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AS FORTES ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL E UM BRASIL DESPEDAÇADO

Asfaltos e pontes sonrrisais, barragens de barro, cidades construídas em terrenos inapropriados, falta de uma proteção consistente em locais de risco e destruição ao longo dos anos do meio ambiente contribuíram em muito para essa tragédia das enchentes de grandes proporções, nunca vista no Rio Grande do Sul.

Chamam todo esse drama de mudanças climáticas bruscas, ou interferência do El Nino, mas, na verdade, é a ação do aquecimento global que a humanidade não quer ver. A situação já está chegando ao ponto crítico que está atingindo os mais ricos dos centros de maior poder aquisitivo, os quais imaginavam que ficariam incólumes.

É hilária, triste, deprimente e primitiva a imagem de homens da defesa civil, se não me engano, colocando sacos de areia e tentando conter a força da água do Rio Guaíba na capital que teve uma boa parte inundada, inclusive todo centro histórico.

As comportas também não resistiram e, nessas horas, não há muita coisa a se fazer, só esperar e contabilizar os prejuízos e as centenas de mortos e desaparecidos. Todo país acompanha as cenas estarrecedoras, cuja responsabilidade maior é do próprio ser humano.

Entre as entrevistas, vi uma mulher culpar a natureza. A humanidade ainda não caiu a ficha de que a terra está em ebulição em decorrência de séculos de depredação do meio ambiente e de que já estamos vivendo em pleno aquecimento global, sem mais retorno porque o consumismo só faz aumentar.

O culpado por tudo isso, minha senhora, é o homem. A natureza apenas está dando a sua resposta pelas agressões sofridas há séculos. Sempre repito e comento que o Brasil era visto antigamente como um paraíso do mundo, sem terremotos, vulcões, tempestades, tufões, tornados e ciclones. Muitos desses fenômenos já estão aqui entre nós, especialmente no sul.

Em minha modesta opinião, digo que temos um Brasil, despedaçado, despreparado, sem estrutura e sem planejamento. Tudo é feito no improviso. Some a tudo isso a corrupção em todos setores, instituições e órgãos governamentais. Alguém aí acredita que depois de tudo haverá mudanças no comportamento preventivo?

Na maioria, as obras são superfaturadas e construídas com materiais de segunda ou quinta categoria. Bastam os rios subirem seus volumes de água para arrastarem pontes e abrirem crateras nos asfaltos, alagando tudo pela frente, principalmente casas feitas em locais inapropriados. Criam-se os gabinetes de crises, as estratégias de socorro e depois tudo volta ao normal como se nada tivesse acontecido.

Na capital gaúcha, por exemplo, nunca se preocuparam em levantar barreiras concretáveis mais altas para evitar uma invasão das águas das chuvas mais torrenciais como acabam de ocorrer. Depois é só limpar os estragos e tudo continua na mesma como se essa tragédia seja a única da história.

Quando acontecem essas catástrofes, como esta agora do Rio Grande do Sul, os governos estadual e federal, sem contar as doações das populações, gastam milhões e bilhões de reais que deveriam ter sido evitados se lá na frente tivessem feito as devidas prevenções, mas o Brasil não é de planejar, prefere a corrupção.

O povo mais pobre é o mais castigado, que fica desalojado e na dependência das campanhas de caridade, mas a intensidade dessas mudanças climáticas (secas, ciclones, tornados e outros fenômenos), provocadas pela ação perversa do ser humano, já está também chegando aos ricos, que devastam o meio ambiente, florestas e margens de rios para edificarem suas mansões.

O GALO CANTOU ERRADO

O feirante-tropeiro saia da sua roça todas as madrugadas de sexta para sábado em seus jumentos para vender sua farinha, mantimentos (feijão e milho) e beijus na feira da cidade. Tinha que chegar cedo para pegar os primeiros fregueses e não perder para seus concorrentes.

Como não tinha relógio e rádio em seu rancho, sempre se guiava pelo canto do velho galo para percorrer uma distância de cerca de 20 a 25 quilômetros e chegar no horário. Sempre dava certo no apressar dos passos e chegava à cidade ao clarear do dia, na barra dos primeiros raios solares.

Era um bravo trabalhador, de sol a sol, de chuva a chuva que ficou calejado com a seca e com a fome, mas era um zangão que não tolerava pilherias com sua pessoa e logo partia para uma briga.  Tipo do sujeito cismado. Era parecido com seu Lunga casca grossa, mas, no fundo, tinha um bom coração e ajudava muita gente necessitada.

Sempre confiou no despertar do galo da sua mulher, mas teve um dia em que o danado cantou errado. Foi sua sentença de morte. Deve ter tido algum pesadelo ou alguma raposa se aproximou do galinheiro. Quem sabe uma galinha não tenha lhe acordado com algum desejo.

Nessa noite de total breu, sem o luar, o guerreiro acordou apressado com o primeiro canto do galo e, todo avexado, mandou seu menino moleque pegar os animais no pasto. O tempo urge!  Não queria perder suas vendas e deixar de fazer uma boa feira.

Estava mesmo apressado e não parava de reclamar da vida dura que levava, como todo sertanejo nordestino, para ganhar o sustento da casa. A mulher com seu temperamento calmo e paciente, resmungou lá de dentro: “Êta homem doido! Esse galo cantou errado”!  Havia algo esquisito mesmo porque não se ouviu nenhum galo cantar naquelas bandas!

Colocou os arreios nos jumentos e as cargas de farinha, um saco em cada lado da cangalha, cada um pesando cerca de 50 quilos. Era uma viagem cansativa de uma estrada esburacada, com pedregulhos e ladeiras. Todo cuidado era pouco nas subidas e descidas. Quando chovia, às vezes tinha jegue que atolava nas poças de águas. Não é nada fácil a vida de um roceiro para manter sua sobrevivência.

Era um sofrimento e, por isso, tinha que sair cedo, mas nesse dia o galo cantou errado. O trabalhador rural percebeu isso logo que passou na porta do vizinho e ainda estava dormindo. Estranhou porque ele tinha relógio e também saia na hora certa.

– Esse miserável do galo cantou errado – desconfiou o roceiro que começou a cafangar e a xingar o dono do terreiro que lhe orientava em suas jornadas para a feira. Não parava de esbravejar e ameaçar que na volta ia botar aquele galo na panela para ele nunca mais cantar errado.

Ele e seu menino, o tropeiro mirim obediente ao pai e sempre calado para não levar uns tabefes, entraram na cidade ainda no escuro da noite, sem nenhum sinal do amanhecer do dia. Todo mundo ainda dormia em suas casas, nem um latido de cachorro.

Aquilo lhe deixou mais irado ainda e continuava a jogar praga no galo que cantou errado. Fomos os primeiros a entrar na feira. Arriamos as cargas nos couros e o velho sentou nos sacos com uma raiva danada.

Como sempre levávamos uma esteira e outros apetrechos na tropa, o menino aproveitou para tirar um cochilo. Demorou para o alvorecer do dia e aparecer os primeiros fregueses da sua farinha, de qualidade que era de primeira e tinha um diferencial da dos outros feirantes.

Era um produto feito no capricho, com aquele esmero, sequinho e com aquela tapioca por dentro. O comprador passava os dois dedos, como de costume, e saia aquele pó branco. Era a melhor farinha das redondezas.

Tudo foi vendido nas primeiras horas, mas o feirante ranzinza não esquecia do galo e disse que ia jogá-lo na panela quando voltasse para casa. Não tinha perdão.

O galo percebeu do sucedido e a dona lhe avisou que o patrão ia lhe tirar o couro. Todo cabreiro, o galo sabendo que poderia ir para a panela por ter cantado errado se meteu dentro do mato. Foi uma fuga estratégia e só retornou dois dias depois.

Quando o homem chegou soltando fogo perlas ventas, o galo, para não cair na faca, já tinha pulado fora e se picado para outros cantos. Se meteu nas capoeiras. Deixou a poeira passar e foi chegando de mansinho quando o seu senhor já estava mais calmo e esqueceu do ocorrido.

É aquela história: A pessoa pode fazer cem por cento certo, mas se errar no um por cento, ou até chegar aos noventa e nove vírgula nove por cento, não presta e é condenado. A vida no seu tempo real é sempre assim. O pobre do galo que o diga, pois por pouco não caiu na panela porque somente numa madrugada cantou errado.

 

 

 

O 1o DE MAIO E OS SINDICATOS

Marcha dos evangélicos, corridas de atletismo, churrascos, curtição nas praias, shows musicais, homenagens ao piloto Ayrton Senna e outras atividades festivas no Dia do Trabalho.

Para quem não conhece o Brasil, até parece que aqui é um paraíso de plena harmonia entre o capital e o trabalho onde não existe exploração dos patrões e nem escravismo. Nunca vi em toda minha história um país tão alienado, enquanto em várias partes do mundo ocorreram manifestações de protesto!

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) soltou uma nota tímida falando de justiça social pela dignificação do trabalhador dentro da linha conservadora do cristianismo, bem diferente daqueles tempos da Teologia da Libertação onde condenava abertamente o capitalismo selvagem que só pensa no lucro.

Vejo aqui em grupos das redes sociais gente passando para dar um feliz 1º de Maio, Dia do Trabalho, mas nos tempos atuais do capitalismo cada vez mais predador, não temos muito a comemorar.  Tudo isso me faz lembrar dos velhos tempos em que o 1º de Maio era uma demonstração de força dos sindicatos e dos movimentos sociais no Brasil, sem falar pelo mundo a fora, com marchas e até embates com as forças policiais.

Ainda vemos alguma coisa pálida da parte dos grandes sindicatos, como dos metalúrgicos, petroleiros, bancários e petroquímicos. Até as centrais, como a CUT e CGT, as mais fortes, se renderam ao peleguismo, sem contar às mordomias de seus dirigentes quando ainda vigorava o imposto sindical e milhões de filiados que acreditavam nas lutas pelas melhorias dos trabalhadores.

Hoje, vemos os sindicatos, principalmente os pequenos, engolidos pelo capital, que impõe suas negociações frente ao enfraquecimento das entidades e ao desemprego que chegou a mais de doze milhões de desesperados. Dizem que hoje são oito milhões (não acredito muito nessas estatísticas) oficiais.

Até o Ministério do Trabalho baixou sua guarda no âmbito das fiscalizações frente a uma reforma trabalhista – feita pelos patrões e Michel Temer, o drácula – que escravizou a mão-de-obra, limitando os acordos, com o trabalho dos intermitentes, os free-lancer e deixando o empregado desprotegido frente ao empregador que faz sua oferta do “pegar ou largar”.

Hoje é cada um por si (os pequenos sindicatos não têm representação) quando nos anos 50 e 60 até os estudantes, aposentados e outras classes liberais se juntavam aos trabalhadores nas praças para apoiar suas reinvindicações e ampliar seus direitos. O trabalho análogo à escravidão está por toda parte, não somente nas carvoarias, nas colheitas dos campos, em certas áreas da construção civil e nos garimpos de mineração.

Veio a ditadura civil-militar-burguesa e amordaçou os movimentos. Com a redemocratização, o peleguismo voltou (Governos do PT) como nos tempos de Getúlio Vargas (segundo mandado) com festas, sorteios de presentes e shows de cantores sertanejos, de arrocha e sofrência nas praças e avenidas.

Hoje, o que vemos e temos são algumas greves pontuais de professores e outras pequenas categorias que logo se sucumbem por falta de adesão da própria sociedade individualista que só pensa no direito do ir e do vir. As manifestações não arrastam mais multidões como ainda ocorre na França, na Coréia do Sul, Estados Unidos, Inglaterra e até aqui entre nossos hermanos da Argentina, do Chile e outros vizinhos.

