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O NATAL PAGÃO, AS REFORMAS E UM CONGRESSO TRAIDOR DO NOSSO PAÍS
Às vezes costumo misturar os assuntos para falar das mazelas do nosso país que não consegue ser sério e é tão contraditório e paradoxal. Não temos políticas públicas para reduzir as profundas desigualdades sociais, mas um assistencialismo “barato” e caro que faz de conta que as pessoas pobres e miseráveis estão mudando seu nível econômico e político de vida. Tudo não passa de uma farsa.
Fora de contexto, o Natal virou uma festa pagã como nos tempos dos celtas e romanos que se esbaldavam na passagem do solstício no hemisfério norte durante as colheitas de suas safras. O cristianismo, que não é nada monoteísta, cheia de lendas (o Antigo Testamento) copiadas de civilizações passadas, como dos sumérios e egípcios, agora vê seu Natal do nascimento de Cristo se tornar num ritual de paganismo. Será a maldição da lei do retorno?
O profano voltou como naqueles tempos remotos condenados pela Igreja Católica. Nesse período do ano, as pessoas hoje só pensam em se refestelar em seus banquetes com suas mesas recheadas de comidas e bebidas. Embriagam-se no luxo das imagens luminosas para idolatrar seu deus Papai Noel. No afã dos presentes, os pobres se endividam no consumismo que entope nosso planeta de lixo. As propagandas comerciais são as vitoriosas.
AS REFORMAS “SALVADORAS”
Deixemos de lado essa passagem natalina pagã e mergulhemos na outra das reformas onde cada uma é tida pelos nossos representantes parlamentares como a salvação do Brasil. É um filme repetido e arranhado. Enquanto isso, o Brasil nunca é passado a limpo.
Agora é a vez da tributária, toda complicada que tem até imposto do “pecado” – lembra até dos 10 Mandamentos e da religião que criou a culpa – mas, contraditoriamente, isentam as armas de taxação. Tudo muda para ficar no mesmo lugar, ou piorar, como a trabalhista escravagista e a previdenciária.
Ninguém – falo desse Congresso Nacional reacionário, traidor da pátria – quer fazer uma reforma eleitoral séria e completa (não as emendas tapa buracos) que evite, pelo menos, o crime do derramamento de dinheiro na compra de votos, como aconteceu em Vitória da Conquista, o maior de toda sua história.
Muita gente está sendo presa pelo Brasil a fora, mas não vejo nenhuma apuração aqui em Conquista para apurar e investigar os fraudadores diplomados recentemente, que se aproveitaram do eleitor fraco de espírito, cúmplice da mesma laia. Todos fazem de conta que o pleito foi democrático e gerador de mudanças sociais. Esse sistema arcaico e manipulador não passa de um “conto do vigário”.
Do outro lado, o governo federal decreta um pacote fiscal de cortes nos gastos do orçamento para ajustar suas contas, mas o Congresso traidor, um dos mais caros do mundo, fica intocável e nada de reduzir suas benesses, penduricalhos, mordomias, verbas de gabinete e indenizatórias.
Com raras exceções, não passam de um bando de imorais que se acham na moral de falar em moralidade fiscal. Uma dessas imoralidades são as emendas parlamentares, verdadeiras fontes de corrupção e arrombamento dos cofres públicos. Elas nem deveriam existir, mas se o governo falar nisso será imediatamente cassado.
Para as forças armadas, o poder executivo – na verdade não governa, mas obedece ao Congresso traidor e cancro da nação, cheio de extremistas nazifascistas – anuncia um arremedo de cortes nas despesas, tudo para agradar os generais desocupados que aqui e acolá estão conspirando um golpe de Estado, inclusive com ajuda da elite burguesa e do agronegócio que devasta o meio-ambiente e mente botar comida em nossa mesa.
No mais, seguimos nas campanhas de doações de caridade ou esmolas de quilos de alimentos, crentes cristãos de que estamos fazendo a nossa parte para melhorar o Brasil irremediável desde os tempos coloniais. Com essas ações assistencialistas de dar o peixe sem ensinar a pescar, procuramos nos redimir de nossos pecados para ganhar o reino dos céus, sempre à custa dos miseráveis.
Os que podem seguem curtindo suas festas em suas casas, bares e restaurantes, com um celular na mão e um carro, exibindo seus prazeres dionisíacos da carne e adorando o deus Baco. O negócio é ter uma moeda para pagar a passagem ao barqueiro que irá lhe levar para o outro lado da margem do rio fumacento e turvo de almas penadas.
Aqui na terra brasis, assim vamos seguindo nossas vidas monótonas e marrentas como se não houvesse morte, tentando enganar a nós mesmos de que tudo é belo e maravilhoso. Não temos mais domínio de nós mesmo e vivemos na base do estouro da boiada em disparada, como na música do nosso compositor Geraldo Vandré.
As violências brutais, as corrupções e os crimes hediondos passam nos noticiários e outros voltam na mesma velocidade como se fossem roteiros normais que não mais nos incomodam. Apenas dizemos que é assim mesmo e que tudo isso faz parte da vida, como esse Congresso traidor a conduzir nossos destinos.
CASCOS E FERRADURAS
– Nem venha que hoje estou nos cascos!
Conforme rezam as lendas, isso nos faz lembrar do cavalo do guerreiro Átila, rei dos hunos, cujos cascos queimavam até a grama por onde passava, ou o do Gengis Khan, imperador dos mongóis. Terríveis também eram os cascos dos cavalos dos romanos durante as batalhas pela conquista de territórios, e nem precisava ser de inimigos.
Nunca esqueci de um “coronel” que passava a galope em seu cavalo em frente à nossa porta na estrada de cascalho, sempre à noite. Eu ainda era menino e ouvia de longe o bater cadenciado dos cascos do seu cavalo. Deveria ser um Manga-larga-Machador dos bons com suas ferraduras.
Estar nos cascos entende-se estado de irritado e nervoso com a pessoa mais próxima do seu convívio ou por causa dos seus problemas do dia a dia. Tem o sentido também de estar firme, forte e bem arrumado ou arrumada no vestimento e na aparência. São coisas do nosso português e até de expressões regionalistas.
Quando se fala em cascos vem logo em nossa cabeça a associação com ferraduras fabricadas pelos antigos ferreiros para serem colocadas nos cavalos, burros, mulas e até em jumentos. Outra vez nos vem à mente os tempos dos tropeiros e dos filmes dos caubóis do velho faroeste. Por onde eles cortavam sempre existia um ferreiro à beira da estrada, numa vila ou cidade.
Para nos ajustar com a realidade do nosso mundo atual, vou ficar mesmo nos cascos dos irritados e dos brutos, tipos cavalos. Percebeu, meu amigo, como quase todo mundo hoje anda nos cascos? Para essa gente só estão faltando as ferraduras. Acho até que está na hora de ressuscitarmos a profissão de ferreiro e estabelecer um em cada esquina de rua e avenida.
Basta alguém pisar no casco do outro, seja dentro de um ônibus ou em qualquer lugar, para sair faíscas de palavrões e estupidez. Tem caso até de morte. Quanto maior o tamanho da cidade, maior ainda a irritação e a violência. É o progresso que nos fazem assim.
– O pior, cara, é quando a pessoa já levanta nos cascos para enfrentar a “guerra” lá fora – disse um amigo meu numa prosa de bar, depois de umas tantas geladas.
Ele emendou o papo de que o lugar onde existe mais pessoas nos cascos é no trânsito. Basta um pequeno acidente, uma sinalização errada ou uma cortada de mal jeito, para o indivíduo sair lá de dentro do seu carro com uma pedra na mão, uma arma para atirar no outro ou nos cascos mesmo, com ferradura e tudo.
– Ah, cara, você esqueceu da política travada nos dias atuais, principalmente quando os cascos partem dos radicais fundamentalistas e extremistas de direita! Têm aqueles empedernidos de esquerda também! Haja cascos de intolerância!
– É bicho, não podemos deixar de fora também a religião, a questão de gênero e raça! Imaginou se houvesse uma lei onde cada casco irritado fosse obrigado a andar de ferradura? Pensou o bater de ferraduras nas calçadas, praças e nos escritórios? Os ferreiros iam “matar a pau” e ganhar muito dinheiro.
– Coisa seria nas salas dos patrões exploradores irritados, só com a cabeça no lucro! E tome cascos com ferraduras nos pobres dos funcionários!
– Vamos deixar esse papo de cascos e ferraduras de lado e tomarmos nossa cerveja sossegado, porque já estou vendo um sujeito ali na mesa que está nos casos com a companheira.
– Pode até ser coisa de ciúmes, ou porque ouviu a nossa conversa sobre cascos e ferraduras.
RECORTES DA LITERATURA NO SARAU A ESTRADA COLOCAM CONQUISTA EM FOCO
Poderia falar em pedaços, retalhos ou até mesmo reflexões, mas preferi recortes porque fica mais apropriado por se tratar de um estudo em formação sobre a história da literatura em Vitória da Conquista que requer uma pesquisa com maior profundidade para fechar seu ciclo. É como um trabalho artesanal feito de recortes de tecidos, elaborado por muitas mãos até se tornar numa bela colcha.
Olha que não coloquei a preposição de Conquista, se bem que temos uma literatura regional, mas não é o nosso caso. Para ir direto ao que nos interessa, esse tema tão importante foi debatido no último sábado à noite (dia 14/12/24) pelo Sarau a Estrada, no Espaço Cultural que leva o mesmo nome, com diversas pontuações dos participantes que se penduraram no gancho da pesquisa feita pelo filósofo e escritor Nélio Silzantov, que nos brindou com sua contribuição.
Tudo que ia dizer aqui sobre o que ocorreu no Sarau acerca do assunto e as manifestações culturais já foram expostos pelo nosso estradeiro Dall Farias no grupo. Para mim restaram poucas palavras e fui obrigado a mudar de gênero, não aquele em que vocês estão pensando, mesmo porque a idade não mais me permite e cairia no ridículo.
Estou me referindo ao gênero literário. A professora e poetisa Viviane Gama disse que dá belas risadas com minhas crônicas e fez rasgos de elogios. Será que alguém também rir, ou tem outro olhar crítico, como a formação histórica da literatura em Conquista?
