abril 2025
D S T Q Q S S
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
27282930  


ALI PASSAVA UM RIO

(Chico Ribeiro Neto)

Ali passava um rio. Lembro como hoje. Carregado de aventuras, trazendo na enchente bois aflitos, melancias e árvores; e pedaços de barrancos se desmanchando igual sorvete.

Ali passa um rio. Leva lenços e saudades, amor e amizades, a lembrança dos que foram.

A garrafa com farinha no fundo do Rio de Contas, em Ipiaú (BA), para pegar piabas. Meu irmão Cleomar engoliu duas, vivas inteirinhas, para aprender a nadar.

Há alguns anos, no Rio do Antônio, em Caculé (BA), o dono de uma carroça, com água no tornozelo, retirava areia do leito do rio com uma pá. Apontei a máquina fotográfica e ele ainda fez pose.

Ali passa um rio pela memória, com lavadeiras, sorrindo e xingando,  batendo o lençol na pedra para alvejar. Tudo acontecia ali, na beira do rio.

Hoje, as pessoas andam pelo leito seco e lembram: “Foi ali, perto daquela pedra, que eu quase me afoguei um dia”.

Onde só vejo garranchos e pedras ali passava um rio. Hoje, um triste córrego. No fundo de cada roça uma bomba de puxar água suga o que resta. E depois se queixam da seca e o prefeito pede decretação do estado de emergência.

De noite, namorar na beira do rio ou no fundo da igreja. O fundo era o preferido, pois lá Deus enxergava menos.

Ali passava um rio (acho que foi em Alagoinhas), onde o pessoal amarrou a garrafa de cachaça numa raiz que entrava no rio. E misturava com caju. A pinga estava sempre gelada.

Ali passava um rio. Só ver a água descendo já acalmava.

Ali passava um rio. Foi ali que morei. Ali passou uma vida.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

LINHAS DAS MÃOS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

As linhas das mãos,

Como diz o poeta:

São correntes digitais,

Ou cordéis em varais,

Fileiras de poesias,

Xilogravuras de fantasias.

 

As linhas das mãos,

Como a íris da visão,

São linhas diferentes,

Riscos das nossas mentes,

Com início, meio e fim,

Enigmáticas assim.

 

Tem as linhas,

Do sertanejo nordestino,

Queimadas pelo sol,

Calosas e grossas,

Cada qual com seu destino,

As do doutor são finas,

E as delicadas femininas.

 

Olho as linhas das minhas mãos,

Veja as suas como estão,

São cicatrizes do tempo,

Nos traços e espaços,

Lembranças de amor e dor,

De um passado que não passou,

Que nem o vento levou.

 

As linhas das minhas mãos,

Colheram o que plantaram;

Tiveram amigos e inimigos,

Amaram e odiaram,

E lágrimas enxugaram.

 

Depois de tantas andanças,

Feitas de fé e esperanças,

Por este mundão do meu Deus,

Entre nobres e plebeus,

Olho as linhas das minhas mãos,

E não entendo o que elas são.

 

Lembro que uma cigana,

Vinda lá da Toscana,

Leu as linhas das minhas mãos,

Previu coisas do meu destino,

Desde quando mirrado menino,

Que teria longa existência,

Mas não conseguiu ver,

Se a minha finitude

Seria repentina ou de sofrer.

 

 

 

 

 

.

O PRECONCEITO CONTRA OS “FORASTEIROS”

Não sei porque “cargas d´água” sempre confundi forasteiro com faroeste dos filmes bang-bang norte-americanos. Quando entrava um cavaleiro ou cauboy desconhecido numa cidadezinha daquelas de cenário bucólico, todos saiam nas janelas e nas portas para olhar o sujeito, e cada um fazia suas conjecturas sobre quem era, donde vinha, o que queria, se seria de paz ou mais um justiceiro pistoleiro.

Numa coisa existe relação. Quando chega alguém de outro lugar para trabalhar, colaborar, progredir, participar das atividades e começa a expressar suas opiniões e críticas visando melhorias, alguém da terra, com sua raiz preconceituosa, logo parte de lá chamando a pessoa de “forasteiro”, sem direito, e tenta excluí-lo do convívio da comunidade, muitas vezes até com ameaças de expulsão.

Interessante notar que muitos nativos nascidos no município não dão tanto valor à sua terra legítima quanto a grande maioria dos chamados “forasteiros”. Tenho observado que filhos adotivos de Conquista conhecem mais da sua história, de seus costumes, origens e hábitos do que certos conquistenses que discriminam os ditos “forasteiros. Infelizmente, isso também acontece em outras cidades.

