UMA HISTÓRIA TRÁGICA QUE ESTÁ SENDO SEPULTADA PELOS BRASILEIROS
“Se queres prever o futuro, estuda o passado”. Esta reflexão do filósofo e pensador Confúcio (alô, meu amigo Dal Farias), encaixa muito bem para o nosso país, mais precisamente com referência à ditadura civil-militar-burguesa de 1964, ou o golpe de 1º de abril, que os generais preferem chamar de revolução de 31 de março.
O mais grave é que a data passa no esquecimento e não está sendo estudada pelos nossos jovens. A não ser algumas mensagens escassas nas redes sociais, a mídia em geral, que tem o papel fundamental de ser guardiã da liberdade, deixou de comentar o assunto. O que se observa é um silêncio sepulcral como se um período tivesse sido apagado da história.
Não vi nenhuma matéria em Vitória da Conquista, uma das cidades mais atingidas pela opressão quando em seis de maio daquele ano, 100 pessoas foram presas como comunistas e subversivas e o prefeito José Pedral Sampaio, eleito pelo povo, teve seu mandato cassado por 20 anos.
Ainda recentemente, entre 2022/23, o Brasil sofreu uma tentativa de golpe militar, justamente porque deixamos de estudar o passado, como disse Confúcio. A nova geração desconhece o episódio estúpido de 1964 e milhares, entre eles um bando de extremistas, negam que tenha existido ditadura. Como se não bastasse isso, ainda foram às ruas defender uma intervenção militar.
Tudo começou lá atrás quando Getúlio Vargas, acossado pelos opositores, inclusive pelo imperialismo dos Estados Unidos, se suicidou em 1954. Como não deu certo, os militares ficaram espumando de raiva, com sede de vingança na boca. Não deixaram de montar suas tramas e complôs para assaltar o poder.
Nos idos dos anos 60 (renascimento da educação e da cultura), com o despertar dos movimentos sociais e das lutas camponesas, que contaram, no início, com apoio do setor mais progressista da Igreja Católica, aquele desejo de revide voltou à tona. Era a época da Guerra Fria e o socialismo avançava. O inimigo maior era o comunismo, principalmente depois da revolução de Fidel Castro que tomou Cuba das mãos dos capitalistas depravados que depredavam a ilha.
A história é longa, mas vamos nos ater à renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto de 1961 e do vice João Goulart que deveria assumir o cargo. Foi um embate muito forte e um dos destaques nessa luta foi o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, com sua campanha da legalidade. Goulart tomou posse na condição de aceitar um sistema parlamentarista.
Foi aí que os generais linha dura aproveitaram para rasgar a Constituição, contando com apoio da própria Igreja Católica, da grande mídia (Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Jornal do Brasil), da classe média e outros setores, todos manipulados pela CIA e o governo norte-americano que alegavam não querer mais uma Cuba na América Latina. Tudo uma armação porque o Brasil jamais seria um país comunista.
O país vivia numa ebulição política e social. Os movimentos avançavam em favor da melhoria do povo e dos trabalhadores. Tudo que se fazia a favor dos mais pobres era coisa de comunista. A agitação era geral entre os estudantes com seus protestos nas avenidas. Essa categoria e os líderes das comunidades eram os maiores protagonistas.
Nos bastidores, os quarteis se armavam e arquitetavam o golpe. Só esperavam o momento certo para darem o bote fatal, justamente quando Jango fez um forte pronunciamento com os sindicalistas Na Central do Brasil pelas reformas de base no início de 1964. Suas palavras deixaram os conservadores e os ianques em pé de guerra.
Os governadores de Minas Gerais, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros e da Guanabara, Carlos Lacerda colocaram mais lenha na fogueira da inquisição. Foram grandes mentores para derrubar o governo.
Em 31 de março, o general de pijama Mourão Filho desceu de Juiz de Fora com sua tropa desarmada até o Rio de Janeiro para derrubar o Governo Constitucional. Foi uma trapalhada que deu certo porque ainda não contava com apoio de outras unidades do exército e das forças armadas, como São Paulo e Rio Grande do Sul. Ele surpreendeu até os golpistas de plantão Humberto Alencar Castelo Branco, Geisel, seu irmão Orlando e Costa e Silva.
