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A DIVINA COMÉDIA-INFERNO IV

DANTE ALIGHIERI – Tradução José Pedro Xavier Pinheiro

OS NEGOCIANTES DE CARGOS PÚBLICOS, OS HIPÓCRITAS, OS TRAPACEIROS E OS IMPOSTORES.

No Canto XXI, Dante faz uma visita aos infernos e cruza com os demônios que punem os pecadores por diversos crimes cometidos. Nesse Canto, são punidos os trapaceiros que negociam os cargos públicos ou roubaram aos seus amos.

Conforme traduz José Pinheiro, “eles estão mergulhados em piche fervendo. Os dois Poetas presenciam a tortura de um trapaceiro luquense por ordem de um demônio. Virgílio domina os demônios que queriam avançar contra eles. Virgílio e Dante, escoltados por um bando de demônios, tomam o caminho ao longo do aterro.

Numa de suas estrofes, Dante descreve: “Assim, por fogo não, por divina arte/Betume espesso, ao fundo refervia,/As bordas enviscando em toda parte”. Noutra diz: “O maldito afundou; surdiu curvado./Sob a ponte os demônios lhe gritaram:/Não acharás aqui Vulto Sagrado”.

No Canto XXII, os dois poetas andam pelo aterro à esquerda, veem muitos trapaceiros, que, por aliviar-se, boiam acima do piche fervendo. Sobrevêm os diabos e um deles é lacerado. É este Ciampolo, de Navarra, que consegue depois, livrar-se das garras dos diabos, o que dá motivo a uma briga entre os demônios”.

Sobre o trapaceiro Ciampolo, destaca: “D´El-rei Tebaldo eu na privança entrara:/Vendia os seus favores fraudulentos;/Sofro a pena do mal, que praticara”. Dante ainda fala do Frei Gomita, vigário de Ugolino Visconti, que por dinheiro deu liberdade aos inimigos do seu senhor.

No Canto XXIII, Dante e Virgílio encontram os hipócritas vestidos de pesadas capas de chumbo dourado. Falam com dois frades bolonheses. Um deles, inquirido por Virgílio, indica-lhe o modo de subir ao sétimo compartimento do inferno.

Nesse Canto, Dante faz uma narrativa dos frades que foram chamados a governa Florença, depois da derrota de Manfredo, e que aproveitaram de suas posições, causando um motim no qual foi incendiada a casa dos Urberti. Fala também de Caifás, o sumo sacerdote de Israel, que aconselhou a morte de Jesus.

A SERRA E O CRISTO

De braços abertos para a cidade como que abençoando a todos os 370 mil habitantes, sem nenhuma distinção, no emaranhado de fios e torres de televisão e operadoras nessa selva de pedras, lá está o Cristo de Mário Cravo, ou o Cristo da Serra do Periperi, desde os anos 80 do século passado. Não fosse o descuido dos nossos governantes durante esses mais de 40 anos, bem que poderia ser hoje o ponto mais frequentado pelos nossos moradores e visitantes de fora, mas, infelizmente, ainda existe aquele estigma de que o local é perigoso e não se deve ir lá em determinadas horas. Outra recomendação é que sua visita seja em grupos de pessoas. O único período em que o monumento recebe mais gente é durante a Semana Santa, especialmente na Sexta-Feira da Paixão. As promessas de urbanização e segurança para o acesso são longas e se arrastam por muito tempo. Uma pena para um local que já é visto, cá debaixo, como o cartão postal da cidade, só que não é de fato. Como jornalista-repórter, quando aqui cheguei em 1991, lembro que já fiz diversas matérias denunciando seu abandono e “brigando” para que ele fosse totalmente revitalizado, como o Cristo Redentor da Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro. O sentimento que tenho, todas as vezes que o visito, é que esse Cristo da Serra do Periperi foi relegado à solidão pelos próprios conquistenses que deveriam cuidar melhor dele. Para seu embelezamento, já houve até proposta de projeto de se construir um teleférico de ligação entre o Cristo ao centro da cidade, mas tudo não passou de meras intenções. Na verdade, não passamos de uns ingratos.

O GALO CANTOU ERRADO

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Pelas brenhas do meu serão,

Ouvi causos e histórias,

Saídas de nossas memórias,

De um maturo lavrador,

Sem relógio e rádio,

Para seguir o divino horário,

Como no tempo templário.