Ao tratar dessa questão “forasteiro”, o nosso mestre professor Durval Menezes nos deu uma lição sobre o termo e lembrou de um deslize cometido pelo ex-prefeito e ex-deputado Edvaldo Flores nos anos 80, se não me engano. Como candidato ao executivo ele usou, de forma infeliz, uma frase que quase lhe tirou sua vitória.

Num comício chegou a dizer que não precisava dos votos dos “forasteiros” para ganhar as eleições, numa época em que já existiam muitos nordestinos e de outros estados brasileiros na cidade. O líder Gerson Salles, então, pediu desculpas aos “forasteiros” pelas palavras pronunciadas por Edvaldo.

Eu mesmo confesso que fui vítima desse preconceito de ser “forasteiro” quando de Salvador, como jornalista, vim para Vitória da Conquista assumir a chefia da Sucursal do jornal A Tarde. Ora, dentro da nossa profissão, um dos papeis principais é criticar e denunciar as coisas erradas dos prefeitos e das lideranças dos variados segmentos da sociedade.

Por este comportando, sempre atentando para a ética, seriedade e honestidade, fui por muitas vezes xingado e chamado de “forasteiro”, que deveria ser expulso por estar, na visão dessas pessoas, manchando a imagem da cidade. Tentaram até fazer um abaixo-assinado para me tirar daqui, sem contar as ameaças. Sempre enfrentei tudo isso de cabeça erguida, cônscio do que estava fazendo.

Enfrentei o preconceito, e a ação equivocada dessa gente me fortaleceu mais ainda a prosseguir em minha caminhada e em meu trabalho. As reações fizeram eu gostar mais ainda de Vitória da Conquista e a prestar a ela meus serviços no sentido de somar e não desagregar.

Não vou aqui expor os meus feitos porque estes devem ser julgados pelos outros, se foram de grande valia ou não para o desenvolvimento e o progresso social, político, cultural e econômico da cidade. Cabe à sociedade fazer essa avaliação, sabendo que nunca vai haver unanimidade, o que é normal, porque não tem como agradar a todos.

Só sei que me considero um conquistense (tive a honra de receber o título de cidadão e outros prêmios), mas nunca vou deixar de expor meus pontos de vista contra ou a favor quando for necessário. Em minha vida, passei por outros lugares e sempre procurei deixar minha modesta contribuição.

Como disse o nosso professor Durval, a base da economia de Conquista foi e é formada por “forasteiros”, ou migrantes, como da comunidade de São Miguel das Matas, retratada em sua obra “A República dos Miguelenses”, e de tantos outros que aqui chegaram. Quem vem morar aqui quer mais é trabalhar e produzir, gerando mais empregos, qualidade de vida e bem-estar social.

Não somente na área do comércio, como na indústria e na construção civil, grande parte desse bolo, que cria milhares de empregos, está nas mãos de empresários de fora, inclusive do sul do país. No segmento cultural, artístico e intelectual também ocorre o mesmo e temos grandes vultos que engrandeceram e engrandecem Conquista, como nosso poeta e escritor Camilo de Jesus Lima que era de Caetité.

O que seria de São Paulo, por exemplo, se não fossem as mãos calosas e fortes dos nordestinos, embora não sejam bem tratados como deveriam? É claro que existem certos tipos de “forasteiros” que são indesejáveis, mas estes não merecem ser reconhecidos, nem tampouco citados.

 

 

NA COMEMORAÇÃO DE SEUS 15 ANOS, SARAU A ESTRADA BUSCA SEU REGISTRO

Numa reunião realizada ontem à noite (dia 20/01/2025), no Espaço Cultural A Estrada, pela comissão organizadora, demos o primeiro passo para o registro definitivo do nosso “Sarau A Estrada” que agora está entrando nos seus 15 anos de existência a serem completados no próximo mês de julho.

Participaram das discussões preliminares a presidente Cleu Flor, Dal Farias, Alex Baducha, Eduardo Moraes, Karine Gris, Jeremias Macário e Vandilza Gonçalves. Na ocasião, discutimos o esboço do Estatuto da Associação Artística e Cultural Sarau Estradeiros, ou Associação Cultural Estradeiros do Sarau, elaborado pelo nosso companheiro e membro Eduardo Moraes.

Entre outras coisas, ficou definido uma redação final com um preâmbulo resumido a história do sarau e como ele foi fundado há 15 anos, mantendo as normas estatutárias exigidas para seu registro em cartório, como denominação, sede, finalidades, exercício social, competências dos associados e associadas, da diretoria (mandato de dois anos), dos conselhos de administração e fiscal, das assembleias, patrimônio e disposições gerais.