Em meu entendimento ainda temos recortes e pontuo que a nossa literatura está associada ao surgimento dos jornais impressos no início do século XX, precisamente em 1911 com o periódico “A Conquista” feito por Bráulio de Assis Cordeiro Borges e José Desouza Dantas, literatos que instalaram a “Tipografia Minerva” trazida em lombo de animais de Caetité. Gostaria de assinalar aqui também o nome do poeta “Maneca Grosso”, do jornal “A Palavra”, que defendia os pesduros na guerra contra os meletes que tinham como defensor “O Conquistense”. Não podemos desassociar uma coisa da outra porque foram os jornais que revelaram os nossos escritores e escritoras, se bem que naquela época praticamente só tinham homens na literatura.
De volta ao nosso Sarau, o Nélio se fez presente, mesmo distante, através do seu texto no Zap e na voz de áudio, graças aos recursos da nova tecnologia da internet que costuma falhar no momento preciso da transmissão e nos faz passar aquele sufoco, mas no final deu certo e ouvimos suas considerações.
Entre mortos e feridos, todos se salvaram dando suas opiniões e chegando à conclusão que muito ainda tem que ser feito para a costura completa da colcha formativa da literatura em Conquista, como incluir os contemporâneos, essa leva de entusiastas da cultura.
Temos hoje um grande movimento em torno de novos lançamentos de livros, em sua maior parte obras poéticas, talvez inspiradas pelo clima e ambiente de uma “Suíça Baiana”. Sentimos ainda a carência de outros gêneros, como ensaios, pesquisas históricas, romances, contos e crônicas. Precisamos apurar mais a qualidade e o conteúdo dos textos, mas é um momento fervilhante que está acontecendo na cidade, sem o devido apoio do poder público e privado.
Vejam que estou sempre fazendo um ziguezague para agradecer o trabalho da comissão no sarau, ao colaborador Nélio com sua pesquisa, um estudo aberto como já disse o nosso Dall, a todos presentes (alô professor Itamar Aguiar, nosso maior frequentador) e àqueles que fizeram suas considerações. Não podemos deixar de destacar o ambiente de confraternização com um farto e suculento jantar do nosso chefe cuca Dall, com suporte de Cleu Flor, Nete, Vandilza e Cleide. Tivemos ainda a comemoração das aniversariantes Karine e Rosângela.
Não podemos deixar de ressaltar aqui as motivações dos compositores e músicos Baducha, Manno Di Souza e Jaime Cobra com suas cantorias de viola, os causos de Fozim de Anagé, as declamações poéticas autorais de Jeremias Macário e Vandilza Gonçalves, Dall Farias, Viviane com sua homenagem intitulada “Estradeiros”, fazendo referência ao sarau que já completou 14 anos e foi ganhador do troféu Glauber Rocha, do convidado Carlos Maia com sua verve filosófica da vida e outros novos membros que estão se juntando ao nosso evento.
Pretendia apenas fazer uma crônica sobre o sarau, mas fico devendo para a próxima. Registro aqui o agradecimento de Nélio pela sua contribuição, apesar de reconhecer que é uma pesquisa em andamento. Torço para que nossa literatura seja ainda mais apreciada, valorizada e que possamos muito aprender sobre ela. Nélio afirmou vir acompanhando nosso trabalho de longe através das postagens nos blogs e nas redes sociais.
Sobre o áudio do Nélio, que a tecnologia picotou um pouco, quero aqui fazer algumas citações da sua fala a respeito da sua pesquisa. Ele próprio diz que não é conclusiva, mas ao longo do tempo vai lograr êxitos e deixar seu legado de conhecimento e saber. Na ocasião aproveitou para apontar alguns textos a respeito do tema, como “por uma cena literária local e sem fronteiras, a formação da literatura conquistense – primeiras questões, o centenário de uma obra esquecida – marcos históricos e desmemorias”.
Em suas reflexões ele indaga quem eram os escritores conquistenses e quais eram suas obras. Nos estudos por ele realizado ressaltou ter encontrado a Ala das Letras Conquistenses e das Academias de Letras. Indaga ainda qual foi a primeira obra publicada em Conquista. Isso implica responder em qual período histórico surgem esses escritores. Qual a visão estética e ideológica?
Para Nélio, falar sobre a caatinga e o sertão conquistense não é somente descrever sobre o coronelismo, a seca, a fome e a miséria. Existem outros elementos. Existe escritor que foge dessa visão estereotipada ou as únicas imagens são aquelas cantadas por Elomar e projetadas nos filmes de Glauber?
Quando falo de Formação da Literatura Conquistense, de acordo com Nélio, estou pensando nessa palavra para além do seu sentido comum. Não basta identificar os nomes dos escritores e períodos que eles surgem no campo literário, mas buscar compreender os modos como a literatura se constituiu, seus valores morais e intelectuais, o papel social e o impacto que ela tem na sociedade.
Ainda em seu comentário, pontua o centenário do livro de Ernesto Dantas, intitulado “Traços Crassos”, publicado em 1924. Ele também lembrou do livro “A luz desce da estrela”, de Laudionor Brasil, em 2001, em comemoração ao centenário do seu nascimento (1901).
Salve, salve a Ala das Letras, fundada em outubro de 1938, que se tornou mais conhecida, em 1945, no início da efervescência cultural de Conquista, o Grêmio Literário Dramático Conquistense, criado em 1911, juntamente com o primeiro jornal impresso, o Grêmio Ruy Barbosa, o Grêmio Dramático União, o Grêmio Castro Alves, de onde surgiu a revista literária “A Ribalta” (1919-49), a Academia Conquistense de Letras, no ano de 1980, a Breve História da Literatura Conquistense, de José Mozart Tanajura, o Foro Literário Sertão da Ressaca, o Coletivo de Escritores e o nosso Sarau a Estrada que estão entre os recortes da nossa literatura.
QUANDO NÃO COÇA, ELE PIA
(Chico Ribeiro Neto)
Era o único dia em que a gente lá em casa comia maçã e chupava uva. Tinha que estar doente para que essas caras frutas chegassem até a cabeceira da cama.
Nesse ponto dei sorte, pois fui um menino doente. A partir dos 7 ou 8 anos comecei a sofrer de asma e o bicho era brabo.
Lá fora, a zoada dos meninos jogando bola na rua. “Cadê Chico?” “Ele não vai hoje, não, tá doente”.
O problema era que quando curava uma coisa, vinha outra. Quando o médico passava remédio pra asma, eu parava de sentir falta de ar, mas aí aparecia a coceira, e vice-versa. Eram 15 dias se coçando e 15 dias piando. Já em Salvador, depois da consulta no médico, na Piedade, mamãe me levava para merendar na Lobras (Lojas Brasileiras), em São Bento.
A asma até que me ajudou em algumas situações. Quando meu pai Waldemar vinha me dar uma surra, eu simulava logo uma crise e mamãe Cleonice alertava: “Waldemar, você não tá vendo que o menino tá com falta de ar?”. E eu escapava do cinturão. O problema é que essa simulação muitas vezes provocava a asma de verdade.
Lembro uma piada de Juca Chaves. O cara passou a noite com uma mulher no motel e de manhã disse que precisava confessar algo. “Você é casado?”, perguntou ela. “Não, é outra coisa”. “Fique à vontade, pode falar o que é”.
“Eu queria lhe dizer que … eu sou asmático”. “Ainda bem que você me contou, porque eu pensei que você estava me dando vaia a noite toda”.
Ah, os velhos e intragáveis remédios. Tinha um tal de óleo de ricínio (óleo de rícino), pra combater vermes, que era terrível. E o Emulsão de Scott? Cleonice dava voltas na mesa da sala até conseguir segurar um dos quatro filhos pra engolir aquele negócio branco e intragável na colher de sopa.
Mamãe usava Colubiazol pra garganta e vovô Chico não ficava sem Sal de Fruta Eno em casa. E papai passava na cabeça a loção Tricomicina pra ver se ainda nascia cabelo.
A gente ia no inferno e voltava quando o Merthiolate era aplicado em cima do ferimento no joelho adquirido no “baba” da rua. A chegada do Band-Aid foi um alívio. Os pequenos curativos deixaram de ser feitos com gaze e esparadrapo, que saía arrancando os cabelinhos a torto e a direito. Quando não era raladura, era uma porrada na perna, usava-se o Iodex, uma pomada preta que tinha um cheiro forte.
Difícil mesmo era engolir uma gemada. Beber o chá de fedegoso contra asma era outro processo doloroso. Gripe? Chá de limão com alho. Tomar bem quente e entrar debaixo da coberta. Vai suar em bicas e no outro dia tá bom. Pode escalar Chico pro “baba” de hoje.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
NATAL EUROPEU NUM PAÍS TROPICAL
Assistimos este filme todos os anos dentro de um Natal europeu num país tropical, com papais noéis com seus trenós e renas no gelo, muitas luzes para encantar crianças e adultos como se estivéssemos nos países nórdicos em pleno solstício de inverno, lembrando as festas “pagãs” dos celtas para louvar a passagem de uma estação para outra. Não quero falar aqui de religião, nem do nascimento de Cristo na liturgia católica.
Além dos shoppings e praças, cada um quer exibir seus presépios com seus noéis de barbas brancas que tomam toda casa. É tempo de banquetes fartos, presentes e muitas bebidas. O consumismo explode e logo aparece o “Natal sem Fome” como se o pobre só se alimentasse naquele dia. As crianças ganham seus brinquedos e tudo faz crer que as desigualdades sociais desaparecem.
Tudo é muito lindo e atraente, mas dificilmente vemos um presépio tropical brasileiro ou rústico agreste no caso específico do nosso Nordeste. O negócio é imitar os europeus até nas comidas importadas. Aliás, fazemos questão de demonstrar que somos um país colônia, como se não tivéssemos adquirido a nossa própria cultura. Muitos me criticam pelo meu comentário “radicalista” e antropofágico, mas pouco me importo com isso.
Ah, ia me esquecendo dos shows musicais sertanejos, românticos de Roberto Carlos, de arrochas, sambas, sofrências e pagodes com muito colorido, belas coreografias de mulheres se rebolando no palco, mas uns lixos de letras em sua grande maioria. Por falar em arte, estamos na fase da banana amarrada na parede com uma fita adesiva.
A mídia e as propagandas nos injetam todas as horas e todos os dias a necessidade premente de consumir e consumir cada vez mais. Como porta-vozes comerciais dos lojistas, nos ensinam como renegociar as dívidas para ficarmos cada vez mais endividados. Deixamos até de pagar as nossas prioridades para ficarmos bonitos na fita. É o pobre tentando imitar o rico e se lascando na vida.
Nas doações das campanhas “solidárias”, cada um quer mostrar sua imagem na televisão para dizer que é um bonzinho caridoso que se compadece com a miséria do outro. É uma forma de se redimir de seus pecados durante o ano. Nas ruas é aquele alvoroço e aquela agonia de compras estressantes, mas todos amolecem o coração e fingem bondade humanista nos abraços e no “Feliz Natal”.
Não gosto desse Natal hipócrita e falso, não que eu não seja um pecador cheio de defeitos e ranzinza implicante, mas procuro ficar longe dessas congratulações. Melhor tomar aquele porre e ir dormir como se nada tivesse acontecido. Não sou europeu e nem ando com Papai Noel de trenó no gelo da Noruega, Dinamarca, Suécia ou Finlândia. Sou nordestino e não troco minha paisagem, costumes e hábitos por lugar nenhum, tampouco minha cultura.
Me desculpem, mas sinto aquele vazio dentro de mim diante de tanto fingimento e muita falta de autenticidade para com o nosso próprio Brasil tropical, tão rico em suas paisagens de belezas naturais. Por que não fazermos um Natal tipicamente brasileiro sem essas imitações fajutas e enganosas? Para onde foi a nossa valiosa cultura miscigenada? Parece que o gato comeu.
Só na noite de Natal as pessoas ficam sinceras, bondosas, tolerantes e as famílias mais “unidas” do que nunca. Qualquer discussão um pouco mais acalorada e aí aparece alguém para ralhar e dizer: “Gente, hoje é noite de Natal”! No outro dia tudo volta como antes onde sempre predomina o individualismo e o egoísmo. O ser humano não é mesmo confiável!
NOS TEMPOS DOS CARTÕES POSTAIS
– Quando chegar, não esquece de mandar um cartão postal. Os mais velhos se lembram bem dessa recomendação quando algum familiar, amigo, namorado ou namorada viajavam para uma cidade distante ou uma capital, no caso Salvador, que muitos chamavam de Bahia ou Baia. A viagem era sempre aguardada com muita ansiedade. Na véspera nem se conseguia dormir direito.
As viagens, em sua grande maioria, eram feitas de ônibus em estradas de cascalho e demoradas, umas com o propósito de passeio e outras até mesmo para ficar de vez na casa de um parente para arrumar um trabalho e melhorar de vida porque o interior pequeno era muito acanhado e não oferecia condições de crescimento. E as malas de couro cru! Cabia tudo dentro.
As partidas eram chorosas e calorosas como se a pessoa estivesse indo para o fim do mundo, para a China ou para o Japão. Os abraços e beijos eram demorados, e o motorista se danava a buzinar o carro para apressar os passageiros. Na saída eram aqueles adeuses!
Boas recordações daqueles tempos dos cartões postais onde a pessoa ia numa lojinha de lembranças e comprava aquelas belas imagens fotográficas e as remetia pelos Correios. Demorava um pouco de chegar ao remetente, mas era batata! Não falhava e nem desviava.
– Para minha amada, com muitas saudades do meu amor. Este é um lugar que nos une, mesmo tão distantes. Você está sempre em meu coração.
– Para meu pai e minha mãe querida, com muito carinho. Fiz uma boa viagem e estou adorando esta cidade. Em breve envio mais notícias.
– Ao meu amigo, ou amiga, um forte abraço. Aqui tudo é bonito e estou aproveitando esses dias para conhecer vários lugares encantadores. Quando a viagem era rápida, a pessoa trazia na bagagem um monte de cartões postais para comprovar sua visita.
Esses e outros dizeres, de acordo com cada intimidade que um tinha para com o outro, eram escritos nos versos dos cartões postais com distintas caligrafias, não esses garranchos de hoje que quase ninguém entende.
Naquele tempo, muita gente fazia coleção de cartões postais. Eu mesmo conheci uma pessoa que era fissurada nessa mania e tinha cartões de várias partes do mundo, sem contar do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e de outras capitais do país. Quantas saudades!
Por que hoje você diz que tal lugar é um cartão postal da cidade? Em Vitória da Conquista, por exemplo, dizem que o Cristo de Mário Cravo ou o Poço Escuro? Em Salvador, o cartão postal pode ser o Elevador Lacerda, o Farol da Barra ou a Ponta de Humaitá, na Ribeira. No Rio de Janeiro é o Cristo Redentor ou o Bondinho do Corcovado. Em Paris é a Torre Eiffel.
Atualmente não existem mais cartas e nem recantos de cartões postais. Hoje é tudo instantâneo pelo celular através de uma foto ou selfies, com uma legenda troncha cheia de erros de português. Na maior parte, as mensagens são feitas por áudio e, praticamente, sem ligações telefônicas.
Será que alguém aí ainda guarda, lá no fundo do baú, algum cartão postal ou carta de antigamente? Muitos foram jogados fora como velharia imprestável para dar lugar ao moderno. Dia desse encontrei um cartão postal em minha pasta. Só não vou revelar a mensagem.
NO ESTILO “VIVER SERTANEJO”
A Rede Globo de televisão está aí com um programa cujo título é “Viver Sertanejo” que está mais para viver fazendeiros cercados de suas boiadas e cavalos de raça no pasto, no pantanal ou à beira de rios, para mostrar a vida dos famosos cantores desse estilo (muitos estão mais para o arrocha e a sofrência) em suas casas luxuosas de piscinas, estúdios, salões de jogos, belas suítes, pias douradas e muitos empregados e capatazes.
É uma maravilha um “viver sertanejo” assim de ricos músicos cantores cheios da grana no desfrute de seus confortos. Quero ver é apresentar um viver sertanejo autêntico, de preferência típico nordestino de homens e mulheres pobres vivendo na labuta do dia a dia no campo, plantando e cuidando de suas lavouras no rigor do sol, morando em suas taperas e rezando para que não bata a seca e destrua tudo.
Nesse caso, não seria um estilo opcional sertanejo de deleites desses artistas de maga-shows, mas um modo de vida de sobrevivência mesmo, dependendo da agricultura de subsistência, com um pequeno rebanho (muitos nem têm um gadinho para tirar o leite matinal para seus filhos), com seus costumes e hábitos de uma gente sofrida pouco assistida pelos governantes e políticos.
O sertanejo de verdade, ou o catingueiro, é aquele que se levanta ao raiar do dia e vai para a roça com suas ferramentas para lavrar a terra até o pôr do sol, isto quando caem as trovoadas e molha o chão. Nos sábados vai à feira da sua cidade para vender seus produtos.
Quando chega a estiagem e a cisterna fica seca (quando se tem uma), o jeito é botar a lata d´água na cabeça ou através do jumento, caminhando quilômetros de distância atrás de uma fonte, poço, um tanque ou um açude que ainda conserva um pouco do precioso líquido da vida.
Uma coisa é o “viver sertanejo” dos grã-finos Leonardo, Daniel, Jorge e Mateus, Chitãozinho e Xororó, Maiara e Maraísa, José de Camargo, Ana Castela e tantos outros que nem vivem da terra e vão ali vez ou outra para fazer suas festas com os amigos ao redor das fogueiras nas varandas suntuosas com suas cantorias.
Outra é o viver do nosso sertanejo, chamado até de tabaréu residindo em sua casa simples com seu chapéu de couro surrado para se proteger do sol escaldante. Ele faz suas preces ao se levantar e ao se deitar para rogar ao seu Deus ou ao seu santo que lhe dê coragem para enfrentar as intempéries do tempo e poder criar seus filhos.
Por que não fazer um programa, um documentário ou uma série de reportagens sobre esse viver sertanejo roceiro, como se comporta, o que faz durante o dia e a noite, suas atividades e as dificuldades para vencer os obstáculos? Falo isso porque eu mesmo fui um sertanejo desse e vivi essa experiência.
É muito prazeroso esse “viver sertanejo” das celebridades, não querendo com isso dizer que o nosso de verdade seja infeliz e amargurado. Mesmo diante dos problemas, ele é solidário entre seus compadres da comunidade; está sempre com um sorriso no rosto; recebe bem as pessoas; e sabe como driblar as angústias e as tristezas.
“SAI DO SERENO MININO”
(Chico Ribeiro Neto)
Sete da noite, mamãe Cleonice me chamava: “Sai do sereno, Chiquinho, senão você adoece!”
Eu ficava pensando que diabo era esse sereno, um negócio que a gente nem vê e faz mal. A chuva, pelo menos, a gente vê.
Os barquinhos de papel, feitos com folhas de caderno, desciam a enxurrada. Tinha vontade de escrever o nome nos barquinhos: “Chico I”, depois viriam “Chico II”, “Chico III”, até o oitavo. E essa frota desceria o rio de Contas, passaria em Barra do Rocha, Ubatã, Ubaitaba, Aurelino Leal e Itacaré, onde desfilaria no Oceano Atlântico.
Falar em escrever, já escrevi um bilhete e o coloquei numa garrafa que joguei no mar do Unhão. Era adolescente, já em Salvador, não lembro mais o que escrevi. Se fosse hoje, eu escreveria: “Um náufrago em terra firme”.
De volta a Ipiaú. Depois da chuva (ou antes, não lembro) a gente ia à noite pra ver as mariposas em volta da lâmpada dos postes. Aposta para ver quem conseguia contar quantas mariposas estavam a voltear.
Tem coisa mais gostosa do que um banho de bica? Era uma festa para a meninada, aquele toró caindo na cabeça da gente. Na hora de dormir, sentir aquele leve chuvisco que caía do telhado e vinha borrifar a cabeça, e se cobrir com uma coberta Dorme Bem, que espinhava e esquentava.
Usei galochas para ir à escola primária. Galocha era um calçado todo de borracha que se calçava sobre o sapato de couro para não molhá-lo em dia
de chuva. Não sei por que se chama um cara muito chato de “chato de galocha”. Talvez seja porque era chato calçar a galocha: a borracha embolava na ponta e no calcanhar.
As tanajuras apareciam no período de chuva. A gente enfiava um palito na bunda da tanajura só para ouvi-la vibrar as asas. Ela acabava morrendo. Menino tem arte do capeta. “Cai, cai, tanajura, na panela da gordura”, todos cantavam. A bunda de tanajura frita ou na farofa é muito apreciada no Nordeste. “A tanajura é rica em proteínas e minerais e tem um perfil de ácidos graxos semelhante ao da carne do boi e do porco”, dizem os especialistas.
Vovô Chico fez um tanque de cimento que saía do chão, na área de serviço da casa (entre a cozinha e o quintal), para aparar água de chuva, pois ainda não havia água encanada. Era a chamada água de gasto, para limpeza e banheiros. A de beber era comprada dos aguadeiros, homens que traziam os carotes de água nos burros e passavam de casa em casa descarregando-os nos porrões de barro. Duas bicas conduziam a água da chuva para o tanque que era fechado com madeira pra não cair bicho dentro. Eu gostava de subir num banquinho pra brincar com a água do tanque.
Na enchente descia de tudo pelo rio de Contas: bois, galinhas, porcos, melancias, abóboras, pedaços de cerca, árvores, um cenário de destruição.
Vinte e poucos anos. Namorar de noite, debaixo de chuva, na praia de Amoreira. Outra bela lembrança.
Começa a chover no Chame-Chame, em Salvador, tô sem guarda-chuva e começo a correr. “Vai devagar, meu tio, que o senhor pode escorregar. E velho não pode cair, não é?”
(Veja crônicas anteriores em leiamais.com.br)
O PODER DAS PALAVRAS E DAS FALAS
“Você tem o direito de ficar calado. Tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal”. Nos filmes policiais, os soldados norte-americanos sempre falam isso para o preso. É uma garantia de não autoincriminação, segundo a qual ninguém é obrigado a produzir prova contra si.
Aqui no Brasil o militar não quer conversa (qualquer palavra é desacato à “autoridade”) e joga o cara do alto de uma ponte, ou atira a queima roupa pelas costas. Lá também acontecem absurdos como do negro que foi sufocado com o joelho na garganta e ele apenas conseguiu balbuciar alguma palavra de que estava morrendo.
No entanto, não é propriamente desse assunto da violência brutal que quero tratar. O tema específico é sobre o poder da palavra ou das palavras, que vem lá do homem neandertal até chegar ao nosso sapiens que deturpou os conceitos, com línguas que mais parecem uma torre de Babel.
Quem já não disse “palavras são apenas palavras”, mas elas são a arte do bem falar. Umas para o bem, outras enganosas para o mal. O vigarista golpista, na maioria conhecido como bom de lábia, usa a palavra para ludibriar as pessoas.
O poder das palavras com suas frases está nos grandes pensadores, filósofos e políticos. Eu posso construir aqui um pensamento meu e colocar na boca de um desses famosos e, com certeza, terá valor, mas se disser que pertence a mim, não terá mais importância.
A palavra sai da boca, mas ela é formulada a partir da mente e do pensar, muitas vezes branda, lógica e respeitosa. Outra pode ter o efeito de uma faca afiada no calor da raiva, ou sem nexo, sem contexto, equivocada e tendenciosa. Numa discussão, o silêncio não deixa de ser uma palavra valiosa, dependendo da interpretação do opositor.
Cuidado com o que fala ou vai falar! Adverte o mais cauteloso, pois é assim que regem as normas da sociedade moralista, que não admite xingamentos e palavrões, se bem que são admissíveis na hora e nos momentos certos de desabafo e protesto. A palavra já levou muita gente à forca, às prisões e às fogueiras da inquisição. Difícil não falar uma palavra comprometedora diante de uma cruel tortura.
Na literatura, as palavras têm vários gêneros, tanto falada como a escrita. No sentido poético, elas podem ser líricas, telúricas, românticas, épicas, condoreiras, de realismo fantástico, expressionistas e impressionistas, bucólicas, bíblicas, objetivas e subjetivas, metafóricas, parabólicas e por aí vai.
Confesso que nas palavras aprecio muito os ditados populares criados pelos nossos ancestrais, como quem não tem cachorro caça com gato; boa romaria faz quem em casa fica em paz; antes só que mal acompanhado; em terra de cego quem tem um olho é rei; amor é como pirulito, começa doce e termina no palito; falar é fácil, fazer é difícil; a melhor resposta é aquela que não se dá; pão comido não é lembrado; uma mão lava a outra; antes tarde do que nunca; pedra que muito rola não cria limbo; e temos por aí centenas de milhares na boca do povo.
Na real, caramba! Elas podem ser benditas e malditas, vãs jogadas aos ventos e eternas nos tempos produzidas por grandes filósofos, políticos e escritores. Podem ser mentirosas, vaidosas, ambiciosas, gananciosas, falsas como certos “amigos” interesseiros e verdadeiras.
Podem ser de amor, de paz, de tristeza e alegria ou estar no grito de guerra que brota da terra. Elas estão nas ondas do mar, nas florestas, nas águas correntes, nas cachoeiras, nas montanhas uivantes, na nascente e no poente do pôr do sol. Estão no olhar, no aperto de mão, no abraço que pode ser até de tamanduá, na solidão, na saudade doída, no beijo e no coito sexual suave, carinhoso ou selvagem.
– Não acredito em suas palavras e em nada do que você fala. Isso vale para as pessoas que não cumprem o que prometem ou são desprovidas do conhecimento e do saber. Antigamente para os mais velhos da nossa geração, a palavra tinha o maior valor, tanto que se arrancava o fio do bigode ou da barba como fiador infalível. Funcionava como se fosse uma promissória.
Nos tempos atuais, principalmente em termos jurídicos, a palavra por si só não vale nada. O que conta é o “preto no branco”, o que está escrito no documento com reconhecimento de firma no cartório e claro, com carimbo. Palavra é letra que está na canção da bossa nova, no samba, no pagode, na mpb, no sertanejo de raiz ou não, no forró e em tantos outros ritmos musicais.
– A palavra tem que ser bem empregada na gramática e na frase para não ficar confusa e errada, seja substantivo, verbo, artigo, adjetivo, pronome, conjunção, provérbio, advérbio, no sujeito, no objeto direto e indireto, no predicado e assim por diante – advertiu um amigo, meu professor.
– É, completei que no português ela é bem complicada. Na polissemia uma única palavra pode apresentar vários sentidos, como manga, por exemplo, dentre tantas outras. Com escritas diferentes e pronúncias parecidas podem nos confundir como, sessões, secções, seções, ratificar e retificar. Existem as parônimas e as homófonas, como alto e auto, concerto e conserto, sela e cela, assento e acento, iminente e eminente, descrição e discrição, comprimento e cumprimento.
ESCOLAS PARALELAS E BRASIL PARALELO
Não temos como fazer uma reflexão sobre essa estrutura de Escolas Paralelas e Brasil Paralelo que estão criando em nosso país desde 2016 (teve mais força a partir de 2022) sem desassociarmos da política de extrema direita que tenta inocular em nossas crianças e jovens uma concepção conservadora, negacionista e de viés de supremacia racial nazifascista, sem falar no conceito de divisão de um país.
Em seu programa, tendo como base financeira os “mecenas”, que fundaram as escolas Caminhos e Colinas, essa gente está introduzindo conteúdos controversos em salas de aula, como a negação do capitão ex-presidente golpista Bolsonaro, de que não houve ditadura e tortura no Brasil. Para essas pessoas, o que houve em 1964 foi uma revolução contra um suposto plano de introduzir no Brasil o comunismo.
Através de um instituto, eles estão cada vez mais avançando com suas ideias extremistas de superioridade de uma raça branca e, em suas propagandas, introduzem negros para disfarçar seus verdadeiros propósitos de aniquilamento do pensamento progressista da igualdade racial e de gênero.
Outro exemplo de extremismo é que essas chamadas Escolas Paralelas e Brasil Paralelo trabalham no sentido de negar nossa verdadeira história, inclusive defendendo o fim da escola pública e que o ensino passe a ser feito pela própria família, coisa impraticável onde a maioria dos pais tem baixo nível de instrução, sem falar no fator tempo de dedicação aos seus filhos.
Como tantos outros de cunho conservador, esse movimento perigoso vem ocupando largos espaços deixados pelas esquerdas que se desviaram de suas bases, esqueceram seus princípios fundamentais éticos, cometeram desvios de conduta e fizeram alianças com grupos inescrupulosos e corruptos em nome de uma governabilidade de poder.
O resultado disso tudo ficou comprovado agora nas eleições de outubro passado onde a direita de extrema tomou a maioria das prefeituras municipais, inclusive das capitais. Foi por assim dizer uma avalanche como no caso de Vitória da Conquista, cujo povo optou pelo conservadorismo.
Quem são esses “mecenas” ricos poderosos das Escolas e do Brasil Paralelo e quais são suas verdadeiras intenções? Boa parte vem dos evangélicos conservadores que há anos vêm montando um plano diabólico de desmonte da nossa cultura, da nossa história, de desprezo das minorias e fomento ao racismo, à homofobia e à misoginia.
O pior de tudo é que as próprias vítimas votam, aderem e apoiam seus próprios algozes. É uma coisa incompreensível e de difícil resposta. Por que está acontecendo esse fenômeno, não somente no Brasil, mas em grande parte do mundo, como nos Estados Unidos e países da Europa?
Não sou nenhum especialista em educação, mas como vão ficar as cabeças desses jovens em futuro próximo depois de terem passado por um processo de lavagem cerebral? Com a palavra os professores. O mais espantoso é que assistimos a tudo isso de braços cruzados, enquanto as Escolas Paralelas vão desconstruindo o que foi construindo com conhecimento e saber científicos.