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:: ‘Notícias’

A ATRAÇÃO FATAL POR TRAGÉDIAS

A impressão que temos é que todo ser humano carrega dentro de si doses de sadismo, não por maldade, mas talvez por curiosidade e o ímpeto de fazer aquela fofoca; aumentar os fatos; criar e inventar boatos; dar o seu pitaco; e uma de “peru” que morre de véspera. Todos têm suas versões diferentes. Sempre digo que todo mundo é jornalista e adora uma novidade que quebre a monotonia.

Tem aquele ditado popular de que a curiosidade é quem mata o gato. Não sei sua origem. Já observou quando ocorre um acidente no trânsito ou um crime qualquer, seja grave ou de menor proporção? Em questão de segundos ou minutos a rua ou avenida fica apinhada de curiosos e, agora, com o celular, cada um saca o seu.

Um exemplo mais recente foi o do “sequestrador” que tomou várias pessoas como reféns no centro de Vitória da Conquista. Não tardou muito e apareceu aquela multidão no Terminal Lauro de Freitas e deu plantão até o final. Um colega amigo meu afirmou que tinha até mata mosquitos e caça fantasmas.

Basta uma confusão qualquer, todo mundo larga seus afazeres e até esquece da correria do dia a dia, do vaivém tumultuado. Quando existia aquela função na empresa de “boy”, ou “contínuo”, para levar malotes, encomendas, retirar e depositar dinheiro nos bancos (hoje é tudo pelo aplicativo), o rapaz (era sempre homem) parava no trânsito para ver qualquer confusão e atrasava todo trabalho. Quando chegava tomava aquele esporro do patrão.

E quando acontece um acidente na estrada! Ah, meu amigo, a grande maioria das pessoas é dominada pelo instinto de parar o veículo no acostamento e ir ver a tragédia, mesmo que o socorro já esteja sendo prestado às vítimas. Cada um quer dar uma de repórter, e tome mentira. O que mais rola nos papos é fake news.

Por falar nisso, quando estava na ativa como jornalista, logo que chegava ao local da ocorrência, era só fazer uma pergunta e aparecia um monte de gente para contar sua história ou estória, sempre “cabeluda” e exagerada. Às vezes não tinha morrido ninguém, mas aparecia um dizendo que foram três ou cinco mortos. Na conversa, aparecia até gente carbonizada.

– Todo dia acontece um acidente de batida de carros e motos nessa esquina da rua. Você já deve ter ouvido muito isso em entrevistas na televisão e outras mídias. É tudo exagero. As pessoas adoram aumentar os fatos desde os primórdios da humanidade. “Quem conta um conto, aumenta dois pontos”.

Se existe um incêndio ou cai uma casa ou prédio, você ouve coisa do “arco da velha”. Como jornalista, além de ter a obrigação de ouvir no mínimo duas versões e ser parcial, seja, antes de tudo, um cético. Não confie no que falam, senão você pode se estrepar, ser processado ou demitido por publicar notícia infundada.

– Moço, foi um estrondo que mais parecia uma bomba atômica, o fim do mundo. As labaredas subiram mais de 50 metros de altura. O carro vinha numa velocidade de 180 quilômetros por hora e o motorista estava embriagado. A tempestade levou tudo pela frente. Soube até que carregou uma ponte lá na Lagoa da Baixa da Égua.

Para ser sincero, até o próprio jornalista tem a tendência de exagerar e “pentear” a matéria com outros ingredientes para atrair mais o leitor. Conheci vários companheiros assim que estavam mais para romancistas do que repórter. Até já dei as minhas pinceladas de leve. Não nego que já fiz uma “trapaça” para não “matar” a pauta da redação, mas essa eu não vou contar aqui. Ficou curioso?

Pois é, ninguém resiste parar diante de uma tragédia ou acontecimento e seguir em frente focado em seu problema que tinha urgência para ser resolvido. É uma tentação dos diabos. Todos temos um DNA de fofoqueiros e fofoqueiras natos.

Quando existe um crime fora do comum e o indivíduo é preso, não tarda a surgir aquela multidão em frente da delegacia. Será que todo mundo ali é desempregado e não tem nada a fazer? Circulando, circulando – grita de lá o policial com cara de mau e de revólver na mão para esvaziar a aglomeração de desocupados.

UM FATO INÉDITO QUE DEIXOU MUITAS PONTAS SOLTAS SEM ESCLARECIMENTOS

Não será a primeira nem a última vez. Aqui em Vitória da Conquista tem ocorrido fatos de violência que não são devidamente elucidados. As autoridades abafam e a mídia tropeça em sua função de investigar na utilização dos porquês, como, onde entre outras interjeições. Muitas perguntas do público ficam no ar e depois tudo cai no esquecimento.

Dessa vez estou me referindo ao “sequestro” de reféns na semana passada, na Galeria Panvicon, no centro da cidade, por um bandido que deixou vítimas feridas à beira da morte. Pelo que eu saiba, na história de Conquista, nunca existiu um caso desse inusitado, tão violento com tais características.

O acontecimento abalou a cidade por cerca de quatro horas e mobilizou um batalhão de policiais (militar e civil), corpo de bombeiros, o Samu e outros agentes. Um colega meu jornalista em tom de sacarmo disse que tinha até mata mosquitos e caçadores de fantasmas.

