“AS ABOLIÇÕES DA ESCRAVATURA NO BRASIL E NO MUNDO”
Marcel Dorigny – Editora Contexto
“…Quem pretende transformar um ser humano em coisa, também se coisifica”. Este pensar está na abertura do prefácio da obra de Marcel Dorigny, um historiador do Departamento de História da Universidade de Paris VIII.
Marcel delineia as diferenças entre antirracista, antirracismo, abolicionista e abolicionismo, cujas ideias tiveram início no século XVIII na França e na Inglaterra. Destaca as primeiras rebeliões ou resistência dos escravos africanos. Os embates amadureceram no século XIX.
O historiador, de acordo com seus estudos, nos oferece uma série de fatores que resultaram no fim da escravidão, como o desenvolvimento da indústria, a necessidade de ampliação do mercado consumidor, o fenômeno da urbanização, a consciência dos intelectuais em decorrência das ideias da Revolução Francesa, mas, sobretudo, a resistência dos cativos africanos.
Ao se referir aos países mais “avançados” da Europa, assinala que as ideias de tolerância e afirmação dos direitos naturais do homem (liberdade e igualdade) foram uma poderosa força no processo que levou à condenação da escravidão.
“Do mesmo modo, as novas teorias de economia política da segunda metade do século XVIII contribuíram para tornar a escravidão cada vez mais desnecessária para o desenvolvimento da nova economia”.
Sobre as “resistências à escravidão”, o historiador cita o debate parlamentar das Leis de Mackau, de 1845, enquanto os defensores da continuidade nas colônias diziam que os escravos eram mais felizes que os operários das minas ou das fábricas. Um dos dirigentes da Sociedade Francesa pela Abolição da Escravatura (1834), Agénor de Gasparin, contestou esse absurdo com dados sobre a venda de escravos, as rebeliões e a manutenção da força de repressão, cada vez mais onerosa. Lembra que o movimento em São Domingos (Haiti), no final do século XVIII, representava um constante perigo de uma concentração maior de “não livres”.
Em 1840, Victor Schoelcher observou que para evitar um levante a solução era a abolição imediata. Em contraste com as belas pinturas e ilustrações, existia um trabalho pesado nas plantações de cana-de-açúcar ou de algodão, o trabalho braçal nas cidades, os castigos dos chicotes, do pelourinho e da prisão.
Quanto as resistências à escravidão, o autor do livro aponta que o primeiro navio a levar escravos africanos a São Domingos chegou em 1503. A resistência tinha início nos embarques dos escravos nos porões dos navios e continuava na recusa ao trabalho forçado (uma prova do arcaísmo), o suicídio, a recusa de gerar filhos (abortos e assassinatos), a fuga das plantações e desleixo na execução dos serviços. Só o chicote do capataz os estimulava.
Na resistência ainda ocorriam o envenenamento dos animais, dos poços de água ou dos próprios senhores nas tarefas domésticas. Tudo era resultado de uma opressão insuportável. Os fugitivos se refugiavam em zonas de difícil acesso para as forças de repressão, como nas Montanhas Azuis, na Jamaica (lugares de memória da marronagem, os marrons), que se transformaram em centros de fortificações semelhantes aos nossos quilombos.
Os ingleses perderam a guerra contra eles em 1739. Um tratado deu autonomia ao enclave das Montanhas Azuis. O mesmo aconteceu no Suriname Holandês e na Guiana Francesa. “ Em São Domingos, em meados do século XVIII, essa grande marronagem foi liderada por Makandal, que semeou o terror nas plantações, culminando depois com a Revolução Haitiana, entre 1791 e 1803.
No Brasil, os fugitivos se escondiam no coração das florestas, fora do alcance das tropas portuguesas. Ali se formaram os famosos quilombos, como dos Palmares. Marcel cita a famosa frase de Diderot: “Aquele que justifica um tal sistema merece do filósofo um profundo desprezo, e do negro, uma facada”.
No capítulo “As contestações ao Tráfico e à Escravidão”, o autor da obra fala sobre os antiescravistas, abolicionistas e reformadores coloniais, bem como, no emprego da palavra antiescravista e antiescravismo, abolicionista e abolicionismo. O primeiro limita sua ação a uma condenação moral da escravidão, que pode ser religiosa, ética ou econômica, sem dar uma solução.
O abolicionista é um ato político que prevê modalidades concretas de abolição e o tipo de sociedade que se criará depois. O abolicionista (moderado e radical) queria a destruição da escravidão. O moderado considerava a abolição por etapas e o radical recusava a ideia do fim progressivo. Entre servidão e liberdade não poderia haver categorias jurídicas intermediárias – defendia.
O historiador faz uma distinção entre o antiescravismo, que estabelece as bases da condenação de um sistema, e o abolicionismo que dá um passo a mais e propõe as modalidades da própria abolição, além de prevê as formas de transição entre o trabalho forçado e o livre. Existia ainda o reformador colonial na primeira metade do século XIX, que defendia a manutenção da escravidão por um curto prazo. Propunha “arranjos” e não a destruição radical.
Houve um antiescravismo cristão, cuja origem filosófica se baseava no igualitarismo evangélico (os quarkers), fundado no Gênesis, onde Adão e Eva representam a origem da humanidade, vinda da mesma fonte primitiva, o que condena de início a ideia de hierarquia entre as raças humanas, isto é, a exploração de uns contra os outros.
Essa concepção igualitária eliminava as justificativas da escravidão por natureza, que se baseavam no pressuposto da desigualdade entre os diferentes ramos da espécie humana, ou na maldição de Cam. A corrente do igualitarismo, de inspiração evangélica, foi dominante na Inglaterra e nos Estados Unidos, numa dissidência da Igreja Anglicana. Assim surgiu o movimento antiescravista e depois o abolicionista inglês e americano até o século XIX, liderado por pastores, tendo como maior exemplo os quakers, primeiros a proibir por parte dos seus membros a escravidão na Pensilvânia. “Não se pode ser Quaker e dono de escravo ao mesmo tempo”.
Marcel afirma que a teoria da extinção da escravidão ficou explicita no discurso de Mirabeau (um dos precursores do fim do cativeiro foi Montesquieu) e seu grupo, entre agosto de 1789 e março de 1790, onde propõe à Assembleia Constituinte votar a abolição do tráfico, num acordo franco-inglês. Ele mantinha troca de ideias com o abolicionista inglês Thomas Clarhson que apresentava a tese de um fim gradual da escravidão.
No século XVIII os abolicionistas eram minoritários e isolados, pois imaginar o futuro das colônias sem cativos era uma audácia, denunciada como contrária aos interesses nacionais. Eram considerados inimigos das colônias e da França. A Sociedade dos Amigos dos Negros, na França, foi acusada de instrumento nas mãos da Inglaterra para destruir a França. Os colonos e armadores denunciaram os deputados da Assembleia que votaram a favor da igualdade de direitos políticos aos “livres de cor” das colônias.
No fundamento da igualdade entre os homens (Iluminismo) sobre a igualdade natural, Diderot, Raynal e Voltaire são exemplos dessa corrente de pensamento. A Igreja Católica jamais condenou a escravidão enquanto instituição. Nem o Antigo e o Novo Testamento condenam a redução dos povos vencidos na guerra à escravidão, mas apresentam como uma prática que poupava a vida dos vencidos que o direito da guerra permitia matar.
Existiram exceções individuais, como do abade Grégoire, excomungado pela Igreja de Roma. A Europa foi a primeira a formular uma condenação filosófica, religiosa e econômica da escravidão. Na trajetória do antiescravismo para o abolicionismo, essa primeira etapa ocorreu até o início dos anos 1770. No antiescravismo, o argumento era de que o fim da escravidão não seria o fim das colônias, mas permitira, ao contrário, um aumento de prosperidade e a fundação de novas colônias, organizadas nas relações de igualdade entre os povos. Novas correntes foram desenvolvidas a partir do final dos anos 1750. Para os filósofos, a escravidão era uma forma de trabalho ultrapassado, arcaica e pouco produtiva, ao contrário de trabalho livre.
Diderot e o abade Raynal escreveram os textos mais radicais. Segundo eles, o fim da escravidão se dará pela violência da revolta e não por uma série de reformas que abram o caminho para sua extinção pacífica.
Esses dois nomes foram objetos de ódio e de rancor nos meios coloniais, principalmente após a revolta dos escravos em São Domingos, em 1791. Eles propunham soluções de abolições graduais. A sociedade colonial vivia no temor constante de revoltas, mais numerosas na segunda metade do século XVIII.
Foi nessa lógica que, já nos anos 1770, na América do Norte, e nos anos 1780, na Inglaterra e na França criaram-se as primeiras sociedades antiescravistas, com projetos políticos de um movimento abolicionista.
Em 1775, foi fundada a primeira sociedade antiescravista na Filadélfia, sob a égide do próprio Benjamim Franklin. Diante disso, os ingleses e os franceses acreditavam que o fim da escravidão começaria nos Estados Unidos
O EXTERMÍNIO DA PALESTINA E O NAZI-SIONISMO NO ESTADO DE ISRAEL
Em nome do holocausto praticado por Hitler (1939-1945), o mundo vem assistindo estarrecido um verdadeiro extermínio dos palestinos na Faixa de Gaza por um governo nazi-sionista de extrema direita judaica que se estabeleceu em Israel, transformando a pequena região mais densa em população do mundo num cemitério de crianças. É uma das maiores catástrofes humanitária já vista nos últimos tempos.
Todo esse terror e barbárie, iniciado a partir de sete de outubro com o ataque do Hamas, conta com o beneplácito apoio dos Estados Unidos, da ONU (Organização das Nações Unidas), que perdeu sua voz, força e poder, e de grande parte do ocidente europeu. A palestina tornou-se uma zona de carnificina humana que a história está registrando. Os maiores culpados são aqueles que não criaram o Estado da Palestina, em 1948, ao lado de Israel.
Há 75 anos, quando foi instituído o Estado de Israel (o território estava sob domínio da Inglaterra) pela ONU, logo após a Segunda Guerra Mundial, depois da ocupação dos judeus numa guerra de terrorismo, os palestinos foram empurrados para a Faixa de Gaza, sem autonomia e, de lá para cá, vêm sendo perseguidos e massacrados impiedosamente pelo exército israelita.
Os primeiros humanos chegaram à região por volta de seis mil anos atrás. Há cinco mil anos, os primeiros assentamentos foram estabelecidos no local, e em torno de 1.400 a.C. durante o domínio egípcio do Levante (Fortaleza do Egito), a cidade se tornaria na atual Gaza que começou a se desenvolver.
Com o fim do domínio egípcio, em 1.200 a.C., Gaza foi conquistada pelos filisteus, a Filisteia. Logo depois foi tomada pelos israelitas, pelos assírios, babilônicos, persas, gregos e romanos. Em 70 a. C., os romanos fizeram um dos piores massacres da sua história nesse território, talvez o mais cruel pelo general Tibério, um dos mais aterrorizantes de todas as guerras onde os mortos eram comidos pelos abutres e a cidade foi toda cercada. Conta que com fome, famílias e mães sacrificavam as crianças para se alimentarem.
Com a divisão do Império Romano, no século IV, Gaza passou a fazer parte do Império Bizantino. A cidade foi convertida ao cristianismo e conseguiu prosperar. No século VII, a região foi conquistada pelos árabes. Sob o controle dos califados, tempos depois, Gaza foi atacada pelos Cruzados e mongóis. Esteve também nas mãos dos aiúbidas e mamelucos.
No século XIV, gaza experimentou seu último período de prosperidade. Após a Primeira Guerra Mundial, os ingleses se apropriaram do território. Um ano depois do Estado de Israel, em 1949, a Faixa de Gaza foi estabelecida e se tornou palco de conflitos que ocorrem até os dias atuais. Os judeus invadiram a região na Guerra de 1967 (Guerra dos Seis Dias), instalaram colônias, impuseram pelas armas seu poderio opressivo e construíram um muro de separação.
Se hoje fosse um país, com 365 quilômetros quadrados, seria o terceiro mais populoso do planeta, com cerca de 2 milhões e 400 mil habitantes. Com esta brutal invasão dos judeus, os números (nem sempre são precisos) os bombardeios na Faixa de Gaza já mataram cerca de 11 mil palestinos, mas pode ser bem maior. As maiores vítimas são as crianças, cuja maioria vive em campos de concentração com seus pais, como na época do nazismo.
É muito irônico os judeus hoje falarem em paz e justiça e que não toleram discriminação e preconceitos quando, ao mesmo tempo, jogam bombas contra os palestinos, dizendo que o alvo tem sido somente o Hamas. Fazem suas propagandas de vítimas declarando que o Brasil é um país acolhedor.
Li um texto do filósofo Peter Pál Pelbart onde ele diz ser judeu húngaro e que por sorte não vive na Hungria e nem Israel, acrescentando ter renunciado o passaporte de cidadania de ambos. Peter descreve ainda a escalada xenófoba e fundamentalista de Israel ao longo dos últimos anos, e que nada parece mais abjeto do que o fascismo.
O filósofo condena os 55 anos de domínio sobre os palestinos e que o “Bibi” exerce um papel de carrasco que se diz herdeiro das vítimas do nazismo. A violência praticada contra os palestinos, em sua visão, se naturalizou para o Estado de Israel.
O húngaro faz um relato amplo sobre o triste passado do nazismo quando judeus, judias, ciganos, artistas e intelectuais foram vítimas do genocídio de Hitler e lamenta o ocorrido, mas afirma ser uma pena que esses fatos estejam reaparecendo através de práticas semelhantes por um governo extremista de Israel.
Peter Pál faz um histórico sobre o judeu errante, uma figura vista como negativa de estrangeiro infiel traidor, cujo objetivo era corromper a cultura, sempre suspeito de um complô, que representava um perigo para a civilização ocidental. Tem também segundo ele, o chamado nômade que não carece de terra e vive nas margens do império, do deserto e no exílio. Este subverte os códigos.
Ele fala dos primeiros judeus que chegaram ao Brasil na época colonial e, por motivos de perseguição da Inquisição, tiveram que simular como cristãos novos. Cita que a primeira sinagoga no país foi construída em Recife por judeus sefaraditas de origem portuguesa durante a invasão holandesa, entre 1630 a 1654.
Em sua longa narrativa sobre seu povo, aponta ainda a comunidade que aportou no Brasil no século XX, vinda do Leste Europeu e que aqui criaram um grupo unido no Bairro Bom Retiro, em São Paulo, onde deixaram muitas obras beneficentes.
No entanto, reconhece que o Estado Judeu de hoje com o primeiro ministro Bibi Nethanyan não é mais uma terra prometida de paz e justiça. Os judeus de hoje, em sua opinião, se acham arrogantes, superiores, como se fossem os eleitos de Deus.