Além da questão do registro, foram discutidos e apresentadas sugestões para celebramos esses 15 anos do sarau, o mais longevo de Vitória da Conquista e talvez da Bahia, como confecção de camisas com a logomarca da entidade, um possível show musical e artístico literário no Centro de Cultura, bem como a realização de um documentário mostrando toda trajetória do sarau nesse período de tempo.

Foi uma reunião proveitosa e, em breve, teremos o selo definitivo do registro oficial, com todas suas regras e leis de funcionamento, direitos e deveres dos associados, ações, planos e projetos, tornando o nosso sarau numa entidade de utilidade pública, não somente visando o benefício de seus associados como de toda comunidade, preservando sua essência do fomento cultural.

SUA HISTÓRIA

Tudo começou numa noite frienta de julho de 2010 numa roda de conversas e bate-papos entre os amigos Jeremias Macário, Manno di Souza e José Carlos D´Almeida quando pintou a ideia de reunirmos um grupo somente para ouvir vinis e tomar vinho.

Assim surgiu o grupo “Vinho Vinil” com o propósito de escutarmos somente músicas de vinis e tomarmos vinho, bem como discutirmos temas culturais e declamarmos poesias autorais. Dessa turma de fundadores, outros amigos foram se incorporando e o formato foi se modificando e se ajustando para até chegarmos ao “Sarau A Estrada”.

Em sua estrutura decidimos, democraticamente, colocar um tema para debatermos, tanto que não se abordasse questões de política partidária. O evento sempre foi realizado, em sua grande maioria, no “Espaço Cultural A Estrada”, de dois em dois meses num sábado à noite.

Temos aqueles frequentadores mais assíduos e antigos do tipo professor Itamar Aguiar, mas há uma constante renovação de pessoas. Nesse período, já passaram pelo sarau mais de 500 pessoas, entre jovens, idosos, professores, artistas, intelectuais e interessados pela cultura. O local já foi palco até de lançamento de filme, com a presença de artistas de outros estados.

Existem mais coisas para contar, mas o que fica de eterno são as trocas de ideias, de conhecimento e aprendizagem. Muitos comentam que o sarau já é de fato de utilidade pública e até foi agraciado com o troféu Glauber Rocha, concedido pelo Conselho Municipal de Cultura. Também foi realizada uma apresentação em público no Teatro Carlos Jheovah.

Para que não houvesse interrupção de suas atividades, durante a pandemia foram produzidos vídeos de textos poéticos divulgados nas redes sociais com produção do sarau, além de encontros virtuais. Outro fato importante foi a criação de um CD com músicas e declamações de poemas autorais.

O Sarau é um evento organizado para discutir cultura, temas sociais, econômicos, literários, educacionais, políticos e históricos. Funciona como um tripé, tendo como carro-chefe um tema escolhido, cantorias de viola e declamação de poemas, causos e piadas.

Durantes estes 15 anos foram inúmeros os assuntos abordados, tais como Educação, Cinema, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, Machado de Assis, os fatos revolucionários dos movimentos de 1968, na França e no mundo, Escravidão, Glauber Rocha, história e formação de Vitória da Conquista, tropeiros, o jornalismo impresso e a mídia virtual, entre tantos outros.

 

NUNCA QUEIRA SER O QUE NÃO É

O estelionatário, o 171, trapaceiro e vigarista que usa da sua lábia para enganar as pessoas é um criminoso contumaz. Existem aqueles que praticam falsidades ideológicas se passando e exercendo as funções de um profissional que não é, fatos que acontecem, por exemplo, nas áreas da medicina, odontologia e advocacia. O ato em si é um crime com penalidades previstas em lei.

Tem pessoas, no entanto, que agem sem nenhuma maldade, muitas vezes por querer ser o que não é, por puro desejo e admiração. São pessoas geralmente que não tiveram condições e oportunidades de realizar seu sonho, caso do nosso contínuo Damião da redação do jornal “A Tarde”, que terminou virando um folclore. Uns quando bebem ficam ricos e contam mil e umas vantagens mentirosas. São bons de imaginação. Tem gente esnobe que diz ser culta e intelectual.

De estatura baixa, de pouco estudo, Damião era uma figura simples e cômica por suas trapalhadas, trocando as bolas quando se dava uma tarefa para ele fazer. Mesmo assim, era o xodó da redação e dávamos muitas risadas com suas “artes”, mas não fazia e nem desejava mal a ninguém.

– Alô, é da redação do “A Tarde”? Aqui quem fala é o presidente da associação de ambientalistas e quero fazer uma denúncia grave de agressão ao meio-ambiente numa área de preservação.

– Pois não, sou o jornalista doutor Damião, diretor redacional, pode falar. Ele incorporava com segurança o profissional e fazia tão bem o papel ao ponto de não haver desconfiança de quem estava do outro lado.

O cara relatava a ocorrência e marcava com ele uma entrevista presencial (naquele tempo não existia internet). Agradecia a atenção e desligava o fone. O correto era que o contínuo passasse a ligação para o jornalista de plantão, o editor ou o chefe de reportagem.

– Bom dia, ou boa tarde, gostaria de falar pessoalmente com o doutor jornalista Damião sobre uma denúncia que pretendo fazer – se apresentava bem sério o cidadão ao entrar na redação do jornal.

Todo mundo caia na gargalhada, e o mais gaiato gritava lá dos fundos: Dr. Damião é aquele ali, o nosso jornalista das denúncias.

Com as matérias datilografadas nas mãos que ia levar à linotipia para serem impressas, ele saia correndo em disparada e sumia por um determinado tempo, totalmente envergonhado.

– Não, o senhor deve ter se confundido, Damião é o nosso boy e ajudante no processo de elaboração do nosso trabalho jornalístico. Eu sou o jornalista e vou lhe atender – explicava o repórter.

O moço ficava pasmo pela firmeza como foi atendido no telefone e demorava se convencer da realidade. Depois achava até graça de ter sido tão bem enganado e ter acreditado em sua postura.

Todo descabreado, após um certo tempo, Damião retornava e levava aquele “sabão” do chefe que o repreendia para ele não fazer mais aquilo. Muitos passaram a chamá-lo de jornalista. “Jornalista, leva esse material para o diagramador”.

Que nada! Demorava um pouco e olha ele lá outra vez aprontando a presepada e se passando por jornalista. Às vezes ele fazia de conta anotar as informações dos denunciantes e prometia publicar a matéria no outro dia.

Dias depois aparecia o denunciante cobrando a divulgação. Aí começava tudo de novo. Tinha colega que levava o caso para Dr, Jorge Calmon, o diretor-redator, e ele até achava engraçado, mas não demitia Damião porque ele era assim mesmo, um sonhador. Era até divertido e quebrava o clima pesado da redação.

Certa vez aconteceu uma com dona Regina Simões, a maior acionista familiar da empresa, envolvendo Damião, que claro, ela não o conhecia como o contínuo folclore e personagem memorável.

Ela estava em seu gabinete e procurou o periódico do dia em sua mesa para ver alguma coisa a respeito do mercado da Bolsa de Valores. Coisa do seu interesse capital.

Dona Regina, então, saiu no corredor e a primeira pessoa com quem topou foi com Damião com um jornal debaixo do braço. Os dois não se conheciam.

– Meu filho, me empresa aí este jornal para eu ver uma matéria, para tirar umas dúvidas, depois lhe devolvo.

– O jornal é meu e não dou a ninguém – respondeu Damião, de maneira ríspida, dando às costas à dona do jornal e foi embora descendo as escadas.

– Que rapaz desaforado – pensou consigo mesma dona Regina e foi prontamente dar queixa a Dr, Jorge Calmon. Com sua elegância aristocrata de um inglês, ele deu aquela risada marota e explicou quem era Damião. Pediu para ela esquecer aquele episódio de indelicadeza do empregado.

Em 1991 vim para Vitória da Conquista chefiar a Sucursal e nunca mais encontrei com Damião, com quem tinha bom relacionamento, falando sua própria língua.

Certa feita entrei num avião de Lisboa para Salvador e olha quem estava lá! O próprio Damião de carne e osso. Estava vindo de uma excursão religiosa de Jerusalém, em Israel. Foi divertido relembrar aquelas presepadas do nosso contínuo já aposentado.

Esse negócio de querer ser o que não é e se passar por outros não para por aí em nosso mundo de tantas histórias. Conheci o jornalista provisionado Luiz Luzi, um negro alto de cabelo crespo, de etnia angolana ou guineense, se não me engano.

Um grupo de jornalistas estava no aeroporto de Salvador esperando um embaixador africano para entrevistá-lo. Quando a aeronave aterrissou, quem primeiro desceu a escadaria foi Luiz Luzi.

Pela aparência quase idêntica e sua pose de terno e paletó, os repórteres se confundiram e foram logo abordar o falso embaixador. Luiz Luzi não contou conversa e deu uma entrevista na cara de pau. Foi aquela confusão quando apareceu o verdadeiro embaixador.

Sei de um caso de um colega, que não vou citar o nome dele, que deu autógrafos num restaurante cheio de gente, se passando pelo poeta, compositor e cantor Alceu Valença, lá do nosso Recife. Coisa de louco, meu amigo! Se quiser eu conto mais.

 

AVENIDA FILIPINAS VIROU PASTAGEM

Por três dias, de sexta a domingo, (não estava mais nesta segunda-feira) um cavalo ficou pastando na Avenida Filipinas sem que os prepostos da Prefeitura Municipal tomassem conhecimento. Nossas lentes flagraram o coitado desse animal, cujo dono o abandonou à própria sorte e deveria ser punido por maltrato, sem falar no perigo para os motoristas quando ele atravessava as pistas de um lado para o outro. Visivelmente sofrendo, o cavalo estava com sede e ninguém do poder público apareceu para cuidá-lo. Por ironia, naquela área existem placas avisando fiscalização sob monitoramento, ou é apenas um blefe.

Além do cavalo, a Avenida Filipinas está abandonada, pois moradores de rua ali armam seus acampamentos e depois se vão deixando para trás um monte de sujeiras e lixo, sem contar que o mato está crescido e muitas árvores precisam ser podadas, pois corre o risco de queda de galhos e provocar um acidente em pedestres e entre veículos. Naquelas imediações, nos bairros Felícia e Jardim Guanabara, o que mais se vê são terrenos abandonados com alto matagal e lixo por todos os lados. Os locais são verdadeiros focos do mosquito da dengue. Existem até latas de tintas cheias de água, fora copos plásticos e até jarros de barro.

Outro problema grave são uns retornos antigo de placas enferrujadas – não se sabe muito bem se foram colocadas pela prefeitura ou por moradores – onde entram carros que seguem em direções opostas, numa mesma posição, numa pista estreita onde já ocorrem acidentes. Será que a Secretaria responsável pelas sinalizações da cidade ainda não viu essas irregularidades do tipo mão e contramão num mesmo retorno numa avenida movimentada? Qualquer leigo sabe que está errado e só causa confusão e discussão para quem faz os retornos. Na maioria das vezes, um veículo tem que esperar o outro entrar.

AS ADAGAS AFIADAS DOS CONSPIRADORES NO SENADO MUTILARAM O DITADOR CÉSAR

Naquela manhã do dia 15 de março do ano de 44 a.C., o ditador Julius César levantou-se indisposto, talvez pelos maus presságios das profecias dos videntes, e atrasou-se para a reunião do alvorecer do Senado que ele mesmo havia convocado dias antes. A sessão, por ironia do destino, aconteceu na Casa do Senado de Pompeu, seu maior inimigo.

Os conspiradores já estavam a postos com seus planos e suas adagas afiadas escondidas nas togas para executar a morte do grande César que pavimentava sua trajetória para se tornar rei e acabar com a República logo após seu retorno da Guerra Parta nas terras onde hoje é o Irã. Roma estava dividida entre seus antigos apoiadores e adversários inimigos com os quais fora clemente na Guerra Civil de 49 a 45 a. C.

O historiador da obra “A Morte de César”, Barry Strausss descreve muito bem o cenário da Casa do Senado de Pompeu, de grandes colunatas e do assassinato mais famoso do Império Romano. Mesmo com os agouros, César, o grande guerreiro que saiu da Gália Italiana e cruzou o rio Rubicão para lutar contra Pompeu e invadir Roma, fazia suas próprias regras. Ele não ia à reunião, mas foi convencido pelo seu próprio amigo e algoz Decimus.

Para adentrar ao complexo onde abrigava o Teatro de Pompeu e o Templo de Vênus, passava-se pelo Pórtico de Pompeu. Na extremidade mais distante do recinto havia um tribunal para o presidente da sessão que geralmente era ocupado por um cônsul. No caso de César, essa função caberia ao dictator.

Havia lugares para trezentos senadores, mas nesse dia compareceram cerca de duzentos mais dez Tribunos do Povo, quórum suficiente para os assuntos relativos às consultas aos sacerdotes. Com suas indicações, César elevou o número de seiscentos para novecentos senadores.

Os principais conspiradores, Marcus Junius Brutus, Gaius Cassius e Decimus Junius Brutos, este último já indicado como governador da Gália Italiana, estavam tensos e preocupados com o general Marco Antônio, também ameaçado de morte, que poderia levar seus homens e reverter a situação. Dentre os senadores, muitos faziam parte da conspiração. Para tanto, os conspiradores designaram Trebonius para entreter Antônio e mantê-lo fora do Senado.