O tempo passava e João Goulart ficou indeciso, mesmo seus apoiadores dizendo que não haveria golpe. Ainda prometeram bombardear os soldados de Mourão pelo alto. Houve muito vacilo e o ato do general de pijama apreçou os planos. Foi uma injeção de ânimo ao Castelo Branco. O plano foi antecipado.
Como houve mudança na estratégia, tudo se consolidou no 1º de abril (dia da mentira) quando o covarde senador, presidente do Senado, Auro de Moura Andrade decretou a vacância do poder do presidente da República, mesmo sabendo que Goulart ainda estava em território brasileiro, no Rio Grande do Sul. Às pressas, assumiu Ranieri Mazzilli, até a eleição indireta do general Humberto Castelo Branco pelo Congresso Nacional.
O combinado era ele ficar até 1965, mas os generais foram endurecendo o regime com os protestos das ruas pela liberdade e de “abaixo a ditadura”. Ele ficou e a turma da linha dura, barra pesada de algozes, foi prendendo gente, torturando, matando e desaparecendo com os corpos.
Em 13 de dezembro de 1968, com o general Costa e Silva, veio o golpe dentro do golpe, com o chamado AI-5, quando todos direitos humanos foram abolidos, até o habeas corpus. Foi o início dos anos de chumbo com a posse do general Garrastazu Médici (69 a 74), o carniceiro sanguinário que mandou torturar e matar presos políticos e qualquer um que se atrevesse brigar pela liberdade.
Para resumir, tivemos mais de 20 anos de opressão e de dor. Mesmo assim, ainda tem gente maluca que desconhece essa história macabra e saem com cartazes nas praças e ruas pedindo uma intervenção militar, isto é, outra ditadura.
Nada de anistia para os que lideraram e fizeram parte da tentativa de um golpe em oito de janeiro de 2023 quando invadiram os três poderes, para criar uma desordem e provocar a entrada das forças armadas.
Se o golpe tivesse sido concretizado, o primeiro a ser preso era o capitão ex-presidente. No lugar assumiria uma junta militar. Os seguidores extremistas não passam de inocentes úteis ignorantes da história. Basta de anistia, como a de 1979 que perdoou os cruéis torturadores da ditadura de 1964.
TUDO É FAMÍLIA ATÉ QUANDO NÃO ENVOLVE DINHEIRO NO MEIO
O dinheiro, infelizmente, nesse nosso mundo atual é o deus maior. Por ele, filho mata pai e vice-versa. O corrupto vende até a mãe; passa a rasteira em parentes e não considera “amigos”. Depois do homem neandertal e a criação da propriedade privada, o ser humano virou um bicho pelo dinheiro.
Ouço sempre falar por aí da boca da nossa gente que tudo pela família, que ela é nossa vida e é a maior dádiva que temos. Sempre fui uma ovelha desgarrada, sem esse sentido, talvez por isso não acreditar piamente nesse papo. Existe muita falsidade, mais que sinceridade. Às vezes, um estranho ou amigo de verdade vale mais que certa família.
Na grande maioria dos casos, a família é tudo até quando não envolve dinheiro no meio. Conheci muitas famílias, aparentemente unidas, mas que se tornou uma guerra entre seus membros quando o patriarca ou a matriarca falece.
Tudo transcorre em mil maravilhas, abraços, beijos, jantares em final de semana, ceias de Natal juntos com muita alegria e paz, mas na hora da partilha de uma herança, aí o pau come e vence o mais forte. Sei de irmãos que se tornaram inimigos mortais. Ninguém mais confia em ninguém e um acha que o outro está passado a perna. Está levando vantagem.
Quando se trata de vender um bem, depois da mãe ou do pai morto, começam as discórdias e sempre tem um ou dois que se recusa assinar o documento. A intriga cai na Justiça e se passa anos sem resolver o problema. Tanto é assim, que é difícil vender um bem imóvel de herança.
Antigamente, e não é nenhum saudosismo, os filhos eram mais amorosos com seus pais e cuidavam deles até a morte. Hoje essa prática é mais rara. Quando se chega à velhice, os herdeiros querem logo é que a pessoa morra, se bem que existem exceções de desprendimento material.