Um quarteirão foi fechado e a multidão curiosa, como sempre, se aglomerou no Terminal Lauro de Freitas. As pessoas parecem que trazem dentro de si um espírito de sadismos. Para ver a tragédia alheia, em questão de minutos largam seus afazeres do dia a dia e se juntam para dar seus pitacos, mentir e inventar informações. A impressão é que têm gosto de sangue na boca. Cada um faz questão de dar sua versão diante das câmaras.

Vamos, então, recapitular o que mais nos interessa. Que me desculpem, mas a mídia pecou na cobertura jornalística, deixando muitos “buracos” e engolindo “mosca”. Não ficou esclarecido bem de onde partiu o sujeito, se estava sendo perseguido ou não por algum ato criminoso. Pelo seu comportamento, tudo indica que ele já tinha um alvo certo e tudo foi premeditado, não importando se estava ou não drogado.

Depois do desfecho, o comandante do policiamento, coronel Paulo Guimarães deu uma entrevista (boletim de ocorrência) afirmando que o elemento deu um surto sob efeito de muita cocaína. No outro dia o delegado da Polícia Civil disse que ele estava consciente do que fez.

Ora, então imaginei ter sido crime de mando, vingança ou coisa parecida. O “meliante” (linguajar policial) atirou logo no dono da loja e atingiu outras funcionárias. É aí que digo que as pontas da história ficaram soltas, com informações nebulosas e contraditórias.

Após se entregar, o maluco “terrorista” foi recolhido à prisão. Por que a mídia, pelo menos, não tentou entrevistar o marginal, solicitando permissão do delegado? As vítimas que estão fora de perigo já poderiam ter sido ouvidas para revelar com mais precisão a ação do atirador. O processo corre em segredo de Estado? A sociedade não pode saber? Alguma interferência extra para que tudo fique como está?

São minhas perguntas como jornalista e acredito ser de muitos outros. Tudo isso me faz lembrar de fatos violentos acontecidos aqui que tomaram os mesmos rumos, isto é, ficaram inconclusivos, insolúveis e engavetados, como a morte do marinheiro numa cadeia local, os assassinatos do prefeito de Manoel Vitorino e do “jornalista” Alberto que difamava muita gente, (também fui sua vítima), o massacre de policiais numa periferia de Conquista, o caso do menino Maikon do qual ninguém mais fala, a matança dos ciganos, o crime brutal do pastor e tantos outros.

Essa ação criminal pelo seu modus operandi foi inédita na história local, mas Vitória da Conquista sempre teve uma fama de cidade violenta lá fora até meados dos anos 60. O arraial da   Vila Imperial do século XIX era cheio de bandoleiros e salteadores desocupados, como bem descreveu o príncipe alemão Maximiliano em sua vista à região. Para aqui foi enviado um destacamento para conter os malfeitores. Os tropeiros temiam vir para essas bandas.

Na época do coronelismo, no início do século XX, aqui era cheio de pistoleiros e jagunços das larvas diamantinas, contratados pelos poderosos. Em 1919 houve até uma guerra entre os “pesduros” e “meletes”, cada um defendendo seu quinhão na política de mando. O assunto foi manchete nos jornais da capital, Rio de Janeiro e até São Paulo, como também o caso da invasão de soldados armados ao Hospital São Vicente para arrancar lá de dentro um preso internado e condenado.

Este episódio de 1968 foi noticiado pelo jornal “Última Hora” (SP) que, em matéria, comentou que Conquista era uma cidade onde matar virou uma rotina e havia herdado o esquema do cangaceiro Lampião. O “Jornal de Conquista” rebateu a manchete. Muitos contestaram e ficaram revoltados com o periódico paulista.

De volta aos coronéis, tivemos também a luta armada entre os coronéis Olímpio Carvalho e Ascendino Melo (Dino Correia). Foi uma tragédia sangrenta que ocorreu no distrito de Verruga (Itambé), no município de Conquista, em março de 1925.

Todos sabem da “Tragédia de Tamanduá”, em 1895, no povoado de Campo Formoso (Belo Campo) entre o coronel Domingos Ferraz de Araújo e dona Lourença de Oliveira Freire (mesma família), quando 22 pessoas foram sangradas barbaramente.

Tivemos ainda a tragédia da tarde de Natal, em 1931, na casa do sr. D´Artagnan Menezes, na rua Nova, onde foram mortos o mecânico Vicente Cavalcante e o cabo Jerônimo Alves Sampaio. Outros soldados ficaram feridos. Embriagado e depois de ter desacatado a polícia, o mecânico entrou na casa de Menezes e os soldados invadiram o recinto para arrancar o cara de lá. Entraram em luta corporal e deu no que deu.

É certo que toda essa fama de uma Conquista violenta das guerras entre famílias mudou com os tempos atuais. Hoje temos uma cidade mais civilizada e desenvolvida, mas, vez ou outra, ocorrem tragédias chocantes que necessitam ser melhor apuradas, como a mais recente do “sequestro” com reféns numa galeria do centro.

 

 

 

UMA PESSOA QUE MERECE TODA NOSSA CONSIDERAÇÃO E RESPEITO

Não fui ao seu velório porque não estava me sentindo bem e também pelo motivo de estar evitando eventos fúnebres. Deve ser a idade, mas fiquei muito sentido pelo falecimento do ex-prefeito Murilo Mármore que deixou bons serviços prestados ao município de Vitória da Conquista.

Lembro que quando cheguei aqui em 1991 o prefeito era ele e tinha por obrigação ao chegar à cidade me apresentar como novo diretor da Sucursal do Jornal A Tarde e coloquei minhas credenciais profissionais como se fosse um embaixador na terra. Claro que me recebeu muito bem e me deixou boas impressões pela sua sinceridade e respeito à liberdade de expressão.