Portanto, num país onde o predomínio é a informalidade do empreendedor autônomo por necessidade, e não por vocação própria, não vejo muito a comemorar e desejar um feliz Dia do Trabalho, se quem domina é o capitalismo que dita as regras e trata o operário como escravo.

Sem essa de colaboradores. Isso é um papo furado, conversa para boi dormir. Não passa de uma questão de linguística para dizer que todos estão irmanados numa mesma causa e são iguais. Para comprovar isso estão aí as profundas desigualdades sociais e regionais, mais ainda acentuadas no Norte e Nordeste, a região que sempre foi escrava do sul e do sudeste.

UM PAPO MANEIRO ENTRE AS VACINAS

Num Brasil doente por culpa maior do poder público, um dos países do mundo que mais consome remédios, o brasileiro, principalmente as crianças e idosos, carrega dentro de seus organismos um batalhão de vacinas para combater uma gama de doenças, muitas das quais nem deveriam mais existir, como sarampo, catapora, varíola, cólera e outras.

Lá dentro da corrente sanguínea ou em outros órgãos, elas se cruzam para o papo de vacinas, cada uma exibindo suas propriedades e contando suas histórias. Já imaginou o que elas não proseiam umas para outras. Minha função evita a morte; eu sou paralisia; minha nacionalidade é chinesa, japonesa, inglesa, norte-americana e coisa assim. A maioria é vítima de fake news e boatos maledicentes dos extremistas negativistas, que o diga a campeã Covid-19 entre os anos 20 a 22.

A da vez agora é a mais nova contra a dengue que está pegando todo mundo e derrubando nas clínicas e hospitais. É transmitida por um mosquito vindo lá daquelas bandas da África, sei lá. Convencionaram dizer, inclusive a mídia, que suas larvas vêm das casas que deixam vasilhas e caixas de água abertas, mas o maior culpado mesmo é o poder público que deixa terrenos abandonados cheios de lixo e mato, esgotos a céu abertos e ruas sem saneamento básico.

Na criança a BCG-ID cruza com a Hepatite B (1) e se cumprimentam. – Quem é você? A primeira diz ter vindo para acabar com a tuberculose que já ceifou muita gente no passado. Era o “mal de siècle”, coisa dos românticos boêmios e dos miseráveis famintos.

-Ah, ao nascer o pirralho (a), eu sou a primeira dose contra a Hepatite B, mas vem outra aí daqui a um mês. Esses bichos dos bacilos, vírus e bactérias são brabos. – Tô indo para o trabalho com armaduras, espada, capacete e tudo. – Vá lá que meu caminho é outro. Nem vamos mais nos ver. – Nossa missão é lutar contra monstros!

– Lá vem ela a vacina tetravalente da primeira dose contra tétano, coqueluche difteria, meningite e outras infecções, cujas algumas dessas doenças haviam deixado de existir no Brasil – confidenciou uma para outra que seguiu sua viagem para exercer sua função. O povo ficou descrente e elas retornaram com força.

– Olha lá adiante a VOP primeira dose, vacina oral contra poliomielite da paralisia infantil, a conhecida pólio, que foi esquecida por muitos anos. Ela bateu bem de frente com a VORH, também primeira dose da diarreia por rotavírus humano. Logo atrás veio a tetravalente da segunda dose e a oral VOP da poliomielite da paralisia infantil.

– E aquela qual é? Perguntou uma para a outra. – Ah, é VORH da segunda dose da diarreia por rotavírus humano (4). Esquisita ela, não é? – Nem conhecia, toda metida a besta e numa correia danada para seguir as outras.

– Tem ainda a tetra e a VOP da terceira dose. Coisa de louco! Lá no fundo aparece a outra terceira dose da hepatite B. – O trânsito aqui está ficando engarrafado, falou uma engraçadinha para a febre amarela, com aparência chinesa de olhos espichados.

– Conhece aquela madama velha SRC da tríplice dose, para sarampo, rubéola e caxumba que aquele povo da antiga era cometido dessa doença e tratava com rezadeiras, chás e simpatias? Pois é, oi ela novamente! – Tem a VOP reforço e a DTP tríplice primeira (difteria, tétano e coqueluche bacteriana).

– Esses cientistas não perdem tempo e os laboratórios ganham os tubos, principalmente dos países do terceiro mundo. A outra logo a repreendeu que o termo não era politicamente correto. – São agora chamados de países emergentes, gente! –Olha o preconceito!

– Para os idosos também existem vacinas de cacetada, a começar pela influenza, para combater a gripe. ´- É, essa passou por aqui espirrando para todo lado que chegou a me atingir – reclamou uma delas, toda constrangida.  Dizem que ela atua contra pneumonia. Essa tal de influenza só aparece aqui de ano em ano, mais parece político em tempos de eleição.

A mais metida e sabida explicou que todas têm contraindicações, especialmente para gestantes e certas doenças crônicas. – Já viu que aqui cada uma tem a sua idade apropriada? – Olha o respeito! Sem discriminação de faixa etária e cor porque pode dar cadeia para nós.

– Tem gente antiga e polêmica na área, avisou uma mais esperta. É a sumida Covid-19! – Essa deu o que falar: Foi achincalhada e os negativista caíram de pau nela, sobretudo daquela coitada que saiu lá da China.

– É, deu até CPI da corrupção, e a peste da doença matou mais de 700 mil pessoas, só no Brasil, nos tempos do capitão-presidente que disse que ela causava HIV e quem a tomasse ia virar jacaré. Foi a vedete dos anos 2020 até final de 2022. Paralisou o mundo e isolou multidões em suas casas.

– Foi o tempo dos mascarados quando as pessoas procuravam manter-se distantes umas das outras.  – É, o papo tá bom aqui dentro desse escuro de tantas veias e órgãos, mas vamos trabalhar gente, e cada uma por si para deixar essa gente sem essas doenças exóticas tropicais, depois de tanta destruição do meio ambiente.

OS 60 ANOS DO CERCO DE CONQUISTA PELAS TROPAS MILITARES DO EXÉRCITO

TEMA DISCUTIDO NO SARAU A ESTRADA

O seis de maio de 1964 foi o episódio mais marcante na história de Vitória da Conquista quando as tropas de 100 soldados do capitão Antônio Bendochi Alves Filho, com três jipes, quatro caçambas e um ônibus particular, cercaram a cidade de pouco mais de 50 mil habitantes (Praça Barão do Rio Branco e adjacências) e cassaram, na base dos fuzis e metralhadoras, o mandado constitucional do prefeito José Pedral Sampaio, eleito pelo povo em 1962 e empossado em sete de abril do ano seguinte.

Era o início da ditadura civil-militar-burguesa de 1º de abril de 1964 e, infelizmente, poucos conquistenses têm conhecimento desse fato opressor e arbitrário que merece ser lembrado e discutido como o dia em que Conquista foi cassada e amordaça pelos coturnos militares, quando cerca de 100 pessoas foram presas como subversivas e comunistas, muitas das quais levadas para Salvador. Foi o dia do terror e do desespero, com muita gente fugindo e queimando livros e documentos.

Conquista, juntamente com Feira de Santana (Chico Pinto) e Alagoinhas (Murilo Cavalcante), era a cidade mais visada na Bahia por expressar suas ideias socialistas de mudanças, sob a liderança de Pedral que quebrou uma hegemonia política oligarca de quase cem anos dos coronéis e intendentes. Conquista foi uma trincheira de resistência ao regime ditatorial e pagou um alto preço por isso.

Esse tema foi colocado em pauta pelo “Sarau A Estrada”, premiado com o troféu Glauber Rocha pelos seus 14 anos de existência, no último sábado (dia 27/04), no Espaço Cultural do mesmo nome, quando debatemos o pedralismo, sua disputa eleitoral em 1958 contra Gerson Sales, sua derrota e, finalmente, sua vitória em 1962 para o candidato Jesus Gomes dos Santos, derrubando as elites. Foram cenas memoráveis de resistência.

Foi um divisor de águas na história de Conquista que deve ser lembrado pela mídia, pelos estudantes, artistas, intelectuais e pelas instituições democráticas em geral, segundo o palestrante do evento, jornalista e escritor Jeremias Macário. Os trabalhos foram abertos pelo professor Itamar Aguiar que destacou a importância dessa data de seis de maio de 1964, quando, numa frienta noite, a Câmara Municipal foi cercada pelas tropas e os vereadores foram obrigados a votar pelo impedimento do prefeito, preso no 9º Batalhão da Polícia Militar, de continuar a exercer o seu legítimo mandado.

Macário, que escreveu o livro “Uma Conquista Cassada”, explicou todo processo do pedralismo desde meados dos anos 50, um jovem, saído de dentro da oligarquia (neto do coronel Gugé), formado em engenharia civil pela Universidade Federal da Bahia, que retornou a Conquista com suas ideias socialistas em defesa dos mais pobres, apoiando as reformas de base (nacionalização dos bancos, remessa de lucros para o exterior e a reforma agrária) do governo João Goulart, o Jango.

Por suas mudanças revolucionárias estava na lista das forças armadas que contaram com a delação de traidores da direita (não premiada), como Irís da Silveira, Ismênio da Silveira, Pedro Lopes Ferraz, do jornal “O Sertanejo” (Sertanojo), o pastor Valdomiro Oliveira, o vereador Altamirando Novais e tantos outros da elite burguesa que quiseram se vingar e não aceitavam a derrota de 1962. Foi um ato de vingança dos desesperados que foram à desforra.

Os primeiros atos de Pedral em seu único ano de governo foi resolver os principais problemas de Conquista relacionados com a falta de água, energia (racionamento por bairros) e saneamento básico, sem falar na questão da educação. Por isso foi a Brasília na busca desses pleitos. Trouxe a Conquista o presidente Jango, durante a VIII Exposição Agropecuária, de 26 a 30 de maio, quando nesse período o governador Lomanto Junior instalou seu governo por quatro dias na cidade, com todo seu secretariado.

Pedral, com seus 35 anos, o prefeito mais jovem que Conquista já teve, tentou ainda melhorar a educação. Para tanto, esteve em Pernambuco, uma referência no setor, conversando com o governador Miguel Arraes e seus assessores, para aqui implantar os mesmos métodos de ensino que lá estavam dando certo. Durante seu breve período na prefeitura e bem antes de se eleger, Pedral, do PSD, contava com o apoio dos estudantes, professores, sindicatos (bancários, comerciários e dos trabalhadores da construção civil) e até de parte da direita integralista. Ainda estudante esteve no Rio Grande do Sul conversando com o deputado Leonel Brizola.

Todos estavam na lista do comandante Bendochi no IPM (Inquérito Policial Militar) e foram presos o produtor cultural Vicente Quadros, o menino de menor Cláudio Fonseca, irmão de Pedra, Anfilófio, Paulo Demócrito, João Idelfonso, Hugo de Castro Lima (médico legista), Raul Ferral (prefeito em 1977), Camilo de Jesus Lima (poeta e escritor), Osvaldo Ribeiro (presidente do grêmio da Escola Normal que fugiu para Minas Gerais), vereador Péricles Gusmão Régis, Franklin Ferraz, Hemetério Pereira. Antenor Rodrigues Lima, o “Badu”, Flávio Viana de Jesus, (marceneiro), Alcides Araújo (comerciário), Aníbal Lopes Viana (jornalista do jornal “A Conquista”), Jackson Fonseca (rádio técnico), Lúcio Flávio Viana (bancário), Érico Gonçalves Aguiar (agricultor), Galdino Lourenço (motorista), Reginaldo Carvalho Santos (diretor do jornal “O Combate” de linha esquerdista), Altino Pereira (sindicato da construção civil), Raimundo Pinto (comerciante), o professor Everardo Públio de Casto, que ficou 11 meses preso em Salvador, tido como o mais “perigoso” comunista e tantos outros considerados subversivos.

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Toda essa arbitrariedade de inquéritos e torturas psicológicas de ameaças de levar os presos para a ilha de Fernando de Noronha, culminou com a morte, no dia 12 de maio, do vereador Péricles Gusmão, líder do prefeito na Câmara, pessoa íntegra e que não aceitava humilhação. Nas dependências do Batalhão, o comando anunciou que o preso se suicidou com a gilete de barbear, mas até hoje fica a dúvida de ter sido matado pelos militares. Na véspera, por não suportar o inquérito, chegou a entrar em luta corporal com Bendochi.

Com cortes na carótida e nos pulsos e por outros indícios, até hoje o advogado Rui Medeiros – defensor da família para ser indenizada pelo Estado – não acredita que Péricles tenha cometido suicídio.  De qualquer forma, foi a primeira morte da ditadura na Bahia e talvez no Brasil. Pelos acontecimentos e pelas cenas de resistência ao regime, inclusive perpetrado por um grupo de mulheres, lideradas por Olívia Flores, para reverter a cassação do prefeito Pedral, é que o seis de maio não deve ser esquecido, mas lembrado e debatido por toda sociedade conquistense.

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Além da sua estúpida prisão, Pedral teve seus direitos políticos cassados por 10 anos pelo AI-1 e estendido por mais 10 anos pelo AI-2. Mesmo assim, ele continuou fazendo política e militando nos bastidores até que voltou a ser eleito prefeito em 1982, sendo cogitado a se candidatar a governador. Conquista permaneceu exercendo sua resistência e ainda teve como prefeito Gilberto Quadros, golpeado pela ditadura, Jadiel Matos, em 1973, apoiando por Pedral, Raul Ferral, em 1977, Murilo Mármore, em 1988 e, novamente, Pedral, em 1992.

Esses assuntos e outros foram debatidos pelo “Sarau A Estrada”, na última noite de sábado, seguidos de cantorias de violas por Manno Di Souza, Marta Moreno, Jurandir, seu Armando e sua esposa, causos de Jhesus, de Jessier Quirino, e muitas declamações de poemas (Jeremias, Liu e demais participantes). Uma galinhada caipira, preparada pela anfitriã Vandilza Gonçalves, vinho e umas geladas cervejas esquentaram a noite, num papo fraternal e descontraído de sempre,  Foi mais um Sarau de troca de ideias, conhecimento e saber que varou a madrugada.

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O DIA EM QUE O CANDOMBLÉ NÃO ENTROU NO BAHIANO

(Chico Ribeiro Neto)

“Antônio Maria foi, de longe, o maior cronista da noite. Talvez por ser o único a compreendê-la em toda a sua dimensão, a se enfronhar para valer naquele novo estilo de vida, tão intenso e diferente. Afinal, todos os infortúnios se acumulam e se liquidam nos balcões de bar e nas pistas das boates. A noite pede o ombro amigo, o conselho”.

Esse é um trecho da apresentação do livro “Vento Vadio – As crônicas de Antônio Maria” (lançado em 2021 pela editora Todavia), feita por Guilherme Tauil, responsável pela pesquisa e organização da coletânea. O livro traz 186 crônicas do pernambucano Antônio Maria em 491 páginas.

Antônio Maria foi também um grande compositor: “Manhã de Carnaval” (com Luis Bonfá), “Se eu morresse amanhã de manhã” e “Menino Grande”. Um dos seus maiores sucessos foi “Ninguém me ama”, que, segundo Guilherme Tauil, “virou o hino da fossa, solicitado em todas as boates, executado em todas as rádios.”

Antônio Maria veio para Salvador, no início de 1945, como diretor da Rádio Sociedade da Bahia, dos Diários Associados, “emissora maior e prestigiosa”, segundo Tauil.

“De início, morou numa pensão no largo Dois de Julho, próximo à sede da rádio, na rua Carlos Gomes – por onde muitas vezes foi visto andando de roupão. Reformulou toda a programação e elaborou concursos de música popular para cantores e compositores. Nomes como os dos sambistas Riachão e Batatinha, este batizado pelo próprio Maria, despontaram ali”, diz Tauil. Em 1947, ainda por aqui, passou a publicar no Diário de Notícias uma coluna sobre futebol, “O comentário de Antônio Maria”. Em abril de 1948, Antônio Maria é transferido para o Rio, para arrumar a direção artística de duas emissoras: a rádio Tupi e a Tamoio.

Guilherme Tauil selecionou cinco crônicas de Antônio Maria sobre a Bahia. Numa delas, “Um botão de rosa para Maria de São Pedro” (O Globo, 04/06/1958), ele fala de duas cozinheiras baianas, duas Marias. A primeira, “simplesmente Maria, que parava ali na varanda do Tabaris, ao lado do antigo Cine Guarani, com vista debruçada para a Barroqinha. Nosso ponto de encontro, quando deixávamos o estúdio da Rádio Sociedade e a redação do Diário de Notícias. Era 1945 e nossa alma estava repleta de sonhos – sonhos que, ao menos eu, não sonharia hoje, tão velho que estou, ao peso do desencanto. Sonhávamos o povo livre, a verdade e as virtudes dos líderes. Quando morreria o último tirano fascista?”

“Era o tabuleiro de Maria – Maria simplesmente. Gorda, de ancas sedentárias e seios maternais. Dava um tamborete, depois um prato a cada um. Deitava uma concha de camarão, outra de arroz e um ovo cozido no molho oleoso de coco e dendê. Não me lembro de comida tão gostosa em toda a minha gorda existência”.

A outra é Maria de São Pedro, no Mercado Modelo, que Antônio Maria homenageou assim, após a morte dela: “Maria fez, com o seu dendê, o que faz Caymmi em sua canção, Pancetti em sua tinta, Jorge Amado em seu romance, Marta Rocha em seus olhos azuis”.

Na crônica “Bahia, candomblés e pais de santo” (Manchete, 18/04/1953), Antônio Maria fala da sra. Berle, embaixatriz dos Estados Unidos no Brasil, que chegou a Salvador e desejava conhecer um terreiro de Candomblé. Como chovia muito nesse dia e o acesso aos principais terreiros estava difícil, ela “recolhera-se ao hotel e pedira, se possível fosse, que organizassem uma macumba completa nos salões do Bahiano de Tênis ou da Associação Atlética”.

“Esse capricho da sra. Berle feriu os brios de todos os pais de santo da Bahia, que se negaram a deixar seus terreiros e transformar sua religião em show para americano achar graça”, diz Antônio Maria e prossegue: “Também a sociedade, as famílias ‘de bem’ da Graça e da Barra, protestaram contra a possiblidade de trazer mandinga, cantoria e suor

de negro para os salões, onde os seus longos vestidos alisavam o assoalho, ao som de valsas e de blues. A visitante foi embora sem ver candomblé”.

Antônio Maria é, sem dúvida, um dos melhores cronistas do Brasil. Luis Fernando Verissimo disse sobre Maria: “Ele fazia a crônica lírica e literária dos outros, mas fazia humor superior. Como, por exemplo, aquele bilhete que deixou para o amigo em seu apartamento: “Se você me encontrar dormindo, deixe. Morto, acorde-me”. Ninguém acordou Antônio Maria na madrugada de 15 de outubro de 1964, quando, aos 43 anos, teve um infarto fulminante após trocar um cheque no restaurante Le Rond Point, em Copacabana.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

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O QUE FIZERAM COM A NOSSA CULTURA?

Para começar nosso papo, diria que amarraram a nossa debilitada cultura num tronco; deram umas chibatadas de sangrar sua carne; e esqueceram ao léu do tempo, sem dar água e alimento. Outros teriam mais a comentar e a contestar. Quem sabe, até não concordar! No caso específico, estou me referindo a Vitória da Conquista, mas pode ser extensivo a Bahia e ao Brasil.

Estou recebendo aqui nas redes sociais, através do “Grupo Cultural do Sarau A Estrada”, a notícia de que será realizada nesta sexta-feira (dia 26/04), no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, uma plenária itinerante do Conselho Estadual de Cultura (CEC), com objetivo de levar as discussões sobre políticas culturais para os territórios e dialogar com os artistas, gestores e fazedores culturais.

Não sabia que em Conquista existe uma política cultural, a não ser o calendário do São João (neste ano deve bombar com as eleições) e do Natal (iluminação da Praça Tancredo Neves). Anunciam que são as primeiras sessões itinerárias deste ano e anunciam que vão dialogar com os artistas. Vamos lá prosear, e depois?

No início do ano passado, se não me engano, estiveram aqui gestores da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SecultBa, com o intuito de conversar para promover um salão de artes plásticas. Estive lá presente como presidente do Conselho Municipal de Cultura e, como resultado lamentável, nada aconteceu.

Cadê as conferências de cultura? Nem tivemos conhecimento dos relatórios municipal e estadual. Soube que lá em Salvador só teve shows musicais, blábláblá, papo para boi dormir, burocracia e nada mais. Estamos de saco cheio de tudo isso. Queremos resultados, coisas concretas e não ficar discutindo o sexo dos anjos.

Ah, diz o chamado do Conselho que o principal assunto da pauta da plenária itinerante (haja gastos!) será a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) que investirá mais de 220 milhões de reais na Bahia. É muita grana! Mais um monte de burocracias, exigências e umas atrapalhadas de pareceristas como ocorreu na Lei Paulo Gustavo onde os bons projetos ficaram de fora. Apresentei a proposta de levantar a história da fotografia em Vitória da Conquista e, como tantos outros, fiquei de fora.

Sou até suspeito de reclamar, mas minhas notas foram boas. A explicação que me deram é que fui superado pelas cotas. Ouvi relatos e a revolta de outros, com bons projetos que também foram excluídos. Por que todos estes pareceristas têm que ser de fora? O que é melhor para a nossa cidade?

Bem, voltando à plenária itinerante do dia 26, a informação é que a comissão provisória vai discutir e formular propostas para a execução da PNAB – Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura no Estado. Na ocasião, serão apresentadas as bases da Lei número 14.399, de oito de julho de 2022, e tome burocracia irritante. Depois haverá escuta da comunidade cultural do território.

Informa ainda que, na oportunidade, os artistas terão a chance de conversar diretamente com os gestores da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SecultBa. Serão entregues moções de aplausos a artistas fazedores de cultura de destaque no território sudoeste, melhor sudeste. Moções, sem ações?

Gostaria de saber se eles, os membros do Conselho Estadual de Cultura (CEC) e os prepostos da Secult sabem que a nossa cultura em Conquista foi sepultada pelo poder executivo? Sabem que os equipamentos culturais Teatro Carlos Jheová, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha estão fechados há anos e que o tempo está se encarregando de destruí-los? Sabem que não temos um Plano Municipal de Cultura?

A Secretaria do Estado vai trazer soluções concretas e recursos financeiros para abrir esses espaços que tanto fazem falta aos artistas em geral nas suas diversas linguagens (música, teatro, literatura, dança, artes plásticas, audiovisual e outras interpretações artísticas)? Estão sabendo que os artistas daqui estão sem locais para fazer seus ensaios e apresentações?

Sabem que a Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer – Sectel não tem verbas e orçamento para apoiar ações culturais no município? Sabem que o governo do estado não coloca dinheiro no Fundo Municipal de Cultura?  Sabem que cada segmento, como escritores e outros, fazem seus eventos na “tora”, por conta próprio, sem nenhuma ajuda ou subvenção do poder público? Sabem que nem veio a público o relatório da Conferência Municipal de Cultura realizada no final do ano passado?

Não queremos ôba-ôba e sim que tirem a cultura amarrada no tronco e dê a ela água e alimentação para que sobreviva. Queremos um papo reto e não desse emaranhado burocrático. Os artistas não suportam mais essas plenárias que, no final, cada um vai para seu canto e tudo continua como dantes na Casa de Abrantes.

 

UM PAÍS DOENTE DO CORPO E DA MENTE

Um país sem saneamento básico (mais de 40% da nossa população não dispõem desse serviço) é um país doente do corpo e, sem educação, cultura e leitura, é também doente da mente. Hoje, 23 de abril, é o Dia Internacional do Livro, pouco lido nos tempos atuais porque o celular fofoqueiro e superficial se tornou bem mais valioso.

Portanto, infelizmente, somos um país doente do corpo e da mente, fácil de ser manipulado pela politicagem rasa em épocas de eleições. Não se trata de ser negativista quando se tem a realidade escancarada. O Brasil é um país que está no pódio das desigualdades sociais no ranque mundial, e as regiões Norte e Nordeste são as mais pobres e doentes, conforme estatísticas do IBGE.

Dengue, zica, chikungunya, febre amarela, leptospirose, varíola, sarampo, catapora, poliomielite, cólera, febre ourochoupe, malária e tantas outras fazem parte do nosso rol de doenças em pleno século XXI, muitas das quais nem existem mais nos países desenvolvidos. Há vacinas para combater essas “pestes”.

“Melhor prevenir que remediar” – diz o ditado popular, ou sabedoria popular, mas nosso país prefere remediar gastando fortunas de milhões e bilhões com vacinas e remédios caros importados. Os planos de saneamento básico (fala-se em bilhões de investimentos no setor) são sempre adiados e postergados.

Os gastos públicos são astronômicos nos três poderes (as três castas dominadoras), gerando déficits fiscais primários (gasta-se mais do que se arrecada) no que termina faltando dinheiro para educação (greves nas universidades), para a saúde e o saneamento básico, que é uma prevenção às doenças. Germes, vírus, bactérias estão soltos matando os mais pobres e superlotando as unidades precárias do SUS.

É uma vergonha porque o Brasil é um país rico e tem muitos recursos (não é falta de dinheiro) que são desviados, mal-usados, boa parte destinada às mordomias e a projetos mirabolantes superfaturados que nunca são concluídos. Por isso é que somos doentes do corpo e da mente.

Este nosso país precisa é de um bom administrador Phd que exerça o cargo de diretor executivo, como se fosse uma empresa privada que controla seus gastos, onde o presidente seja apenas uma figura política, mas o cancro do Congresso Nacional, o espírito de porco, impede todo processo de desenvolvimento e nos afunda cada vez mais na pobreza e na ignorância.

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO

Com a colaboração do companheiro jornalista Carlos Gonzalez

Como se não bastasse a doença física do corpo, também somos “lelés da cuca”, ou seja, doentes da mente. Não temos nada a comemorar neste Dia Internacional do Livro (23/04), só lamentar porque somente poucos ainda cultivam o hábito da leitura. A maioria prefere o celular na mão curtindo as fofocas, as mentiras e os besteiróis. A onda é ser seguidor de qualquer idiota.

Segundo informações do amigo Fernando Michelena, a data surgiu de uma proposta da União Internacional de Editores, aprovada pela Unesco, em 1995. O dia coincide com o falecimento, em 1616, de três grandes escritores, Miguel de Cervantes Saavedra, William Shakespeare e Garcilaso de la Veja, o Inca.

A grande maioria das escolas públicas brasileiras, cerca de 70%, não tem bibliotecas. As grandes livrarias (Saraiva, Cultura, Civilização Brasileira) fecharam suas portas. Para não falar de Europa, na América Latina, o Brasil é um dos países com menos livrarias, sendo de longe superado pela Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, México e Peru. Todos têm um Prêmio Nobel de Literatura e nós nunca tivemos um nome laureado.

A maioria em massa prefere ter o samba no pé, o axé, o pagode, o arrocha e outros ritmos de músicas lixos no rebolado do corpo do que ter a leitura, o conhecimento e o saber na mente. Não sei qual o pior, ser doente do corpo ou doente da mente. Cada um que tire suas conclusões.

De acordo com pesquisa feita pelo meu companheiro jornalista Carlos Gonzalez, “enquanto livrarias ícones, como Saraiva e Cultura, fecharam as portas, castigadas pela queda de receita e altos custos das lojas físicas, outras redes juntaram os cacos dessa crise e vêm ocupando o espaço. De olho na experiência dos antigos concorrentes, buscam trilhar caminhos novos e evitar os erros de quem não sobreviveu às mudanças desse mercado”.

Publicado em 7 de outubro de 2023, a Justiça de São Paulo decretou a falência da rede de livrarias Saraiva. O pedido foi feito pela própria empresa, que já teve a maior rede de livrarias do país, em meio ao processo de recuperação judicial, por causa de uma dívida de R$ 675 milhões.

Gonzalez observa que a chegada da operação de venda de livros físicos da Amazon no Brasil provocou um choque no mercado. Especialistas avaliam que a tentativa da Saraiva e Cultura de acompanhar a disputa de descontos praticada pela gigante americana do e-commerce foi uma das principais razões que as levaram a fechar as portas.

   “Nos últimos dez anos, o número de livrarias de rua no Brasil caiu de 3.073 para 2.972, segundo dados da Associação Nacional das Livrarias. É um número não apenas absurdamente baixo para um país com 5.568 municípios, mas altamente concentrado: 1.167 lojas somente em São Paulo e 353 em Minas, o segundo Estado no ranking (para se ter uma ideia, apenas a cidade de Buenos Aires, na Argentina, tem 619 livrarias)”. 

Recente edição do jornal inglês The Guardian publicou matéria sobre a paixão de Buenos Aires pelos livros. A reportagem, ilustrada com foto da livraria El Ateneo Grand Splendid, revela que a capital da Argentina tem mais livrarias por habitantes do que qualquer outra cidade do planeta. São 734 estabelecimentos para uma população de 2.8 milhões. Uma média de 25 livrarias para cada 100 mil pessoas. Só para ter uma ideia, em Londres esse número despenca para 10 lojas para cada 100 mil habitantes.

Durante a Convenção Nacional de Livrarias, realizada pela ANL (Associação Nacional de Livrarias)  em agosto passado, a entidade lançou a 5ª edição do Anuário Nacional de Livrarias com levantamento de dados de 2023. A pesquisa detectou que o Brasil tem 2.972 livrarias espalhadas pelos cinco cantos do país.

Nos últimos anos, o varejo livreiro, especialmente as livrarias, passaram por muitos desafios: crise no mercado do livro, queda das principais varejistas do país e, mais recentemente, a pandemia do coronavírus que fechou as portas das lojas por um longo período. O Anuário, segundo a ANL, tem por objetivo mapear a localização das livrarias e identificá-las, bem como contribuir para ações empresariais futuras de investimento no setor livreiro.

De acordo com os dados do anuário, o Sudeste lidera com 1.814 espaços, seguido pelo Sul (561), Nordeste (334), Centro-Oeste (165) e Norte (98). O estudo também especifica as livrarias. Em primeiro lugar estão as lojas de Interesse Geral / Literatura, com 1.047 pontos; em segundo Infantil / Juvenil / Quadrinhos, com 914 e em terceiro, as Evangélicas com 321. Católicas (290), Técnicas / Científicas (158), Sebos / Novos / Usados (102), Didáticas (52), Idiomas (46) e Espíritas (36). Outras religiões (6) também aparecem na contagem.

“Podemos considerar que os dados apresentados nos trouxeram informações positivas de modo geral”, considera a organização do Anuário. Em 2022, cerca de 100 novas livrarias abriram no Brasil e em 2023, o resultado é mais positivo do que negativo. “Não ouve declínio do varejo do livro, mas sim uma reinvenção, consolidação e enfrentamento positivo do comércio livreiro”.

No intervalo entre o último anuário – publicado em 2013 – e o atual, a queda no número de livrarias foi de 1,8%, um declínio considerado mínimo por Marcus Teles, presidente da ANL. O presidente da entidade também faz algumas ressalvas de que há livrarias faltantes, isto porque o Anuário computou dados entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023.

Desde deste então, houve uma movimentação no setor com a Saraiva fechando diversas lojas e a Travessa indo na direção contrária – só para citar dois exemplos. Segundo Marcus, há uma diferença de pouco mais de 2% entre lojas que abriram e fecharam após a publicação do estudo.

Outras questões lembradas por Teles são as livrarias de saldo e de livros usados. “Temos vários pontos que devem ser analisados para considerar um espaço como livraria ou não: tem que estar aberta o ano inteiro, ter um número relevante de exemplares sendo vendidos, só para citar alguns exemplos.

Anuário contou com contribuição da Catavento Distribuidora, Disal Distribuidora, Distribuidora Loyola, Distribuidora de Livros Curitiba, Inovação, Rede Livrarias Leitura e Distribuidora e AEL-RJ.

 

A SABEDORIA POPULAR

A cultura oral, originária dos nossos ancestrais, é fascinante, pena que ela é pouco estudada e registrada nos compêndios acadêmicos. Com os tempos modernos, principalmente com os avanços das novas tecnologias da internet, ela vai sendo deixada para trás. Nossos jovens não mais guardam as tradições dos mais velhos, A música ainda resgata muitas coisas boas.

Uma dessa preciosidades da nossa oralidade, na grande maioria anônimas, são os ditos populares ou a também chamada de sabedoria popular. Junto a isso existem ainda os pensamentos de poetas, filósofos, intelectuais e até de políticos (os bons, sérios e éticos que são raridades) que nos fazem refletir e nos dão lição de vida. Alguns são contestáveis e até caíram no desuso.

Os caminhoneiros costumam colocar algumas frases nas traseiras de seus caminhões, algumas não mais politicamente corretas, especialmente quando se referem ao sexo feminino. Sempre apreciei esses ditos populares e vou aproveitar aqui para citar alguns, tais como, quem tem telhado de vidro, não joga pedra no do vizinho, roupa suja se lava em saca, pé que não anda não dá topada, o tolo que pouco fala passa por sábio, é melhor ficar calado do que dizer besteiras, antes prevenir que remediar, quem avisa amigo é, papagaio come o milho, periquito leva a fama, antes um cachorro amigo do que um amigo cachorro (essa é boa!), amor é uma flor que nasce no coração do trouxa e peru de fora come calado.

Tem tantas outras por aí que são incontáveis. Umas são sábias e outras nem tanto. Muitas não podem mais serem ditas porque os tempos mudaram e podem ser vistas como ofensas racistas, xenófobas, machistas e que ferem o brio das pessoas.

No entanto, a sabedoria popular que faz parte da nossa cultura, está também nas superstições, simpatias e outras crenças. A cauã quando canta numa baixada ou cacimba no final de uma tarde é mau agouro e tem mortes no meio, como aconteceu na Guerra do Tamanduá, no distrito de Campo Formoso, na época pertencente a Vitória da Conquista e hoje Belo Campo.

Alguns casos e causos dos tempos antigos se tornaram lendas na boca do povo, como de fantasmas, de homem que virava lobisomem em noite de lua cheia, a mula sem cabeça e o cavaleiro solitário.

Este causo eu ouvi contar quando menino na roça do meu pai. Gente que morava perto da estrada dizia que ele, em certas noites, saia de uma cancela de uma mata cavalgando em correria todo de preto. A cancela batia forte, mas dela não se via ninguém sair. Conta que uma vez um casal que morava à beira da estrada ouviu o tropel do animal e caiu dentro da capoeira e só voltou quando o dia amanheceu.

Tem a estória da Nega do Leite que passava na frente das casas nas roças lá pela madrugada e não parava de conversar. Daí o ditado popular de se dizer que tal pessoa conversa igual a Nega do Leite. Uma noite fiquei na varanda de casa esperando ela passar, mas cai no sono e não vi nada. Quando se falava de fantasmas, de almas penadas que saiam por aí fazendo assombrações, meu pai levava na gozação e afirmava que tinha mais medo dos vivos que dos mortos.

 





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