Para Peter, houve uma grande guinada direitista que defende governos autoritários, diferente do judeu diaspórico. Nessa linha, cita os grupos de extrema direita que se tornaram seguidores do governo passado numa clara referência ao ex-presidente Bolsonaro, com instinto perverso, colonialista que venera o Estado e a supremacia do exército. Nisso, ressalta o efeito dos judeus brasileiros com o candidato do capitão, com propagandas inspiradas no marqueteiro Goebbels que assessorou o nazista Hitler.
O CANGAÇO E A SECA
A nossa literatura, os jornais impressos e as revistas estão repletos de narrativas sobre o cangaço e a seca. De certa forma, esses temas estão entrelaçados ou têm relações intimas com o nosso sofrido Nordeste, principalmente na época dos coronéis mandantes da terra e do povo pobre a partir dos governos da República até 1930 com o golpe de Getúlio Vargas. A impressão que temos é que a seca e a exploração dos poderosos, incluindo aí os políticos, pariram o cangaço, tão bem descritos por escritores nordestinos, como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, com o livro “O Quinze”, José Lins do Rego e, mais recentemente, por Ariano Suassuna em o “Auto da Compadecida”. Esses assuntos estão também nas poesias e letras de João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira até em nossos grandes compositores e músicos Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Vandré e tantos outros, sem falar nos cordelistas, com destaque para Patativa do Assaré, com “Triste Partida”. Quando se fala de cangaço logo lembramos de Lampião e seu bando. O cangaço, no entanto, já é por assim dizer uma coisa superada, mas a seca continua a nos castigar e ser instrumento do voto. Ainda existe os coronéis da política com métodos mais sofisticados que aproveitam da pobreza nos tempos de eleições.
NÃO FOI POR ACASO…
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, ampliado e revisado
Não foi por acaso…
Que meus olhos
Cruzaram com os seus,
O amor nos levou ao altar,
Depois você partiu
Sem me dar um adeus:
Meu coração ficou a sangrar,
Como o gladiador ferido,
Na arena do Coliseu.
Não foi por acaso…
O desabrochar da flor,
O pousar da abelha,
Para do néctar fazer o mel:
No mistério do universo da vida,
Quando se vai do inferno ao céu,
Entre a felicidade e a dor.
Não foi por acaso…
Que estourou a matança,
Do povo há séculos oprimido,
Encurralado em campos de concentração,
Que atacou com armas na mão.
Não foi por acaso…
Que você mudou de “posição”:
Finge apoiar os excluídos,
Para ganhar audiência e projeção,
Mas continua tendenciosa conservadora,
E essa gente entra em sua onda
De senhora venenosa Anaconda.
Não foi por acaso…
Que o planeta entrou em ebulição:
Gases e aquecimento global,
Secas, enchentes, ciclones temporais,
Fumaças, terremotos e incêndios,
Geleiras derretendo, coisas anormais,
Guerras e muita confusão,
Onde o ser se tornou canibal.
Não foi por acaso…
Que Lampião entrou no cangaço,
No agreste nordestino,
Com seu bando traçou seu destino,
Na bala fuzilou e foi fuzilado,
Sempre com seu punhal de aço.
Não foi por acaso…
Que o místico Conselheiro
Criou sua comunidade social,
E sua gente foi massacrada
Pela tropa cruel e brutal.
Não foi por acaso…
Que a Coluna Prestes
Cortou todo o Nordeste,
Perseguida pelo governo fascista;
Prendeu e matou coronéis
Por um ideal socialista.
Não foi por acaso…
Que fizeram a Revolução Francesa;
Derrubaram a Bastilha;
Quebraram os grilhões da opressão;
Victor Hugo escreveu Os Miseráveis;
Nobres foram decapitados;
Tombaram intelectuais notáveis;
E até o rei e a rainha
Foram na lamina guilhotinados.
Não foi por acaso…
Que Lenin e Stalin
Destronaram a família Czar,
No lugar nasceu outro tirano;
Fez império por terra e mar;
Esmagou milhões de humanos.
Não foi por acaso…
Que Fidel subiu a Serra Maestra,
Guerreou com Guevara
Entre mata e savana,
Numa estratégia rara,
Entrou triunfal em Havana.
Não foi por acaso…
Que os gregos invadiram Troia,
Por causa de uma Helena,
Que do rei era sua cobiçada joia;
Aquiles matou Heitor:
Carnificina, trama e terror.
Não foi por acaso…
Que conheci minha Lara,
Com meu verso tracei este caso,
Mas existe também o por acaso:
Estar no lugar e hora errada;
Ser morto numa emboscada,
Porque o bandido confundiu sua cara.
HISTÓRIAS DA BAHIA GUARDADAS NO MOCÓ (1)
(Chico Ribeiro Neto)
Releio o livro “A Bahia já foi assim”, da folclorista Hildegardes Vianna, Editora Itapuã, 1973. Uma bela viagem no tempo. Diz a autora na apresentação do livro, que traz 61 crônicas: “A BAHIA JÁ FOI ASSIM, até mais ou menos 1940. Depois, tudo mudou. Minhas crônicas são baseadas em muita coisa que ainda alcancei, e também em informes preciosos de amigos prestimosos”.
O livro – tão bom que vou comentá-lo em duas crônicas – é prefaciado pelo antropólogo Thales de Azevedo, que define Hildegardes como “uma ‘costumbrista’ literária” e escreve: “O folclore, aí, deixa de ser simploriamente tradição e curiosidade para assumir o seu significado próprio de fixação e inteligência dos modos de ser humanos em qualquer época e lugar, mesmo quando não sejam tratados com o aparato teórico e terminológico das ciências da cultura”.
Hildegardes Vianna encerra assim a crônica “A Benção”: “Hoje, a benção vive ainda na boca dos moços por um desses fenômenos difíceis de explicar. O mundo mudou. Os costumes evoluíram. Mas, apesar dos pesares, não é custoso se encontrar um homenzarrão, deste tamanho, gritando para a sua velha, já na porta da rua: “Benção, mãe!”. Também isto é sinal dos tempos”.
A crônica “O Ajuste” é aberta assim: “O sistema do Tire e Pague, se simplificou a vida da cidade, por outro lado lhe roubou muitos encantos. Tornou quase todos os bairros iguais, sem diferenças marcantes na paisagem humana. Retirou aquela cordialidade existente entre vendedores e compradores, aquele intercâmbio diário de impressões que humanizava cada ação”. Ela descreve a passagem do verdureiro: “Vinha com seu tabuleiro à cabeça, cavalete ao ombro, de porta em porta da freguesia, anunciando a sua chegada de maneira mais ou menos discreta”.
Na crônica “Eles, os carroceiros”, escreve Hildegardes: “O tipo era inconfundível. Calça e camisa feitas com pano de saco de farinha do Reino, chapéu de couro ensebado e deformado pelo uso, alpercatas toscas (mais tapa-sola que outra coisa), vez por outra um jaleco, mangual dependurado ao pulso direito, uma praga eternamente à flor dos lábios. Por fortuna, apenas o burro ou mula e a carroça. Por amor, as mulheres de todos os amores. Por divertimento, um toque de viola ou um gole de cachaça”.
Na crônica “Botica Velha” diz ela: “Um tipo que sumiu na paisagem humana da cidade foi o “homem das folhas” que supria a botica velha. Passava pelas ruas de semana em semana, de mês em mês, balaio sobre a cabeça, mocó pendurado ao ombro, cabaz na mão”.
Hildegardes prossegue: “No balaio vinham as plantas corriqueiras: maria-preta, angélica de cheiro, macela galega, angico, chicória, rompe-gibão, carqueja, almécega, crista-de-galo, dandá, assa-peixe branco, eucalipto, laranjeira da terra, fedegoso, velame branco, malva, sabugueiro, etc. No mocó apenas as encomendas representadas por mandacaru de sete quinas, abacate branco, quixaba, escada de macaco, cordão de São Francisco, aroeira, artemísia de cheiro, bananeira de São Tomé, resina de jatobá, etc.”
A crônica “A mulher do mingau” começa assim: “Era naquele tempo em que havia aquele ditado: “Quando eu nasci já se bebia mingau”. Mingau vendido ao clarear do dia por uma mulher que mercava por mercar, porque era fácil fazer freguesia certa. Em sua grande gamela redonda de pau, assentada sobre a grossa rodilha de pano de saco que lhe protegia a cabeça, a vendedeira equilibrava um latão com o mingau fervente, muito bem enrolado em toalhas alvas, que se confundiam com o verdadeiro pedestal de panos dobrados”.
Hildegardes Vianna morreu em 12 de junho de 2005, aos 87 anos. Seu acervo, um dos mais ricos sobre o folclore brasileiro, foi doado à Academia de Letras da Bahia. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia também possui documentos da escritora, no Arquivo Histórico, à disposição do público para consulta. (Fonte: www.ighb.org.br).
(Continua na próxima semana)
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
A MAIS EMOCIONANTE DAS “LIBERTADORES”
Carlos González – jornalista
Um time que tem um “presidente” que, humildemente, baixa a cabeça para ouvir e cumprir uma missão quase impossível, não podia deixar escapar a oportunidade de ganhar seu primeiro troféu como profissional. Recém-saído das divisões de base, John Kennedy jamais esquecerá aquele gol, aquela emocionante vitória, assim como milhões de torcedores do Fluminense, que comemoraram em todo o Brasil a primeira “Libertadores da América”.
As celebrações de campeonatos ganhos, aqui ou em qualquer lugar, por clubes de maior ou menor expressão no cenário internacional, diferem muito pouco. Observando com mais apuro os minutos finais do jogo de sábado e as cenas que se seguiram ao apito final do árbitro, o epílogo daquele espetáculo tendo o Maracanã como palco foi único.
Fugiu da minha mente naquele instante a ideia de que o jogador de hoje é um mercenário, sem amor a camisa que veste. Essa falta de sentimento talvez decorra do pouco tempo que ele passa no clube. Pois bem, vi no Fluminense manifestações comoventes e excessivamente esfuziantes.
Jogadores veteranos, com largo caminho percorrido no Brasil e na Europa, donos de troféus, medalhas e faixas, como o lateral Marcelo, que durante oito anos vestiu a camisa do Real Madrid, eleito pela FIFA como o melhor time do século XX; Fábio e Felipe Melo, bicampeões da “Libertadores” pelo Palmeiras; ao comedido Ganso, recuperado pelo técnico Fernando Diniz.
Entre os 11 jogadores do Time de Guerreiros que iniciaram a partida contra o Boca Junior seis têm mais de 35 anos – o mais velho é Fábio com 43 -, mostrando aos preconceituosos deste país que, mesmo numa atividade tão desgastante como o esporte, há espaço para os mais velhos.
A experiência desses “veteranos”, aliada ao trabalho de Fernando Diniz (uma revelação nos momentos mais alegres do espetáculo), foi transmitida aos mais jovens durante toda a campanha do campeonato (8 vitórias, 3 empates e 2 derrotas; 24 gols a favor e 12 contra. Cano, artilheiro do torneio, com 13 gols, merecia uma vaga na seleção da Argentina). O Tricolor colocou na sua conta bancária 27,15 milhões de dólares (cerca de R$ 136 milhões).
Infelizmente, o Fluminense, com o real desvalorizado, vai ter dificuldades para conter o assédio dos clubes europeus em seus jovens valores. O zagueiro Nino está com transferência encaminhada para o Nottingham Forest, da Inglaterra; os britânicos Arsenal, Liverpool e Fulham, disputam o médio André; o Zenit, da Rússia, oferece R$ 63 milhões pelo ponta colombiano Arias. A diretoria do clube espera pelo menos manter o time campeão para o Mundial, marcado para o período de 12 a 22 de dezembro, na Arábia Saudita.
Como em outras oportunidades, o Flu contou com a ajuda do Sobrenatural de Almeida, personagem do dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, que deve estar festejando o título no “andar de cima”, ao lado de outros tricolores famosos, como Jô Soares, Telê Santana, Tom Jobim, Millor Fernandes, Cartola, Carlos Castilho e Paulo Gustavo.
A Academia Brasileira de Letras está tricolorida pelos seus “imortais” Gilberto Gil e Fernanda Montenegro. Somam-se aos dois intelectuais, Chico Buarque, Arthur Moreira Lima, Ivan Lins, Fred, entre outros.
Com relação a Gil, ocorreu no sábado, à noite, um episódio agradável para os tricolores e decepcionante para os rubro-negros cariocas, que estavam torcendo para os argentinos. Encerrado o jogo, a voz do compositor baiano soa de Lisboa, em tom zombeteiro: “Alô torcida do Flamengo, aquele abraço!”
Conhecendo Beto – era como seus amigos o tratavam – desde a mocidade no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, como torcedor do Bahia (um tricolor baiano jamais será um admirador do Flamengo), sempre achei que um dos versos da canção “Aquele Abraço” nada tinha a ver com o coração verde, branco e grená do nosso querido Gilberto Gil. Lamento,Urubuzada!
ESCRITORES BRASILEIROS E REGIONAIS
Tenho observado que os nossos escritores, intelectuais e professores em geral costumam citar pensamentos e obras de autores estrangeiros e pouco sobre os nossos brasileiros, principalmente os nordestinos, muitos dos quais chamados de regionais, sem falar dos locais, no caso específico dos nossos conquistenses.
Não sei se posso considerar esse tipo de comportamento como esnobismo de conhecimento, ou incluir naquela máxima de Nelson Rodrigues, de que temos o “complexo de vira-lata”, isto é, de inferioridade, por não valorizar o que é nosso, a prata da casa. É um tal de norte-americano, inglês, russo, francês, português, espanhol, polonês, argentino, uruguaio, colombiano e tantos outros.
Até parece mais chique citar um “gringo” do que um brasileiro, um regional ou local. Nosso país é rico em grandes escritores, como Jorge Amado, Câmara Cascudo, José de Alencar, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Machado de Assis, Aloísio Azevedo, Fernando Sabino, Paulo Coelho, Rubem Braga, João Ubaldo Ribeiro, Euclides Neto, Raul Pompéia, Guimarães Rosa, Afrânio Peixoto, Gilberto Freire, Luiz Gama, Oswaldo de Andrade, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, sem contar os grandes poetas que temos.
Vamos ser mais simples e abrir mais discussões literárias em torno dos nossos escritores que falam da nossa cultura com seus personagens que se identificam com a gente, embora os estrangeiros tenham grande importância e não devemos deixar eles de lado porque o saber tem que ser universal.
Mesmo entre nós brasileiros, temos a mania de desprezar o talento da terra e prestigiar o de fora, muitas vezes até de nível duvidoso. Vemos isso nas feiras literárias regionais onde os organizadores procuram sempre convidar os considerados “famosos” de outra região ou estado, em detrimento daqueles onde o evento está se realizando.
Na avaliação dos programadores, a feira só tem audiência e visibilidade maior se chamar um nome que esteja mais badalado na mídia e na propaganda das editoras, mesmo que não tenha lá esse conteúdo todo. Esse tipo de coisa não ocorre somente na literatura, mas também em festas culturais que abrangem outras linguagens artísticas, como a música, as artes plásticas e visuais.
Entendo que antes de tudo, uma feira literária, seja aonde for, só alcança seus objetivos de criação quando coloca em primeiro lugar os escritores locais que já sofrem com a falta de apoio dos poderes públicos. Muitos são independentes ou publicam suas obras através de pequenas editoras e lutam para vender suas obras e se tornarem conhecidos do leitor.
Claro que o intercâmbio e a troca de ideias não devem deixar de existir, mas vamos priorizar o escritor local e assim despertar e estimular o surgimento de novos talentos. Aqui mesmo em Vitória da Conquista temos grandes escritores e poetas que não vou citar nomes para não cometer certas injustiças.
Agora mesmo vamos ter a Feira Literária de Conquista, a Fliconquista, que já é um grande passo e elogiável iniciativa para prestigiar e valorizar esta linguagem artística, por tantos anos esquecida do nosso público.
No entanto, deixo aqui minha sugestão de que passada esta feira, seja realizado um encontro de escritores conquistenses, um foro de discussões, para dizermos quem somos, como atuamos e, principalmente, falarmos das nossas dificuldades em escrever e lançar um livro.
Precisamos montar estratégias de cooperação, deixando de lado as vaidades das fogueiras, para nos tornarmos mais conhecidos incluindo todas as faixas etárias, desde o mais jovem estudante ao mais idoso. Precisamos fazer chegar nossas obras até às mãos de novos leitores, a começar pelas escolas, bibliotecas e associações.
VIDAS PALESTINAS IMPORTAM
Carlos González – jornalista
Há quase 90 anos um ex-cabo do exército alemão, com evidentes sintomas de transtorno psicótico, ocupava a posição de Fuher (líder) de um país arrasado pela 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Obstinado pela ideia de criar uma raça pura, representada pelos povos germânicos, Adolf Hitler passou à História como o assassino de 6 milhões de judeus. Passados 78 anos do suicídio do ditador nazista, o mundo conheceu Benjamin Netanyahu, o desequilibrado primeiro-ministro de Israel, que se acha no direito de varrer a Palestina do mapa.
“Será impossível esperar de Hitler qualquer ato misericordioso ou tratamento humano”, afiançou o psicólogo norte-americano Henry Murray ao comentar os métodos de extermínio de judeus nos campos de concentração nazistas. Após 20 dias de bombardeios a alvos indiscriminados na Faixa de Gaza, o Gabinete de Direitos Humanos da ONU mostrou preocupação com os crimes de guerra cometidos pelo exército de Israel.
A resposta de Netanyahu, p0pularmente conhecido como “Bibi”, foi o pedido de renúncia do secretário da ONU, o diplomata português António Guterres. Contando com a cobertura parcial da imprensa do Ocidente – alô editores do JN da TV Globo –, o dirigente ultraconservador israelense, no momento em que seu terceiro mandato, vem se opondo veementemente a um cessar-fogo.
Mais de 3.700 crianças já morreram na “luta do bem contra o mal”, como define Netanyahu o avanço da infantaria e de blindados das Forças de Defesa de Israel, reduzindo os 365 km² da Faixa de Gaza (parte do território da Palestina; a outra parte é a Cisjordânia) em terra arrasada.
O último balanço feito nessa quinta-feira, dia 2, registra 9.061 mortes e mais de 30 mil feridos, inclusive de pessoas que viviam em campos de refugiados, de reféns em poder dos terroristas e de 30 jornalistas, além de 360 mil desabrigados. O Hamas, ao invadir território israelense no último dia 7, sem encontrar resistência armada, cometeu atos de extrema maldade, deixando um rastro de 1.400 civis mortos.
Exibição de fotos e vídeos nos meios de comunicação, filmes de vídeo-game para crianças, palestras nas escolas e nos consulados de países ocidentais. Israel tem se valido de uma bem montada campanha publicitária para justificar a ocupação do que ainda resta da Palestina, operação que está sendo vista como um segundo Holocausto, planejada justamente pelos descendentes dos que morreram nas mãos dos nazistas.
Sob a justificativa de estar aniquilando com o Hamas, matando seus líderes e destruindo suas passagens subterrâneas, Natanyahu vai em busca do seu tresloucado ideal: a ampliação do Estado de Israel, nem que para isso seja necessário matar seu último vizinho.
O conflito entre os dois povos começou nos primeiros anos do século passado e se aprofundou em 1948 quando a ONU criou o Estado de Israel e ignorou o mesmo direito da Palestina. Nas últimas décadas os organismos internacionais fecharam os olhos para a troca de hostilidades na região. A imprensa deu pouco destaque aos danos materiais e humanos provocados pelos foguetes israelenses, que caiam sobre escolas e hospitais em Gaza e no Líbano.
Desrespeitando as fronteiras estabelecidas pela ONU, Israel tem incentivado trabalhadores na agricultura a ocupar terras na Cisjordânia, expulsando seus donos e criando assentamentos. Nos últimos dias ocorreram assassinatos praticados pelos invasores, autorizados a portar uma arma de fogo.
Enquanto aviões da FAB retiravam de Israel 1.400 brasileiros, dezenas de judeus-brasileiros embarcavam no aeroporto de São Paulo com destino a Tel Aviv, “para defender minha casa”. No ano passado, 405 jovens imigraram para Israel, com a finalidade de trabalhar nos kibutzim ou servir ao exército.
O sentimento de superioridade que o judeu carrega consigo, ao ponto de achar que o restante da humanidade é antissemita, contrasta há 75 anos com a passividade do palestino, que tem vivido segregado, num gigantesco campo de concentração, com direito a apenas duas horas diárias de luz, na terra que ocupa há milênios. O mais famoso escritor judeu, Amoz Oz, chamou a invasão de Gaza de “genocídio de Israel” e de neonazistas aqueles que a planejaram.
A DOR DA FINITUDE
ESQUECERAM DE CITAR O CEMITÉRIO DA BATALHA
Como costumo fazer todos os anos no Dia de Finados, ontem visitei o Cemitério da Paz, da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, que fica na saída para Anagé, ao lado do Museu de Kard, e fiquei a imaginar que até depois da morte existe a divisão de classe. Uns em luxuosos caixões e túmulos de granito e mármore e outros que só têm uma cruz fincada sobre a terra nua. A dor da finitude do ser humano é a mesma para com seu ente querido que partiu para outra dimensão, mas as pessoas entre os cemitérios dos ricos e as dos pobres são diferentes, desde seus comportamentos, seus rostos, trajes e apresentações em geral, talvez até em termos de sentimentos. Uns chegam andando ou em pequenos carros usados, muitos até de amigos. Os outros com seus possantes e roupas bem mais caras e chiques. Entre os cemitérios, tem-se a visão de uma triste desigualdade social no Brasil, só que ninguém escapa da morte. Escutei choros entalados e doídos em covas simples, inclusive de uma senhora enquanto rezava e acendia as velas para seu falecido. No que pese a homenagem aos mortos, cada povo e nação tem a sua cultura própria de prestar sua reverência, até com festas e alegria como acontece no caso dos mexicanos. Cada qual com seu ritual de passagem entre vida e morte. Cada um com sua prece e manifestação para lembrar o amigo ou parente que se foi, modo de expressar a dor da finitude. Conforme consta, existem em Conquista cinco cemitérios, sendo três mantidos pelo poder público (pobres) e dois particulares (ricos), mas a mídia esqueceu de citar o cemitério da Batalha, lá do outro lado da Serra do Periperi, onde estão sepultados nossos ancestrais, como D. Loura. Segundo narra a história, foi lá onde ocorreu a batalha entre os primeiros colonizadores portugueses e os índios que habitavam esta terra.
NÃO FOI POR ACASO…
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Não foi por acaso…
Que meus olhos
Cruzaram com os seus,
O amor nos levou ao altar,
Depois você partiu
Sem me dar um adeus:
Meu coração ficou a sangrar,
Como o gladiador ferido,
Na arena do Coliseu.
Não foi por acaso…
Que estourou a revolução
Do povo há séculos oprimido,
Que atacou com armas na mão.
Não foi por acaso…
Que Lampião entrou no cangaço,
No agreste nordestino,
Com seu bando traçou seu destino,
Na bala fuzilou e foi fuzilado,
Sempre com seu punhal de aço.
Não foi por acaso…
Que o místico Conselheiro
Criou sua comunidade social,
E sua gente foi massacrada
Pela tropa cruel e brutal.
Não foi por acaso…
Que a Coluna Prestes
Cortou todo o Nordeste,
Perseguida pelo governo fascista;
Prendeu e matou coronéis
Por um ideal socialista.
Não foi por acaso…
Que fizeram a Revolução Francesa;
Derrubaram a Bastilha;
Quebraram os grilhões da opressão;
Victor Hugo escreveu Os Miseráveis;
Nobres foram decapitados;
Tombaram intelectuais notáveis;
E até o rei e a rainha
Foram guilhotinados.
Não foi por acaso…
Que Lenin e Stalin
Destronaram a família Czar,
No lugar nasceu outro tirano;
Fez império por terra e mar;
Esmagou milhões de humanos.
Não foi por acaso…
Que Fidel subiu a Serra Maestra,
Guerreou com Guevara
Entre mata e savana,
Numa estratégia rara
Entrou triunfal em Havana.
Não foi por acaso…
Que os gregos invadiram Troia,
Por causa de uma Helena,
Que do rei era sua cobiçada joia;
Ulisses matou Heitor:
Carnificina, trama e terror.
Não foi por acaso…
Que conheci minha Lara,
Com meu verso tracei este caso,
Mas existe também o por acaso:
Estar no lugar e hora errada;
Ser morto numa parada,
Porque o bandido confundiu sua cara.