Na casa legislativa, César usava uma toga especial de general triunfante, tingida de vermelho-púrpura e bordada de fios de ouro. O Senado concedera o direito de usá-la, reconhecendo-o como deus e rei. Ali estavam Dolabella, futuro cônsul, e Cícero, o grande orador.

As fontes antigas são claras de que os conspiradores usavam adagas militares romanas, ou pugiones (do latim pugnus, punho) ocultas sob suas togas e outras nas capsae, recipientes onde eram transportados pergaminhos pelos escravos. O planejamento foi antecipado e Cassius foi um dos primeiros a chegar. O ataque teria de ser repentino e veloz antes que seus apoiadores acorressem em auxílio da vítima.

O primeiro golpe no peito coube a Publius Servilius Casca, um amigo de César. De acordo com os historiadores, foi uma exigência dos apoiadores de Pompeu participantes da conspiração. Nicolaus de Damasco, Apiano e Plutarco usam o termo ksiphos, que em grego se refere a uma adaga. Suetônio diz que César agarrou o braço de Casca e o golpeou com seu stylus, um instrumento com as dimensões de um lápis. Ele tentou levantar-se, mas não conseguiu porque teria sido atingido com o segundo golpe.

O historiador Apiano escreve que César, como um grande militar, reagiu com fúria e gritos. Plutarco afirma que ele gritou em latim “Ímpio Casca”, ou “amaldiçoado”. São várias as versões do assassinato, inclusive a de que Casca chamou seu irmão Gaius para ajudá-lo e este desferiu outro golpe nas costelas do ditador.

Além destes, Nicolaus menciona mais três que participaram do atentado, como Cassius que acertou César no rosto, Decimus e Minucius Basilus. Apiano fala que Brutus acertou o ditador em uma das coxas (Plutarco diz que foi na verilha) e Bucolianus nas costas. Segundo o autor do livro “A Morte de César”, Strauss, a exclamação “Et Tu, Brutos”! (Até Tu, Brutus!) citada por Shakespeare não consta de nenhuma das antigas fontes. Para ele, ela é uma invenção da Renascença.

Na versão de Suetônio e Dio, quando Brutus o golpeou, César teria dito, em grego, “kai su, teknon, que significa “tu também, filho”! No entanto, existem dúvidas quanto a isso. Dizem que no momento de desespero, César enrolou sua toga sobre a cabeça quando viu Brutus se aproximar dele com uma adaga.

Antes da sua morte, presumem que vinte ou mais assassinos golpearam o ditador, que meses antes havia sido considerado como deus e rei pelo próprio Senado. Ao todo, César recebeu vinte e três ferimentos. Para Nicolaus, foram trinta e cinco. Vinte conspiradores (estimam que haviam mais de sessenta) são conhecidos pelos seus nomes, dentre os quais Trebonius que não chegou a apunhalar César porque estava fora do recinto.

O conquistador do mundo fora assassinado em um raio de aproximadamente três quilômetros do local do seu nascimento. Florus, um autor do primeiro século d.C. descreveu que “assim, ele que enchera o mundo todo com o sangue de seus concidadãos, afinal encheu o Senado com seu próprio sangue”.

Na descrição do autor da obra, César foi um mestre como comandante, um político habilidoso, um orador elegante e um estilista literário lapidar. Foram inúmeras suas vitórias nos campos de batalha e exercia uma grande influência sobre os homens comuns e na vida das províncias.

Fez com que leis fossem aprovadas em favor das massas, mas depois controlou as eleições de modo a enfraquecer o autogoverno. Foi um populista que tempos depois perdeu a admiração e o apoio da plebe. Roma ficou dividida quando começou a agir com tirania. “Ele renomeou o centro de Roma com o nome de sua família, como se a cidade fosse propriedade sua”.

O tribuno Cícero ironiza o fato, dizendo que “naquele Senado, cuja maior parte dos membros havia sido escolhido por ele, na Casa do Senado de Pompeu, diante da estátua do próprio Pompeu, com tantos de seus centuriões assistindo, ali ele jazeria, assassinado pelos mais nobres cidadãos, e não apenas nenhum de seus amigos aproximou-se do seu corpo, mas nem mesmo seus escravos fizeram isso”.

Depois do ato consumado, houve um grande tumulto. Os conspiradores, liderados por Brutos, Cassius e Decimus rumaram para o Fórum Romano, na Colina Capitolina, onde se refugiaram e se entrincheiraram, alegando que haviam agido em nome da liberdade do povo. Enquanto isso, Marco Antônio negociava uma saída com o Senado, de modo a evitar um banho de sangue.

