no trabalho não são reconhecidos. Os dados ainda confirmam que houve uma redução do volume de vínculos empregatícios pela CLT, bem como, 24% prestam serviços de freelancers, MEI, pessoa jurídica ou sem contrato. De toda classe, 42,2% trabalham mais que oito horas por dia. O estudo da Fenaj (Rede de Estudos sobre Trabalho e Identidade dos Jornalistas), de agosto a outubro de 2021, conseguiu coletar mais de sete mil respostas, sendo 6.594 válidas.

 

 

 

UM GRANDE ATIVISTA CULTURAL

Sempre tenho repetido aqui por várias vezes que Vitória da Conquista tem sido uma cidade ingrata quando se trata de reconhecer personalidades que contribuíram com a cidade, prestando seus serviços, especialmente na área da cultura. A impressão é que Conquista esquece facilmente das pessoas que ajudaram a construir sua história.

Mais um grande ativista cultural nos deixou neste domingo para segunda-feira sem o devido reconhecimento desta sociedade e até mesmo dos fazedores de arte e cultura. Trata-se de Massimo Ricardo de Benedictis, nascido em Poções, em 1939, com passagem por Salvador, Rio de Janeiro e se fixando aqui em Conquista.

Estive em seu velório, no Salão do Pax Nacional e em seu enterro no cemitério Parque da Cidade no final da tarde de ontem (dia 07/04/2025). Senti a ausência de representação da Câmara Municipal de Vereadores e do próprio poder executivo, como da Secretaria de Cultura, bem como de membros de entidades culturais.  Nem falo de empresários porque já é uma categoria que está se lixando para a cultura.

Quando cheguei em 1991 para chefiar a Sucursal do Jornal A Tarde aqui encontrei o Ricardo Benedictis, como eu o chamava, militando na imprensa escrita e atuando em projetos culturais através da realização de eventos, se não me engano como coordenador de Cultura no governo de Pedral.

Lembro muito bem de Ricardo como diretor do Centro de Cultura e também como presidente da Academia Conquistense de Letras da qual ainda sou membro (ausente nos últimos anos) pela sua indicação, defendendo a obra de Graciliano Ramos.

Um dos seus maiores legados para a posteridade foi a criação do Festival de Inverno da Bahia, realizado por vários anos no Centro de Cultura. Além da música, que era o carro-chefe e que revelou muitos artistas locais, da Bahia e até de outros estados, o chamado FIB abrangia diversas linguagens, como teatro, literatura (participei de coletâneas), dança e artes plásticas.

Ao lado dos amigos Nápolis, Mozart Tanajura, Carlos Jheovha, Ezequias, dentre outros, Ricardo movimentava a cidade promovendo a nossa cultura e divulgando o nome de Conquista lá fora. O jornalismo também era também sua paixão quando lançou diversos periódicos, com suas matérias, comentários e artigos.

Por onde passou, Benedictis fez muito mais pela nossa cultura como um resistente, muitas vezes sem o apoio do poder público, sobretudo em Vitória da Conquista onde, talvez, tenha ficado por mais tempo.  Portanto, por tudo que fez em prol do setor merecia e merece uma consideração à altura do seu feito.

Por sermos polêmicos por natureza, tínhamos nossas divergências de ideias e políticas, mas estávamos sempre discutindo as questões culturais de Vitória da Conquista. Como jornalista, fui também um crítico do seu trabalho em certas ocasiões, mas nunca fomos inimigos.

Em certos pontos a gente concordava que era a falta de maior presença do poder público, inclusive no sentido de ajudar os artistas a realizar seus trabalhos. Outro ponto era a necessidade de uma união de todos ativistas culturais visando fortalecer cada vez mais a nossa cultura. Achávamos que um dos males era o individualismo e a maneira torta de cada um se sentir o dono da cultura.

Por várias vezes realizamos aqui em nosso Espaço Cultural A Estrada, onde é palco do nosso sarau de quinze anos, tardes sabáticas memoráveis de cantorias e bate-papos acalorados com seu filho Ricardinho, Luciano e outros amigos. Como todos sabem, Ricardo era músico, compositor, poeta, jornalista e um grande ativista cultural que vai ficar em nossa lembrança.





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia