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O “CONTO DO VIGÁRIO” E O GOLPE VIRTUAL

– Amigo, cuidado, porque isso aí pode ser um golpe! Não caia nessa! Fica esperto! Não atenda telefonemas suspeitos e nem clique em mensagens estranhas! Delete!

São sinais de alerta que mais se ouve entre as pessoas nos dias atuais quando algo vantajoso e fácil cheira a enganação, a trapaça. A recomendação é não confiar mais em ninguém, mesmo em alguém considerado confiável e correto. Hoje tem mais golpistas no país que a praga dos gafanhotos do Egito, do faraó.

A gente procura seguir a regra, mas sempre tem alguém caindo numa armadilha. Quase todo mundo já levou um “tombo”, um golpe. Não é mais coisa para se envergonhar. Muitas vezes se apanha e não se aprende, contrariando a máxima, de que é “apanhando que se aprende”.

O golpista leva a vantagem de pegar o cidadão desprevenido, como se leva um susto danado quando se está distraído, no mundo da lua e alguém faz uma presepada.

Ninguém fala mais que a pessoa caiu no “conto do vigário” quando se é vítima dos inúmeros golpes virtuais que se proliferaram a partir da internet, muito mais sofisticados e profissionalizados com o uso das novas tecnologias da informática.

Dia desses um companheiro comentou comigo que não se usa mais a expressão “conto do vigário”, ou vigarista, mas de golpista, aquele que utiliza das redes sociais para retirada de dinheiro de conta bancária de clientes, quem pega dados de alguém para clonar cartões, vende carros, apartamentos, móveis e imóveis falsos, se passa como facilitador de processos judiciais, liberação de programas sociais, entre outras coisas.

– É verdade! Os tempos são outros, não mais aqueles pés de chinelos do bilhete premiado da federal, da mala pesada, da herança do parente distante, do tesouro perdido, das correntinhas reluzentes como ouro que depois viravam ferro e outras práticas estelionatárias presenciais. Não se engane, camarada, são espécies em extinção, mas ainda se encontra zanzando perdidos por aí esses elementos, ou meliantes das antigas.

– Saudades daquela época porque na maioria das vezes o sujeito era preso pelo delegado e pegava cana. A gente até achava graça das armações e tirava sarro das vítimas. Com a tecnologia atual, que rende mais, com menos esforço, até a saidinha bancária se tornou raridade.

Recordo que meu pai uma vez me contou um desses casos do seu irmão que vivia por aí fazendo malandragens. Estava sem dinheiro e um dia se hospedou numa pensão com uma mala pesada cheia de esterco de gado.

Fez toda recomendação ao dono para guardá-la num local seguro porque nela havia uma mercadoria preciosa. Passou uma temporada na cidade e depois sumiu sem nada pagar. O resto da história, todos sabem. O dono do estabelecimento caiu no “conto do vigário”, se lascou, sifu…

Em Amargosa, na Bahia, onde estudei como seminarista, para ser vigário (não vigarista), soube do caso do conto do pavio. Um senhor safado comprou sacos e mais sacos de pavios e foi vender aos pobres na zona rural.

Ele propagava aos quatro cantos, como profeta da barba grande, que a terra ia ficar uma semana na escuridão e estimulou os camponeses a comprarem pavios para acender seus candeeiros a querosene. Vendeu tudo com sua conversa fiada.

Nessa prosa sobre “Conto do Vigário”, o amigo acrescentou que os caras hoje são mais espertos, inteligentes, trabalham em escritórios confortáveis, não tiram folga semanais (fazem bacanais), estão sempre de plantão e conseguem se esconder com mais facilidade da polícia.

– Ah, e têm mais lábia, sem falar que esses bandidos invisíveis sempre dão um passo à frente para burlar os programas de segurança e possuem mais capacidade de imaginação quando se trata de mudar a modalidade de golpe. Todo dia surge uma coisa nova!

Foi o que disse para ele, que aproveitou para indagar o porquê desse termo de “Conto do Vigário”, que muito se falava na era analógica, desde lá dos tempos de nossos avós, quando alguém era enganado pelos chamados vigaristas, muitos deles engomadinhos e com boa lábia também.

– Sabe não?  “Conto do Vigário” era um golpe antigo onde trapaceiros se passavam por representantes de um vigário (padre) para enganar pessoas, com histórias elaboradas sobre heranças, buscando tirar dinheiro delas.

A origem do termo surgiu do envolvimento entre duas igrejas em Ouro Preto, Minas Gerais, que disputavam uma imagem de Nossa Senhora. Um padre recomendou amarrar a imagem em um burro e deixar que ele escolhesse um destino. O animal que pertencia ao padre foi justamente para a igreja dele. Daí nasceu a associação vigário e engano.

Existe outra versão que aponta para Portugal onde golpistas fingiam ser emissários de vigários, usando promessas falsas e papos furados para boi dormir, convencendo pessoas a entregar dinheiro ou bens.

Esta explicação tem até mais raiz porque quando Cabral aportou em terras brasileiras trouxe degredados, corruptos e malfeitores em suas caravelas, os quais enganaram os nativos indígenas com presentes mixurucas, como espelhos e pentes, e levaram bens mais valiosos, como o Pau Brasil, o ouro, os diamantes, entre outras riquezas.

Na realidade, foi o primeiro “Conto do Vigário” em que caímos, isto é, os coitados dos índios. Os outros portugueses navegadores e exploradores que vieram depois, a partir do primeiro governador Thomé de Souza, procederam da mesma forma.

O “Conto do Vigário”, significando história elaborada com o objetivo de burlar alguém, pode ter vindo de lá e aqui encontrou terra fértil para prosperar e dar bons frutos. A expressão, inclusive, é usada em Portugal e no Brasil. Como disse o escrivão Pero Vaz de Caminha, aqui plantando, tudo dá, e como deu!

COMO ASSIM, DE GRAÇA!

A falta de conscientização política, conhecimento e saber para discernir as coisas, ou seja, educação, leva os governos a enganar o nosso povo com propagandas falsas. Não existe, por exemplo, esse negócio de graça quando o poder executivo banca um evento e não cobra a entrada da população.

Para fazer sua média, a prefeita de Vitória da Conquista, Sheila Lemos, vem dizendo em seu discurso político que a população não vai pagar para entrar na festa terceirizada do São João de camarotes. Aliás, é o São João da desigualdade social de divisão de castas. Tudo lá dentro vai ser caro e só poucos vão puder tomar uma bebida ou comer alguma coisa.

Primeiro, nunca vi em minha vida uma festa pública junina organizada pelas prefeituras onde o povo tivesse que pagar para frequentar. Segundo, tudo que vem do governo em benefício do povo é pago pelo contribuinte através de seus impostos e, sendo assim, nada é grátis. Terceira, deixa de ser cara de pau!

No caso específico de Conquista (todos eles dizem isso) fica parecendo que a própria prefeita tira o dinheiro do seu próprio cofre para pagar a entrada do São João para seus eleitores. Só rindo para não chorar!

A mesma coisa ocorre quando ela afirma que vão sair ônibus de graça do Espaço Glauber Rocha para o Parque de Exposições. Quem vai cobrir esse gasto? Com certeza não são as empresas. O recurso é tirado do próprio povo.

Por falar em transporte público, a tarifa de ônibus e de outros veículos poderia muito bem ser zero porque os governos em geral possuem recursos para isso. Lembram dos movimentos de ruas em 2013 que tiveram como ponto de partida essa justa reivindicação? Por que em algumas cidades o usuário não paga o transporte?

Pena que a grande maioria acredita e até acha que seu prefeito, governador e o presidente estão sendo bonzinhos. O pior é que a mídia esquece do seu papel de esclarecer o que é certo e errado e termina embarcando na onda da falsidade.

Sinceramente, fico incomodado quando essa imprensa preguiçosa, que não mais questiona os fatos e deveria ser formadora de opinião, diz que a vacina é de graça, que o documento de identidade é de graça, que a certidão de nascimento é de graça, que tal mutirão de saúde é de graça e que um show pago pelo governo é de graça.

Esse papo furado, minha gente, até parece mais com o “Conto do Vigário”. Eles aproveitam a ignorância do povo para propagar mentiras e ganhar o voto do cidadão na época das eleições. Quem paga tudo isso? O governo é apenas um repassador da arrecadação dos tributos.

O Governo do Estado, através do Detran, está aí com um programa de conceder, sem custo para o interessado, carteira de habilitação às pessoas de menor poder aquisitivo. Exige um monte de burocracia para a pessoa ser contemplada e ainda fala que é de graça. Vem a mídia do factual e assina embaixo.

É subestimar a inteligência dos outros porque tudo que sai do governo em benefício do brasileiro é verba dos impostos. Portanto, não me venham com essa conversa demagógica de que é de graça.

DO CAVALO AOS FOGUETES

Primeiro foi a pedra e o pau que o homem antes da época do Neandertal começou a usar como instrumentos para enfrentar seus semelhantes por comida e áreas territoriais. Depois vieram as lanças e as flechas entre as tribos. Tivemos também as espadas, os punhais e as adagas na descoberta do ferro.

Passaram-se séculos e o homem foi se evoluindo para combater seus inimigos até chegar à utilização do cavalo como arma poderosa. Os primeiros povos a domesticar esse animal para o uso de conflitos, permitindo ataques e fugas rápidos, saíram das estepes da Eurásia (Ucrânia, Hungria e Romênia) por volta de 4000 a 3000 a.C.

As civilizações que mais empregaram o cavalo nas infantarias de guerras foram os romanos, os celtas, os partas ou persas (iranianos de hoje), os gauleses, os vikings e os germanos entre 2000 e 1000 a.C. sem falar nos Cruzados e nos mouros durante os séculos XIV e XV.

Depois das duas primeiras guerras (1914/18 – 1938/45), os cavalos serviram mais como meios de transportes de suprimentos em geral e armas, para arados, quando foram substituídos pelas máquinas, inclusive os aviões, mais mortíferas. Até hoje, para simbolizar a sua força, um cavaleiro num cavalo vermelho empunha uma espada, representando a guerra.

Nessas duas guerras tivemos o emprego maior das metralhadoras, fuzis e das bombas que ceifaram milhões de vidas humanas. Os relatos de matanças e carnificinas me fizeram lembra do saudoso cancioneiro poeta conterrâneo Wilson Aragão que, em uma de suas toadas músicas, diz que uma guerra de facão mata menos gente.

Do cavalo aos foguetes, o que temos hoje é uma guerra tecnológica de aviões potentes supersônicos e drones derramando suas ogivas em pontos estratégicos, deixando um rastro de escombros com maior letalidade. Nas imagens, os foguetes cruzam os céus entre as partes inimigas. Até parecem estrelas cadentes luminosas, mas não encantam nossos olhos, muito pelo contrário.

No entanto, ainda temos o contraste entre o moderno e o atraso no mundo da guerra. Tribos africanas de nações mais pobres, como Burundi, República Centro Africana, Somália, Congo, Sudão, Moçambique, Níger, Libéria, entre outras, ainda se matam através de lanças, armas de fogo e até facões.

Pois é, raramente existe o enfrentamento corpo a corpo, e os soldados de hoje são treinados para outras funções, como apertar botões de precisão e manejar tecnologias sofisticadas. Diante dessa parafernália toda, pelo menos o cavalo foi preservado porque só na I Guerra Mundial foram utilizados cinco a seis milhões deles.

A insensatez e a autodestruição do ser humano, bicho sanguinário, chegaram ao ponto das grandes nações destinarem a maior parte de seus orçamentos para as indústrias armamentícias. Gastam-se por ano trilhões de dólares, enquanto cerca de um bilhão de pessoas, dos sete a oito bilhões de habitantes, vive na extrema pobreza e na miséria.

As desigualdades sociais só se aprofundam com a concentração de renda nas mãos de poucos, sobretudo nos países menos desenvolvidos da África e das Américas do Sul e Central, como é o caso do nosso Brasil.

Outra vítima dessa barbárie contemporânea evolutiva às avessas é o meio ambiente através do desmatamento de nossas florestas, o lixo do consumismo, o uso de combustíveis fósseis e o lançamento de gases tóxicos na atmosfera.

Como estamos falando de guerras, do cavalo aos foguetes, ainda temos hoje os facínoras dos holocaustos e dos genocídios em massa, praticados por criaturas neonazifascistas que encarnaram os espíritos de Hitler, Stalin e outros, como o criminoso carniceiro da Bósnia, no início dos anos 90, nos Balcãs.

Um desses exterminadores atuais que deveria estar encarcerado com a pena de morte é o tal do Benjamin Netanyahu, o chamado “Bibi”, o judeu que se comporta como vítima do hitlerismo, para jogar bombas contra os indefesos palestinos, assassinando impiedosamente crianças e idosos.

Agora ele está lançando foguetes contra os iranianos, sob o pretexto de destruir arsenal nuclear, e tudo isso com a mão e o consentimento dos Estados Unidos, do Trump desequilibrado e louco.

Ora, fizeram um acordo onde somente eles, a França, a Índia, o Paquistão, os Estados Unidos, Rússia e o próprio Israel podem ter bombas nucleares. Existe um desequilíbrio geopolítico na questão dos armamentos. Por que não selam uma aliança para destruir todas essas malditas bombas e reduzir drasticamente a fabricação de armas?

A PROFANAÇÃO DO NOSSO FORRÓ

Acabo de receber uma mensagem de um primo lá de Juazeiro onde ele reproduz um comentário de revolta e protesto, de autoria de Rivelino Libarino, sobre a abertura do São João de Petrolina. Em seu artigo, afirma que entre os presentes registrou-se a ausência do principal personagem no evento, no caso, o nosso sagrado forró.

Enquanto lia sua matéria ia passando em minha cabeça o mesmo filme que aconteceu e está acontecendo em Vitória da Conquista onde a prefeita terceirizou a nossa festa junina e a transformou num carnaval misturado com arrocha, axé, sertanejo e outros ritmos que nada têm a ver com a nossa tradição.

O que estão fazendo com o nosso São João e o nosso forró, e isto já vem ocorrendo há anos em todo Nordeste, é uma profanação, uma heresia, onde os prefeitos deveriam ser julgados, sentenciados e punidos por tentar nos enganar, como vem fazendo a nossa prefeita, colocando na imagem um movimento na Praça Nove de Novembro e dizendo que a entrada é grátis no Parque de Exposição.

Nada é grátis quando o dinheiro sai dos cofres públicos. Não sabia que tem São João organizado pela prefeitura (dinheiro do contribuinte) com ingresso pago! Infelizmente, a nossa mídia ainda entra nessa onda quando fala que tal show público é de graça. Como é de graça? É subestimar a nossa inteligência e tratar a população, a maioria inculta, de idiota.

Deveriam perder o cargo e até serem presos porque estão cometendo um crime que é matar e sepultar uma cultura popular de séculos, porque não se muda uma tradição, símbolo de uma expressão nordestina. Além do mais, existem os superfaturamentos, os desvios de recursos nas contratações de artistas lixo, com astronômicos cachês.

A Justiça faz vistas grossas, e os intelectuais, acadêmicos, os movimentos culturais, inclusive os artistas forrozeiros da terra, praticamente ficam em silêncio. Não se sai daquele bê-á-bá ou blábláblá de sempre, de apenas condenar e achar que estão acabando com o nosso senhor forró, quando, na verdade, já acabaram.

A festa junina autêntica, o forro pé de serra, o chamado arrasta-pé o forrobodó, a sanfona, o zabumba e o triângulo são hoje peças e personagens secundárias de decoração no maior evento nordestino. No meio colocam algumas quadrilhas em horários de pouca gente, como no início ou final de tarde.

Não me venham com essa de modernização que não cola. Mudanças existem, inclusive nas pessoas, de forma a se amadurecer mais e acompanhar os novos tempos, as novas tecnologias, mas cultura popular, tradição artística secular não se muda, se preserva, conserva e se apoia para que nunca morra.

A prefeita de Conquista, por exemplo, cometeu o maior crime em sua gestão que foi comercializar a festa e ainda permitiu que ela seja realizada no Parque de Exposição Agropecuária, excluindo milhares de conquistenses de curtir o tradicional São João, quando se tem o Espaço Glauber Rocha, na zona oeste, construído com o dinheiro do povo para nele realizar atividades culturais.

Por falar nisso, o Glauber Rocha hoje é utilizado por empresas de prestação de serviços (também foi terceirizado), um total desvio de finalidade. Pode-se dizer que ele hoje é um elefante branco. É lá que o São João deveria ser realizado, sem custo de pagar outra área particular.

Em todo o tempo em que estou em Conquista, 34 anos, se é que esteja enganado, um São João nunca foi feito no Parque de Exposições, com camarotes e cantores que nada têm a ver com o nosso forró, num estilo totalmente diferente.

É um desastre, senhora prefeita, e aqui fica minha palavra de repúdio. Esse ato vergonhoso vai ficar marcado para sempre na história de Vitória da Conquista. A senhora deveria ser responsabilizada por acabar com a nossa cultura, a começar pelos equipamentos culturais, todos fechados e sendo destruídos pela poeira do tempo.

Entram os safadões, a Ivetona, o Leu dos rebolados carnavalescos, o boiadeiro sertanejo, os piseiros, arrocheiros e lambadeiros e sai o nosso saudoso forró. Expulsaram a chicote o sanfoneiro, o forrozeiro, o xote, o baião da festa junina. Tiveram a grande proeza de assassinar a nossa cultura, genuinamente nordestina.

LEMBRANÇAS DA “MARIA”

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, do seu livro ANDANÇAS

Foi-se o tempo de menino,

Espiando o telegrafista,

Com batidas de artista,

Ordenar tocar o sino,

Como se fosse um hino,

Pra lembrar aos viajantes,

Que em poucos instantes,

Vai ter máquina na pista,

De nome “Maria Fumaça”,

Chamando muita gente,

Vinda até da praça.

 

Lá vem o trem a se arrastar

Das terras diamantinas,

Como cobra a deslizar,

Por entre serras e colinas.

 

Lá vem a “Maria” roncando,

Com suas patas de ferro,

Soltando seu berro,

Transportando usinas de sonhos,

Com sua força potente,

Distribuindo os ganhos.

 

Chamam também de “Trem Groteiro”,

Cortando as esquinas do sertão,

Em seu traço rotineiro,

Como se fosse om tropeiro,

Com sua fumaça na estação.

 

Lá vem a “Maria” das matinas,

De janelas sem cortinas,

Com seu balanço manso,

Apitando pra avisar,

Que logo vai parar

No povoado de Paiaiá.

 

Lá vem “Maria” penitente,

Puxando sua corrente,

Como rezadeira;

Leva bruacas, mercadorias,

Para vender na feira.

 

Lá vem o trem lembrança

Dos dias que era criança,

Matando minha saudade,

De no embalo pongar,

E mais adiante pular,

Vendo minha “Maria” sumir

Na curva de Piraí.

 

Em sua última viagem,

“Maria” partiu para o além;

Levou minha bagagem,

O amor do meu bem,

Deixando aquela fumaça,

Que ainda me enlaça.

 

Lembrança da Piritiba,

Do sábado do feirante,

Da poesia cortante

Do poeta Aragão,

Que misturava pavio,

Mandioca com feijão,

Xingava de delinquente

O governo indecente,

Que deixou esse vazio,

Em nossa mente.

AS CANÇÕES DE AMOR NA VOZ DE EVANDRO CORREIA

Quis o destino que o nosso cancioneiro Evandro Correia se fosse justamente no Dia dos Namorados porque em suas letras e canções poéticas falava do amor, de gente que sempre quis viver esse amor.

Este texto de minha autoria foi feito com ele ainda em vida numa conversa descontraída sobre sua infância e sua vida de cantar suas composições. Seus shows sempre tinham um público cativo e quando soltava sua voz, todos se emocionavam.

Quando aqui cheguei, em 1991, sua música “Menino da Vida” me fez conhecer o romântico Evandro Correia. É uma grande perda para nossa cultura, mas deixa um grande legado para a posteridades. Passou por aqui e deixou sua marca registrada. Viveu a vida como ela é. Segue o texto que fiz há tempos sobre sua pessoa e sua carreira:

O amor é o seu mastro de salvação, é um veleiro que navega em rios e mares, aportando em terras longínquas para conhecer gentes diferentes e levar a mensagem de conforto em forma de oração e louvação para os mais carentes.

Seu amor é reconciliação, é uma estrela de esperança. Assim cantam as letras na voz do compositor e poeta nordestino, baiano e conquistense Evandro Correia, que abriu seu baú da vida para falar um pouco da sua carreira, de cultura, das dificuldades para vencer, de artistas que admira, de seus projetos e da sua terra natal onde nasceu e a tem como mãe.

O menino que aprendeu a cantar, acompanhando as missas nas igrejas das Graças (rua Otávio Santos) e na São Miguel (bairro Alto Maron), em Vitória da Conquista, seguiu seu caminho musical e há 19 anos vive fazendo sua arte com dedicação e profissionalismo.

Na verdade, pode-se dizer que seu trabalho está completando 27 anos de duração já que em 1980 fez sua primeira aparição no Festival Estudantil da Bahia, no Ginásio Raul Ferraz de Vitória da Conquista, arrancando o primeiro lugar na classificação, com a música “Rosa Flor”.

A partir daí, Evandro Correia foi cantando suas melodias em festivais de Conquista e de outras cidades até cravar seu sucesso com a música “Menino da Vida”, cujo clip foi lançado pela TV Sudoeste logo que se instalou na região há 17 anos. Evandro não parou mais de cantar e suas obras são verdadeiras apologias ao amor e bálsamo para o espírito. Tímido, calmo e de voz pausada, o artista vai falando das dificuldades que existem para se produzir cultura neste país, mas acredita na vitória quando se esforça e se quer vencer.

Em 1990, com a carreira mais sedimentada, grava o CD “Menino da Vida”. Foi seu primeiro disco oficial/solo com produção de João Leme e Waltinho Amorim. Depois veio “Gema”, em 1993, com produção de Marcos Ferreira. Passou uma temporada no Rio de Janeiro nas noites cariocas; esteve em São Paulo e norte de Minas Gerais; e em 97 gravou “Divindade”. O artista continuou cantando em casas de shows pela Bahia a fora e fazendo suas composições nas horas vagas e de inspiração. Em 2001 lançou o disco “Garimpeiro do Sonho.”

Além das suas baladas misturadas a outros ritmos, Evandro sabe cativar o público também com o forró como nos dois discos que gravou em homenagem ao rei Luiz Gonzaga e ao Trio Nordestino (há três anos que ele faz São João). Ao todo são oito trabalhos elaborados com dedicação e amor, tema que ele mais aborda nas suas cantorias, acompanhadas de uma banda formada por violões, violino, violoncelo e bateria. Com seu jeito de ser simples e profundo, o artista lançou no início deste ano o seu primeiro DVD, o “Pulo do Gato”.

“Meu público gosta de uma mensagem mais direta, limpa, com um romantismo social, consciente e politizado” – foi assim que Evandro definiu o seu produto musical e a forma como as pessoas apreciam suas obras. Suas canções são urbanas e populares, com um forte tempero romântico, sem pieguices. “O povo gosta desse lado romântico que luta pelas conquistas e briga para prosseguir com as coisas”.

Sobre o axé music, Evandro acha bonito por falar da vida com simplicidade e emoção, embora tenha pouca letra, com exceção dos trabalhos de Gerônimo, Luis Caldas e Edil Pacheco que ele cita como expoentes. No entanto, lamenta que depois disso, nada mais de novo tenha acontecido na Bahia. Para Evandro, que admira Elomar e Luiz Gonzaga, a música da Bahia é mais samba e mais dançante.

Sobre as dificuldades, o compositor conquistense encara os problemas com otimismo e garra, apesar de reconhecer que viver de arte no mundo é uma tarefa quase impossível. “Quanto a mim, que não tenho gravadora e sou independente, sempre procurei buscar meu espaço, com coerência, dignidade, transparência e respeito aos outros”.

A cultura de um modo geral no Brasil, na sua visão, não tem sido prestigiada como deveria, mas não coloca toda culpa no governo. Para ele, o artista tem que se impor e produzir mais, independente do poder público. Lamenta que ainda existam artistas que são sanguessugas e se vendem facilmente.

Quanto a polêmica do produto musical ser comercial ou não, ele entende que toda obra visa o mercado, e que é difícil conseguir esse mercado porque a mídia direciona e empurra as pessoas para determinados movimentos. Do outro lado, as produtoras se ligam no glamur, no status, naquilo que dá ou não dá, “mas no final tudo é comercial”.

Para o músico, Conquista é sua terra natal que muito preza, pela personalidade e inteligência de seu povo a quem muito deve, “pois aqui sempre tive um espaço aberto e foi onde tudo começou”. Ele promete para 2008, novos projetos, novas canções em CD e DVD, com violão e orquestra de cordas. Como letrista e compositor, Evandro se identifica como dono do circo que faz de tudo, desde a comida para o leão, a varrer a área e tomar conta da bilheteria.

“PULO DO GATO”

O seu primeiro DVD “Pulo do Gato” é recheado de romantismo como toda sua obra, mas sem ser meloso. Nas suas definições de amor, está sempre lembrando do sertão como seu parceiro na vida. É um romantismo com conteúdo, como a primeira canção “Eu e Ela” que fala da procura e da doação. “O amor é jóia rara” – canta Evandro que sabe ser inconfundível na sua mensagem.

A canção “Gema”, muito conhecida, faz uma declaração de amor à sua gema da vida. Não tem vergonha de dizer que quer o teu amor. “É assim que sempre quis”. “Menino da Vida” é o diamante da sua carreira e uma melodia dedicada à natureza e à vida. Seus passos pisam em pedras, mas encontram também o sorriso e a vida para navegar – diz Evandro.

“Estrela Guia” fala do amor à primeira vez. Nela, ele é um amante da vida e do amor. Derrama um amor que encanta, e canta numa linguagem sem pieguices. Na canção “Roxo”, em violão e violino, compara a chegada das águas com as lágrimas que caem por amor. Em “Eternamente”, o artista, com seu jeito tímido, diz que sem você não há luz no infinito, não há mundo, não há lugar. Eternamente é como um viajante solitário que sem amor não tem histórias para contar.

Trago flores para você para que o amor não morra nas trevas – é a mensagem do artista na canção “Canôro”. Já “Marcéu”, “Marlua” e “Lis” são baladas dedicadas aos seus três filhos adorados. Sobre “Marlua”, canta ser ela o filme mais bonito que já viu. “É o livro mais profundo que já li”. Em “Lis” é verde tua visão; é chuva no sertão. Pede ao seu filho “Marcéu” para que lhe abrace forte quando chegar e dê sua mão.

Evandro canta ainda a “Lua de Agosto” que é puro amor e roga para seus olhos encontrar os olhos dela; “Sanha” diz que o amor é o pai, é a mãe; “O Tango da Onça” fala do amor selvagem que lambuza, rainha das grutas de dentes macios, me usa, abusa para comer mais tarde; “Na Mira”, o artista quer fugir da solidão e se revela ao afirmar que salve, salve o que vier do amor.

Completa seu trabalho com “Canção Serenata”, “Duas Bandas” que narra o sofrimento de quem foi embora, das carências, das recordações (quando olho para a lua vejo teu rosto); “Devoção”, que de forma clássica na letra e na música, faz uma louvação ao amor e compara a falta dele ao sertão sem chuva; “Saudade de Endoidecer”, que dói noite e dia sem te ver; “Branca” e “Cadê My Love” encerram o DVD.

 

 

 

 

 

DURMA COM UM BARULHO DESSE!

(Chico Ribeiro Neto)

Aniversário no salão de festa do prédio com banda ao vivo. Sapato alto no andar de cima. Som alto, axé, até 11 da noite. Tem velotrol no corredor. Latido de cachorro grande com fome. “Nunca more numa rua onde passa ônibus”, dizia uma amiga.

Insônia é coisa braba. Desde menino, sempre achei sem graça esse negócio de contar carneirinhos pro sono chegar. Se não dá certo dormir de um lado, vira pro outro. Se também não consegue dormir, fica de barriga pra cima e aí começa a pensar nos problemas. Vixe! Só ligando o rádio.

Sempre gostei de um rádio de cabeceira. Ouvir música tem hora que ajuda a dormir. Teve uma noite em que sonhei dançando um forró com Elba Ramalho. Acordei logo depois e ouvi o locutor dizer: “Acabamos de ouvir “Bate Coração”, com Elba Ramalho”.

Gosto de ouvir música clássica na Rádio Câmara FM (105.3), mas repetem muito a programação, principalmente valsas de Strauss. Ouço também a Educadora (107.5).

Se pegar no sono é difícil, acordar também não é fácil. Quando ligo o despertador do celular, sempre acordo antes dele tocar e o desligo, para não tomar susto quando ele tocar.

E o tal “só cinco minutos”? Quem nunca disse isso e depois dorme mais meia hora? Meu tio Antônio se gabava de nunca ter perdido o trem. E eu, com uns 8 anos, morria de vontade de perder o trem.

Esse tio tinha uma tática infalível pra acordar a gente: passava uma linha molhada no bigode e nos lábios. Não tem quem não acorde com aquela gastura.

O pai de um amigo me contou uma vez que, quando acorda, diz 10 vezes: “Eu sou forte, muito forte, cheio de saúde e alegria”. Nunca tive tamanha disposição.

Acho que era o escritor Paulo Mendes Campos que dizia à mulher e filhos: “Não me peçam decisão nem opinião sobre nada até duas horas depois que acordo”.

Veja o belo poema “Dormir”, de Armindo Trevisan, do livro “Adega Imaginária”:

“Não há instante

mais íntimo

do que aquele em que nos enrolamos

em nós mesmos.

 

Dormir “a pata suelta”,

num trem,

num bosque,

num banco de praça.

 

Quando dormimos,

nossa memória estende as asas,

e voamos com ela

para abraçar a lua.”

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

AINDA NOS TEMPOS DA “MARIA FUMAÇA”

LINHA SUCATEADA NO TRECHO ENTRE SENHOR DO BONFIM A JUAZEIRO

Em sequência à crônica-artigo, misturada com causos e informações sobre o tema “Nos Tempos da Maria Fumaça”, publicada em nosso blog www.aestrada.com.br (dia 11/06/2025), quero aqui reproduzir algumas palavras do nosso professor e memorialista Durval Menezes. Antes de mais nada, agradeço seus elogios e também por ter acrescentado subsídios valiosos a respeito do assunto.

O professor nos brindou com estas palavras de que a famosa “Maria Fumaça” tem passado e história. Quantos romances e poesias foram inspirados na história da “Maria Fumaça”. Muitas cidades tiveram sua marca registrada na “Maria Fumaça” enquanto outras não conseguiram essa oportunidade de ter sua “Maria Fumaça” cortando sua área geografia. Outras não tiveram “Maria Fumaça”, mas tiveram história, como é o caso de Vitória da Conquista.

Durval afirmou que Conquista não chegou a usufruir das famosas locomotivas, ou os trens de ferro como eram chamados. No entanto, teve sua “Maria Fumaça” numa espécie de trem fantasma. De acordo com ele, a história se repete em épocas diferentes. “A maneira de governar o povo, ou iludir, permanece ainda é a mesma. Mudam apenas as personagens, mas a malandragem política continua a mesma, prometer e não realizar”.

VAGÃO ABANDONADO COMO FERRO VELHO DE UMA ANTIGA “MARIA FUMAÇA”

Durval lembra que nessa história, Conquista foi agraciada com uma ferrovia saindo de Nazaré das Farinhas passando por Jequié a nossa cidade.  A tal ferrovia, relata o professor, começou em Nazaré por iniciativa de empreendedores da região para desbravar nossas terras.  A estrada chegou até Jequié, em 1927, com muita festa e teve sua continuidade, inclusive foram construídas várias obras de arte, como os pontilhões. Alguns quilômetros foram concluídos.

Ocorreu, porém, que o Governo de Getúlio Vargas, na década de 30, suspendeu todas as obras em construção, e Conquista ficou fora do sistema ferroviário. Os empresários, conforme revela o professor, queriam que a locomotiva chegasse aqui porque era importante para o município, só que isso não se concretizou.

Durval conta ainda que em 1898 foi constituído um decreto-lei concedendo o direito de construir a estrada Ilhéus- Conquista. Informa que a obra foi iniciada por outras regiões partindo de Ilhéus. Essa construção estava sob a responsabilidade do engenheiro Miguel Argolo. Chegou a ser executado 70 quilômetros de linha. Até hoje ainda estão lá os marcos.

Nesse trem fantasma foi projetada a estação sob a responsabilidade de um arquiteto belga. A área foi locada para ser erguida uma estação no início da avenida Siqueira Campos. “Ao construir uma ferrovia, a cidade seria privilegiada com a uma bela estação que chegou a ser projetada”.

VELHO PONTILHÃO EM IAÇU, NA BAHIA

Conforme informações do professor Durval, dezenas de pessoas foram contratadas para a obra, especialmente filhos de coronéis, cacauicultores e políticos, só que a ferrovia pouco avançou.

Acontece que os convocados para o trabalho, denuncia o professor, tiveram o privilégio de receber seus salários até suas aposentadorias.  “Todos mamaram nas tetas dessa ferrovia. Os apadrinhados, que nunca prestaram seus serviços, ganharam até se aposentar.  Esse é o Brasil do passado que ainda hoje vivemos, no mesmo aspecto de corrupção”.

Para finalizar seu comentário sobre a “Maria Fumaça, Durval nos informa que, em cima desse projeto, o artista Alan Kardec tem um projeto de adquirir uma máquina e dois vagões que serão expostos em frente do Museu de Kard.  “E um sonho bonito do nosso artista, visando que Conquista tenha sua “Maria Fumaça”, pelo menos como peça de museu”.

 

NOS TEMPOS DA “MARIA FUMAÇA”

Achava bonito ver aquele trem “Maria Fumaça” parado na estação para o embarque e o desembarque dos passageiros com suas missangas e depois o maquinista da lenha dava dois ou três apitos dando sinal que era o momento da partida. As pessoas se apressavam e cada um ocupava seu lugar. Ás vezes lotava e esvaziava em outro ponto.

A molecada pongava no último vagão até um acerto ponto quando começava a acelerar, e o trem ia serpenteando como cobra entre as curvas das serras, cruzando os pontilhões, deslizando nas planícies, subindo e descendo ladeiras no som do “potoc-potoc, potoc-potoc”, ou no ritmo do “café com pão, bolacha não”.

Quando menino era o meio de transporte que mais me fascinava e até hoje guardo marcantes lembranças das viagens de Piritiba para Senhor do Bonfim, de lá para Salvador, para Rui Barbosa, Itaberaba e Iaçu.

Passava pelas cidades de Miguel Calmon, Jacobina, Caem, Pindobaçu, Saúde, Antônio Gonçalves e alguns distritos. As estações tinham arquiteturas semelhantes. Recordo das aventuras dos namoros adolescentes, dos casos e causos de passageiros e do balançar pra lá e pra cá, isto há mais de 60 anos.

Como era gostoso viajar à noite e apreciar da janela o luar a pratear o sertão, e nas estações das cidades e povoados ver aquela gente gritando para vender doces, mingaus, pamonhas, canjica, milho assado e cozido, bolos de aipim e frutas. Era aquela algazarra e todo mundo ganhava um dinheirinho.

Nos vagões de cargas iam as bruacas dos feirantes, ferros velhos, mercadorias diversas, cereais e até móveis de mudanças. Vendedores e ambulantes pegavam as feiras em diversas cidades e iam mascateado por aquele mundão entre Senhor do Bomfim a Iaçu, cerca de uns 700 a 800 quilômetros. Aquela gente praticamente morava no trem, indo e voltando para realizar seus negócios.

Lembro do Tio Quincas, um mão de vaca sovina daqueles que fazia questão de um centavo de tostão, casado com a irmã da minha mãe. Ele saia de Bonfim para Piritiba para comercializar arreios, cangalhas, reios, chapéus, celas, chocalhos, tacas, brides de cavalos e outras bugigangas.

Era gago e num saquinho de pano levava as farofas de frango, rapadura e carne seca que a tia “Ditinha” fazia. Quando acontecia viajar com ele, era tão casquinha que nem pagava um doce para mim, mal me dava um punhado de farinha. Vez ou outra se entocava na cabine do sanitário para contar o dinheiro da feira enrolado num saquinho. Nem dormia direito com medo de alguém lhe roubar.

Não podia muito vacilar porque aparecia uns ladrões e vigaristas durante a viagem para afanar os pobres passageiros, a maioria de candangos e até retirantes das secas que iam para as terras das Minas Gerais na divisa de Urandi com Espinosa. E lá ia o trem “Groteiro” no seu tic-tac ou toc-toc marrento, soltando sua inconfundível fumaça, daí o nome de “Maria Fumaça” porque era movido a lenha.

– Essa cachorra não para de latir! Deve estar com fome ou alguém bateu nela! Gritou de lá da estação da cidade de Caem um senhor em tom zangado porque uma mulher debochava do lugar e ficava rosnando “caem, caem, caem”, imitando o latido de cachorro. Aliás, muita gente fazia isso em tom de gozação quando passava em Caem. Até eu me arriscava a latir. Era só zoeira!

Com aquele fogo todo de moço novo transpirando sexo, gostava das paqueras e vez ou outra agarrava umas namoradinhas. Tascava aqueles beijos calientes. Nunca me esqueci de uma morena linda de nome Laura procedente de Cachoeira.

Depois de uma troca de olhares apaixonantes fomos para o final de um dos vagões. Nos travamos nos beijos e no mexe-mexe, mas na hora de bem-bom, o trem descarrilhou. Com medo de morrer, me desvencilhei da menina e cometi o desatino de pular fora dos trilhos. Por sorte, não me arrebentei todo numa ribanceira.

Ficamos nos correspondendo com cartas de amor e depois de anos nos encontramos em Salvador, mas, como estudante pobre “lascado”, não possuía condições financeiras para continuar o namoro. Nem tinha grana para dar uma saída, tomarmos umas geladas e fazermos uns chamegos. Tempos difíceis!

Certa feita, como estava sem grana, entrei no trem sem comprar a passagem. Ficava de olho no guarda sisudo com aquele quepe picotando os bilhetes. Ocorre que ele me pegou no flagra e aí o bicho pegou feio. O cara me levou para o vagão dele e queria me deixar na próxima estação antes de chegar em Piritiba, sem minha malinha de couro.

– Quebra um galho aí, seu guarda! Sou pobre estudante e estou sem dinheiro nenhum, nem para comprar um engano para o estômago.

– Não sou nenhum macaco, seu moleque, para sair por aí quebrando galho – respondeu o guarda. Comecei a chorar. Ele era um durão, mas compadeceu da minha situação, mesmo me deixando de castigo em sua cabine até chegar em Piritiba. Passou o tempo todo me dando aquele sabão e que nunca mais fizesse aquela molequeira.

Bem antes de viajar, quando fazia o primário em Piritiba, praticamente não perdia uma chegada de trem na estação. Sempre estava atrasado e, enquanto esperava, ficava encantado só em olhar aquele ferroviário de farda no toc-toc do telégrafo.

Ficava invocado com aqueles sinais no dedo da mão. Quando o “bicho” apitava era só alegria. Ia mais para pegar as malas dos passageiros, ganhar uns trocados para comprar gudes e gibis. Assim virei carregador de malas.

É, meus amigos, mas, infelizmente, tudo acabou quando as companhias e o governo federal resolveram parar com os trens de passageiros. Todo patrimônio se transformou em destroços de ferros velhos. O tempo se encarregou de destruir as estações. Só restaram as saudades.

O sucateamento começou no Governo de Getúlio Vargas, no início dos anos 50, e prosseguiu com Juscelino Kubitscheck quando decidiram dar prioridade às rodovias e atender as demandas das montadoras de automóveis. É o Brasil com seus projetos tortos jogando nosso dinheiro no ralo.

Aqui na Bahia muitas linhas foram desativadas, como de Alcobaça a Nanuque, em Minas Gerais, de Salvador a Contendas do Sincorá, passando por Cachoeira e São Felix, de Salvador para Senhor do Bomfim e de lá para Urandi, sem falar a Nazaré-Jequié, construída em 1927.

O nome trem tem sua origem do francês “trainer”, de puxar ou arrastar; do latim trahere, train, conjunto de vagões, carruagens puxadas por vagões ou por animais. Em Portugal é câmbio.

O primeiro trem surgiu na Inglaterra, em 1804, como locomotiva e, nos Estados Unidos, em 1827, onde essas máquinas desbravaram o Oeste e chegaram a ser recebidas a bala pelos fazendeiros que reagiam ao progresso e não aceitavam cortar suas terras. Os filmes de faroeste contam muito dessa história.

No Brasil a primeira linha de 14, 5 quilômetros foi construída em 30 de abril de 1854 entre Porto de Mauá e Fragoso, no Rio de Janeiro, por iniciativa do empresário Irineu Evangelista de Souza, conhecido como Barão de Mauá. Historiadores também falam da ferrovia Mauá – Petrópolis ao Porto de Estrela, em 1952, na Baia de Guanabara, com o nome de Baroneza, autorizada por D. Pedro II.

O CONGRESSO NÃO TEM MORAL DE COBRAR REDUÇÃO DE GASTOS DO EXECUTIVO

É até hilário para não dizer demagógico. O Congresso Nacional, um dos mais caros do mundo, com emendas parlamentares e verbas de indenização astronômicas, rejeita o aumento do IOF – Imposto sobre Operações Financeiras dos ricos e cobra que o executivo reduza seus gastos. É o mesmo que tratar o brasileiro como um idiota e burro.

Qual a moral que tem o legislativo de cobrar do governo federal que reduza suas despesas? Até concordo que o executivo tem um elevado gasto com os programas sociais, principalmente com o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continua (o BPC) que somam quase 300 bilhões de reais por ano e neles existem fraudes e terminam beneficiando gente esperta que não vive em estado de pobreza.

Muitos desses bilhões poderiam ser carreados para reforçar a educação básica, de nível médio e superior que em médio prazo tiraria milhões da miséria. A educação é a única saída para que essas pessoas possam sair dessa dependência vergonhosa sem fim e viver dignamente com o suor do seu rosto, isto é, com o seu trabalho.

A educação de qualidade para todos é a melhor forma de distribuição de renda e redução das desigualdades sociais que atinge o Brasil de maneira cruel e impiedosa. Está comprovado que esses benefícios, como o Bolsa Família, por exemplo, que já duram mais de 30 anos, não fazem a pessoa sair da pobreza para galgar outra classe social na sociedade.

Fazer três refeições não quer dizer que a pessoa deixa de ser pobre. O que faz ela sair dessa condição miserável é o conhecimento e o saber através da educação. Com uma boa formação, o jovem terá mais condições de conquistar o mercado de trabalho, subir de classe social e não precisar de esmola do governo

Não sou contra a dar de comer para quem tem fome, mas esses programas têm que ter prazos de validade e alternativas de saída para que o brasileiro dependente se torne independente e os governos municipal, estadual e federal diminuam esses gastos criadores de enormes déficits fiscais, alimentadores da inflação, o maior imposto para o pobre.

Está tudo errado na política brasileira, mas não é o legislativo, a maioria constituída de seus membros malfeitores, que tem moral para exigir redução de gastos do executivo. Eles são os maiores gastadores, incluindo o Congresso, as assembleias e as câmaras de vereadores, sem falar que legislam de costas para o povo.

Esses parlamentares, com poucas exceções, são os sanguessugas da nação e compõem a oligarquia capitalista, a nata da elite, que historicamente sempre fizeram de tudo para impedir a distribuição de renda no país.

Eles falam dos gastos sociais que são elevados, mas também não querem maiores investimentos na educação. É com um povo ignorante que esse bando de safados (nem todos) se elege. Sempre tenho dito que o Congresso é o cancro do Brasil e é um poder de defesa dos ricos.





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