Depois dessa apresentação, quero me expressar aqui que o dr. Murilo, como era chamado por muitos, foi um grande democrata por saber receber as críticas, um homem íntegro e honesto, não apenas como prefeito, mas ao longo de toda sua vida. Posso até ter exagerado nas matérias durante seu mandato.

Não estou falando desses seus predicados positivos porque ele faleceu, por falsidade, como muita gente faz com seus rasgos de elogios quando uma pessoa parte daqui para o além. Conquista perdeu uma grande personalidade, afável e sempre preocupada com as questões sociais, embora a cidade seja um tanto ingrata por esquecer o passado de gente que deu tudo de si pelo bem da terra.

Digo isso porque o dr. Murilo merecia mais homenagens e mais reconhecimento quando em vida. Talvez a ingratidão não seja só de Conquista, mas próprio do ser humano. Quando alguém está no topo, aparece um monte de bajuladores, mas ao deixar um cargo importante, passa a ser esquecido e jogado de escanteio.

Após ter feito uma grande gestão, o ex-prefeito se candidatou a vereador e, se não me engano, teve cerca de 500 votos. Aquilo me deixou chocado e serviu de comprovação pelo que sempre tenho falado sobre falta de reconhecimento. Não somente o dr. Murilo, mas também ocorre o mesmo com José Pedral e tantos outros que aqui passaram e deixaram suas marcas. Não somente me refiro a prefeitos. Ao longo desse tempo venho observando esse tipo de comportamento, de certa forma, de ingratidão.

Bem, não quero me alongar em minha apreciação pessoal. Minha admiração ao dr. Murilo não leva em conta durante sua passagem pela prefeitura. Lembro que, quando aqui cheguei, minhas coberturas jornalísticas focaram muito no problema da depredação da Serra do Periperi, no lixão a céu aberto, na usina de asfalto e no abandono do Cristo, do artista Mário Cravo.

No jargão jornalístico, “batia” muito no prefeito com minhas críticas, exercendo meu papel profissional, e o Cristo era um grande alvo. Na época, o ex-prefeito mandou fazer uma reforma no monumento e fez questão de me convidar, pessoalmente, para a inauguração.

Tivemos outros embates, mas ele nunca guardou ressentimentos. Quando nos encontrávamos era aquele papo agradável e não podia deixar de falar sobre o tricolor das Laranjeiras, o Fluminense, time pelo qual éramos e somos torcedores. Muitas vezes estava em baixa e cheirando à zona de rebaixamento, como já esteve nesse lugar.

Para finalizar, dr. Murilo, você será eterno, não somente pelas obras que deixou para Conquista, mas também como pessoa humana que foi. Só para citar, além do trabalho da área social com as associações, tendo como secretário o professor Itamar Aguiar, foi ele o primeiro a abrir a Olívia Flores; construiu o Estádio do Murilão; reconstruiu as praças do Boneco e a antiga “Carvão”; cuidou bem das ruas e do transporte público e foi um bom administrador para seus servidores. E quem não se lembra das grandes micaretas!

 

 

 

SE LIGAR, PEGA

(Chico Ribeiro Neto)

Se ligar pra apelido, aí é que pega. Infância e adolescência lembram muitos apelidos.

Na turma dos Aflitos, em Salvador, havia 3 irmãos: “Banha”, “Manteiga” e “Linhaça”. E duas irmãs magrinhas batizadas de “Irmãs Tripa”.

“Cascavel” era o maior driblador do bairro. Era um magro abusado que depois de um drible gritava “viu, puta!” e tomava logo uma porrada. Outro dia encontrei “Cascavel” num mercadinho e o tempo foi curto para muitas recordações.

Junto à minha casa (Rua Gabriel Soares, 33, Ladeira dos Aflitos) moravam os 3 irmãos “criados com vó”, que eram brancos como a porra e viviam do colégio pra casa e de casa pro colégio. Nunca entraram em nosso “baba” nem viram as Irmãs Tripa dançar o cancan de noite no passeio.

“Tristeza” era o melhor goleiro da rua. Voava nos paralelepípedos, se ralava todo, mas pegava a bola. Esse apelido foi porque ele nunca sorria, só se era escondido.

Tinha ainda “Antisardina”, apelido dado porque ele tinha muitas espinhas no rosto e usava um creme que a galera cismou ser “Antisardina, o segredo da beleza feminina”, como dizia o comercial.

O irmão de “Antisardina”, magro e comprido, era “Rui Palito”. Uma vez um menino ganhou do pai um par de luvas de boxe, de profissional, e resolveu promover uma noitada de lutas. Uma luva para cada lutador, pois só havia um par. Um sorteio definiu quem ia brigar com quem num único round de 3 minutos. Eu fui contemplado com “Rui Palito”, braço mais comprido do que o meu. Eu tomava soco no meio do nariz toda hora e perguntava aflito ao juiz quanto tempo ainda falta pra acabar e ele gritava: “Ainda tem um minuto”. Foram os 3 piores minutos de minha vida.

Lá em casa meus irmãos tinham seus apelidos:  Luiz era “Zarara” ou “Bico de Anum”, Zé Carlos era “Gaguinho” e Cleomar era “Leonam” (marca de máquina de costura; ele sabia “costurar” bem no “baba”) e eu cheguei a receber o apelido de “Francis, o burro que fala”, um desenho animado. Mas felizmente não pegou.

“Pé de Valsa”, um menino que teve paralisia infantil e ficou com uma perna atrofiada (pisava na ponta do pé esquerdo), jogava bem no “baba” e dava passes preciosos. Havia ainda “Baleia”, “Bandeira”, “Zoinho”, “Atum”, “Gaiola”, “Géo Beleza”, “Mondrongo”, “Biúca”, “Diabo Louro”, “Ratinho”, “Maciste”, “Cara de Caçamba”, “Bola Sete”, “Já Morreu”, “Calunga” e “Narigolé”.

E ainda tinha “Carroça”, “Zé Leso”, “Batatinha”, “Pinduca”, “Zebrinha”, “Já Morreu”, “Arranca Toco” e “Jair Pinico”.

Luiz, meu irmão mais velho, conheceu o valente “Zeca Diabo” e me contava: “Ele joga uma navalha como ninguém. A navalha fica amarrada no dedo dele com uma borrachinha. Numa briga, ele joga a navalha, ela vai aberta, corta o sujeito e volta fechada pra mão dele”.

Na praia da Ribeira, na década de 60, havia um time de futebol formado por pescadores e canoeiros que tinha dois zagueiros imbatíveis: “Pé de Grelha” e “Gabinete”. O Bahia tá precisando dos dois.

 

 

O NATAL PAGÃO, AS REFORMAS E UM CONGRESSO TRAIDOR DO NOSSO PAÍS

Às vezes costumo misturar os assuntos para falar das mazelas do nosso país que não consegue ser sério e é tão contraditório e paradoxal. Não temos políticas públicas para reduzir as profundas desigualdades sociais, mas um assistencialismo “barato” e caro que faz de conta que as pessoas pobres e miseráveis estão mudando seu nível econômico e político de vida. Tudo não passa de uma farsa.

Fora de contexto, o Natal virou uma festa pagã como nos tempos dos celtas e romanos que se esbaldavam na passagem do solstício no hemisfério norte durante as colheitas de suas safras. O cristianismo, que não é nada monoteísta, cheia de lendas (o Antigo Testamento) copiadas de civilizações passadas, como dos sumérios e egípcios, agora vê seu Natal do nascimento de Cristo se tornar num ritual de paganismo. Será a maldição da lei do retorno?

O profano voltou como naqueles tempos remotos condenados pela Igreja Católica. Nesse período do ano, as pessoas hoje só pensam em se refestelar em seus banquetes com suas mesas recheadas de comidas e bebidas. Embriagam-se no luxo das imagens luminosas para idolatrar seu deus Papai Noel. No afã dos presentes, os pobres se endividam no consumismo que entope nosso planeta de lixo. As propagandas comerciais são as vitoriosas.

AS REFORMAS “SALVADORAS”

Deixemos de lado essa passagem natalina pagã e mergulhemos na outra das reformas onde cada uma é tida pelos nossos representantes parlamentares como a salvação do Brasil. É um filme repetido e arranhado. Enquanto isso, o Brasil nunca é passado a limpo.

Agora é a vez da tributária, toda complicada que tem até imposto do “pecado” – lembra até dos 10 Mandamentos e da religião que criou a culpa – mas, contraditoriamente, isentam as armas de taxação. Tudo muda para ficar no mesmo lugar, ou piorar, como a trabalhista escravagista e a previdenciária.

Ninguém – falo desse Congresso Nacional reacionário, traidor da pátria – quer fazer uma reforma eleitoral séria e completa (não as emendas tapa buracos) que evite, pelo menos, o crime do derramamento de dinheiro na compra de votos, como aconteceu em Vitória da Conquista, o maior de toda sua história.

Muita gente está sendo presa pelo Brasil a fora, mas não vejo nenhuma apuração aqui em Conquista para apurar e investigar os fraudadores diplomados recentemente, que se aproveitaram do eleitor fraco de espírito, cúmplice da mesma laia. Todos fazem de conta que o pleito foi democrático e gerador de mudanças sociais. Esse sistema arcaico e manipulador não passa de um “conto do vigário”.

Do outro lado, o governo federal decreta um pacote fiscal de cortes nos gastos do orçamento para ajustar suas contas, mas o Congresso traidor, um dos mais caros do mundo, fica intocável e nada de reduzir suas benesses, penduricalhos, mordomias, verbas de gabinete e indenizatórias.

Com raras exceções, não passam de um bando de imorais que se acham na moral de falar em moralidade fiscal. Uma dessas imoralidades são as emendas parlamentares, verdadeiras fontes de corrupção e arrombamento dos cofres públicos. Elas nem deveriam existir, mas se o governo falar nisso será imediatamente cassado.

Para as forças armadas, o poder executivo – na verdade não governa, mas obedece ao Congresso traidor e cancro da nação, cheio de extremistas nazifascistas –  anuncia um arremedo de cortes nas despesas, tudo para agradar os generais desocupados que aqui e acolá estão conspirando um golpe de Estado, inclusive com ajuda da elite burguesa e do agronegócio que devasta o meio-ambiente e mente botar comida em nossa mesa.

No mais, seguimos nas campanhas de doações de caridade ou esmolas de quilos de alimentos, crentes cristãos de que estamos fazendo a nossa parte para melhorar o Brasil irremediável desde os tempos coloniais. Com essas ações assistencialistas de dar o peixe sem ensinar a pescar, procuramos nos redimir de nossos pecados para ganhar o reino dos céus, sempre à custa dos miseráveis.

Os que podem seguem curtindo suas festas em suas casas, bares e restaurantes, com um celular na mão e um carro, exibindo seus prazeres dionisíacos da carne e adorando o deus Baco. O negócio é ter uma moeda para pagar a passagem ao barqueiro que irá lhe levar para o outro lado da margem do rio fumacento e turvo de almas penadas.

Aqui na terra brasis, assim vamos seguindo nossas vidas monótonas e marrentas como se não houvesse morte, tentando enganar a nós mesmos de que tudo é belo e maravilhoso. Não temos mais domínio de nós mesmo e vivemos na base do estouro da boiada em disparada, como na música do nosso compositor Geraldo Vandré.

As violências brutais, as corrupções e os crimes hediondos passam nos noticiários e outros voltam na mesma velocidade como se fossem roteiros normais que não mais nos incomodam. Apenas dizemos que é assim mesmo e que tudo isso faz parte da vida, como esse Congresso traidor a conduzir nossos destinos.

 

 

 

CASCOS E FERRADURAS

– Nem venha que hoje estou nos cascos!

Conforme rezam as lendas, isso nos faz lembrar do cavalo do guerreiro Átila, rei dos hunos, cujos cascos queimavam até a grama por onde passava, ou o do Gengis Khan, imperador dos mongóis. Terríveis também eram os cascos dos cavalos dos romanos durante as batalhas pela conquista de territórios, e nem precisava ser de inimigos.

Nunca esqueci de um “coronel” que passava a galope em seu cavalo em frente à nossa porta na estrada de cascalho, sempre à noite. Eu ainda era menino e ouvia de longe o bater cadenciado dos cascos do seu cavalo. Deveria ser um Manga-larga-Machador dos bons com suas ferraduras.

Estar nos cascos entende-se estado de irritado e nervoso com a pessoa mais próxima do seu convívio ou por causa dos seus problemas do dia a dia. Tem o sentido também de estar firme, forte e bem arrumado ou arrumada no vestimento e na aparência. São coisas do nosso português e até de expressões regionalistas.

Quando se fala em cascos vem logo em nossa cabeça a associação com ferraduras fabricadas pelos antigos ferreiros para serem colocadas nos cavalos, burros, mulas e até em jumentos. Outra vez nos vem à mente os tempos dos tropeiros e dos filmes dos caubóis do velho faroeste. Por onde eles cortavam sempre existia um ferreiro à beira da estrada, numa vila ou cidade.

Para nos ajustar com a realidade do nosso mundo atual, vou ficar mesmo nos cascos dos irritados e dos brutos, tipos cavalos. Percebeu, meu amigo, como quase todo mundo hoje anda nos cascos? Para essa gente só estão faltando as ferraduras. Acho até que está na hora de ressuscitarmos a profissão de ferreiro e estabelecer um em cada esquina de rua e avenida.

Basta alguém pisar no casco do outro, seja dentro de um ônibus ou em qualquer lugar, para sair faíscas de palavrões e estupidez. Tem caso até de morte. Quanto maior o tamanho da cidade, maior ainda a irritação e a violência. É o progresso que nos fazem assim.

–  O pior, cara, é quando a pessoa já levanta nos cascos para enfrentar a “guerra” lá fora – disse um amigo meu numa prosa de bar, depois de umas tantas geladas.

Ele emendou o papo de que o lugar onde existe mais pessoas nos cascos é no trânsito. Basta um pequeno acidente, uma sinalização errada ou uma cortada de mal jeito, para o indivíduo sair lá de dentro do seu carro com uma pedra na mão, uma arma para atirar no outro ou nos cascos mesmo, com ferradura e tudo.

– Ah, cara, você esqueceu da política travada nos dias atuais, principalmente quando os cascos partem dos radicais fundamentalistas e extremistas de direita! Têm aqueles empedernidos de esquerda também! Haja cascos de intolerância!

– É bicho, não podemos deixar de fora também a religião, a questão de gênero e raça! Imaginou se houvesse uma lei onde cada casco irritado fosse obrigado a andar de ferradura? Pensou o bater de ferraduras nas calçadas, praças e nos escritórios? Os ferreiros iam “matar a pau” e ganhar muito dinheiro.

– Coisa seria nas salas dos patrões exploradores irritados, só com a cabeça no lucro! E tome cascos com ferraduras nos pobres dos funcionários!

– Vamos deixar esse papo de cascos e ferraduras de lado e tomarmos nossa cerveja sossegado, porque já estou vendo um sujeito ali na mesa que está nos casos com a companheira.

– Pode até ser coisa de ciúmes, ou porque ouviu a nossa conversa sobre cascos e ferraduras.

RECORTES DA LITERATURA NO SARAU A ESTRADA COLOCAM CONQUISTA EM FOCO

Poderia falar em pedaços, retalhos ou até mesmo reflexões, mas preferi recortes porque fica mais apropriado por se tratar de um estudo em formação sobre a história da literatura em Vitória da Conquista que requer uma pesquisa com maior profundidade para fechar seu ciclo. É como um trabalho artesanal feito de recortes de tecidos, elaborado por muitas mãos até se tornar numa bela colcha.

Olha que não coloquei a preposição de Conquista, se bem que temos uma literatura regional, mas não é o nosso caso. Para ir direto ao que nos interessa, esse tema tão importante foi debatido no último sábado à noite (dia 14/12/24) pelo Sarau a Estrada, no Espaço Cultural que leva o mesmo nome, com diversas pontuações dos participantes que se penduraram no gancho da pesquisa feita pelo filósofo e escritor Nélio Silzantov, que nos brindou com sua contribuição.