Não são poucos os fatos noticiosos de crimes bárbaros de matanças entre famílias por causa de dinheiro, muitas delas enquanto o afortunado ainda está em vida. Muitos assassinatos são com armas e outros por envenenamento. Tudo pelo maldito dinheiro amaldiçoado. Na hora, não se pensa nas consequências.
A literatura, o cinema, o teatro e as artes em geral estão cheios de enredos escabrosos sobre crimes de heranças, uma boa matéria prima para escritores, cronistas, dramaturgos e poetas. Quem não tem um caso real para contar?
Eu, por exemplo, tenho muitos episódios tristes que vivenciei e me chocaram pela frieza familiar de seus membros. Uma senhora já idosa tinha um patrimônio razoável e boa quantia em dinheiro nos bancos. Todos eram religiosos e oravam juntos o terço todos os dias. A aparência sempre foi de união e compaixão.
Quando ela caiu em estado doente de não mais domínio de si, alguns parentes próximos começaram a aproveitar do seu dinheiro abrindo uma conta numa farmácia onde todos compravam remédios em sua conta. Uma irmã e uma sobrinha ficaram com seus cartões. No dia em que ela se foi, a primeira coisa que fizeram foi limpar a conta e adquirir bens, inclusive carro. Os outros ficaram a ver navios.
Nas histórias clássicas das civilizações antigas, como na Grécia. Suméria, Egito e Roma, as lutas com mortes e derramamento de sangue por heranças, no tudo pelo poder, são destaques. Muitos livros sobre o assunto se tornam best-seller. Aliás, dinheiro e poder andam de mãos dadas onde os meios justificam os fins.
A TERRA ESTÁ AGITADA
As imagens do terremoto em Mianmar (antiga Birmânia), país asiático comandado por um ditador sanguinário, são chocantes, mas o ser humano, ao que tudo parece, ainda não caiu na real de que a terra está agitada, irritada, raivosa e revoltada com o que estão fazendo com ela ao longo dos últimos anos.
No Sul do Brasil, ventos de mais de 100 quilômetros por hora e tempestades devastaram casas e ruas com enchentes. Em outras partes, secas, incêndios e no ártico o derretimento das geleiras. O nível do mar está subindo e cidades e ilhas tendem a desaparecer. A terra pode se tornar num escombro, em ruínas.
Os humanos estão encantados e fascinados com a evolução tecnológica (agora inteligência artificial) e esqueceram que estão se autodestruindo com suas agressões ao planeta. Uma tremenda burrice! Acham que são inteligentes demais e que são as espécies dominadoras da Bíblia. Pensam que está tudo sob controle, que a tormento vai passar e a farra continuar, só não se sabe até quanto tempo.
Por luxuria e dinheiro, o deus maior, desmatam florestas, campos e cerrados, tocam fogo, queimam os animais selvagens, jogam lixo tóxico no ar, perfuram as profundezas do solo e do mar para extrair combustíveis fósseis, constroem arranha-céus luxuosos com piscinas no alto, fabricam bombas mortíferas para guerrear e acham que é tudo grandioso e glorioso.
Nessa maldade sem igual, está a luta pelo poder sem fim e ficaram cegos diante das tragédias e catástrofes. Na visão deles, só os pobres serão atingidos. As conferências do clima não passam de conversa para boi dormir e até contestam quando se fala que estamos em pleno aquecimento global.
No entanto, a terra deu um basta para estes imbecis e agora está dando o seu troco. Como se diz no popular, o bicho está pegando, meu irmão e já estamos dentro de um furacão. É só terror, choro e ranger de dentes. O apocalipse chegou, e não me venham com seu mimimi de que é tudo natural e que são fenômenos comuns.
Pelos estragos já feitos, essas medidas de reciclagem; tirar algumas sujeiras dos rios e dos mares; plantar alguns milhares ou milhões de árvores; e incentivar o uso de carbonos para vender são apenas paliativos. Ninguém quer abolir o petróleo. A matemática não fecha, meus amigos.
Se estamos presenciando todo esse horror infernal vindo da natureza, que não suporta mais tantos maltratos, agora imagine as gerações futuras daqui a 50 ou 100 anos. O caminho é a extinção da espécie humana que se acha dona do pedaço.
Não venham com essa de que estou sendo profeta das lamentações e das desgraças. Se querem se iludir e achar que é muito pessimismo, negativismo e exagero, que se iludam. Apertem seus cintos, baixem suas câmaras de ar, se protejam porque sumiu o piloto do avião.
As pessoas se acostumaram com a vida difícil, o corre-corre pela sobrevivência, as discriminação e os preconceitos, a violência em casa e nas ruas, com crimes bárbaros, e os desastres da terra com milhares e milhões de mortes, ao ponto de ninguém querer mais saber e nem ouvir as verdades.
FOI DEUS QUEM CRIOU O CELULAR
– É tudo eu, é tudo eu, é tudo eu – disse o ator Antônio Fagundes, em tom irritado, no papel de Deus, no filme “Deus é Brasileiro”, do cineasta Cacá Diegues. Ele estava procurando um substituto para tirar umas férias porque não aguentava mais com o humano enchendo seu saco, minuto a minuto.
Fica aí sentado esperando que Deus caia do céu para lhe salvar do sofrimento ou lhe dar aquela mala cheia de grana. O corrupto rouba e ainda tem a cara safada de dizer que foi Deus quem lhe deu. Os malfeitores até oram juntos de mãos dadas para que a trapaça dê certo e não saia nada errado.
Nessa toada de tudo colocar Deus no meio, de que Ele está em tudo quanto é de bom e de mal, acho até que o ateu leva muitos pontos ao seu favor. Pelo menos não passa o tempo enchendo a paciência Dele com pedidos. Agora imagine o pastor evangélico fanático e impostor que sempre mete Deus e o satanás em tudo. Aliás, o diabo belzebu leva mais vantagem no palavrório.
– Ganhei no jogo do baralho e do dominó, graças a Deus. Fiz um gol; meu time foi campeão; fiquei livre do paredão do BBB; vou ser premiado na loteria; fui mais esperto do que o otário e passei a rasteira nele, com fé e graças a Deus. Não é assim que diz nossa gente? O indivíduo comete o crime e ainda agradece a Deus. O pistoleiro reza a Deus, a Nossa Senhora e a Jesus para que sua empreitada de apagar o sujeito seja um sucesso.
Tenha calma que vou falar do celular. Tenho essa mania de irritar o leitor como meu “nariz de cera”, mas não estou aqui para cumprir o rigor da técnica jornalística. Prefiro ficar mais à vontade literária e viajar para ir entretendo o leitor. Uns me mandam para as cucuias, mas outros me aturam.
Ainda tem aquele ou aquela que tem dez filhos e afirma que foi Deus quem mandou. Transa adoidado sem prevenção, como um rato ou coelho e coloca a culpa em Deus. As pessoas mais pedem do que agradecem, principalmente quando estão naquela aflição de morte. O homem faz a merda e empurra para seu Deus. Tudo que acontece foi Deus que quis, até as desgraças e tragédias.
Nesta semana foi à Embasa, no SAC e, como de costume, peguei uma senha de idoso. Depois de mais de uma hora, nada de me chamar. Minha paciência já estava esgotada. Meus nervos não são de aço. O ambiente estava lotado e eu olhava ansioso no painel com a ficha na mão. O brasileiro sofre calado.
O pior é que sentadas atrás de mim havia duas senhoras falantes fofoqueiras, uma contando para a outra as suas doenças, mazelas, labutas, lamentos e dificuldades. Teve um momento que não aguentei quando a amiga saiu com uma tirada um tanto esquisita.
– Ainda bem que foi Deus quem criou o celular para facilitar a nossa vida, resolver os problemas e outras coisas. Minha esposa Vandilza que me acompanhava caiu na gargalhada. Naquele momento, veio-me à cabeça vários pensamentos sobre como os humanos usam o nome de Deus maquinalmente, sem pensar e refletir.
De certa forma, indiretamente as senhoras até que estavam com certa razão. Se, como está escrito na Bíblia, o homem foi criado à semelhança do Pai, foi Deus quem deu uma mãozinha de inteligência para o cara inventar o celular. O problema é o uso perverso, maldoso e deturpado dele. É nessa parte que entra o livre arbítrio, que não acredito muito nisso.