 

Quase nada tinha,

Só suas cargas de farinha,

Para vender na feira da cidade,

No sábado de madrugada.

Acordou depressa atordoado,

No primeiro estalo,

Do canto do galo,

Que cantou errado.

 

Gritou bravo,

Para o mirrado menino,

Coisa de nordestino,

Pra pegar os jumentos no pasto,

E tocar a tropa na estrada,

Para pagar seu gasto.

 

Disse a mulher:

Homem doido agoniado,

Só pode estar endiabrado,

Esse galo cantou errado.

 

Lá na frente, nem pé de gente,

Nem piava a cotovia,

Onde o vizinho concorrente,

Ainda calmo dormia,

E foi aí que ele desconfiou,

Que o galo cantou errado.

 

No caminho só esbravejava,

Passamos pelas ruas,

Em meio à escuridão,

E nada do dia clarear.

No chão arriamos os sacos,

Os couros pra dormir,

E o feirante não parava,

De cafangar

Que ia jogar o galo na panela,

Todo picado na gamela,

Porque o danado cantou errado.

 

O galo sabendo do acontecido,

Para não ser degolado,

Se enfiou no mato como rato,

Porque cantou errado.

 

Tudo é pura verdade,

Como prosa da antiguidade,

Não tem nada de engraçado:

O galo cantou errado.

AH, A NOSSA ANTIGA DEMOCRACIA!

Quando falamos de democracia logo nos lembramos dos antigos filósofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles, mas existiram outros antes deles que ensinaram a exercitar o governo do povo, o sistema em que cada cidadão participa do governo. Ao longo desses quatro ou cinco mil anos, muitos foram sacrificados e condenados à morte por causa dela, inclusive o próprio Sócrates.

Mesmo naquela época, muitos confundiam a democracia e achavam que tudo podiam fazer, sem disciplina, sem respeito, responsabilidade, sem regras e normas, como se fosse uma anarquia total, mas os mestres sempre disseram que não é bem assim porque, acima de tudo, o indivíduo vive em coletividade e tem que aprender que você perde o direito a essa democracia quando invade o espaço do outro.

Um estadista afirmou certa vez que nenhum regime é bom, mas entre todos ruins para se conviver, a democracia ainda é aquele de melhor escolha porque nela está intrínseca a sagrada liberdade. Não vou ficar aqui tentando escarafunchar as definições e conceitos filosóficos do que seja a democracia.

Meu intuito é expressar livremente minha modesta opinião, sem agredir, de que muitos abrem a boca por aí para falar em democracia, mas terminam entrando em total contradição quando arrotam seus discursos controversos, tudo porque, na verdade e no fundo, são individualistas e egoístas que nem dão bola para a coletividade.

Quero apenas assinalar que ela (a democracia), como qualquer outro regime ou organização, tem suas disciplinas para funcionar a contento, mesmo que seja numa simples reunião de condomínio. Quando se vive numa sociedade, os pontos são os mais variados que determinam se você está sendo democrático, ou não passa de um autoritário que se apropria do regime do povo para o povo.

Na minha vida cotidiana (inclusive, às vezes, me incluo nesses equívocos) tenho observado atitudes onde o sujeito se apossa dessa democracia para expelir seus sofismos agressivos em nome dela. Na verdade, ele está sendo antidemocrático e oportunista que não respeita o outro que está ao seu lado.

Um desses ambientes sociais é quando se participa de uma reunião, de um seminário, um congresso ou uma conferência. Nesses encontros para se discutir questões pertinentes à sociedade, sejam regionais, nacionais ou internacionais, sempre existem normas, regulamentos e regimentos internos onde se delimita o tempo de fala de qualquer um.

No entanto, constantemente aparecem aqueles que por vaidade, prepotência ou no afã de apenas se aparecer, de que somente ele é dotado de saber e conhecimento, insiste em quebrar as regras. Quando a organização do evento tenta chamar o “dono da palavra” à atenção para que ele conclua seu pensamento, tendo em vista que seu tempo se esgotou, aí o cara salta na pessoa com agressividade, alegando que está sendo vítima de um autoritarismo,

No meu modesto conceito, quem desobedece as regras estabelecidas e reclama, está sendo antidemocrático e individualista porque ele não leva em consideração a coletividade de que está simplesmente tomando o espaço do outro colocar sua posição em relação a determinado tema em discussão.

Ora, numa audiência pública, numa câmara de vereadores, numa assembleia legislativa ou no Congresso Nacional, como em qualquer outra instituição pública e privada, existe um regimento aprovado, antecipadamente, pelos seus pares, onde limita o tempo de fala.

Quem vai além do estabelecido está agredindo a democracia e sendo antidemocrático. Não tem o direito de ficar berrando, apenas no intuito de contrariar, muitas vezes por questão pessoal e propósito político. No fundo no fundo quem age assim está sendo ditador e autoritário.

São apenas exemplos que estou citando de como a nossa democracia diariamente é deturpada e ultrajada, muitas vezes de forma intencional e agressiva pela pessoa, para provocar e criticar somente por criticar. Existe gente que se diz de esquerda e progressista, mas se comporta como de direita e até extremista, com violência.

AUSÊNCIA DA PREFEITA E DO LEGISLATIVO NA CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE CULTURA

Não é somente menosprezo, desprezo e falta de respeito. A ausência da prefeita Sheila Lemos e do legislativo municipal na V Conferência Municipal de Cultura passa também a impressão de que eles têm medo de cultura, ou imaginam que não rende voto, daí não darem a devida importância.

“Cultura e Democracia em Construção no Sertão da Ressaca” foi o tema principal da conferência, de 11 a 12 de setembro, que foi organizada pela Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer-Sectel e o Conselho Municipal de Cultura que coube abrir os trabalhos na pessoa do presidente Jeremias Macário representando o colegiado.

Na mesa estiveram presentes ainda o secretário de Cultura, Eugênio Avelino Lopes (Xangai) e representantes dos povos originários, movimentos negros, LGBT e de pessoas com deficiência. O evento foi realizado no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima e teve como palestrante o professor e doutor Itamar Aguiar.

Durante os dois dias foram eleitos os novos conselheiros dos cinco eixos representando a sociedade civil e os delegados que vão ser nossos representantes nas conferências a nível territorial e estadual.

Além dessas atividades que constavam dos trabalhos do regulamento e do regimento interno da Conferência, foram discutidos e aprovados pelos participantes diversas propostas que servirão de arcabouço para a construção do Plano Municipal de Cultura de Vitória da Conquista e criação de uma Fundação para o setor.

Foram mais de 160 inscritos entre trabalhadoras e trabalhadores da cultura das mais variadas linguagens. Como já era esperado dentro de uma democracia, as discussões foram acaloradas, até de certos excessos por parte de alguns, mas todos os pontos foram cumpridos com resultados positivos, visando os avanços da nossa cultura.

Ainda como parte das ações, no primeiro dia, no horário da tarde, houve apresentações musicais do Conservatório de Música do Município e do próprio cantor e cantor Xangai. No dia 12, na parte da manhã, antes dos debates temáticos, aconteceram as rodas de capoeiras que ocuparam o palco do auditório do Centro de Cultura.

Houve polêmicas e críticas por parte dos artistas conquistenses quanto a data ter sido fixada na segunda e terça-feira (um grupo julgou ser melhor em final de semana) e algumas falhas ocorridas na organização, mas o tom maior de repúdio ficou por conta das ausências da prefeita e de representantes da Câmara Municipal de Vereadores.

Mais uma vez ficou a indignação dos artistas de que a nossa cultura mal serve de enfeite nas mesas do legislativo e do poder executivo. Uma prova cabal disso é o fechamento por falta de reformas dos equipamentos do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal, que está sob a gestão da Secretaria de Educação, e da Casa Glauber Rocha, situada na rua Dois de Julhos, sem contar o Centro Céus J. Murilo, no Bairro Alto Maron, que necessita de urgentes reparos.

Na ocasião, os artistas em geral solicitaram urgência nas reformas desses equipamentos para que eles possam ter esses espaços para exercer suas artes. Esse descaso não prejudica somente os fazedores de cultura, mas toda a comunidade conquistense. Foi dito por muitos que uma cidade sem cultura é uma cidade morta e sem identidade.

O GALO CANTOU ERRADO

Em tempos passados o matuto lavrador nordestino não tinha relógio, rádio e outros meios de comunicação para se orientar no horário e tocar sua tropa de cargas de farinha nas madrugadas de sábado para pegar a feira cedo na cidade de Piritiba.

Seu guia era o velho galo que sempre cantou na hora certa, de forma a ser um dos um dos primeiros a arriar os sacos dos jumentos, mas numa noite, pela primeira vez, o galo cantou errado. Com o sono leve, no sentido da feira, o agricultor levantou avexado e foi logo gritando para o mirrado menino pegar os animais no pasto.

Foi aquele bafafá e, por um motivo qualquer, a mulher alertou que o galo havia cantado errado. “Homem doido agoniado, parece que está endiabrado”! Resmungou algumas palavras e na pisada ligeira logo passou em frente da casa do vizinho concorrente que estava toda fechada e nem sinal de movimento na porta. Foi aí que ele começou a desconfiar que o galo cantou errado.

Com seu jeito ranzinza e carrancudo de ser, tipo seu Lunga sertanejo brabo, começou a cafangar o tempo todo na estrada. Próximo da cidade foi que ele teve a certeza de que o galo tinha cantado errado. Passou a injuriar e a xingar o bicho, até com ameaça de que na volta iria botar o danado na panela. Nas ruas, tudo escuro e deserto. Nada do dia clarear.

Na feira desceu os sacos e os couros no chão e ainda os dois tiveram um tempo para tirar um cochilo, mas continuava a esbravejar contra o galo, que já estava caduco gagá e não prestava mais para cantar na hora correta.

No retorno para casa, mesmo cansado da labuta do dia, não parava de falar no assunto e queria degolar o pobre do animal, mas a esposa tentou contornar sua quizila em defesa do galo que, por sinal, ao perceber seu erro se entocou no mato e só apareceu dias depois.

Moral da história é que, assim como o galo, a pessoa sempre pode fazer as coisas cem por cento certas, mas quando comete um deslize é reprovada e cobrada. O ser humano tem, entre outros, esse grande defeito de não reconhecer os acertos dos outros e recriminar quando se comete um erro, como se houvesse perfeição. É um ingrato que não sabe ver no outro o lado prestativo e dedicado, apenas condená-lo quando comete uma falha.

NO PARAÍSO DAS TRAMBICAGENS E TRAPAÇAS

Existem os paraísos fiscais, os paraísos das belezas naturais e os dos céus prometidos pela Bíblia aos que fazem o bem, pelo Alcorão e até pelos islâmicos fanáticos para quem matar o ”inimigo infiel” recebe a glória dos reinos. Aqui perto de nós, na fronteira (não difere muito do nosso) existe o paraíso dos contrabandos, do narcotráfico e dos produtos falsificados, no caso o Paraguai.

Em nosso Brasil varonil, terra de Santa Cruz e do Pau Brasil, desde que aqui aportou a esquadra de degredados corruptos de Cabral, prospera e floresce o paraíso das trambicagens e das trapaças. Caminha não citou em sua carta ao El Rei D. Manuel, mas foram as culturas que mais se adaptaram ao fértil solo, com invejáveis produtividades, graças ao benemérito da impunidade.

São 523 anos de trambicagens e trapaças de todas espécies inimagináveis praticadas por astutos e espertos que deixam embasbacadas a nossa vã filosofia de procurar entender o que ocorre na cabeça desses seres humanos que entregam suas almas ao diabo da ganância, ou com ele fazem um pacto, como se não existisse o infalível ciclo da vida e da morte.

Umas das características do trapaceiro golpista é o cinismo, a frieza para o mal e ausência total de sentimentos para com o outro, que sempre enxerga sua vítima simplesmente como uma presa a ser abocanhada. É o maior predador que não mata apenas para saciar sua fome. Por natureza, é um masoquista com má formação congênita.

A consequência de tudo isso é que atualmente ninguém confia mais em ninguém e nos tornamos desumanizados. Sempre existiram golpes de trapaceiros, mas, ao passar do tempo, a ordem é crescente. Temos desde o velho conto do vigário, o bilhete falsificado, a venda de produtos falsificados como autênticos aos mais sofisticados com ajuda da internet através das redes sociais, inclusive de dentro das penitenciárias.

Interessante nisso tudo é que os “empresários” trapaceiros não são considerados bandidos. Coisas da nossa sociedade hipócrita. Vejam o caso recente da “123 Milhas”. Com a ganância de ganhar mais dinheiro, eles enganaram os clientes com passagens aéreas promocionais além da conta, como a famosa pirâmide. Não honraram os compromissos, e os compradores ficaram a ver navios.

A empresa pede falência na Justiça, como de praxe, e um dos sócios, com a maior cara de pau, ler um discurso pronto diante de uma comissão do Congresso Nacional dando sua fajuta justificativa e pede desculpas. Depois se abraçam com tapinhas nas costas e saem com seus motoristas em carros importados. E a grande maioria dos nossos políticos? Também fazem parte desse paraíso dos batedores de carteiras.

Ninguém é punido exemplarmente. Gostaria de saber se esses caras ficaram pobres. Que nada, compraram bens em nomes de laranjas e vivem em suas mansões luxuosas, viajando em outros paraísos financeiros, tomando seus uísques e curtindo com a cara dos outros. Os diretores das Lojas Americanas fizeram praticamente o mesmo.  Deram um rombo nas contas da empresa.

Os banqueiros também estão dentro desse rol de fechamento das instituições bancárias. Os clientes perdem poupança, investimentos e depósitos. O pior é que no sistema financeiro o Governo do Estado ainda entra com o dinheiro do contribuinte para socorrer os estabelecimentos. É o mesmo que premiar os corruptos. Ninguém vai para a cadeia e quando chega lá, demora pouco tempo.

Nesse paraíso das trambicagens devemos ter mais de 100 milhões de safados (estou sendo generoso) dos 200 milhões de habitantes. Poucos são sérios, tendo em vista que uma grande parcela é culpada porque quando ver facilidades cai dentro visando tirar vantagem e termina se lascando, inclusive nos golpes mais comuns.

A Divina Comédia, de Dante Alighieri, quando ele visita os pecadores no inferno com Virgílio cai muito bem no caso brasileiro. Lá estão eles com os demônios, cada um em sua camada ou círculo de penas, os trambiqueiros, os trapaceiros, os astutos, os avarentos, usurários, golpistas, os fraudadores e os violentos contra o meio ambiente no fundo dos abismos sendo açoitados.

Veja no que diz o autor em um de seus cantos: “Da antiga ponte divisamos triste,/ Longa fileira: Contra nós andava./ Cruel açoite em flagelar persiste”. Noutra estrofe, Dante descreve: “Estão lá no fundo nus os pecadores:/Do meio contra nós muitos caminham, / Outros conosco, em passos já maiores”.

A DIVINA COMÉDIA-INFERNO

DANTE ALIGHIERI – Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro

No XIX Canto, em sua visita ao inferno com Virgílio, o florentino Dante descreve que no terceiro compartimento, aonde os poetas chegam, são punidos os simoníacos (mercadores das coisas sagradas). “Estão eles, de cabeça para dentro, metidos em furos feitos no fundo e nas encostas do compartimento”.

Em sua descrição, o autor de A Divina Comédia assinala que “as plantas dos pés, que estão fora dos buracos, são queimadas por chamas. Ele quer saber quem era um danado que mais do que outros agitava os pés. É o Papa Nicolau III da Casa Orsini, o qual diz que estava à espera de ser rendido por outros papas simoníacos”.

O poeta descarrega toda sua verve contra a avareza e os escândalos dos papas romanos. Na primeira estrofe do Canto XIX, Dante começa dizendo: “Ó Simão Mago (queria comprar a virtude de chamar o Espírito Santo), ó míseros sequazes/Por quem de Deus os dons só prometidos/A virtude, em rapina contumazes”.

Nesse Canto, o autor fala da subversão dos papas por ouro e prata pelos quais são prostituídos. “Saber supremo! Que inefável arte/Mostras no céu, na terra e infernal mundo!/Oh! Teu poder quão justo se reparte!”

Em outro Canto da sua obra, na XVIII, Dante faz uma visita aos punidos pelo pecado da bajulação para se dar bem na vida, passando por cima dos outros, sem nenhum escrúpulo. Sua visão daquela sociedade do século XIII (Dante nasceu em Florença no ano de 1265) ainda está atual para o mundo de hoje.

Nos governos, especialmente no Brasil, os bajuladores, indicados pelos políticos, o chamado QI (não conta aqui a meritocracia) se vendem e são passíveis de corrupção e subornos e fazem o que seus chefes mandam, cometendo desatinos e malfeitos.

LULA FAZ UM GOL CONTRA

Carlos González – jornalista   

A política partidária, quase sempre agindo com sordidez, tem colocado o Esporte e a Cultura numa condição de inferioridade no âmbito governamental, tanto no Federal quanto nos estados e municípios. Esses dois importantes segmentos da sociedade organizada, ou são completamente ignorados, como ocorreu no governo Bolsonaro, ou são relegados a uma posição secundária, na condição de “anexos” de ministérios ou secretarias, com direito a uma sala. Vitória da Conquista é um exemplo.  

Ao tomar posse, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou para 37 o número de ministérios, levando o povo a acreditar que, depois de um longo tempo, o Esporte e a Cultura gozariam de privacidade na Esplanada dos Ministérios. Duas mulheres, com larga vivência em suas áreas de atuação, foram indicadas para os cargos: Ana Beatriz Moser e Margareth Menezes.  

A escolha de Ana Moser, 55 anos, para integrar a equipe do  novo governo foi recebida com aplausos pelo mundo esportivo do País, por se tratar de uma ex-atleta de ponta, com reconhecida dedicação ao esporte, particularmente ao voleibol indoor. Nos seus 23 anos de carreira, iniciada aos 7 anos na cidade catarinense de Blumenau, submeteu-se a quatro intervenções cirúrgicas e a incansáveis horas de fisioterapia.  

O voleibol (na quadra e na praia) e o judô são responsáveis pelo maior número de medalhas (37 de ouro, 42 de prata e 71 de bronze, num total de 150) conquistadas pelo Brasil em 23 edições dos Jogos Olímpicos de Verão. Moser integrou o grupo que ganhou a primeira medalha olímpica de um esporte por equipe (bronze em Sidney – 1996). A atleta catarinense esteve também em Seul-80 e Barcelona-84, além de dezenas de torneios internacionais.  

Eternizada como um dos quatro brasileiros ao entrar para o seleto Hall da Fama do Voleibol e autora do livro “Pelas Minhas Mãos”, onde relata sua experiência como atleta, Ana Moser fundou e preside o Instituto Esporte e Educação, uma ONG destinada a incentivar a prática esportiva nas escolas públicas e privadas.  

Os rumores para a demissão de Ana Moser – sua ex-colega de governo Margareth Menezes deve ficar de sobreaviso – ecoavam nos corredores do Planalto e na Câmara dos Deputados há mais de uma semana, provavelmente esperando que a ministra tomasse a iniciativa de sair, o que não ocorreu.  

Em seu último ato no cargo, Ana Moser divulgou nota onde diz que “vê com tristeza e consternação a interrupção temporária de uma política pública de esporte inclusiva, democrática e igualitária no governo federal”, lamentando que as promessas de campanha, sem citar o presidente, “tenham tido tão pouco tempo para se desenvolverem”.  

A reação nos meios esportivos foi imediata. Um grupo de 80 atletas e ex-atletas, das mais diferentes modalidades, se manifestou numa nota, lembrando que, pela primeira vez, as políticas públicas estiveram no centro das discussões do ministério. A nota foi assinada pelos jornalistas Cleber Machado, do SBT, e Juca Kfouri e José Trajano, do Uol. Petista de carteirinha, Trajano afirmou: “O esporte está de luto. Mais uma vez foi tratado como barganha política. Vergonha!”  

Lula repetiu, em várias oportunidades, antes das eleições, que não adotaria a política do “toma lá, dá cá”, o loteamento de cargos instituído por todos os presidentes, inclusive ele, após a redemocratização, em 1985. Promessa não cumprida diante da fome de poder do Centrão, liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, cujos membros não se sentem saciados. Estão sempre querendo mais. Sem ideologia, votam de acordo com seus interesses e não com os do País. Recebem altos salários, que são acrescidos de sinecuras, além das emendas parlamentares, verbas do Fundo Partidário e do orçamento secreto.  

Para garantir a governabilidade, Lula abriu as torneiras do Tesouro, distribuindo R$ 16 bi às vésperas de votação de projetos de grande interesse do Executivo. A previsão para este ano do orçamento secreto é de R$ 46 bi. Os afagos do presidente ao Centrão incluem cargos de relevância. Por que foram criados 37 ministérios? Lógico, para abrigar os “famintos”.  

Com a última “reforma” ministerial – a única sacrificada foi Ana Moser – , o governo aumentou de 9 para 11 os partidos sua base de apoio no Congresso. Lula criou mais um ministério, o de Micro e Pequenas Empresas, entregue a Márcio França, que se encontrava na pasta que cuida dos portos e aeroportos, transferida para o deputado Sílvio Costa Filho (Republicanos – PE). O Ministério do Esporte foi colocado nas mãos do deputado André Fufuca  (Progressistas – MA).  

No preenchimento de cargos públicos no Brasil, o especialista nem sempre é indicado para ocupar uma função dentro de sua área específica. O Fufuca, por exemplo, é diplomado em Medicina, mas desde jovem se inclinou para a política, uma vocação familiar. Não há registro de que o novo ministro seja um aficionado pelo esporte; que frequente o “Castelão”, vestindo a  camisa do Sampaio Correa, representante maranhense no Brasileirão da série “B”.  

Fica a pergunta no ar: “Por que Lula não demitiu, por justa causa, o ministro das Comunicações?”. Deputado pelo União, Juscelino Jr. é investigado pela Polícia Federal por fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. Pesa sobre o ministro a acusação de ter destinado verbas do orçamento secreto para o município de Vitorino Freire (MA), onde sua irmã Luanna Rezende era prefeita até ser investigada pela PF. Juscelino responde também por ter usado dinheiro público para asfaltar a estrada que leva até sua fazenda, onde cria cavalos de raça.  

Sem dúvida, o Lula dessa vez chutou a bola contra suas próprias redes.  

 

 

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Quem aqui não se lembra, entre os mais velhos, que quando se terminava o curso médio (clássico ou científico naquela época) e o indivíduo precisava trabalhar, tinha logo que fazer um curso de datilografia para ingressar no mercado, principalmente num banco ou escritório de uma empresa? Pois é, mas hoje você tem que ser muito bom em informática. Era a era do rádio e início da televisão, sem contar o jornal impresso, muito mais antigo. Quem não se recorda do mimeografo, que servia até para imprimir às escondidas folhetos subversivos de protestos contra o governo? A máquina fotográfica era analógica com rolos de filmes e hoje tudo é digital. O gravador para o jornalista fazer uma entrevista mais parecia com um tijolo de alvenaria. As gravações atuais são através de um celular ou um micro aparelho cheio de memórias e chips. Os telefones eram fixos e complicados para uma conversa mais longa. O repórter quando ia a uma cidade para uma cobertura jornalística não dispunha dos recursos que existem hoje, mas fazia um bom trabalho, talvez melhor que nesses tempos do avanço tecnológico, na tela virtual. Lembro bem de um dia que fui obrigado a passar uma matéria de Bom Jesus da Lapa através do telefone público, cheio de moedas na mão, na maior agonia. Quando não havia laboratório fotográfico na cidade pequena ou estava fechado em final de semana, era um “terror” para enviar o filme. Tudo era muito mais complicado para qualquer veículo de comunicação e para o profissional, mas o cara tinha que se “virar nos trinta”.

O avanço tecnológico facilitou em muito a evolução dos meios de comunicação de massa. Com esse progresso, as notícias e os fatos são divulgados de forma instantâneos, mas nada substitui o conteúdo e a qualidade se não houver uma boa formação profissional da escola. Mesmo com toda essa evolução, não houve, em termos proporcionais, uma melhoria do material que hoje é oferecido ao público ou à sociedade. A culpa disso tudo está no ensino que sofreu uma queda na aprendizagem.  Fala-se muito em mudanças tecnológicas nos meios de comunicação, no sentido do visual, na parte gráfica, no áudio e outros itens, mas a qualidade do trabalho ainda deixa muito a desejar.

 





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