Tudo que ia dizer aqui sobre o que ocorreu no Sarau acerca do assunto e as manifestações culturais já foram expostos pelo nosso estradeiro Dall Farias no grupo. Para mim restaram poucas palavras e fui obrigado a mudar de gênero, não aquele em que vocês estão pensando, mesmo porque a idade não mais me permite e cairia no ridículo.

Estou me referindo ao gênero literário. A professora e poetisa Viviane Gama disse que dá belas risadas com minhas crônicas e fez rasgos de elogios. Será que alguém também rir, ou tem outro olhar crítico, como a formação histórica da literatura em Conquista?

Em meu entendimento ainda temos recortes e pontuo que a nossa literatura está associada ao surgimento dos jornais impressos no início do século XX, precisamente em 1911 com o periódico “A Conquista” feito por Bráulio de Assis Cordeiro Borges e José Desouza Dantas, literatos que instalaram a “Tipografia Minerva” trazida em lombo de animais de Caetité. Gostaria de assinalar aqui também o nome do poeta “Maneca Grosso”, do jornal “A Palavra”, que defendia os pesduros na guerra contra os meletes que tinham como defensor “O Conquistense”. Não podemos desassociar uma coisa da outra porque foram os jornais que revelaram os nossos escritores e escritoras, se bem que naquela época praticamente só tinham homens na literatura.

De volta ao nosso Sarau, o Nélio se fez presente, mesmo distante, através do seu texto no Zap e na voz de áudio, graças aos recursos da nova tecnologia da internet que costuma falhar no momento preciso da transmissão e nos faz passar aquele sufoco, mas no final deu certo e ouvimos suas considerações.

Entre mortos e feridos, todos se salvaram dando suas opiniões e chegando à conclusão que muito ainda tem que ser feito para a costura completa da colcha formativa da literatura em Conquista, como incluir os contemporâneos, essa leva de entusiastas da cultura.

Temos hoje um grande movimento em torno de novos lançamentos de livros, em sua maior parte obras poéticas, talvez inspiradas pelo clima e ambiente de uma “Suíça Baiana”. Sentimos ainda a carência de outros gêneros, como ensaios, pesquisas históricas, romances, contos e crônicas. Precisamos apurar mais a qualidade e o conteúdo dos textos, mas é um momento fervilhante que está acontecendo na cidade, sem o devido apoio do poder público e privado.

Vejam que estou sempre fazendo um ziguezague para agradecer o trabalho da comissão no sarau, ao colaborador Nélio com sua pesquisa, um estudo aberto como já disse o nosso Dall, a todos presentes (alô professor Itamar Aguiar, nosso maior frequentador) e àqueles que fizeram suas considerações. Não podemos deixar de destacar o ambiente de confraternização com um farto e suculento jantar do nosso chefe cuca Dall, com suporte de Cleu Flor, Nete, Vandilza e Cleide. Tivemos ainda a comemoração das aniversariantes Karine e Rosângela.

Não podemos deixar de ressaltar aqui as motivações dos compositores e músicos Baducha, Manno Di Souza e Jaime Cobra com suas cantorias de viola, os causos de Fozim de Anagé, as declamações poéticas autorais de Jeremias Macário e Vandilza Gonçalves, Dall Farias, Viviane com sua homenagem intitulada “Estradeiros”, fazendo referência ao sarau que já completou 14 anos e foi ganhador do troféu Glauber Rocha, do convidado Carlos Maia com sua verve filosófica da vida e outros novos membros que estão se juntando ao nosso evento.

Pretendia apenas fazer uma crônica sobre o sarau, mas fico devendo para a próxima. Registro aqui o agradecimento de Nélio pela sua contribuição, apesar de reconhecer que é uma pesquisa em andamento. Torço para que nossa literatura seja ainda mais apreciada, valorizada e que possamos muito aprender sobre ela. Nélio afirmou vir acompanhando nosso trabalho de longe através das postagens nos blogs e nas redes sociais.

Sobre o áudio do Nélio, que a tecnologia picotou um pouco, quero aqui fazer algumas citações da sua fala a respeito da sua pesquisa. Ele próprio diz que não é conclusiva, mas ao longo do tempo vai lograr êxitos e deixar seu legado de conhecimento e saber. Na ocasião aproveitou para apontar alguns textos a respeito do tema, como “por uma cena literária local e sem fronteiras, a formação da literatura conquistense – primeiras questões, o centenário de uma obra esquecida – marcos históricos e desmemorias”.

Em suas reflexões ele indaga quem eram os escritores conquistenses e quais eram suas obras. Nos estudos por ele realizado ressaltou ter encontrado a Ala das Letras Conquistenses e das Academias de Letras. Indaga ainda qual foi a primeira obra publicada em Conquista. Isso implica responder em qual período histórico surgem esses escritores. Qual a visão estética e ideológica?

Para Nélio, falar sobre a caatinga e o sertão conquistense não é somente descrever sobre o coronelismo, a seca, a fome e a miséria. Existem outros elementos. Existe escritor que foge dessa visão estereotipada ou as únicas imagens são aquelas cantadas por Elomar e projetadas nos filmes de Glauber?

Quando falo de Formação da Literatura Conquistense, de acordo com Nélio, estou pensando nessa palavra para além do seu sentido comum. Não basta identificar os nomes dos escritores e períodos que eles surgem no campo literário, mas buscar compreender os modos como a literatura se constituiu, seus valores morais e intelectuais, o papel social e o impacto que ela tem na sociedade.

Ainda em seu comentário, pontua o centenário do livro de Ernesto Dantas, intitulado “Traços Crassos”, publicado em 1924. Ele também lembrou do livro “A luz desce da estrela”, de Laudionor Brasil, em 2001, em comemoração ao centenário do seu nascimento (1901).

Salve, salve a Ala das Letras, fundada em outubro de 1938, que se tornou mais conhecida, em 1945, no início da efervescência cultural de Conquista, o Grêmio Literário Dramático Conquistense, criado em 1911, juntamente com o primeiro jornal impresso, o Grêmio Ruy Barbosa, o Grêmio Dramático União, o Grêmio Castro Alves, de onde surgiu a revista literária “A Ribalta” (1919-49), a Academia Conquistense de Letras, no ano de 1980, a Breve História da Literatura Conquistense, de José Mozart Tanajura, o Foro Literário Sertão da Ressaca, o Coletivo de Escritores e o nosso Sarau a Estrada que estão entre os recortes da nossa literatura.

QUANDO NÃO COÇA, ELE PIA

(Chico Ribeiro Neto)

Era o único dia em que a gente lá em casa comia maçã e chupava uva. Tinha que estar doente para que essas caras frutas chegassem até a cabeceira da cama.

Nesse ponto dei sorte, pois fui um menino doente. A partir dos 7 ou 8 anos comecei a sofrer de asma e o bicho era brabo.

Lá fora, a zoada dos meninos jogando bola na rua. “Cadê Chico?” “Ele não vai hoje, não, tá doente”.

O problema era que quando curava uma coisa, vinha outra. Quando o médico passava remédio pra asma, eu parava de sentir falta de ar, mas aí aparecia a coceira, e vice-versa. Eram 15 dias se coçando e 15 dias piando. Já em Salvador, depois da consulta no médico, na Piedade, mamãe me levava para merendar na Lobras (Lojas Brasileiras), em São Bento.

A asma até que me ajudou em algumas situações. Quando meu pai Waldemar vinha me dar uma surra, eu simulava logo uma crise e mamãe Cleonice alertava: “Waldemar, você não tá vendo que o menino tá com falta de ar?”. E eu escapava do cinturão. O problema é que essa simulação muitas vezes provocava a asma de verdade.

Lembro uma piada de Juca Chaves. O cara passou a noite com uma mulher no motel e de manhã disse que precisava confessar algo. “Você é casado?”, perguntou ela. “Não, é outra coisa”. “Fique à vontade, pode falar o que é”.

“Eu queria lhe dizer que … eu sou asmático”. “Ainda bem que você me contou, porque eu pensei que você estava me dando vaia a noite toda”.

Ah, os velhos e intragáveis remédios. Tinha um tal de óleo de ricínio (óleo de rícino), pra combater vermes, que era terrível. E o Emulsão de Scott? Cleonice dava voltas na mesa da sala até conseguir segurar um dos quatro filhos pra engolir aquele negócio branco e intragável na colher de sopa.

Mamãe usava Colubiazol pra garganta e vovô Chico não ficava sem Sal de Fruta  Eno em casa. E papai passava na cabeça a loção Tricomicina pra ver se ainda nascia cabelo.

A gente ia no inferno e voltava quando o Merthiolate era aplicado em cima do ferimento no joelho adquirido no “baba” da rua. A chegada do Band-Aid foi um alívio. Os pequenos curativos deixaram de ser feitos com gaze e esparadrapo, que saía arrancando os cabelinhos a torto e a direito. Quando não era raladura, era uma porrada na perna, usava-se  o Iodex, uma pomada preta que tinha um cheiro forte.

Difícil mesmo era engolir uma gemada. Beber o chá de fedegoso contra asma era outro processo doloroso. Gripe? Chá de limão com alho. Tomar bem quente e entrar debaixo da coberta. Vai suar em bicas e no outro dia tá bom. Pode escalar Chico pro “baba” de hoje.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

NATAL EUROPEU NUM PAÍS TROPICAL

Assistimos este filme todos os anos dentro de um Natal europeu num país tropical, com papais noéis com seus trenós e renas no gelo, muitas luzes para encantar crianças e adultos como se estivéssemos nos países nórdicos em pleno solstício de inverno, lembrando as festas “pagãs” dos celtas para louvar a passagem de uma estação para outra. Não quero falar aqui de religião, nem do nascimento de Cristo na liturgia católica.

Além dos shoppings e praças, cada um quer exibir seus presépios com seus noéis de barbas brancas que tomam toda casa. É tempo de banquetes fartos, presentes e muitas bebidas. O consumismo explode e logo aparece o “Natal sem Fome” como se o pobre só se alimentasse naquele dia. As crianças ganham seus brinquedos e tudo faz crer que as desigualdades sociais desaparecem.

Tudo é muito lindo e atraente, mas dificilmente vemos um presépio tropical brasileiro ou rústico agreste no caso específico do nosso Nordeste. O negócio é imitar os europeus até nas comidas importadas. Aliás, fazemos questão de demonstrar que somos um país colônia, como se não tivéssemos adquirido a nossa própria cultura. Muitos me criticam pelo meu comentário “radicalista” e antropofágico, mas pouco me importo com isso.

Ah, ia me esquecendo dos shows musicais sertanejos, românticos de Roberto Carlos, de arrochas, sambas, sofrências e pagodes com muito colorido, belas coreografias de mulheres se rebolando no palco, mas uns lixos de letras em sua grande maioria. Por falar em arte, estamos na fase da banana amarrada na parede com uma fita adesiva.

A mídia e as propagandas nos injetam todas as horas e todos os dias a necessidade premente de consumir e consumir cada vez mais. Como porta-vozes comerciais dos lojistas, nos ensinam como renegociar as dívidas para ficarmos cada vez mais endividados. Deixamos até de pagar as nossas prioridades para ficarmos bonitos na fita. É o pobre tentando imitar o rico e se lascando na vida.

Nas doações das campanhas “solidárias”, cada um quer mostrar sua imagem na televisão para dizer que é um bonzinho caridoso que se compadece com a miséria do outro. É uma forma de se redimir de seus pecados durante o ano. Nas ruas é aquele alvoroço e aquela agonia de compras estressantes, mas todos amolecem o coração e fingem bondade humanista nos abraços e no “Feliz Natal”.

Não gosto desse Natal hipócrita e falso, não que eu não seja um pecador cheio de defeitos e ranzinza implicante, mas procuro ficar longe dessas congratulações. Melhor tomar aquele porre e ir dormir como se nada tivesse acontecido. Não sou europeu e nem ando com Papai Noel de trenó no gelo da Noruega, Dinamarca, Suécia ou Finlândia. Sou nordestino e não troco minha paisagem, costumes e hábitos por lugar nenhum, tampouco minha cultura.

Me desculpem, mas sinto aquele vazio dentro de mim diante de tanto fingimento e muita falta de autenticidade para com o nosso próprio Brasil tropical, tão rico em suas paisagens de belezas naturais. Por que não fazermos um Natal tipicamente brasileiro sem essas imitações fajutas e enganosas? Para onde foi a nossa valiosa cultura miscigenada? Parece que o gato comeu.

Só na noite de Natal as pessoas ficam sinceras, bondosas, tolerantes e as famílias mais “unidas” do que nunca. Qualquer discussão um pouco mais acalorada e aí aparece alguém para ralhar e dizer: “Gente, hoje é noite de Natal”! No outro dia tudo volta como antes onde sempre predomina o individualismo e o egoísmo. O ser humano não é mesmo confiável!

 

NOS TEMPOS DOS CARTÕES POSTAIS

– Quando chegar, não esquece de mandar um cartão postal. Os mais velhos se lembram bem dessa recomendação quando algum familiar, amigo, namorado ou namorada viajavam para uma cidade distante ou uma capital, no caso Salvador, que muitos chamavam de Bahia ou Baia. A viagem era sempre aguardada com muita ansiedade. Na véspera nem se conseguia dormir direito.

As viagens, em sua grande maioria, eram feitas de ônibus em estradas de cascalho e demoradas, umas com o propósito de passeio e outras até mesmo para ficar de vez na casa de um parente para arrumar um trabalho e melhorar de vida porque o interior pequeno era muito acanhado e não oferecia condições de crescimento. E as malas de couro cru! Cabia tudo dentro.

As partidas eram chorosas e calorosas como se a pessoa estivesse indo para o fim do mundo, para a China ou para o Japão. Os abraços e beijos eram demorados, e o motorista se danava a buzinar o carro para apressar os passageiros. Na saída eram aqueles adeuses!

Boas recordações daqueles tempos dos cartões postais onde a pessoa ia numa lojinha de lembranças e comprava aquelas belas imagens fotográficas e as remetia pelos Correios. Demorava um pouco de chegar ao remetente, mas era batata! Não falhava e nem desviava.

– Para minha amada, com muitas saudades do meu amor. Este é um lugar que nos une, mesmo tão distantes. Você está sempre em meu coração.

– Para meu pai e minha mãe querida, com muito carinho. Fiz uma boa viagem e estou adorando esta cidade. Em breve envio mais notícias.

– Ao meu amigo, ou amiga, um forte abraço. Aqui tudo é bonito e estou aproveitando esses dias para conhecer vários lugares encantadores. Quando a viagem era rápida, a pessoa trazia na bagagem um monte de cartões postais para comprovar sua visita.

Esses e outros dizeres, de acordo com cada intimidade que um tinha para com o outro, eram escritos nos versos dos cartões postais com distintas caligrafias, não esses garranchos de hoje que quase ninguém entende.

Naquele tempo, muita gente fazia coleção de cartões postais. Eu mesmo conheci uma pessoa que era fissurada nessa mania e tinha cartões de várias partes do mundo, sem contar do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e de outras capitais do país. Quantas saudades!

Por que hoje você diz que tal lugar é um cartão postal da cidade? Em Vitória da Conquista, por exemplo, dizem que o Cristo de Mário Cravo ou o Poço Escuro? Em Salvador, o cartão postal pode ser o Elevador Lacerda, o Farol da Barra ou a Ponta de Humaitá, na Ribeira. No Rio de Janeiro é o Cristo Redentor ou o Bondinho do Corcovado. Em Paris é a Torre Eiffel.

Atualmente não existem mais cartas e nem recantos de cartões postais. Hoje é tudo instantâneo pelo celular através de uma foto ou selfies, com uma legenda troncha cheia de erros de português. Na maior parte, as mensagens são feitas por áudio e, praticamente, sem ligações telefônicas.

Será que alguém aí ainda guarda, lá no fundo do baú, algum cartão postal ou carta de antigamente? Muitos foram jogados fora como velharia imprestável para dar lugar ao moderno. Dia desse encontrei um cartão postal em minha pasta. Só não vou revelar a mensagem.





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