Antônio foi um político e militar hábil numa conciliação entre os veteranos apoiadores de César, que temiam perder suas terras e bens, e os conspiradores. Os atos de César, cremado quatro dias depois, foram mantidos, inclusive os inúmeros títulos concedidos pelo Senado, mas o pior estaria por vir quando os exércitos de Otávio, o herdeiro do ditador, começaram a se mobilizar a partir das províncias, numa disputa com Marco Antônio.

 

AS ENCHENTES E A REPETIÇÃO DE CENAS ONDE O POVO DERRAMA SUAS LÁGRIMAS

As pontes provisórias feitas de barro e paus são levadas pelas enchentes das chuvas, os morros se derretem e moradores são soterrados, as casas são invadidas pelas águas e lamas, o pessoal da defesa civil aparece para condenar habitações e barracos, os assistentes sociais surgem com planilhas nas mãos para cadastrar as vítimas, os desabrigados ocupam escolas interrompendo aulas, os prefeitos decretam calamidade pública e, por fim, a mídia entra para fazer sua média e pedir doações.

Estas cenas, como filmes velhos arranhados, são repetidas praticamente todos os anos, e o povo derrama suas lágrimas pelas perdas de seus entes queridos e bens materiais. Os governantes apenas dão umas cestas básicas e pagam alguns aluguéis temporários de moradia. Quando bate a estiagem, todos retornam aos mesmos lugares para reconstruir suas vidas e esquecem que podem viver o mesmo drama quando a próxima enchente vier.

Este roteiro de repetição é uma prova irracional e cruel de quanto os nossos governos municipal, estadual e federal são sádicos e cínicos, até corruptos, porque quase nada fazem em termos de saneamento e obras de contenção para que as cheias de riachos e rios não provoquem as mesmas tragédias e desastres, evitando, inclusive, gastos maiores. Os desabrigados sempre são levados para as escolas, cujas aulas são interrompidas em prejuízo dos alunos. Sempre prevalecem o emocional e a irracionalidade.

Um exemplo mais próximo de nós, destas cenas repetidas, aconteceu nesta semana em Itambé quando uma pesada chuva de menos de uma hora desabou sobre a cidade. Os rios Verruga e Pardo transbordaram e inundaram as mesmas ruas e bairros onde há uns dois anos, se não me engano, foram alvos das mesmas enchentes. Os próprios moradores testemunharam seus sofrimentos contínuos.

Apenas citei Itambé aqui bem perto de Vitória da Conquista como exemplo, mas as cenas trágicas que estamos acompanhando nos noticiários são repetições que ocorrem há anos em toda Bahia e em todo Brasil, como no Rio Grande do Sul, que recebeu milhões ou bilhões de reais em doações dos brasileiros e o quadro permaneceu o mesmo. Esses governos não têm o mínimo de vergonha na cara!

A impressão que se tem, e isso é um fato, é que todos gestores públicos são incompetentes, ou adotam de forma premeditada esse procedimento de repetição das cenas de calamidade porque gastando mais, existem mais chances de desvios de recursos. Os decretos de calamidade pública abrem mais espaço para os atos de corrupção. É uma malvadeza com o ser humano que vota nesses mesmos algozes.

Outra explicação seria a intenção de aproveitar mais tempo de exposição na mídia colocando seus prepostos em campo para dizer que estão “resolvendo” os problemas da população. Assim, nessas ocasiões, eles aparecem nas portas dos pobres atingidos dando entrevistas com falsas promessas de obras, e que estão ali para se solidarizar com a miséria.

O mais lógico não seria em definitivo investir mais verbas de uma só vez, no sentido de realizar obras estruturantes de contenção de encostas, abertura de canais para escoar as águas ou construir habitações populares relocando moradores das áreas de risco? A política é a de remediar, de tapar os buracos com borras de café, ao invés de gastar mais e solucionar a situação. Parece que eles se sentem bem com as catástrofes humanas!

MACHADO, UM ADULTO TRAVESSO

(Chico Ribeiro Neto)

Você já foi abordado à saída de um restaurante por um garçom que lhe pediu para abrir a pasta? E, inteiramente surpreso, descobrir que havia dois pares de talheres dentro dela? Um vexame certamente inesquecível.

Essa é uma das travessuras do jornalista Raimundo Machado, que do alto de sua barba ruiva e dos muitos quilos – reduzidos agora quase à metade graças a um violento regime – se embola de rir ao ver sua situação de pasmo diante do garçom. E ele ainda arremata para o garçom: “O senhor desculpe, é que esse rapaz é viciado em fazer isso. É até uma boa pessoa, mas não se sabe que diabo de força estranha o leva a fazer isso”.