Se for seguir por esse caminho filosófico, foi Deus também quem criou a bomba atômica através da mente do físico norte-americano Robert Oppenheimer (1904-1967). Foi ele quem coordenou o projeto secreto Manhattan (1940) do Governo dos Estados Unidos para desenvolver armas nucleares. Anos depois o cientista se arrependeu do que fez, mas era tarde demais.
Em 1945 a bomba foi detonada em Hiroshima e Nagasaki resultando na morte de 110 mil pessoas. Pelo raciocínio lá das mulheres da Embasa, foi Deus quem construiu essa bomba mortífera e mandou jogar nas cidades japonesas. Deus também provoca as guerras, as matanças, massacres e ainda se posiciona ao lado do vencedor.
Numa das falas de Fagundes no filme, tem uma parte onde ele responde ao seu seguidor baiano Wagner Moura, que Deus fez o universo, a terra, os rios, os mares, as florestas, a natureza e cometeu o erro de criar o bicho homem, este animal inconsequente, insensato, ganancioso e muitas outras coisas de ruim. É claro que existem os bons e piedosos. Lembrei da música de Guilherme Arantes e de Amelinha cantando com aquela voz divina: Foi Deus…
O COMPLEXO DE VIRA-LATA VOLTOU
Estamos vivendo aquela era dos anos 50 do complexo de vira-lata no futebol brasileiro, como assim denominava o nosso grande cronista Nelson Rodrigues. Contra a seleção da argentina, vimos um bando de vira-latas em campo sendo amassados pelos hermanos. Foi uma surra vergonhosa e podia até se repetir o 7 x 1 a favor da Alemanha.
Depois de 1958, 62 e 70, a nossa seleção com Pelé, Garrinha, Vavá, Pepe, Zagalo, Amarildo, Djalma Santos, Didi, Carlos Alberto, Rivelino, Tostão, Dirceu, Jairzinho, Romário, Ronaldão e Ronaldinho gaúcho, Rivaldo, Roberto Carlos e tantos outros craques, era temida por todos.
Nos últimos anos, ninguém tem mais medo do nosso time, muito pelo contrário, é a seleção “amarelinha” ou amarelada que treme quando disputa uma partida, como aconteceu contra a Argentina. A única solução é mandar esses jogadores para o divã psicanalítico, para superar o complexo de vira-lata, que voltou com toda força.
Não temos mais nenhum craque na seleção que arrebenta e encara os adversários como antigamente. Não existe mais aquele suingue. O Neymar, de cai, cai no gramado, se tornou um moleque irresponsável, e acabou. A maioria dos atletas só joga uma bolinha mais redonda em seus times na Europa.
O Rafinha entrou na pilha do Romário senador e falou um bocado de besteiras, de que ia ser na porrada dentro e fora das quatro linhas. De valentão virou um cordeirinho, murchou as orelhas e nem conseguiu berrar. O Vini Júnior provocador só joga lá fora em seu clube espanhol.
Para dizer que está com toda moral, o conquistense Ednaldo Rodrigues demitiu o técnico Dorival Júnior e está agora pensando trazer Jesus para salvar a seleção do tormento. Afasta de mim esse cálice! Será que não estamos também com o complexo de colonizado, isto porque a nossa bola murchou a partir da debandada dos jogadores para outros países.
O jeito é fazer uma seleção tipo puro sangue pedigree, somente com atletas brasileiros que estão atuando nos campeonatos nacionais das Séries A e B. Os que foram para Europa, principalmente, estão todos contaminados com um futebol que não é mais o nosso.
Além de um novo técnico, que não seja um colonizador, a CBF (uma máfia) tem que contratar um bom psicanalista para, antes de começar a treinar, expelir o complexo de vira-lata da cabeça desses jogadores brasileiros. Sugeria também convocar um pai-de-santo afro-brasileiro, um babalorixá e um cacique indígena.
NAMORADOS X CASADOS
(Chico Ribeiro Neto)
Namorados – Você sem camisa fica tão gostosinho!
Casados – Quando é que você vai cuidar dessa barriga?
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N – Você dormindo é lindo!
C – Roncou a noite inteira.
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N – Que vista espetacular!
C – Você não cansa de olhar pra esse mar todo dia?
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N – Se você não quiser ir, tudo bem.
C – Eu acho que você tem que ir.
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N – Seu cabelo tá bonito!
C – Vê se dá um jeito nesse cabelo!
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N – Você ri tão gostoso!
C – Hômi besta, fica rindo de tudo. Toma jeito!
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N – Esse vestido fica muito bem em você.
C – Quando é que você vai deixar de usar esse vestido bafudo?
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N – Eu adoro pudim.
C – Vinte anos de casado e até hoje você me pergunta se eu sei fazer pudim e se eu gosto de queijo ralado no macarrão. Você não sabe que NÃOOO?
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Casados – Você não devia ter contado aquela piada da missa. É muito forte.
Namorados – Essa piada é ótima¹
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N – A gente se entende só de olhar um pro outro.
C – Vamos sentar aqui, pois precisamos ter uma conversa urgente.
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N – Gosto de dar um tapinha na sua bunda.
C – Você devia parar com essa mania de coçar a bunda no meio da rua.
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N – Essa barbinha lhe dá um charme especial.
C – Tá com cara de doente com essa barba horrorosa!
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N – Eu queria muito te conhecer melhor.
C – Eu já te conheço é de muitos anos!
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N – Você é cheiroso até sem tomar banho.
C – Vai tomar banho logo, porque você tá com uma inhaca retada!
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N – Pode deixar que eu lavo os pratos, amor.
C – Você adora comer e deixar o prato sujo na pia. Não sei a quem puxou!
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N – Trouxe uns cajus lindos pra você.
C – Que diabo essa mulher tem que nunca enjoa de chupar caju?
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N – Olha que linda está a lua!
C – Já vi.
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N – Bom dia, Deus te proteja.
C – Bom dia, proteja você também.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA?
Os cafeicultores estão rindo de orelha a orelha por causa dos altos preços no mercado internacional, mas, mesmo assim, ainda dizem e choram de barriga cheia de que esses aumentos representam apenas uma reparação das perdas de anos passados. Os produtores preferem vender para o exterior pois vão auferir mais lucros. Como a cotação é em dólar, o nosso café também acompanha esta elevação. Diante do exposto, para os consumidores que apreciam a bebida, o café não é mais nosso de cada dia porque pesa no bolso, principalmente no das pessoas de menor poder aquisitivo. O café agora está sendo deles de cada dia. O Planalto da Conquista, incluindo Barra do Choça, a região da Limeira, Inhobim, Encruzilhada, Vila do Café, é o maior produtor de café arábica da Bahia, e quem mais ganha com isso, em termos de arrecadação, é Vitória da Conquista onde mora a maior parte dos cafeicultores. A produção da região daria para abastecer todo consumo local. Assim, o preço final ao consumidor não seria tão alto assim. No entanto, não é dessa forma que a banda toca quando se vive num sistema capitalista selvagem. Mesmo com os altos ganhos, a Coopmac – Cooperativa Mista Agropecuária de Conquista (grande parte de seus sócios são cafeicultores) está com a cuia na mão pedindo dinheiro aos governos municipal, estadual e federal (o dinheiro é nosso) para realizar uma exposição, exigindo que os portões sejam abertos, como se eles fossem os bonzinhos nessa história. A mídia acompanha essa cantilena de que vai ser tudo de graça para os visitantes, o que é uma grande mentira, ou omissão da verdade. Não existe almoço de graça, mas a grande maioria do nosso povo é manipulado e acredita nisso por ignorância.
PO*ÉTICA*MENTE
Autoria do professor e poeta Paulo Andrade, da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, da editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
Poetizar com os pés no chão,
Fazer da mente uma escavadeira para buscar as palavras que ainda não são…
Tocar nas pedras no seu estado natural e modificar a percepção que medra na visão.
Forrar a cama e deixar o sono deitado para a noite.
Deixar o verbo verbalizar por entre a carne morna…
Andar com passos firmes na beira da praia, enquanto as ondas levam os pés para
Caminhar nos corais.
Tentar lembrar uma palavra e ao perguntar a alguém,
Ambos lembram, mas ela fica a flanar nas cordas vocais.
A SAÚDE EM CONQUISTA PEDE SOCORRO
– Vamos Investigar e apurar os fatos. É o que sempre dizem quando acontecem os absurdos contra os direitos humanos, seja em qualquer setor, só que o tempo passa e não há nenhuma resposta em termos de punição para os culpados pelos seus atos criminosos.
Isso já se tornou comum e até normal em todo Brasil. Vitória da Conquista não é nenhuma exceção. Temos vários casos na área policial, mas vamos focar aqui a questão da saúde pública que há anos pede socorro e só temos imagens de choros e lágrimas de familiares por conta de negligência e incompetência médica.
Podemos citar milhares de fatos que nos deixam indignados, revoltados e constrangidos. Os postos de saúde em Conquista vivem em estado de calamidade, mas o Hospital Esaú Matos está batendo o recorde com registros escabrosos no atendimento à mulher gestante, com a mortandade de bebês que poderiam ter sido salvos se houvesse uma boa gestão e bons profissionais.
Nesta semana, uma mãe perdeu o seu filho por erro médico que demorou de fazer um parto cesariano em tempo. Um cara desse não é um médico, mas um carniceiro admitido pela Prefeitura Municipal. Trata-se de um caso de polícia, mas toda sociedade sabe que nada vai acontecer e tudo vai continuar com dantes…
Nessa mesma maternidade, uma mãe pariu dentro de um banheiro, coisa que não mais se concebe em pleno século XXI. Esses fatos não são isolados e esporádicos. Estão se tornando uma rotina e não se tomam uma providência. Eles são esquecidos até outros surgirem, e aí se ouve a mesma lengalenga de que “vamos apurar e investigar”.
Se não me engano, o Esaú Matos foi construído no primeiro governo do PT com Guilherme Menezes, para ser uma referência no atendimento à mulher na região sudoeste. Hoje está mais para um açougue ou matadouro de crianças. Pelo que vem ocorrendo nos últimos anos, esta unidade já deveria ter sido interditada pela Anvisa, Secretaria de Saúde do Estado ou Ministério da Saúde, sem falar na ação do Ministério Público e OAB que ficam de braços cruzados.
A nossa sociedade, infelizmente, é alienada, egoísta, comodista e insensível que sempre usa o silêncio diante de tantas barbaridades que ficam sem punição, como as que estão sendo cometidos na área da saúde em Vitória da Conquista. A vítima só reage quando um caso desumano acontece consigo ou com alguém da sua família. Tem gente que acha que o pior só ocorre com os outros.
Ainda nesta semana, quando um idoso foi indagar ou questionar sobre a demora na liberação de um exame da sua mulher, o funcionário simplesmente mandou que a senhora esperasse sentada.
– Mas ela tem problemas de hemorroidas. Então que ela espere deitada – respondeu o atendente. Uma pessoa dessa deveria ser sumariamente demitida e levada presa por crime por maltratos a um idoso. Nunca deveria pisar numa repartição pública.
O contraditório e paradoxal é que existe uma norma ou lei onde um usuário pode ser punido por desrespeito ou desacato a um funcionário público. E quando ocorre o contrário? A maioria está ali por incompetência, na base do quem indicou politicamente ou fez um concurso público só para ter estabilidade e não servir bem o contribuinte.
O serviço de saúde pública de Vitória da Conquista é um dos piores de toda sua história, embora receba mais de 700 milhões de reais por ano do governo federal, sem falar na contrapartida do Governo do Estado. A situação é mais que precária, ao ponto de um paciente levar seis meses e até um ano para realizar um exame de média a alta complexidade.
A TAPERA E “TRÊS QUINAS”
Em tupi, o significado de tapera, aldeia velha em indígena, tem um sentido pejorativo de casa ou habitação destruída, abandonada, em ruínas, mas o distrito da Tapera, em Encruzilhada, na Bahia, possui história com personalidades folclóricas importantes. O lugarejo, de mais de dois mil habitantes, poderia até ser tombado como patrimônio histórico.
Tapera também tem a designação de casa rural ou fazenda, coberta de mato. É ainda casebre que servia de parada para os viajantes e de pouso para tropeiros, talvez seja o termo mais adequado para a nossa Tapera. Presume-se que aquelas terras tenham pertencido ao fundador de Vitória da Conquista, João Gonçalves da Costa. Por falar nisso, é a família Gonçalves a mais evidenciada entre seus moradores.
No Rio Grande do Sul existe um município com seu nome. A história vem da colonização por imigrante italianos e alemães onde os tropeiros que viajavam entre Cruz Alta e Passo Fundo se abrigavam. O município traz um legado de fé e perseverança.
A nossa Tapera de Encruzilhada também traz em sua origem esse testemunho de fé e perseverança, misturado com o profano. De gente simples e alegre, suas terras são férteis e ali plantando tudo dá, como escreveu o escrivão Pero Vaz de Caminha em relação ao nosso Pindorama, Terra de Vera Cruz ou Brasil.
Vamos deixar desse blábláblá e ir direto para Tapera e “Três Quinas”. É o assunto em foco e de fundamental importância para nossa história literária. Para começar, lá ainda existe coronel de patente da Guarda Nacional. Acredite se quiser.
Tem o “Toninho” do mercadinho que sabe da vida de todo mundo porque passa o dia ali escutando todas fofocas, prosas e conversas fiadas. Aliás, ele é ainda dos tempos das cadernetas de anotações de compras de seus fregueses ou consumidores assíduos. Todo mundo paga certinho, salvo algum caloteiro de passagem.
Na realidade, o que mais interessa mesmo é o “Três Quinas”, o maior fã do programa “Camponês”, da Rádio Clube. Alô meu amigo Camponês, dê um alô para nosso querido “Três Quinas” da Tapera! Ele está sempre colado com você com o ouvido no rádio todas manhãs.
É uma figura falante, o mais conhecido, que adora uma cachacinha, o mé, como se diz no popular, e adora falar da sua vida de 64 anos, mas sempre nega que é aposentado. Talvez tenha receio que alguém passe a mão em seu pequeno benefício rural.
Outro fato curioso é que quase ninguém na Tapera sabe a origem da sua alcunha de “Três Quinas”. Como jornalista é bicho que gosta de escarafunchar as coisas, insisti e ele terminou revelando o porquê de lhe chamarem assim, com voz bem mais baixa do que de costume.
– Isso foi coisa de brasileiro malandro, Jirimia. Quando eu tinha doze anos usava uma calça que batia nas canelas. Um tanto tímido e envergonhado sempre ficava em pé numa esquina de rua, de forma que juntando a esquina com as duas pontas das bocas da calça davam a visão de três quinas. Um safado, então, me apelidou de “Três Quinas” e assim ficou conhecido por todos até hoje.
Seu nome verdadeiro é Sinvaldo de Araújo e mais alguma coisa, que foi vítima de bullying quando ainda era um menino, mas não ficou com traumas e nem teve que se tratar com um psicólogo. Bullying hoje é considerado uma agressividade passível de punição que ainda acontece no ambiente escolar.
Além de algumas de suas casas coloniais, a Tapera tem outras figuras que merecem destaque, como Danilo que dificilmente está sóbrio. Tem ainda o famoso bar do Dema, de cinco portas, onde você encontra a turma do baralho e os “perus” que ficam em redor dando seus palpites.
Como em Salvador, tem a “cidade” alta e a baixa onde ocorre o maior movimento, como se fosse ponto de encontro. Em final de semana é aquela zoeira de carros de som no bar do Cacau que se situa próximo da igreja de um pastor evangélico que berra para um punhado de fieis em nome de Deus e do satanás. Mesmo com aquele barulho infernal, os dois conseguem sobreviver e dar seus recados, Cada um ganha suas granas etílicas, ou dízimos religiosos.
Diante daquela agitação toda, o que não acontecia antigamente, para quem está procurando sossego, não recomendo ninguém passar um final de semana num povoado ou distrito nos tempos atuais tecnológicos.
A Tapera me faz lembrar o povoado de Jenipapo, em Jacobina, onde moram minhas irmãs e sobrinhos. Lá também tem seus tipos folclóricos, uma Igreja Católica e um bar ao lado com aqueles carros de som, com músicas de lixo na maior altura. Ah, me veio também a lembrança de Andaraí e a Tabela, em Piritiba!