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“INFLUENCIADORES DIGITAIS”, OU MARGINAIS?

Cinco mil, dez mil, vinte mil, cinquenta mil, cem mil, um milhão, dez milhões, cinquenta milhões, cem milhões! Ufa, haja seguidores digitais que clicam em qualquer besteirol ou futilidades que aparecem na internet! É um negócio de louco! As pessoas perderam a noção de conteúdo e trocaram o imprestável por aquilo que dá sentido à sua vida.

Agora, com essa onda tecnológica surgiu, de uma hora para outra, a “profissão” de “influenciador digital” que, vez ou outra, está sendo preso por bandidagem e até mesmo como aliciadores de crianças e adolescentes.

Como você se deixa ser influenciado por alguém desconhecido do outro lado da internet, quando não se sabe quem é? Os internautas hoje clicam em tudo por impulso e compram qualquer coisa sem olhar a procedência. Pedem um aparelho qualquer e recebem uma caixa de capim.

Muitos desses “influenciadores” aparecem nas redes sociais ostentando grandeza e riqueza com pacotes de 100 reais, em carrões de luxo, mansões e até em barcos luxuosos, ensinando como ganhar dinheiro fácil em jogos de apostas, rifas e as tais das “pirâmides”.

Nesse mundo capitalista, o maior supremo é o deus dinheiro. “Seja como eu, apostei, ganhei e fiquei milionário”. Basta uma propaganda enganosa e chula desse tipo para atrair milhões de seguidores gananciosos na ânsia de ficarem ricos sem fazerem esforços e trabalhar duro com honestidade.

Quem cai nessa, também, de certa forma, está cometendo um crime de avareza. Antigamente existiam os vigaristas presenciais dos contos dos bilhetes premiados e outras trapaçarias que, com suas lábias e bem trajados, iludiam as pessoas mais ingênuas nas ruas. Eles ficavam em portas de bancos e pontos estratégicos das cidades para aplicarem seus golpes.

Depois de cair a ficha, como não adiantava chorar pelo leite derramado, a maioria, por vergonha, nem ia à delegacia dar uma queixa do safado, sem contar que o crime era de pouca monta e logo o cara estava solto para pegar outra presa desprevenida.  Naquela época, esses malandros não ganhavam muita grana. E geralmente eram pessoas de meia idade.

Com o avanço da tecnologia, o uso do celular e da computação, uma nova geração de jovens se sofisticou e passa o dia nos escritórios confortáveis de suas casas cruzando dados e informações para golpear quem está do outro lado. Eles conseguem entrar em sites da Justiça, partidos políticos, bancos e outras instituições e pegam a vítima desprevenida. O número de golpistas só aumenta e eles sempre estão na frente das “seguranças”.

Confesso que uma vez fui vítima desses marginais. Enquanto fazia um texto, como agora, um elemento ligou para o número do meu celular se passando como membro estadual, ou nacional do PSOL, não me lembro bem, dizendo que precisava atualizar o meu cadastro.

Fez comentários sobre a situação do partido, em Vitória da Conquista, e pediu que esperasse um pouco na linha. Fiquei escrevendo e, em questão de três minutos, o indivíduo fez uma limpeza geral em meu Zap, ou seja, roubou todos os meus contatos.

Do outro lado, existe um bando de “influenciadores digitais” que, com seus vídeos popularescos, visam seus milhões de “seguidores” que caem em seus papos. E um vai influenciando o outro.

Ora, no mundo presencial existe o ditado de que confie desconfiando. Isso serve para o estranho e o conhecido, muitas vezes “amigo”. Como a pessoa confia no outro virtual, principalmente agora com a tal inteligência artificial? Mistério da meia noite!

 

 

OS SANTOS E OS PECADORES

Interessante, quando eu era menino e meus pais eram católicos fervorosos, pensava em um dia ser santo. Quando fui crescendo, virei um tremendo pecador.

– Rapaz, acho que esse negócio de ser santo é tedioso, a pessoa fala baixo de voz mansa, reza muito e sempre está citando Jesus Cristo, Deus e Nossa Senhora. Vive meditando, com um terço na mão, e é muito sacrifício aturar esse mundo desumano. Prefiro o pecador, que solta raiva, briga e dá murro na mesa.

– Você é mesmo um herege, cara, nem tem religião, xinga, esbraveja e ainda tem dúvidas sobre a existência de Deus. É ateu ou agnóstico?

– Não seja por isso, já fui católico de assistir duas missas por dia. Hoje não quero saber de religião nenhuma, mas respeito quem tem, só não suporto o fanatismo doentio. Tem gente aí que diz ser católico só de nome. Tem até “santo de pau-oco” onde o sujeito aproveita para esconder os bagulhos ilícitos. Concordo com Marx quando disse que religião é “ópio do povo”.

– No Brasil, futebol, circo e carnaval, shows musicais de quinta categoria e o consumismo desvairado também são ópios do povo, mas o assunto aqui é “Santos e Pecadores”.

– Caramba, não sei que “cargas d´água” você veio com esta discussão, parece que está leso! Deve ser a idade! Quer saber, acho que santo nunca fez sexo. Nesse caso, sexo é pecado?

– Santa ignorância! “Vamos devagar com o andor que o santo é de barro”! Fazer sexo pode, mas tem que ser dentro dos preceitos da Santa Madre Igreja Católica, Apostólica Romana. Sabe que existem santos que foram casados e alguns fizeram votos celibatários?

– Ah, sim, entendi, beijinho, beijinho, papai e mamãe. Tô fora dessa, estou mais para bacanais, orgias e surubas. Sei que você também não está nessa.

– Não passa de um pervertido. Fosse naquele tempo seria excomungado ou queimado na fogueira da inquisição. Fique sabendo que a Igreja tem santos que foram casados, como os apóstolos, os pais e os avós de Jesus, São Luis IX e sua esposa, Santo Henrique e Santa Cunegundes, Thomas More, ministro inglês, santa Zélia Martin e os pais de santa Teresinha de Lisieux.

– Vejo que é um sabichão em termos de santos. Tô até ficando interessado. Manda mais, pelo menos não saio daqui tão entediado, porque essa vida tá ficando é “chata pra dodói”. Tem uns por aí que fazem doações e querem logo se aparecer na mídia. Deve ser dor de consciência. Sabe daquele ditado de que “quando a esmola é demais até o santo desconfia”?

-Então, vamos lá. Segundo fontes, a Igreja Católica tem mais de 20 mil santos e beatos. No Brasil, o mais famoso e popular é santo Antônio casamenteiro. O primeiro foi santo Estevão, mártir em testemunha da fé, entre 31 e 36 d. C. Foi morto apedrejado. O último é brasileiro, chamado Carlo Acutis (19 de outubro de 2025) que usava a internet para evangelizar. Existem mais de 1.100 Nossas Senhoras diferentes, Tem até do Ó, ou do Nó, sei lá.

Sabe que o Brasil, com 37 santos, nascidos ou que viveram aqui, é o país com o maior número de santos, seguido dos Estados Unidos e México? O primeiro santo canonizado genuinamente brasileiro foi ou é, frei Galvão, em 2007. Santa Dulce é a nossa baiana e vem mais um aí, Maria Milza do sertão.

Quer mais?  Dizem que existem santos que foram homossexuais. Pelo sinal da cruz, se a Igreja fica sabendo disso! Pois é, eles são associados à comunidade LGBTQUIA +. São eles São Sebastião e os santos Sérgio e Baco. Contam que estes últimos formavam um casal.

A Igreja Católica não reconhece oficialmente a santidade de pessoas de outras religiões. No candomblé e na umbanda, a fusão do catolicismo com as crenças afros resultou no sincretismo, como, por exemplo, Xangó representa São Jerônimo e São João Batista.

No entanto, o conceito de “santo”, com seus ritos e significados diferentes, onde figuras são veneradas, existe no budismo (tulkas), no islamismo (Wali) e no xintoísmo (Kami).

– Santa sabedoria! Vai saber de santo no raio que o parta! Fiquei aqui a matutar umas coisas. O Brasil tem o maior número de santos, mas, ao lado disso, é campeão na corrupção, na trapaçaria e nas ações golpistas de bandidos. O país tem mais de 20 mil santos e bilhões no planeta são de pecadores, sem considerar que outros milhões são de gentes ruins e cruéis tiranas. Ah, lembrei dos deuses da Suméria, há mais de 10 mil anos.

Sabe de outra, todo esse papo de santos e pecadores está chato por demais! Vamos pular para outra conversa porque está deixando minha cabeça confusa e sempre fui um cético com relação à religião que, por causa dela, já sacrificou e exterminou milhões de humanos.

 

FATOS CURIOSOS DO NORDESTE II

OS CANGACEIROS SE ENTREGARAM

Depois do assassinato de Lampião, em 1938, um grande grupo de cangaceiros entregou as armas. Em 19 de setembro de 38, Pancada, sua mulher Maria Juvenina e outros cinco bandoleiros, Vila Nova, Santa Cruz, Cobra Verde, Vinte e Cinco e Peitica se entregaram à policia de Alagoas e Sergipe. No começo de 1939 foi a vez de Francelino José Nunes, o Português, sua mulher Quitéria, Velocidade, Pedra Roxa e Barra de Aço.

ORAÇÕES

De acordo com os pesquisadores Ilda Ribeiro de Souza e Israel Araújo Orrico, os sertanejos e cangaceiros faziam dezenas de orações, como a oração preciosa, oração de São Jorge, oração do Anjo Custódio, oração das Doze Palavras Ditas e Retornadas, oração Reservada, oração de Santa Catarina, oração Poderosa, o Creio em Cruz, a Força do Credo, o Credo às Avessas, a oração do Sonho de Santa Helena, oração de São Silvestre, de São Bento, oração das 34 Almas, das Nove Almas, do Salvador do Mundo, de Santo Agostinho, a oração de Nosso Senhor Jesus Cristo e tantas outras. Em sua algibeira, Lampião levava consigo rosários e orações de São Gabriel, de São Jorge e de São Pedro. Também carregava o livro “A Vida de Jesus”.

NO PIAUÍ

Segundo historiadores, ainda que seja mais difícil encontrar indícios de cangaceirismo no Piauí, houve casos de banditismo rural naquele estado. O chefe de polícia do Ceará recebia ordens do presidente da província para que suas tropas de Ipu e São João do Príncipe mantivessem ligações constantes com autoridades policiais no Piauí, para saber a direção tomada pelos bandidos que atravessavam a divisa.

O SEBASTIANISMO

O Rei de Portugal, D. Sebastião (século XVI) estava convencido de que teria que intervir na sucessão dos governantes da África. Sem apoio popular, resolveu invadir Marrocos. Ele desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Desde, então, criou-se uma lenda de que algum dia ele retornaria. Essa história atravessou o Atlântico e chegou até o sertão nordestino, cujo povo via em D. Sebastião uma figura divina que voltaria para salvar a todos e trazer justiça para os pobres.

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Silvestre José dos Santos, chamado de Profeta, tornou-se um peregrino asceta, viajando por Alagoas e Pernambuco até se radicar, em 1817, na Serra do Rodeador. Ali criou o vilarejo denominado Paraíso Terrestre, com 400 moradores. Ele acreditava que havia uma cruz dentro de uma rocha e que de lá sairia D. Sebastião e seus soldados. Se o povo da vila fosse atacado, o rei português o tornaria invisível. Mesmo assim, a comunidade andava armada. Em outubro de 1820 foram atacados e destruídos por ordens do presidente da província de Pernambuco. O “profeta” fugiu.

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Sebastianista convicto, o beato João Ferreira, líder da comunidade de Pedra Bonita, Pernambuco, acreditava que D. Sebastião retornaria se fossem realizados sacrifícios humanos. O episódio do Reino Encantado de Vila Bela, em 1830, representou o sacrifício de dezenas de pessoas, que foram decapitadas ou esmagadas contra as pedras. O povo acreditava que os mulatos e negros seriam transformados em brancos, e os pobres em ricos. Os fanáticos cantavam hinos religiosos e conclamavam o retorno do seu rei.

LUNÁRIO PERPÉTUO

A primeira edição do Lunário Perpétuo, publicado em Portugal é de 1703. Tinha como título O non plus ultra do lunário e prognóstico perpétuo geral e particular para todos os reinos e províncias, composto por Jerônimo Cortez. Valenciano fez emendas conforme o expurgatório da Santa Inquisição, e traduziu em português. A edição de 1921, conforme Câmara Cascudo, tinha 350 páginas e incluía astrologia, mitologia, horoscopo, receitas, calendários, biografias de santos e de papas, temas da agricultura, ensinamentos de como construir um relógio de sol, formas de aprender como ver as horas pelas estrelas, veterinária e outros temas. Era o livro mais popular do sertão.

VÍTIMAS DAS SECAS

Sem contar a terrível seca de 1877/78, a pior de todas, que levou levas de famintos para Fortaleza (Ceará), houve muitas outras que provocaram saques e violências. Ocorreu o episódio do ataque do cangaceiro romântico Jesuíno Brilhante contra o carregamento de alimentos do governo, para distribuí-los às vítimas da seca de 1877, mas essa não era uma regra geral a partir do período lampiônico.  Aconteceram vários casos de flagelados e saques no Nordeste entre 1979 e 1982. Em abril de 79, cinquenta mil flagelados no Ceará fizeram o governo decretar emergência. Na ocasião, 300 flagelados invadiram a cidade de Mombaça, no Rio Grande do Norte, 100 invadiram São José da Penha, em abril de 1980. Ocorreram saques às feiras e comércio de Garrotes, Itapuranga e Itaperoá, na Paraíba, enquanto 1.600 flagelados  se reuniram nas ruas de Irauçuba, Ceará, para pedir trabalho e comida.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            PENICO FLORAL DE LOUÇA AZUL

O historiador José Anderson Nascimento narra a entrada de Lampião em uma fazenda, em 1927, onde havia um penico de louça azul e branco, com decoração floral, em cujo fundo se lia Made in England. Na casa encontrou ainda anéis, brincos, pulseiras, escravas de ouro, gargantilhas, broche de platina e brilhantes, um barrete de diamantes, um rico colar de esmeraldas e outras joias caras, um lenço de seda chinesa, 15 libras esterlinas e dois relógios de bolso da marca Parek.

Do livro “OS CANGACEIROS”, do historiador Luiz Bernardo Pericás.

AUDIÊNCIA EM DEFESA DOS ANIMAIS

Com as presenças dos deputados José Raimundo (estadual) e Waldenor Pereira (federal), a Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista realizou nesta sexta-feira (dia 24/10) uma audiência pública sobre a proteção dos animais e fez o lançamento do programa de castração e vacinação.

A audiência foi requerida pela vereadora Gabriela Garrido e contou com a participação de ativistas em defesa da causa animal, professores e servidores da Universidade Federal da Bahia, em Conquista, veterinários, donos de clínicas, técnicos e criadores.

Em sua fala, o parlamentar Andreson saudou todos os protetores dos animais, em especial o ativista Vitor Quadros, de Barra do Choça, e os deputados presentes. Na ocasião, destacou que neste quesito, o município de Guanambi está mais avançado que Conquista, com leis já aprovadas.

Como outros vereadores e especialistas no assunto que usaram da palavra, Anderson sugeriu que o poder executivo crie o Conselho do Bem-Estar Animal e um fundo de recursos visando a melhoria no atendimento à população animal. Outra reivindicação do vereador é que a Clínica Animal do município seja também aberta nos finais de semana.

Quem também usou da tribuna foi o vereador Ricardo Babão que propôs a criação de uma comissão na Câmara de Vereadores voltada para esta questão animal. A vereadora Garrido acrescentou que este assunto já está sendo discutido. Babão ainda fez um apelo à iniciativa privada no sentido de apoiar esta causa.

O deputado estadual José Raimundo falou da necessidade de proteção dos animais, principalmente os de rua e citou a emenda do seu colega Waldenor no valor de um milhão de reais destinado ao programa de castração e vacinação. Essa verba está sendo direcionada ao departamento da UFBA de Vitória da Conquista.

José Raimundo alertou que as atividades humanas estão modificando o planeta. “Se o homem agride a natureza, ela também responde com agressão”. Em sua opinião o tratamento aos animais é também uma questão de saúde pública.

A vereadora Lara informou que no ano passado a Clínica Animal de Conquista chegou a castrar mais de quatro mil animais e sugeriu que os recursos das emendas parlamentares fossem direcionados para o município e não para a Universidade Federal.

A parlamentar Márcia Viviane elogiou a emenda do deputado federal Waldenor e defendeu que o recurso fique para a UFBA que terá maiores condições de formular um programa de castração e vacinação. Enfatizou ser uma quantia pequena os 2,7 milhões do orçamento do município para a proteção animal.

O deputado federal Waldenor Pereira saudou todos os presentes na mesa, em especial a vereadora Gabriela Garrido que teve a iniciativa de levar este assunto em público. Na oportunidade, o deputado citou pesquisa feita pelo Ministério do Meio Ambiente onde se constatou que 53% dos lares brasileiros existem animais, sendo 48% de cães e 21% de gatos.

Com base nesses dados, o município de Conquista, com cerca de 400 mil habitantes, teria mais de 40 mil cães e gatos, sendo que 40% se encontram nas ruas, ou seja, 16 mil.

PACOTES DA VIDA

(Chico Ribeiro Neto)

Antes de nascer, a gente já é empacotado na bolsa amniótica e vai lidar com embalagens durante toda a vida.

Acho que foi minha primeira ideia de infinito: no rótulo da lata de aveia  havia uma mulher segurando uma lata daquela aveia, em cujo rótulo tinha uma mulher segurando uma lata…e por aí ia minha imaginação.

Quem compra um sanduíche ganha uma coroa. A criança pega a coroa e larga o sanduíche. Hoje o pessoal embala até carro zero, que vem coberto por um laço vermelho.

Muitas lojas hoje não embrulham pra presente. Algumas dão o papel pra você embrulhar em casa. Outras, nem isso. Quem viveu nas décadas de 70/80 lembra das lojas Mesbla e Sandiz. Tinham um balcão especial de embaladores. As vitrines de Natal eram fantásticas e a Prefeitura de Salvador promovia um Concurso de Vitrines.

Uma vez, a Mesbla da Avenida Sete, em Salvador, colocou uma mulher de maiô na vitrine. Era uma multidão, a maioria homens, apinhada diante da vitrine. Uns dizendo leros e outros fazendo sinais com as mãos diante da acuada manequim viva.

A história das embalagens revela que há 10 mil anos se usava cascas de coco, conchas e folhas de árvores para guardar e transportar alimentos. Muitos séculos depois viriam os barris de madeira, os barros para potes e

cestos de fibras vegetais. Com a revolução industrial, vieram a folha de flandres (para latas) e o papel em escala industrial.

Na feira de Ipiaú cada um levava sua cesta ou então pagava um carrinho guiado por meninos.

 

Nas décadas de 50/60 a carne do açougue era embrulhada em jornal. As compras no armazém eram enroladas naquele papel grosso, cinza, e passavam o barbante. Meu pai Waldemar tinha a Padaria Minerva, em Ipiaú, e convocava meu irmão Luiz, toda sexta à noite, para fazer os pacotes de 250 gramas de feijão, arroz, café e açúcar, porque sábado era dia de feira. Antigamente, se vendia meio quilo ou duzentos-e-cinquenta de vários produtos. Isso devia voltar. Quem mora sozinho não precisa comprar, por exemplo, um quilo de sal nem de açúcar.

A embalagem com papel bolha é boa pra pocar as bolhas, uma por uma. Ninguém resiste. A caixa de sapatos era um trambolho, mas mamãe Cleonice usava pra guardar as bolas da árvore de Natal.

Depois que morre, a gente é empacotado.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

UM ACERVO ARTÍSTICO CULTURAL E SUA HISTÓRIA DE LUTA PELA PRESERVAÇÃO

Há mais de 30 anos, desde quando aqui cheguei em Vitória da Conquista, venho construindo, aos poucos, um acervo cultural que hoje contém cerca de sete mil itens entre livros, artesanatos, vinis, revistas em geral, recortes de jornais antigos, CDs. DVDs, quadros fotográficos autorais, outros objetos de valor e uma coleção em torno de 200 chapéus.

No decorrer deste tempo, o acervo passou a se chamar de Espaço Cultural a Estrada e já sofreu quatro mudanças, sendo a última do Bairro Felícia para o loteamento Sobradinho (Zabelê). Entre essas mudanças perdi alguns materiais, mas, os mais valorosos ficaram em minhas lembranças que foram umas gramáticas e dicionários raros de latim e grego.

Em todas as mudanças é sempre normal que alguma coisa se quebre pelo caminho. Este acervo foi crescendo e tomando dimensões que nem eu mesmo esperava e, consequentemente, os problemas foram aumentando no sentido da responsabilidade pela sua preservação para que fique para outras gerações.

A última mudança foi realizada com muito sacrifício e luta. No entanto, o mais grave estava por vir e confesso ter ficado muito abalado porque ele já faz parte da minha vida, como se fosse um filho, e de tantas outras pessoas amigas frequentadoras deste espaço através do Sarau A Estrada, que completou quinze anos de existência.

Em razão de um telhado mal feito, sem o devido caimento, por um “mestre de obra” de nome Luciano Gomes, as águas da chuva do último domingo (dia 19/10/2025) e as outras que vieram em sequência na segunda-feira penetraram entre as telhas como cachoeiras. A cena era de total alagamento.

O desespero não poderia ter sido maior e imaginei naquele momento que tudo estaria perdido, mas não existia outra opção a não ser lutar até o fim para salvar o nosso acervo que, há muitos anos, não mais pertence a mim. É como uma obra de arte que se torna pública e de pertencimento coletivo. É um acervo de todos nós.

Foi nessa hora de agonia que eu e minha esposa juntamos forças e coragem para arrastarmos com rodo, baldes e outros utensílios as águas que não paravam de cair. Tudo estava prestes a alagar, mas conseguimos conter e evitar que tudo fosse por “água abaixo”. As nossas lentes registraram a situação.

Nos momentos de maior perigo, nossas forças humanas de preservação duplicam e triplicam. Se lá atrás, em maio, sua mudança foi complicada, o inesperado superou e, depois do cansaço, bateu o dilema da reconstrução da parte física para asseguráramos a integridade deste patrimônio cultural.

Foi aí que entrou o grupo de estradeiros do Sarau a Estrada que nos deu ânimo e nos encheu de esperanças para recomeçarmos. Antecipadamente, agradecemos a todos que, de forma voluntária e espontânea, estão chegando juntos através de suas contribuições.

Nossa gratidão é também extensiva aos que não puderam contribuir financeiramente, mas expressaram seus sentimentos com relação ao ocorrido e se uniram a todos nós com suas palavras de esperança de nunca desistir.

Este acervo tem outras histórias de lutas e união, bem como de resistência em defesa da nossa cultura que, infelizmente, foi abandonada nos últimos anos em Conquista. É um espaço onde tem o pedaço de cada um, sem nenhuma ajuda do poder público.

É aqui que debatemos diversos assuntos, trocamos conhecimento e saber, fazemos nossas cantorias, declamamos nossos poemas, contamos nossos causos, soltamos nossas vozes e nos confraternizamos. Tornou-se um espaço de visitação de jovens estudantes e estamos com o propósito de levarmos o sarau até às ruas, ou ao povo.

 

MEU NORDESTE

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Meu Nordeste,

Do Sertão, Carrasco Agreste,

Da Mata e do Brejo Cerrado,

Do misticismo religioso,

Vindo das caravelas do Rio Tejo,

Abençoai-nos, oh todo Poderoso!

 

Meu Nordeste,

Dos engaços espinhentos,

Até na florada do mandacaru,

Meu Nordeste

Do Juazeiro e do fruto do Umbu!

 

Quero cravar minhas mãos nesta terra,

Molhada pelas chuvas do trovão;

Quero liberdade, justiça e pão;

Quero ler todos escritores,

Ao Graciliano Maior;

Ouvir Caetano, Gil, Zé e Vandré

Até chegar a Belchior.

 

Meu Nordeste,

Nação de guerreiros,

Com seus litorais poéticos,

Cheiro encourado dos bravos vaqueiros,

Do couro dos partos nos quartos,

Contraste que se faz harmonia,

Na louvação dos céticos,

Onde tudo exala poesia.

 

Do meu Nordeste,

Livrai-nos, Senhor dessa canga,

Que deixa nosso povo na tanga!

TUDO DE NOVO NA “RODA-VIVA” DA VIDA

– É, meu camarada, parece que foi ontem que festejamos o tradicional réveillon ou Ano-Novo e já estamos no final do ano. Lá se foram a muvuca louca do carnaval, o Dia das Mães, dos Namorados, Semana Santa, o São João não mais autêntico, todo misturado e melado, Dia dos Pais e os feriadões. Ah, e suas metas programadas estão sendo cumpridas?

– Pois é, meu amigo, e a gente aqui dando uma de bobeira levando a vida como ela é, nos roendo aos poucos com nossas quizilas e tomando umas para passar o tempo, jogando conversa fora. Esqueceu de falar do Campeonato Brasileiro e da Copa Brasil onde o torcedor fica doido e fanático ao ponto de matar o outro dentro e fora dos estádios. Quanto aos planos e mudanças, vou por aí fuçando o focinho pela terra.

– Estamos entrando novamente no “cio” do consumo desenfreado dos presentes, da mídia que fica nos instigando a comprar mais e mais, do Feliz Natal e Ano-Novo. E assim caminha a humanidade. Logo mais vamos ouvir aquela frase costumeira nos shoppings: “já comprou o seu?  Respondeu o camarada, que até chamou os outros   para um brinde antecipado. “ Do jeito que o bicho está pegando, a gente não sabe mesmo o que pode acontecer até lá. O negócio é comemorar logo”.

– Vocês estão aí nesse papo cavernoso fútil, enquanto o mundo pega fogo; massacre genocida na Palestina; Trump nazista jogando bombas na América Latina; nêgo misturando metanol em destilado; e o Congresso Nacional comendo nosso fígado – falou o outro companheiro ao lado, mais preocupado com essa situação de território arrasado.

– O negócio é não pensar muito, cara, senão você enlouquece. como disse, a vida é uma “Roda-Viva”. Não esquenta a cabeça. Faça do limão uma limonada, como se fala por aí. Viva sua vida de cada dia, sem filosofar seus mistérios. Daqui a pouco vai precisar de um psiquiatra maluco – tentou acalmar o camarada.

Como disse o cancioneiro compositor nordestino, Alceu Valença, são as emboladas do tempo que, segundo ele, não tem início e nem fim. O tempo não para, canta Cazuza. Aliás, o tempo nem está aí para os poetas, vai seguindo sua estrada, como um vulto ou uma sombra de nós mesmos.

O capitalismo não dá folga ao tempo e nem entra de férias. Nós somos suas presas prediletas em suas teias de aranha. Ele é insaciável e nunca se farta. A esta altura já tem lojista enfeitando seus estabelecimentos com adereços natalícios.

– Por falar em tempo e o escambau, os golpistas também estão em plantão direto. O crime está mais organizado que o Estado, que agora saiu com essa de aumentar as penas para os bandidos quadrilheiros mafiosos do PCC e outros grupos. A esta hora devem estar dando gargalhadas, tomando uísque em suas piscinas “cheia de ratos” – disse o camarada da “Roda-Viva”.

Sem deixar escapar a pegada do papo descontraído, o companheiro saiu com essa de que esse Natal e Final de Ano vão ser sem destilados nas mesas. As cervejarias e os vinicultores agradecem. Ah, cada família (só os endinheirados) vai contratar um provador de comida, para ver se não está envenenada ou contaminada. Vá acreditar em industrializados! Podem estar batizados.

– E quanto as cestas básicas aos pobres do “Natal sem Fome” que já está chegando, com aquelas campanhas nas televisões, acompanhadas do “hô, hô, hô” do Papai Noel, dando presentes às criancinhas? Aliás, existem dois tipos ou mais de “Papais Noéis”, os das lojas chiques e os das periferias. Até as risadas são diferentes, senão quebra o clima da desigualdade social.

– Você está é ficando velho demais. Até virou pensador com essa de “Roda Viva da Vida”, do tempo que corre mais rápido e outras tiradas filosóficas! Deve ter visto muita criança nascer que se tornou marmanjo ou marmanja de netos! Vamos no popular do humorista Chico Anísio! Ah que saudades dele! Lembra daquela: Pobre que se exploda?

O DUELO ENTRE O BEM E O MAL

Sempre se tem dito que o bem vence o mal. Será que na conjuntura atual da humanidade está sendo assim, ou o bem está sendo colocado no arrasta chinelo? Pelo menos nos noticiários do dia a dia estamos vendo o mal acelerar na dianteira da vida.

Creio ser um assunto polêmico, e muita gente prefere não fazer essa associação dialética ou filosófica entre o que seja o bem e o mal. As visões e as análises são diferentes, bem como os conceitos e impressões.

Quando procuro a face do bem, no sentido do que é ético, honesto, sincero, do não fazer maldades para os outros, não roubar, não trapacear, enganar, cometer corrupções e os pecados capitais, a vejo escassear nas multidões perdidas e desiludidas, sobretudo entre os jovens.

Eles (bem e mal) andam lado a lado desde os primórdios do ser humano. Será que a partir do princípio, o mal prosperou desde quando foi criada a pior espécie animal, que é a humana? Tem gente por aí até envergonhada de pertencer a esta raça.

Vivemos nesse dilema, ou nesse duelo existencial. Em minha concepção, o mal está nos engolindo, nos tragando e nos arrastando para o precipício, para não falarmos em abismo.

Em se tratando do bem, o que ouvimos hoje é que não se deve mais confiar em ninguém. Vivemos numa sociedade dos golpes, do vendedor e do prestador de serviços que tudo faz para lhe esconder o defeito do produto ou da sua obra.

Nos cursos sobre mercado e empreendedorismo sempre se houve do palestrante que nunca se deve enganar o cliente, mas, infelizmente, faz-se o contrário. Até há poucos tempos, e não estou me referindo há cem anos, as pessoas eram mais corretas, mesmo sem essa evolução da “aprendizagem moderna”.

No macro, no caso específico do nosso Brasil, o que temos atualmente é um Estado paralelo da criminalidade, do ponto de vista das organizações criminosas de um modo geral, bem mais forte e na frente da ordem policialesca dos governos.

Nos três poderes, ou nas três castas, impera a corrupção, que sempre fica impune, por mais que se investigue ou se tenha provas contundentes. Todas são diluídas pelas brechas das leis dos mais fortes. Esta corrupção não está apenas no alto da pirâmide, ou no planalto, ela se espalhou pela planície inteira.

É a partir desta minha leitura, talvez pessimista e derrotista, que enxergo que o mal está levando a melhor nesse duelo de forças. A situação se deteriorou tanto que hoje o errado se tornou certo, o anormal em normal, o amoral em legal, o incomum em comum e vamos levando a vida resignadamente, sem colocar nossa indignação em campo.

Se formos olhar para o mundo, no âmbito global dos países, dos mandatários poderosos e até nos de menor poder, o que observamos é o pêndulo da balança visivelmente a favor do mal.

Nessa questão, estou me referindo ao retrocesso das ideias, como se estivéssemos revisitando os tempos medievais. É a força do mal superando o bem? O consolo é que grandes escritores e intelectuais do passado nos ensinaram que vamos ter um mundo melhor.

No entanto, avançamos nas inovações tecnológicas e demos vários passos atrás no quesito humanismo, ou seja, temos hoje uma humanidade mais desumana. Prefiro não avançar mais nessas minhas lucubrações entre o bem e o mal, para não dar mais crédito ao último.

SARAU VAI À RUA PARA DEFENDER A REVITALIZAÇÃO DA NOSSA CULTURA

Sem discurso político partidário, o Sarau A Estrada vai à rua com sua pauta de reivindicações para defender uma política cultural para os artistas de Vitória da Conquista. Nossa manifestação é para o povo para que o poder executivo atenda as nossas demandas já que os documentos da classe têm sido engavetados sem resposta.

A nossa luta agora será na rua ao lado da comunidade. Essa posição foi tomada pelo sarau realizado no último sábado (dia 18/10) onde a assembleia reunida aprovou sua programação e a decisão de que o foco das discussões será direcionado para a questão específica da cultura visando beneficiar todas as linguagens artísticas.

Os trabalhos foram abertos por Dal Farias e Viviane Gama nos trazendo a formação das comissões e suas devidas atribuições. Vários estradeiros usaram da palavra para colocar suas posições de políticas culturais. Além da abertura dos equipamentos culturais, como Teatro Carlos Jheovah, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha, queremos a construção do Plano Municipal de Cultura com a participação de todos artistas e políticas públicas que também cheguem ao povo. Na rua vamos levar a nossa pauta de reivindicações.

Logo depois entrou o violeiro Vanberto que nos brindou com seu vasto repertório da música popular brasileira, sem contar a apresentação da parceria entre Manno Di Souza e Marta Moreno. Tivemos ainda uma linda canção autoral no estilo capela, cantada pelo poeta Aurelício.

As cantorias foram intercaladas com a declamação de poemas autorais de poetas e poetisas. No final houve os parabéns aos aniversariantes do mês de setembro num clima de confraternização como sempre ocorreu em nossas noites de saraus durante esses quinze anos.

Foi mais uma noite de debates e opiniões em torno da cultura conquistense que é o nosso alvo, mesmo porque o Sarau, como o próprio nome já diz, é um espaço fazedor de arte onde todos têm a oportunidade de expressar seus talentos artísticos e discutir ideias, conhecimento e saber, e não um partido político, um sindicato ou uma instituição partidária, tanto que aqui é um lugar de convivência de diversas ideologias.

Desde a sua fundação, há 15 anos, temos esse princípio básico, essa linha de nos ater à política cultural que é o papel de qualquer sarau, desde suas origens, um ambiente para festejar a cultura através de debates sobre variados temas, cantorias, declamação de poemas, contação de causos e a troca de conhecimento. Fora disso o sarau perde seu sentido e sua essência de ser.

Como base nesse princípio, foi isso que aconteceu no sarau do dia 18/10, realizado no Espaço Cultural A Estrada, num ambiente de amizade, de festa, de cordialidade e de magia fraternal. Se mudarmos esse caminho, vamos sim, perder o rumo e o sarau termina se acabando. Vamos mudar para acabar, ou vamos preservar sua tradição para que ele continue a viver e a prosperar?

Ao longo desse período nos evoluímos sem perder o seu alicerce. Estamos abrindo as portas para os jovens estudantes, com visitas ao Espaço Cultural, para um bate-papo sobre cultura, arte, conhecimento e saber. Agora vamos levar o nosso sarau até a rua e nos juntar ao povo, tão carente de cultura.

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