Ele aproveita qualquer vacilo seu no restaurante, principalmente uma ida ao sanitário. É o melhor momento, e, se a pasta for grande, ele coloca, além dos talheres, saleiro e paliteiro, talvez até o cardápio. Quando você se prepara pra sair, ele diz baixinho pro garçom: “Aquele cara ali é meu amigo, mas colocou uns talheres na pasta e eu não posso admitir uma coisa dessa”.

Parece que Machado faz esse tipo de brincadeira pra se vingar do jornalista Otacílio Fonseca que, certa vez, na churrascaria “O-Tchê”, disse-lhe que colecionava cardápios e já que ele estava de paletó por que não colocar debaixo da roupa um daqueles da churrascaria, feito em legítimo couro cru? “Você põe o cardápio debaixo do paletó e me espera do outro lado da rua, enquanto pago a conta”, disse Otacílio. Lá está Machado, todo fagueiro, paletó abotoado, já do outro lado da rua, quando vê um garçom acenando:

– É comigo?

– É, sim senhor, e pode ir logo tirando o cardápio daí do paletó. (Otacílio tinha dado o serviço).

Já que falei no regime de Machado, ele e o filho Márcio, que também estava bem gordinho, entraram juntos na rigorosa dieta. Acostumados a uma dobradinha ou um prato fundo cheio de miraguaia no bar de Grande, os dois passaram a enfrentar diariamente, e só uma vez, uma folha de agrião no prato. “Coma, filho”, dizia Machado. “Não, pai, vá você primeiro”.

Resolveu fazer “cooper” e foi no Iguatemi comprar logo uma roupa de malha e um tênis alemão que Eliezer Varjão lhe recomendou, daqueles que têm até cronômetro adaptado ao tornozelo. Andou com rapidez durante quase uma hora, sentiu-se outro e aí deu uma paradinha pra respirar no Largo de Amaralina; comeu um abará e tomou duas cervejas.

Depois de dois dias seguidos fazendo a cobertura da visita de Collor e Maluf a Salvador, em campanha presidencial, sentiu-se estafado e chegou até a procurar um curso de yoga, mas aquele negócio de colocar o pé direito no joelho esquerdo quase acaba entortando tudo. Só pagou o dinheiro da matrícula e até o quimono novo, comprado em “O Gordinho Elegante”, ficou lá na academia.

Um adulto travesso, Machado é quase impossível de se ver mal humorado. Os contínuos da Redação de A Tarde pensam duas vezes antes de darem qualquer resposta a ele. Sabem que na pergunta está sempre embutida uma brincadeira e ninguém quer cair no esparro.

O paletó e a gravata do competente repórter político não dão para esconder o gozador e bom contador de piadas, principalmente em mesa de bar, arrodeado agora de curtas doses de erva-doce, já que a cerveja encontra-se banida provisoriamente. O detalhe: ele pode varar a noite, mas nunca tira o paletó nem a gravata. Ficam ali arrumadinhos, como se ainda estivessem no aeroporto esperando Maluf.

Uma semelhança com o radialista França Teixeira, principalmente por causa da barba ruiva, já lhe rendeu algumas cervejas; uma vez estava num bar com dois amigos e lá do balcão um ilustre desconhecido gritou: “Ô França, pode deixar que já tá tudo pago”.

Com Machado ao lado, num bar, é bom ficar sempre atento. Senão, ele pode dar seu telefone à mulher mais feia do recinto (acompanhado de um meloso recado) ou fazê-lo sair com talheres na pasta ou um paliteiro no bolso do paletó.

(Crônica publicada no jornal A Tarde, edição de 6/9/1989)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

FLOR DE PRIMAVERA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, em homenagem à sua neta Cecília.

Flor de primavera,

Perfume abrindo o sol de verão,

Nascestes na virtual era,

Oh, menina soberana,

Cecília é teu nome visão,

Da terra Brasil primaveril,

De origem romana,

Latina Americana.

 

Flor de primavera,

Teu meigo sereno olhar,

Vai além do horizonte do mar,

Coisa mais linda de se ver,

Como florada de Ipê!

 

Seja bem-vinda, Cecília,

Aos braços mágicos da vida,

Essa misteriosa passageira,

Peregrina deusa romeira,

De encontros e desencontros,

Amores e dissabores,

Mas dizem que ela é bela,

Como as tintas da aquarela,

Encanto flor de primavera.

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia