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OS “MENINOS” MALVADOS

Sabe daquelas histórias do menino malvado (hoje existem muitos) que tinha prazer de maltratar os animais, do moleque “diabinho” que amarrava latas no rabo do gato e depois soltava o bichano que corria em disparada? O mais capeta botava uma bombinha na ponta da corda amarrada no rabo do felino. Imagine o desespero do animal! Só os mais velhos sabem dessas presepadas.

Como se tratava de coisa de criança, sem a devida consciência do mal que estava fazendo, merece nosso perdão, mas se o pai pegasse o filho fazendo isso era aquela surra. Hoje em nossa sociedade, temos vários meninos malvados, malcriados e que não respeitam nem os idosos, quanto mais outras estripulias como bater em professores. Não podem ser mais punidos com castigo.

É só uma metáfora para falar dos “meninos” malvados adultos que, além de devastar nosso planeta com desmatamentos, queimadas, lixo e gases tóxicos, provocando o aquecimento global e colocando a culpa no “El Nino” (O Menino), agora fazem terror com as guerras impiedosas de extermínio da raça humana.

Esses “meninos” malvados, com todo seu poderio, inteligência e ganância capital estão varrendo a própria humanidade da face da terra. Como se não bastassem as tragédias e as catástrofes climáticas anunciadas como início do fim – calor de mais de 40 graus em quase todos os continentes e regiões, ciclones, tufões, enxurradas e terremotos – o mundo está pegando fogo literalmente através dos foguetes e armas de alta destruição.

É a inteligência, inclusive a artificial, destruindo a própria inteligência, que há séculos vem dizendo que tudo vem sendo feito em benefício do ser humano. Os bobos da corte só fazem aplaudir. Sem nenhuma moral, uns ficam chamando os outros de terroristas. São como os Neros malvados que tocam harpa enquanto Roma é consumida pelas chamas.

É só ler a história desde séculos antes de Cristo e você vai entender que não existe essa de mocinhos e bandidos, de bons e maus, de bonitos e feios. Revise toda história da humanidade e você vai descobrir e compreender quem primeiro jogou a pedra ou apertou o gatilho, inclusive me refiro ao caso atual de Israel a partir das matanças indiscriminadas para tomar Canaã, a terra prometida, sob o comando de Moisés e depois de Josué. Aquele pedaço de território já era habitado.

O interessante é que cada um deles tem o seu deus protetor e se acha com a razão. Os deuses deles que se virem e briguem entre si para defender o seu povo maluco e estúpido. Oram nas mesquitas, nas igrejas, nas sinagogas e mosteiros para que ajudem a realizar suas carnificinas com sucesso.

A história é longa de revides e revanches com terrorismos dos dois lados. A situação piorou mais ainda com a criação do Estado de Israel, em 1948, de comum acordo com as nações poderosas, no caso principal a Inglaterra e os Estados Unidos. Por que deixaram os palestinos num curral, ou matadouro, e não instituíram seu Estado?

Antes disso, quem foram os “meninos” malvados que praticaram atos de terror contra árabes, cristãos e palestinos, para forçar a construção de um Estado? Quem administrava aquela região depois da Segunda Guerra Mundial eram os ingleses.

A panela de pressão sempre está explodindo e vai continuar assim, porque é assim que querem esses “meninos” malvados e sádicos, que também são responsáveis pelo “fumacê” que está poluindo todo nosso ar e deixando o planeta sufocado. Não se enganem de que vamos reverter essa autodestruição humanitária, ou apocalipse final.

 

 

 

UM DIA ADVERSO

Pense num dia em que você sai de casa com tudo planejado na cabeça para resolver os pepinos e as coisas terminam saindo do seu comando! É o chamado dia adverso onde só dá o avesso. No sábado passado aconteceu isso comigo, e aí lembrei daquele filme norte-americano “Um Dia de Cão” quando o cara se desespera no trânsito engarrafado e destila toda sua raiva nos outros, como se fosse um louco psicopata.

Não cheguei a este ponto, mas fui obrigado a fazer outras coisas que não estavam em meus planos. Primeiro, marquei uma reunião na casa de um amigo e quando lá cheguei no horário ele havia saído parta socorrer um colega de trabalho, coisa de carro. Entrei em contato e ele me pediu desculpas. Antes passei no banco e minha conta estava negativa. Comecei com o pé esquerdo, ou direito, sei lá!

Quando estava para visitar um companheiro jornalista e tomar umas geladas, conforme o combinado, recebo um áudio de uma amiga me solicitando socorro para pegá-la num hotel lá na Avenida Integração. A pessoa estava muita avexada e não parava de passar mensagens porque ela teria que deixar o hotel meio-dia para não ter que pagar outra diária.

Tomei dois goles da cerveja agoniado e lá foi eu. Pequei um engarrafamento na Avenida Spínola e o horário estava se esgotando. Da Avenida Integração tocamos para uma pousada na Avenida Juracy Magalhães para pegar uma mala pesada que deu a maior trabalheira para descer as escadas.

De lá, retornarmos para a Integração (antiga Rio-Bahia) e tornei a subir mais escadas arrastando essa mala enorme. Os antigos hotéis não têm nenhuma acessibilidade e nem elevadores. Era pouco mais de meio dia e a fome bateu com a fraqueza.

Nessa ida e volta ela foi me contando que foi desempregada e ainda havia sido vítima de assédio sexual. Esse é um assunto delicado que prefiro não entrar em detalhes, mas fiquei chocado com sua situação e o aperto em que estava passado. Muitas vezes pensamos que nosso sofrimento é maior que dos outros.

Para não me alongar muito na história (ocorreram outros percalços) terminei indo para a Feirinha do Bairro Brasil, coisa que não estava em meu roteiro do dia. Comprei um tilápia fresca em um daqueles galpões de carnes e fui tomar uma gelada e um caldo de buchada para aliviar a tensão e a fome. Àquela altura, o relógio marcava pra lá das 14 horas.

Antes de fazer o pedido, perguntei à moça da barraca (estava com pouco dinheiro) quanto era o caldo. Respondeu que era sete reais. Pedi uma cerveja “periquete” de quatro reais, segundo a mesma mulher que me atendeu.

Quando fui pagar a conta, veio a dona do estabelecimento, uma senhora já meio idosa, e me cobrou quinze reais quando deveria ser onze. Entrei em discussão e chamei a menina, supostamente sua filha, que ficou atarantada porque havia me passado os preços errados. “É, subiu tudo”. Imaginei: em questão de minutos! Que inflação varada!

Outra vez passou pela minha cabeça o filme “Um Dia de Cão” e tive que me controlar para evitar um quebra-quebra e ir parra na delegacia. Acontecem coisas em nossas vidas que não sabemos explicar. Uns dizem que são coisas do destino. Moral da história é que nem tudo que você planeja dá certo quando o dia é adverso.

DIA DO NORDESTINO

Não poderia deixar aqui batido o “Dia do Nordestino”, comemorado em 8 de outubro, do nosso sertão profundo, de gente simples sofredora, não o do cerrado cheio de águas e cachoeiras do famoso escritor Guimarães Rosa (com todo respeito), mas lhe parodiando, o da Caatinga Veredas, que nos leva às histórias de lutas, do cangaço, de Lampião, da Coluna Prestes, dos milagres, do Conselheiro, do “Padim Ciço” e demais personagens que fazem parte da nossa cultura.

Foi aqui em nosso Nordeste, que possui o único bioma do mundo, que proliferou a poesia do cordel e gerou grandes escritores, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, José de Alencar, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, dentre tantos outros, sem falar no Águia de Haia, Ruy Barbosa, e no poeta dos poetas condoreiro Castro Alves em Espumas Flutuantes.

É também o nosso Nordeste dos repentistas, dos trovadores, contadores de causos e chulas, dos grandes compositores músicos como Zé Ramalho, Geraldo Vandré, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga com sua sanfona ao som de Assa Branca, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Tom Zé, Novos Baianos e toda uma geração conhecida mundialmente.

Neste “Dia do Nordestino”, quero também falar da nossa terra de bravos, mulheres e homens anônimos que fizeram e fazem parte da nossa história e da nossa rica cultura, cheia de mistérios, fé e religião. Nosso sertão é único, cinzento nos engaços e bagaços misturados com o mandacaru quando bate a seca, e verde e colorido quando chegam as trovoadas de final de ano.

Essa paisagem do seu solo e da sua gente queimada e mestiça do sol já é pura poesia e matéria-prima para as artes em suas diversas linguagens. É também o Nordeste dos retirantes, dos casos de pau-de-arara que daqui saíram na “Triste Partida”, de Patativa do Assaré, para construir São Paulo em terras estranhas e depois retornam com saudades do seu chão querido.

É o Nordeste da Bahia, dos heróis que consolidaram a independência do Brasil, do Maranhão, do Ceará, do Piauí, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas e Sergipe. Por aqui atravessa o São Francisco, o “Velho Chico”, com suas águas dando vida aos ribeirinhos, banhando nossas margens e abrindo canais de irrigação para nossa agricultura.

É esse Nordeste que reverencio, do qual tenho orgulho de dizer que dele sou filho e repudio os preconceituosos e racistas que em muito contribuíram para que houvesse essa desigualdade regional, desde os tempos coloniais, passando pelo Império e pela República. Daqui exploraram nosso suor e ainda nos chamam de atrasados, mas, como diz a Bíblia, perdoai Senhor, porque eles não sabem o que dizem.

3 X 4 PEDACINHO DE NOSSA HISTÓRIA

(Chico Ribeiro Neto)

A gente só tirava fotos 3 x 4 em momentos importantes da vida: entrar no ginásio, matricular-se no colégio, na faculdade, carteira de identidade, certificado de reservista, primeiro crachá de emprego, e por aí vaí.

Eu ia tirar meia dúzia de 3 x 4 nos Lambe-Lambe do Relógio de São Pedro ou no Terreiro de Jesus, em Salvador. Quando acabava, o fotógrafo perguntava se você não queria levar 8 fotos pagando um pouco mais. A gente só precisava de 4 fotos, mas acabava levando as 8 e dava as restantes a parentes e à namorada, mas a dedicatória tinha que ser bem curta. Um “Te amo” resolvia tudo. De tão pequeno, o 3 x 4 era difícil de rasgar na hora de acabar o namoro.

Tinha 3 x 4 que desbotava com o tempo, uns ficavam amarelados. Quem tinha mais dinheiro tirava os 3 x 4 num Foto, uma loja num shopping onde a coisa era mais arrumada, tinha uma sala acarpetada cheia de luzes, ar condicionado e um banquinho vermelho acolchoado. O espelho era fundamental. Tirava de manhã pra ir pegar as fotos de tarde. Vinham numa cartela de plástico com o nome do Foto. Havia uma loja que colocava seu comercial na cartela onde vinham as fotos: “Nossa dúzia tem 14 fotos”.

O site da Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete (MG) tem um texto cujo título é “Saiba como ser tirada a foto para a Carteira de Identidade”, a seguir: “O fotografado deve apresentar fisionomia neutra ou um sorriso discreto, desde que em ambos os casos mantenha os lábios fechados, sem franzir o rosto” (conselheirolafaiete.mg.leg.br).

Fui pesquisar a 3 x 4 na música. Tem a “Retrato 3×4”, da banda Agito Capilar, que diz num trecho:

“Me dá um retrato 3 x 4

Que é pra eu botar na minha carteira

Se a saudade apertar

O retrato eu vou olhar

Durante a semana inteira”.

Belchior gravou “Fotografia 3 x 4”, em 1976, em plena ditadura, mostrando a saga dos jovens que saíam do interior do interior do Ceará para o Sul. Segue um trecho:

“Em cada esquina que eu passava um guarda me parava

Pedia os meus documentos e depois sorria

Examinando o três-por-quatro da fotografia

E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha”.

E tem a brilhante “Devolva-me”, de Renato Barros e Lilian Knapp, gravada em 1966 pela dupla Leno & Lilian e brilhantemente regravada anos depois por Adriana Calcanhotto, cujo trecho segue:

“O retrato que eu te dei

Se ainda tens, não sei

Mas se tiver, devolva-me!”

Não sei se a foto era 3 x 4, mas que a música é linda, isso é. Segue uma lembrança.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

EU ACEITO E NÃO ACUSO

Eu aceito sua mão em casamento. Juro amor eterno, ser fiel no respeito, na alegria e na tristeza, nos momentos mais difíceis, na pobreza e na riqueza. São palavras do altar que também faço na vida real, na minha aldeia e na tribo em que vivo. São compromissos não cumpridos.

O tempo vai se arrastando até a monotonia, e esse elo um dia se quebra quando batem as adversidades. Priorizei os direitos em detrimento dos deveres. Não acuso a mim mesmo como sou e nem reviso o passado como aprendizagem. Eu aceito porque acho que deve ser assim o viver sem acusar, aqui no sentido de contestar. Nem pedi para vir ao mundo.  Não passo de um sopro.

O enlace matrimonial é apenas um contrato social como qualquer outro nesse sistema capitalista de aparências e vaidades onde sou levado a seguir normas como manda o figurino da ordem das coisas. A tudo eu aceito, mas não acuso nem os meus próprios atos.

Eu aceito fazer parte dessa engrenagem, ver o progresso destruir o ser humano e a própria máquina me triturar. A própria evolução da inteligência acaba de engolir ela mesma, porque é cativa e escrava do mercado e não está a serviço do humanizar. Aceito tudo que diz essa mídia vazia, sem conteúdo.

Não passo apenas de uma matéria-prima do poder selecionador das raças que cuida em eliminar, lentamente, de morte os mais fracos, e eu aceito e não acuso esse processo perverso do massacre. Eu aceito a violência e as matanças, as corrupções, os conluios e as injustiças sociais como se fizessem parte de uma lei natural, sem reversão. Aceito que as coisas são assim e não há como mudar.

Eu não acuso o meu comodismo, individualismo, meu egoísmo e passividade diante dos horrores da vida daqueles que padecem na fome e na exclusão total, sem a usufruir da dignidade merecida. Às vezes entro com um auxílio de doações solidárias para enganar minha consciência de que ela está em paz comigo mesmo.

Eu aceito ser apenas uma peça ou parafuso para fazer a máquina girar e nem questiono e acuso se ela tirou milhares de empregos dos excluídos que não tiveram formação escolar e ensino para acompanhar sua engenharia. Eu estou sentado sobre um iceberg derretendo e nem percebo. Não passo de um burguês-puritano dentro da barriga de uma baleia, como o Jonas da Bíblia.

Se tenho uma casa para morar, um carrinho na garagem ou na porta para rodar, um bar para tomar umas geladas com os falsos amigos, eu aceito o meu mudinho mesquinho e não acuso a decadência e o declínio da humanidade que está auto se destruindo.

Nem acuso o aquecimento global, os desmatamentos, as queimadas, os tufões e os ciclones, o consumismo do lixo e vou seguindo minha vidinha monótona, sem graça e nem penso na morte que pode bater em minha porta a qualquer hora. Sou um idiota imbecil que acha que já cumpriu sua missão na terra.

Eu aceito o anormal como normal, o errado como o certo e o desonesto como um bom predicado do “vencedor” a qualquer preço. Aceito o levar vantagem em tudo, ser bicho toupeira ou a avestruz que mete a cabeça no chão. Aceito tudo aquilo que os outros aceitam.

Não acuso quem rouba e só quero mesmo é passar o dia no celular hipnotizado nas redes sociais, lendo besteiras e fake news, disseminando o ódio e a intolerância. Não acuso a ignorância e aceito ser patrulhado em minha liberdade de expressão. Tenho medo de externar livremente o que penso para não ser moralmente linchado. Aceito a censura voluntária.

Por tanto aceitar, eu termino entrando em isolamento e depressão, o mal do século que eu não acuso como consequência dessa sociedade construída com pilares de areia. Como nas juras de amor, não passo de um traidor de mim mesmo, um simples carvão.

Eu aceito e não acuso porque sempre ando a dizer que não tenho tempo para refletir, conversar com os outros, responder as mensagens e só faço me encantar e concordar com as inovações tecnológicas (inteligência artificial), sem fazer indagações. Se os outros aceitam e acham ser bom para a humanidade, eu também aceito. Não quero entrar nessa de filosofar porque isso é coisa de intelectual desocupado.

CENAS DE VELÓRIOS E ENTERROS

Cada povo ou tribo tem seus rituais característicos nos funerais, desde a etapa do velório até o enterro e esses costumes são ancestrais, com suas origens nas primeiras civilizações, mas os comportamentos das pessoas são estranhos, falsos, hilários e dão belas matérias-primas, com todo respeito, para contos literários, peças teatrais, causos, programas humorísticos e até poesias.

Mais uma vez aqui vou citar o meu pai, um homem rústico do campo que era um predestinado para acompanhar o doente terminal na cabeceira da cama com orações, seguir pelo velório, fazer o caixão do defunto (era lavrador, carpinteiro, marceneiro e até pedreiro) e só terminava no rito do enterro. Naquelas redondezas onde morava ele era a pessoa requisitada para esses serviços, sem nada ganhar. Perdia noites de sono depois de um cansativo dia de trabalho.

Só para começar, os hábitos das pessoas da zona rural (pelos menos naqueles velhos tempos) têm pequenas nuances em relação aos velórios e enterros das cidades. Tem ainda o cerimonial do pobre e o do rico. Lembro na zona rural, ainda menino, por exemplo, que meu pai fazia o caixão com suas tábuas e na hora de fechar batia os pregos com martelo na cara do defunto. Se a pessoa não tivesse morrido em definitivo, era capaz de levantar do caixão ao ponto de colocar todo mundo em disparada correria.

No campo, as pessoas são mais simples, honestas, sem maldades e fingimentos, mas não faltam as ladainhas das rezadeiras, os choros, alguns histéricos, um café com biscoitos, cuscuz, canjica, bolos e claro, uma cachaça para esquentar o papo dos compadres e comadres e ter a disposição para correr quilômetros com o caixão para o enterro no povoado mais perto. São os momentos de muitas fofocas e prosear nas salas e nos terreiros.

No entanto, o que quero mesmo falar aqui é sobre os cenários esquisitos que se vê nos velórios e enterros.  Ah, ia esquecendo, quando morria um rico ou um “coronel”, gente ruim, malvada, carrasco e malquista, a família contratava, em alguns lugares ainda se faz isso, as carpideiras, as mulheres que ganhavam para chorar pelo defunto, com direito a revezamentos. A mulher e os filhos nem se lamentavam com sua partida para o outro mundo.

Velório de pobre não tem gente de óculos escuros para fingir que derramou muitas lágrimas pelo falecido. No de rico, muitas pessoas chegam de óculos escuros falando baixo e dizendo para o outro: lá se foi uma grande figura, gente boa, generosa, honesta, de caráter, nem que não tenha essas qualidades. Para os parentes, minhas condolências, pêsames e sentimentos em voz bem emotiva.

Quando morre um idoso e a viúva é nova e bonitona, aparece um conquistador galã nos apertos acolchoados já de olho na dita cuja, mesmo garantindo que era muito amigo do defunto, que deixa de ter defeitos. Quando a família não é muito unida e existem brigas entre irmãos, um já olha para o outro como adversário na partilha dos bens e imaginando que não vai deixar ninguém passar a rasteira nele, mesmo que sejam poucos dotes. Em muitos casos acontecem até mortes. Os noticiários não negam.

O que mais aparece num velório e num enterro é a hipocrisia velada, aquela de doer na alma, cheia de elogios falsos e chama o falecido ou falecida de irmão e irmã queridos do coração. E quando o indivíduo tem amantes é um vexame só. A mulher abraça o ex no caixão copiosamente chorando. Às vezes, a viúva nem sabia do caso ou quando já tem conhecimento parte para os tapas, classificando a adversária de vagabunda, puta e vadia. É um escândalo só no meio do velório. Uns começam a discutir ali mesmo pela herança, sem nenhum escrúpulo.

É, meus amigos, cenas de velório e enterro merecem ser registradas na caneta, gravadas e filmadas no celular. Dão bons filmes e são pratos cheios para a literatura, até do cordel. E quando morre um famoso (a) ou uma celebridade? É onde tem mais gente de óculos escuros, com aquela empáfia. Coisa rara de se ouvir: já foi tarde, mas se escuta que os bons se vão logo e que os ruins são duros na queda.

As entrevistas são sempre as mesmas de que é uma grande perda, insubstituível na sua profissão, deixa um grande legado e nos ensinou muitas coisas como mestre das artes e da política. Só aparecem as qualidades, mesmo que seja um ou uma ranzinza, pedante ou metido (a) a besta, dono (a) da verdade. As palavras são quase as mesmas e as frases parecem ser decoradas, recheadas de bordões.

SENTIFICAR, LIVRO DE LINAURO NETO, DA EDITORA PENALUX

 

Lançamento do livro, na Livraria Nobel, em Vitória da Conquista – BA

Por Luis Altério

 

“aqui estamos

humildemente agradeço

a companhia”

Assim começa o livro. Como se, ele, o Poeta, na Livraria também agradecesse a nossa companhia… E a Livraria ficou quase cheia de leitores do nosso Linauro. Vi muitos exemplares a serem despachados com a sua dedicatória (embora, mais uma vez, e pela enésima vez, sentisse a falta de escritores cá da terra. Vieram, pela minha contabilidade uns…deixa cá ver…uns…uns, porra, só?!…. uns 5 escritores conhecidos (se vieram mais, que eu desconheça, desde já peço perdão!)). Enfim, é assim mesmo, e dificilmente mudará o panorama, embora não seja difícil de um dia – quem sabe! – as coisa mudem.

Tiradas as fotos, as conversas entre conhecidos, ainda li vários poemas: Confesso, aqui! Temos POETA!

Irei ficar atento às obras de Linauro! É para ficarmos, TODOS, atentos e, claro, LER … Querem mais provas?… Eis que, na apresentação de seu livro, o Poeta lê os seus poemas: Aí, debruça-se num dos poemas fortes e de contestação, e se comove…. espera reagir aos nós de garganta que só poetas sensíveis sentem, de tão sentidos versos lidos….a dada altura, pede desculpa, para se restabelecer por breves segundos, e continua o poema…. Foi lindo ver como, de facto, há esperança nesse Brasil profundo!

E agradecendo eu, como consumidor e frequentador à Livraria Nobel, a disponibilidade do Belo Espaço… Fomos, como nos outros lançamentos, bem acolhidos!

Termino, então, saudando o nosso Poeta e, recolher-me ao meu Lar. E continuar a leitura… E antes de escreve esta resenha, ainda li este:

“sossega a alma

o silêncio é tão importante

quanto o verso”

– Certíssimo, Linauro! O silêncio como catarse da poesia de tudo o que sentimos!

Luís Altério

FAZER UMA COISA SÓ

(Chico Ribeiro Neto)

Quando eu tinha uns 10 anos, em Salvador, mamãe Cleonice me mandou comprar coador de café de pano na Rua da Ajuda e ainda me dava o troco para o picolé. Cheguei lá, era perto de um antiquário, quase na Ladeira da Praça, e lá estava o vendedor: em pé no passeio, com os dois braços cheios de coador. Voltei pra casa intrigado: aquele cara só vende uma coisa na vida.

Tinha um primo que vendia bilhetes da Loteria Federal sentado numa escadinha que levava a uma casa lotérica, no Forte São Pedro. Tinha sua freguesia certa e assim sobrevivia. Às vezes parava para cumprimentá-lo. Era de pouca conversa. Seu único trabalho era vender a sorte no seu silêncio.

Tinha um cara na Pituba que só vendia aipim, muito bom por sinal. Morei no bairro alguns anos e sempre o via pela manhã com o carrinho cheio de aipim e coberto com algumas folhas. Antes de meio-dia já tinha vendido tudo. Esse mudou. Na última vez em que o vi continuava a vender aipim – agora já descascado e embalado – junto com batata doce, banana da terra, inhame e quiabo, “diversificando os produtos para agregar valores ao seu negócio”.

Outro dia vi o letreiro na fachada de um restaurante: carnes, frutos do mar e massas. Dificilmente fará as três coisas bem feitas.

Sempre admirei quem vende uma coisa só ou quem faz uma coisa só, e bem feita. Nunca gostei daqueles caras que parecem uma orquestra: têm uma flauta amarrada na boca, tocam guitarra, o pé direito toca um bumbo, o pé esquerdo toca uma caixa, têm uns guizos presos no pescoço e se duvidar ainda tocam mais um instrumento com a orelha.

“Temo o homem de um livro só”, dizia Santo Agostinho, que também sentenciou: “O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página”.

Meu pai Waldemar tinha uma padaria em Ipiaú (BA) e queria abrir um segundo negócio. Meu avô Chico Ribeiro o desaconselhou: “Ou você toca o sino ou acompanha a procissão”. E tem gente que toca o sino e ainda carrega o andor na procissão. “Cuidado com o andor que o santo é de barro”.

Nunca pintei quadros. Não sei cantar e não toco nenhum instrumento. Não sei fazer móveis de madeira nem trocar a resistência do chuveiro. Procuro apenas lidar com meu ofício de escrever, onde minha caneta vira pá e pincel, enxada e picareta, enxó e serra, martelo e chave de fenda, voz e violão. Meus instrumentos são uma caneta tinta preta e um caderno de 200 folhas. E assim toco a vida.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

CURSO DE DEMOCRACIA PARA OS EXTREMISTAS E MEDIDAS SOCIAIS

O Brasil está mais para uma república de bananas e um reino das anistias, das intrincadas burocracias, dos engavetamentos de processos e da impunidade. No lugar de este não ser um país sério, prefiro indagar que país é esse? Na voz dos nossos cancioneiros poetas, ainda podemos citar que esta piscina está cheia de ratos, ou quem quer alugar o Brasil. É o quintal dos ianques coiotes com seus uivos horrendos.

Daqui brotam as coisas mais hilárias, absurdas e ridículas, como a mais recente de fazer um acordo com extremistas que invadiram e fizeram um quebra-quebra nos três poderes (não se sabe qual o mais mambembe e tupiniquim) para, no lugar de prisões, eles prestarem serviços sociais às comunidades, pagar multas, confessarem seus atos e o mais esdruxulo de todos, fazerem um curso de democracia.

No lugar, essa justiça do Supremo Tribunal Federal (STF) – mais política que técnica em suas decisões – poderia ordenar um curso de catequese religiosa para aprender os ensinamentos do Velho e do Novo Testamentos. Está mais para volta às aulas dos cursos sobre as leis de trânsito do Código Nacional quando o motorista comete uma infração grave, como dirigir bêbado. O catecismo cairia bem.

Passa pela cabeça de alguém que um extremista de direita nazifascista, que pede uma intervenção militar (ditadura), vai virar um democrata progressista depois de um curso sobre democracia e como deve ser exercida a liberdade de expressão? Confessar um ato criminosos para se livrar da cadeia até o bandido mais perigoso faz isso e depois volta para sua marginalidade do crime e da violência.

Não é para entender essas medidas de anistias, como para os crimes eleitorais e as ladroagens da Operação Lava-Jato, senão você vai ficar pirado e precisar fazer uma análise psiquiátrica, que dizem ser coisa para doido maluco. Os seguidores negacionistas e terraplanistas “bozonaristas” vão se tornar lulistas de esquerda? Que maravilha! Tudo está resolvido e juntos vamos realizar uma festa de pizza acompanhada do samba do crioulo doido! Melhor ficar ligado no aquecimento global do derretimento do gelo nas calotas polares!

O florentino Dante Alighieri (1265- 1321), em sua “A Divina Comédia”, um dos primeiros cordelistas teatrólogo clássico da Idade Média, de teor histórico, mitológico, filosófico, político e religioso (foi exilado pela Igreja Católica), puniria todos com castigos severos nos infernos, cada um em suas devidas camadas de sofrimento, como pecadores atormentados pelos demônios, e jamais optaria por um curso de democracia.

Agora mesmo está saindo o procurador Geral da República, o baiano Augusto Aras, o maior engavetador dos crimes cometidos pelo “capitão Bozó” e seus fiéis seguidores.  Na obra de Dante, ele seria julgado como o bajulador e impostor.

Os outros bagunceiros como traidores da pátria, falsários de fake news, avarentos e golpistas. Parece uma Divina Comédia ver o ministro Gilmar Mendes, do STF, elogiando e incensando os atos de Aras. Ele também estaria nos infernos do florentino de Florença.

Dá para acreditar em nosso Brasil dos conluios, dos conchavos, dos malfeitos, das malandragens, das traições contra o nosso povo, das castas privilegiadas em seus palácios e dos piores índices no âmbito da educação, o penúltimo no teste do Pisa (só ganhou para a Tunísia)? Confesso que admiro os otimistas, uns do próprio poder (ossos do ofício) e outros marqueteiros de palestras, mas desconfio que sejam somente da boca para fora. O que falam entre quatro paredes?

E assim caminha o nosso Brasil de feridas abertas, numa história de repetidas impunidades e anistias, desde aos escravistas dos barões do café da vergonhosa escravidão, passando pelas oligarquias republicanas e aos torturadores e perseguidores contra políticos nas ditaduras de Getúlio Vargas (1930-1945) e na ditadura civil-militar (1964-1990) dos generais que praticaram crimes de lesa-humanidade e saíram ilesos, sem nenhuma punição.

 

O LITRO, O QUILO E AS CONVERSAS DE COMPADRES DO FIM DO MUNDO

Quem veio primeiro, o litro ou o quilo? Pelo que sei (posso até estar errado), o litro na forma de medida, mesmo antes de Cristo na civilização da Mesopotâmia. Na era primitiva, funcionava o escambo, ou troca de mercadorias, inclusive por serviços, o que perdura até hoje na modalidade da moeda como espécie de compra e venda.

Nas feiras de antigamente, nas cidades do interior, lembro ainda menino, e não é coisa de velho, os mantimentos (farinha, feijão, milho, arroz), frutas e outras coisas mais eram vendidos na base do litro e da unidade. Só as carnes eram no quilo. Recordo bem do meu pai vendendo farinha nas medidas de cedro de cinco, três, dois e até um litro. Hoje tem até comida a quilo.

Os feirantes proseavam alegres nos encontros de compadres e comadres sobre os tempos de chuvas e secas, notícias de parentes de São Paulo, vizinhos e até moças que fugiam de casa com seus namorados. Diziam que o cara roubou a virgem donzela.

Existiam histórias de coronéis, gente valente, de vaqueiros destemidos nos espinhos do agreste sertão da caatinga e causos de pescador e caçador. Tinha-se mais calor humano. E quando se recebia uma carta pelos correios, era aquela felicidade! Saia-se mostrando para os amigos e parentes. Era até motivo de festa.

Nos tempos atuais, tudo é na base do quilo, desde nossa saborosa e vigorosa banana, até a manga, a maçã, o mamão e todos legumes. Só está faltando vender as folhas (alface, rúcula, coentro, salsa) no peso. Até o papo é no quilo, porque ninguém atura mais ouvir o outro por muito tempo, pois pode ser taxado de chato. No máximo 50 ou 100 gramas de prosa.

O pior de tudo é que ninguém sabe como está a balança. No Brasil dos falsários e golpistas, não dá para confiar na fiscalização dos órgãos do poder público (precária e até corrupta) e nem nos comerciantes, muitos gananciosos e inescrupulosos. Nem sabemos quando estamos sendo roubados. Nos supermercados, os líquidos não estão completos.

E aí alguém diz: São coisas dos tempos antigos. O progresso trouxe mudanças. Será que para melhor? Só se for para eles, os abonados e aqueles que, de tanto viverem em disparada na corrida pelo dinheiro, acham tudo normal. Nem percebem que estamos desumanizados.

Porém, este é outro assunto sociológico e filosófico mais profundo para se discutir. A conversa aqui mesmo é sobre o litro, o quilo e os papos agradáveis e cordiais dos compadres e comadres. Naquela época não era cafona as crianças e jovens respeitarem os pais e até darem benção aos mais velhos quando se cruzavam no campo e nas ruas das cidades. As pessoas eram bem mais humanas e quase não se ouvia notícias de violências bárbaras.

Será que estou sendo romântico e nostálgico demais? Nas cidades, principalmente no final da tarde, homens e mulheres colocavam as cadeiras no passeio, na porta de suas casas, para vários dedos de prosa, sem pressa. Hoje não se faz mais isso, e o contato com o vizinho é coisa rara. Nas grandes metrópoles, mal se conhecem.

Havia aquela conversa de pé de orelha ou de ouvido quando era um segredo que logo se tornava público pelo fofoqueiro ou fofoqueira, que passava o dia na janela vendo o movimento. E as conversas dos anciões, carregadas de sabedoria e cultura sobre a vida! Eles atualmente são raramente consultados porque são vistos como imprestáveis e caducos, lelés da cuca.

– Oh cumpade, cadê Nô de Dina?

-Ah cumpade, não sabe não? A fogosa da mulher fugiu com outro e de desgosto ele sumiu pra San Palo. Também não dava no coro!

– E aquela morena da filha das ancas aprumadas?

– Ficou mal falada, cumpade! Puxou a mãe e anda por aí regaterando com todo mundo. Tá amasiada com um cara lá do Norte, cabra meio esquisito com jeito de pistolero.

– É cumpade, coisa de fim do mundo. A terra é só sequidão. Só se ver gente descendo de pau-de-arara. Virou formiguêro. As lavouras se acabando e o gado berrando na cacimba.  Os moços de hoje só quere saber de bater perna nas cidades.

As conversas entre as comadres eram mais coisa de mulheres, das intimidades do sexo, o tabu da época. Era até pecado falar nisso em público. Os homens não tomavam parte. Hoje existe uma abertura em pé de igualdade e, nessa questão, foi um grande avanço. Elas estão inseridas no mercado e em postos de decisões.

No entanto, em se tratando de litro e quilo, está todo mundo embolado e nivelado na mesma muvuca da desumanização, da barbaridade, da falta de respeito para com o outro, do consumismo, da falta de leitura e cultura, do egoísmo e do individualismo. Todos de celular na mão só estão de olho no dinheiro, e nem olham para o nível da balança nos restaurantes.

Até a inteligência e o conhecimento são classificados na base do quilo, mesmo assim desvalorizados e não muito levados em conta. Aliás, um quilo de ignorância, de extremismo, de intolerância e ódio está valendo mais que um de saber e estudo. Um quilo de corrupto e bandidagem vale mais que um de honestidade e caráter. O litro é coisa do passado, tenho até um em meu espaço cultural como peça de museu.





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