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:: ‘Notícias’

QUANDO FUI REVISOR NA ÉPOCA DO CHUMBO

Com meu diploma de jornalista na mão tinha que começar a me virar porque não mais poderia morar na Residência Universitária. Era uma manhã ensolarada, ainda verão de início de 1973. Lá se vão 52 anos. Cortei o Corredor da Vitória, passando pelo Campo Grande e atravessei a Avenida Sete de Setembro já movimentada de gente naquele corre-corre da vida.

Meu destino era o velho prédio do jornal “A Tarde”, na praça do poeta condoreiro. Antes, para tomar coragem, fiz uma ronda pela Rua Chile onde cruzei com a Mulher de Roxo e mais adiante com irmã Dulce a quem pedi a sua benção. Da Praça da Câmara Municipal e do Elevador Lacerda retornei e, enfim, adentrei no jornal.

Ainda sem jeito, vindo do interior, contei minha história e minha disposição para trabalhar. A primeira pessoa com quem falei foi com dona Aia, a chefe da revisão, uma coroa negra mestiça, enxuta e simpática. Para minha sorte tinha uma vaga e não titubeei em aceitar. Não havia outra escolha. Atuar na revisão não dava visibilidade. Éramos personagens de bastidores dentro do processo jornalístico.

Ela me levou ao gabinete do redator-chefe, dr. Jorge Calmon, que me recebeu com toda aquela sua elegância de um aristocrata inglês e mandou que fizesse uma carta pedindo emprego. Foi minha primeira prova de fogo. Ele leu o texto e me aprovou para eu começar em meu novo ofício como profissional no outro dia. Pronto, estava salvo! Ali começava minha trajetória.

Naquela sala apertada, bem em frente à Baia de Todos os Santos, começava na lida ao pôr-do-sol e saia ao alvorecer da manhã. Fazíamos revisão em dupla das matérias jornalísticas depois de terem passadas pela linotipia que ficava bem ao lado da nossa. Recebíamos chumbo quente no peito durante toda noite.

Foi minha primeira experiência como jornalista profissional que me deu régua e compasso. Conheci figuras interessantes, inteligentes e bem preparadas. A gente só não gostava de revisar balanço contábil de empresas (não podia errar nos números) e pegar material do linotipista Melo porque ele melava todo papel.

Dona Aia era a nossa defensora e protetora, tipo secretária particular de dr. Jorge (havia uns cochichos), e sabia de carreirinha, decorado da sua cabeça, todas as fórmulas químicas, desde o H2O ao dióxido de enxofre SO2, óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) ao dióxido de carbono (CO2), dentre outras composições de metais. Ficava impressionado como ela sabia aquilo tudo.

Era época de chumbo da ditadura civil-militar-burguesa do general Garrastazu Médici. A gente trabalhava em dupla no processo de revisão onde um lia o texto e o outro ia fazendo as correções das matérias jornalísticas dos repórteres. Com o avanço da tecnologia da internet, essa função deixou de existir nos jornais.

Entre o intervalo de uma revisão e outra confabulávamos informações de presos políticos vítimas das torturas e criticávamos duramente o regime. O delegado Fleury e o coronel Brilhante Ultra, do DOI-CODI, eram os maiores carrascos. Ainda bem que não havia escutas e, se existia, não sabíamos.

Seu Ariston, se não me engano vindo lá de Itabuna, era um senhor de feições duras desgastadas pelo sofrimento do tempo, bom de português, que tirava nossas dúvidas. Ele foi um dos presos torturado pela ditadura e nos contava histórias da sua ação de combate e o que passou na cadeia até ser solto. Seu Ariston ainda era muito visado e vigiado pelos agentes torturadores. Depois sumiu.

Por obrigação, tínhamos que assinar e guardar as provas para, em caso de erro, os revisores responsáveis serem repreendidos, punidos ou até mesmo demitidos. Quando isso acontecia, um protegia o outro, e arranjávamos uma maneira de dar sumiço na prova, sobretudo quando se tratava de balancete, coisa chata de se revisar.

Lembro também do nosso amigo e companheiro Antenor, homossexual que logo depois morreu de Aids. Naquela época o tratamento erra escasso. Era um jovem com grande bagagem de conhecimento e cheio de vida. Na revisão predominava o sexo masculino, mas logo depois, aos poucos, foi aparecendo mulheres, como Cora com quem gostava de atentar e chamá-la de Cora Coralina. Não sei do porquê, mas ela não gostava.

Ainda no velho prédio da Praça Castro Alves, o local da revisão era um tanto insalubre, porque ficava ao lado da linotipia de chumbo. Tínhamos que tomar muito leite. Era uma recomendação, não sei de quem. O pessoal inalava muito chumbo vindo daquelas máquinas barulhentas. Era o tempo do chamado jornal a quente.

Quando dava meia-noite, a gente ia para uma lanchonete na Carlos Gomes forrar o estômago. A conta era paga pela empresa. Foi um tempo de boas recordações e aprendizagens durante quase um ano até ser convidado para trabalhar como repórter na Editoria de Economia.

 

DINHEIRO DA CULTURA VOLTOU PARA BRASÍLIA

Carlos Albán González – jornalista

“Time que está ganhando não se mexe”, frase incansavelmente repetida pelos fãs do futebol no Brasil. Esta espécie de conselho aos treinadores, poderia muito bem ser aplicado na administração pública, o que só acontece quando, a cada eleição, os “mesmos” se mantêm nos cargos. É o caso, por exemplo, de Vitória da Conquista, onde Sheila Lemos (União Brasil) vai liderar sua equipe por mais quatro anos.

Numa tensa e vitoriosa batalha final, disputada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sheila se valeu de sua força máxima, integrada por 13 advogados (13, e não 12, como se referiu a nobre gestora, ao mencionar o tempo de permanência de sua mãe, Irma Lemos, à frente do município). Quem não sabe: o número que acompanhou a carreira vitoriosa do saudoso Zagallo (tricampeão mundial Jorge Lobo Zagallo), e que identifica o Partido dos Trabalhadores (PT), é impronunciável pelos bolsonaristas.

Sob o manto do bolsonarismo e levada pela onda ultraconservadora  que varreu a esquerda no último pleito, a família Lemos deu início em 1º de janeiro a um terceiro mandato em Conquista. Entre junho e dezembro de 2024, Sheila exonerou os secretários Lucas Dias (Mobilidade Urbana) e Vinicius Rodrigues (Saúde), investigados, respectivamente, pelas operações Overclean e Drapout, criadas pela Polícia Federal (PF). Eles teriam se utilizado de suas funções para cometer graves irregularidades, inclusive desvio de recursos que a Saúde deveria empregar em ações contra a Covid-19.

No final do ano passado, pressionada pela oposição, a Mesa da Câmara Municipal instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar a destinação de recursos públicos na Secretaria de Saúde. Como já se previa, dada a interação entre executivo e legislativo, nada de irregular foi encontrado, contrariando parecer técnico da PF.

Estávamos falando da formação do secretariado municipal, e o que mais chama atenção é que a gestora voltou a insistir no erro de reunir, numa só pasta, a cultura, o esporte, o lazer e o turismo. Em sã consciência, é impossível uma só pessoa, no momento o Eugênio Avelino (Xangai), cuidar de quatro importantes e heterogêneos segmentos da administração pública. No primeiro mandato da Sheila o conquistense ficou privado da cultura, do esporte, do lazer e do turismo.

Para não ficar completamente imobilizada, a cultura em Conquista tem se valido do espírito abnegado de pessoas e de entidades privadas, além do governo estadual, que patrocina a Orquestra Neojibá. Uma dessas entidades, o Sarau Cultural A Estrada, em funcionamento há 15 anos numa residência do bairro Felícia, tem conseguido preservar o passado e o presente, sem nenhum apoio oficial, das manifestações culturais desta terra.

Pergunto: qual a reação do leitor ao saber que a prefeitura, por negligência, perdeu 330 mil reais dos 2,72 milhões de reais, provenientes da Lei Paulo Gustavo do governo federal. O dinheiro foi devolvido aos cofres da União por falta de uso no prazo determinado pelo Ministério da Cultura.

A minha incredulidade deve ter sido a mesma do jornalista e escritor Jeremias Macário, um dos pais do Sarau A Estrada. Os recursos deveriam ser empregados na recuperação do Cine Madrigal, uma antiga reivindicação da população pobre conquistense, que não tem condições financeiras para pagar uma entrada nas salas de projeção dos Multiplex, implantados nos shoppings. Essa é a importância que o poder municipal dá à Cultura, priorizando os shows de música de péssima qualidade.

A prefeitura local não está relacionada entre os patrocinadores do Esporte  Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista, o que habitualmente ocorre em centenas de municípios do país, como, por exemplo, Porto Seguro. Fundado em janeiro de 2005, o “Bode” vem colecionando derrotas. Há cinco anos está na segunda divisão do futebol baiano, com direito apenas a jogar três meses por ano.

O torcedor local desde 2015 não assiste no Estádio Lomanto Júnior uma das equipes, com exceção de Bahia e Vitória,  da série “A” do Brasileirão. A última foi o Palmeiras, aumentando o número de torcedores rubro-negros, de olho na estrada, na esperança de poder dar as boas-vindas ao Flamengo. Urubu, por aqui, só os que infernizam os moradores do bairro Felícia.

Em resumo: esse é o cenário do esporte na cidade. Eu poderia acrescentar as peladas da Várzea, onde jogava Ednaldo Rodrigues, atual presidente da CBF, o ciclismo e as corridas de rua.

Fazer de Conquista uma cidade turística é sonho. Cristo, lá do alto da Serra do Piriperi, espera há décadas que as autoridades municipais transformem o local num atrativo balneário, não num “cacete armado”, como as instalações na margem da represa de  Anagé.

Depois de uma ausência de quatro anos, a Exposição Agropecuária de Vitória da Conquista voltou no ano passado a abrir os portões do Parque Teopompo de Andrade. Os organizadores tiveram o apoio da prefeita Sheila Lemos, que estava em busca de votos para sua reeleição.

O empresário Clinton Teixeira, ligado aos setores de turismo e entretenimento, esteve há poucos dias percorrendo, num domingo, alguns pontos da cidade, onde observou um clima de velório, com movimento apenas nos barzinhos. Imediatamente, por achar o lugar propício, em virtude da falta de equipamentos para o lazer de adultos e crianças, veio-lhe a ideia de construir um complexo para a prática de atividades prazerosas. A inauguração da primeira etapa, que prevê a implantação de uma piscina de ondas, com capacidade para receber 10 mil pessoas, está prevista para o primeiro semestre de 2026. Acredita Teixeira que o Vickpark vai dinamizar o turismo na região.   Os adeptos do surfe já podem adquirir suas pranchas.

 

 

 

 

45 PERSONAGENS EM BUSCA DE UM AUTOR

(Chico Ribeiro Neto)

Às vezes crio um personagem e guardo. Quando vou busca-lo, ele já sumiu.

Difícil criar personagem. Eles criam vida própria, nos abandonam e saem por aí fazendo um bocado de besteira. Poucos retornam ao autor.

Conviver com eles é difícil. Se picam na hora em que você mais precisa deles, e o pior: você esquece o nome deles.

Personagem é igual a gente. Chega e some de repente. Tem hora que tem que segurá-lo pela orelha e dizer: “Você vai ficar é aí mesmo!”

Personagem pode surgir de uma frase no muro, pode ser uma vizinha ou um velho que passou na esquina. Personagem é tudo que rima.

Queria conviver com meus personagens, mas eles entram nas páginas e somem.

Tem personagem que chega perto, pisca o olho e desaparece. Outros ficam escondidos nas gavetas durante anos e há aqueles que fazem o maior espalhafato pra aparecer na história. Chegam até “plantar bananeira” (“olha eu aqui!”), mas não agradam ao autor.

Bicho difícil é personagem. Às vezes ele tem um pedaço de uma pessoa e um pedaço de outra.

Difícil é matar um personagem. Você afunda ele no lago escuro à meia-noite e ele reaparece na próxima história. Personagem não morre, sobrevive nas páginas. Ele é amigo do Zé, dá quatro cambalhotas e cai em pé.

Personagem lhe persegue no sonho, na igreja e no bar. Quando você menos espera, recebe o tapinha nas costas: “E aí, velho, que dia vou entrar no seu livro?”

Lembro a famosa peça “Seis Personagens à Procura de um Autor”, do dramaturgo italiano Luigi Pirandello, de 1921, onde um ensaio é invadido por seis personagens, rejeitados por seu criador, que tentam convencer o diretor da companhia a encenar suas vidas.

Não confie muito em personagem. Ele pode lhe dar uma porretada na cabeça e assumir a história sozinho, ao modo dele.

Tem ator de teatro que incorpora tanto o personagem que leva meses para se livrar dele.

Olga Maimone era uma atriz do Teatro Vila Velha que na década de 60 morava no próprio teatro e durante o dia lia cartas para os interessados em conhecer o futuro. Figura carismática, ela foi assim definida por João Augusto, diretor do Vila Velha: “Olga não é gente, Olga é personagem”.

Viva o personagem, essa alma em figura de gente!

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

COMANDO DE CAÇA AOS IMIGRANTES

O nazifascista do Trump ordenou sua tropa caçar imigrantes até debaixo das camas, mas muitos brasileiros “malandros” que aprenderam a se virar na vida estão se disfarçando até do Tio Sam, de super-heróis mascarados e driblando os agentes, que mais parecem a patrulha SS de Hitler, a partir de 1933, à procura de judeus nas ruas, lojas e esconderijos da Alemanha.

Seu plano agora é levar os imigrantes para a prisão de Guantánamo, em Cuba, o que caracterizaria uma usurpação de poder. Será que ele está querendo criar um novo holocausto? Com esse terror do medo, os efeitos começam a ser sentidos através do fechamento de restaurantes e lojas no comércio de várias cidades.

Essa caça aos imigrantes está mais parecendo com a época do macarthismo, de 1950 a 1957, quando o senador Joseph Mccarthy, desencadeou uma campanha odiosa com seu Comando de Caça aos Comunistas, no início da Guerra Fria contra os soviéticos, dizendo serem subversivos traidores da pátria. Milhares foram presos, exilados e torturados.

Nesse período até o inglês Charlie Chaplin, o genial cineasta, foi perseguido pelas suas ideias e teve que se exilar dos Estados Unidos, que perderam um grande artista do cinema. Os imigrantes sempre foram ojerizados pelos ianques que se acham uma raça superior abençoada por Deus. Aliás, eles se consideram divinos deuses.

Quem não se lembra do filme da vida real sobre “Sacco e Vanzetti”, (Nicola e Bartolomeo), uma história real de dois italianos anarquistas vendedores de peixes que foram presos em 1920 e executados em 1927 por um crime que não cometeram, a não ser por serem considerados como subversivos. Estamos presenciando cenas semelhantes.

Agora a bola da vez são os imigrantes, a grande maioria da América Latina, incluindo brasileiros, vistos pelo racista, xenófobo e homofóbico Trump como lixo e escória da humanidade, sendo culpados pelo declínio do Império Norte-Americano. Hitler culpava o fracasso da Alemanha aos judeus. Com essa política, o vermelhão esquisito está dando um tiro no pé.

Para justificar sua insanidade mental e ódio (sua mãe era uma imigrante sueca), Trump sentencia que todos são criminosos, quando, na verdade (os santos pagam pelos pecadores), não é assim, e aí usa o pretexto de deportar todos algemados e acorrentados das mãos aos pés, como forma de humilhação para deleite do seu sadismo psicopata.

Quanto aos nossos imigrantes, em particular, tem gente se escondendo até em bueiros e outros usando das espertezas e sagacidades próprias dos brasileiros para escapar dessa temporada de caça do “monarca imperador”. Existem até troféus para os melhores caçadores.

Ir para os Estados Unidos sempre foi um sonho originário da onda propagandística enganosa a partir dos primeiros anos do século XX, como se fosse uma terra prometida onde jorra o mel em abundância e se fica rico ganhando muitos dólares. Esses pobres imigrantes não passam de retirantes que se tornam escravos em terras estranhas, como nordestinos que iam e ainda vão para São Paulo.

Depois de atravessarem a fronteira do México, enfrentarem as águas do Rio Grande e o deserto da morte (milhares morrem nas travessias), “guiados” e roubados pelos coiotes, lá são escravizados e submetidos ao trabalho sujo que os pedantes norte-americanos não aceitam. Sem os imigrantes, quem vai colocar a mão na massa para limpar as sujeiras e fazer a economia girar?

Por mais difícil que aqui seja a situação no Brasil onde predominam as profundas desigualdades e injustiças sociais, salários baixos e a falta de emprego decente, os Estados Unidos nunca foram a solução. Está mais para ilusão que certos malucos botam na cabeça dessa gente e terminam entrando num embalo suicida. São os chamados desesperados.

Seja o que for, a realidade é que agora o Trump, descendente de estrangeiro, está vomitando toda sua ira contra os imigrantes, talvez por uma psicopatia de desejo de ser salvador da pátria para se tornar rei monarca e imperador do mundo. Ele não está somente atingindo os imigrantes, mas apunhalando os direitos humanos, inclusive dos seus conterrâneos e seguidores que nele votaram.

Os puxa-sacos de plantão serão os primeiros a serem sacrificados. Veja o caso da mulher brasileira que conversou com o Trump aconselhando que não fizesse o mesmo no Brasil. Como prêmio pela bajulação foi deportada como criminosa.

Quem sabe ele não esteja querendo criar uma dinastia, como nas civilizações suméria, egípcia, chinesa, japonesa e romana? A história não está sempre se repetindo? O horror e o terror de tiranos ditadores nunca deixarão de existir. Como ocorreu com alguns deles na antiguidade, ele também pode ser destronado. Muitos foram simplesmente decapitados.

 

 

 

 

 

AS “VIÚVAS DAS SECAS”

Quando estava na ativa e com todo gás de repórter, fiz muitas coberturas jornalísticas sobre as secas mais inclementes e prolongadas por esse sertão da Bahia. Como se diz no popular, comi muita poeira no sol escaldante, principalmente aqui na região sudoeste com meu parceiro fotógrafo Zé Silva.

Nas entrevistas, ouvi muitos lamentos, choros e lágrimas, casos de fome, gente sendo escravizada nas carvoarias, pessoas perdidas nas cidades pedindo esmolas, filhos desgarrados, meninas que se prostituíam cedo pelo dinheiro e até eram vendidas pelos pais. Por aqueles lados de Iuiu escutei uma história de um homem que negociou a mulher na feira por uns sacos de farinha.

Mesmo diante das adversidades, o sertanejo nordestino é forte e nunca perde a fé e a esperança de dias melhores, sempre mirando os céus na espera das chuvas para lançar as sementes na terra molhada, mas ele sabe que lá na frente vai enfrentar outra batalha.

No entanto, um fato, dentre tantos outros, me chamou a atenção que foi descobrir o sofrimento diário das chamadas “viúvas das secas”, aquelas mulheres cujos maridos partiam no pau-de-arara para São Paulo e elas ficavam sozinhas em casa com uma renga de filhos pequenos para cuidar e alimentar.

Naquela época não existia o Bolsa Família, poucas doações e elas tinham que se virar para não deixar as crianças morrerem de fome. Uma vez cheguei num lugar onde elas estavam arrancando raízes de umbuzeiros para cozinhar. Não temos nada em casa para comer hoje, seu doutor, e isso dá sustança – disse uma delas.

Para essas pessoas vítimas das grandes estiagens, achamos por bem denominá-las de “viúvas das secas”. Os maridos partiam e demoravam de dar notícias e enviar algum dinheirinho pelos Correios. Tudo era na base das cartas ou através das cabines de telefones públicos, coisas raras nos municípios. Em suas faces abatidas e corpos alquebrados pelo tempo corriam suas lágrimas de ver um filho no canto de barriga vazia pedir uma bolacha.

– É seu moço, o senhor mesmo está vendo a situação de penúria e ninguém nos acode, só Deus para nos ajudar. Há dias que não temos nada em casa, só uns punhados de farinha para fazer um pirão d´água – clamava dona Josefa com cinco filhos esqueléticos para criar. Há meses o marido foi para São Paulo porque não encontrava mais serviço por essas bandas. Tem tempo que não dá notícias.

O pior de tudo é que existiam aqueles cabras safados que iam para São Paulo e lá se enrabichavam com outra mulher, deixando a família abandonada a ver navios, se acabando na extrema pobreza do sertão, caso de dona Maria das Dores, que ainda acreditava em sua volta. Outros morriam por lá mesmo nas esquinas brabas da vida.

– Aquele desgraçado tem mais de um ano que saiu daqui prometendo trabalhar, juntar um dinheiro e depois retornar. Nunca mais nos deu uma notícia e até soube por parentes que arranjou uma amante por lá. Aquele traste dos diabos já não prestava mesmo – desabafou em tom de raiva dona Vicência, ao lado da sua comadre que também foi alvo do mesmo destino. Uma sempre ajudava a outra nos momentos difíceis de privações.

E dona Joana que foi obrigada a entregar uma menina nova por uns trocados para um caminhoneiro num posto de gasolina! Aliás, os postos eram os pontos onde mais se encontravam crianças pedindo esmolas e candangos com filhos remelentos nos braços, chorando de fome.

Pois é, escutei por anos muitas histórias de cortar o coração por este meu Nordeste árido do chão ressecado e rachado, onde só se via plantações queimadas pelas secas, fome e sede, gado berrando nas cacimbas, carcaças de animais mortos, latas d´água nas cabeças e carros-pipas cortando estradas poeirentas. Sempre vinha à minha mente a obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. Em muitos ranchos, uma “baleia” encolhida no terreiro que nem levantava para latir.

Nos últimos anos até que as coisas melhoram mais a partir de alguns programas de assistência social dos governos, mas permanece o cenário da chamada indústria da seca, com o emprego de carros-pipas e outros esquemas escusos para ganhar votos em tempos de eleições.

Ainda existem as “viúvas das secas” e aquelas que são largadas pelos seus maridos que caem no mundo e nunca mais voltam. No sertão é assim, quando chove bem tudo fica colorido e da terra brota a fartura, mas quando vem a estiagem e a paisagem fica cinzenta, o sertanejo pena para sobreviver.

 

 

A NOSSA CULTURA EM CONQUISTA VIVE AOS “TRANCOS E BARRANCOS”

Sejam quais forem os motivos, foi um grande vacilo da gestão municipal de Vitória da Conquista devolver à União mais de 333 mil reis da Lei Paulo Gustavo do ano passado, conforme denunciou o site “Conquista Repórter”. Não importa aqui se outros municípios também fizeram o mesmo. Não justifica, e foi mais uma decepção para a cultura da nossa terra.

A nossa cultura já continua aos “trancos e barrancos” e, um fato desse tipo, é mais que lamentável, Só faz piorar, e não é nada bom para a imagem de Conquista junto ao Ministério da Cultura, passando uma conotação e impressão de ser uma cidade desprovida de projetos, quando aqui existem grandes talentos nas diversas linguagens artísticas.

Dos recursos da LPG, Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia, com cerca de 400 mil habitantes, recebeu pouco mais de 2,7 milhões de reais e ainda se dá ao “luxo” de devolver 333 mil reais do audiovisual, quando temos aqui o prédio do Cine Madrigal fechado há cerca de dez anos, onde poderia estar funcionando um cine teatro em benefício dos artistas, de toda comunidade e atraindo visitantes de fora. Cadê a reforma do Cine?

Confesso que recebi a notícia com tristeza, repúdio e espanto, e digo o mesmo do sentimento do nosso “Sarau A Estrada”, como membro fundador, pois no ano passado apresentamos um projeto audiovisual sobre um documentário do sarau, que neste ano está completando 15 anos, e ficamos na suplência.

Outros projetos do setor também não foram contemplados e não entendo como mais de 333 mil reais retornam para a União. Só posso dizer que é um absurdo. Fico a perguntar: Quem são os maiores culpados? A Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer ou os fazedores de cultura em Conquista?

Estive neste domingo visitando o Parque Municipal Lagoa das Bateias (isto já é um outro assunto) e fiquei a imaginar que não precisamos somente de lazer e entretenimento. A cultura deve vir acima de tudo para que possamos nos divertir com mais harmonia, conhecimento e saber. Uma cidade que outrora já foi centro de efervescência cultural vive hoje à mingua neste item tão importante e fundamental para nossas vidas. A cultura é o alimento da alma.

Cadê a mobilização unida e coletiva dos nossos artistas, professores, intelectuais, estudantes e da sociedade em geral para que esse quadro se reverta? Sempre digo que atitudes de coletivos, movimentos, associações isoladas, onde cada um se acha o papa ou dono da cultura, não resolve e o problema.

Temos é que unir forças juntos, ir para as ruas, numa mobilização conjunta, para que tenhamos um Plano Municipal de Cultura; os equipamentos do Teatro Carlos Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha, fechados há anos, sejam reformados e reabertos; e brigar para que haja mais recursos no orçamento destinados à cultura.

Mais uma vez, repito que é triste e vergonhoso ver a nossa cultura nessa situação onde se faz apenas o “feijão com arroz” e só acontecem eventos isolados de iniciativa apenas particular em seus mais diversos setores, incluindo aqui a música, a literatura, a dança, o teatro, as artes plásticas e outras expressões, sem a forte presença do poder executivo.

Até quando vamos deixar a nossa cultura neste estado de penúria onde até o Conselho Municipal de Cultura está parado por falta de quórum para se reunir? A culpa também é nossa porque não está existindo uma grande ação coletiva, longe das fogueiras das vaidades onde cada um só pensa em si e só quer se aparecer.

Agora mesmo temos projetos da Lei Aldir Blanc para serem julgados e a maioria dos pareceristas é de fora, isto é, pessoas que pouco conhecem a nossa realidade. Quer dizer que em Conquista não existem técnicos com capacidade para analisar e julgar esses projetos? O que está havendo com a nossa cultura?

UM MONSTRO, ANTICRISTO OU COVEIRO DE UMA REPÚBLICA EM DECADÊNCIA

Dizem que é um maluco, tirano, ditador ou monstro que quer ser monarca imperador. Arvora-se a ser presidente do planeta com seus decretos destrutivos, excludentes, homofóbicos, xenófobos e racistas. É uma ameaça à sua própria República, como foi o romano Júlio César nos anos 40 a.C. que queria ser rei. Em seu favor, conta com um monte de seguidores e apoiadores bilionários, como o Hitler nazista.

Mais maluco foi quem nele votou e criou a criatura maligna do fim do mundo, justamente aqueles que foram menosprezados e considerados como lixo humano. Não foi por falta de aviso porque ele expôs todas suas maldades durante a campanha eleitoral. Um cara que quer anexar o Canadá, tomar a Groelândia e o Canal do Panamá só pode ser um louco.

Por que essas vítimas de exclusão votam em seus próprios algozes do tipo nazifascistas com índole de destruição dos mais fracos e menos assistidos pelo Estado, como tem ocorrido no Brasil? Será a Síndrome de Estocolmo onde o sequestrado passa a ter afeto pelo sequestrador, ou a humanidade deixou de acreditar nos governos passados que muito prometeram e pouco fizeram?

Nos últimos anos estamos presenciando uma onda violenta de extremismos, ódio e intolerância dominando vários países, inclusive na Europa, através de governos tiranos e altamente conservadores que repudiam refugiados, os mais pobres, as minorias e, principalmente, as democracias e as liberdades. São os profetas das trevas, ou os AntiCristos.

Não fossem as leis de concessões de uma Constituição, que precisa ser revista, muito dinheiro e poder, bem que o bicho estranho da mitologia grega poderia estar isolado numa jaula como animal de sete cabeças altamente perigoso, assassino e mortífero. Mesmo com tantos processos e ter incitado uma invasão ao Capitólio, o monstro conseguiu se eleger presidente.

Com a Bíblia numa mão e a outra na perversidade de cada vez mais perfurar petróleo e outros combustíveis fósseis, o monstro nem está aí para as mudanças climáticas do aquecimento global e manda agredir o meio ambiente porque quer acumular riquezas e bens de capital para tirar os Estados Unidos do grande buraco.

Como tantos outros na história das civilizações humanas, trata-se de um império em queda desde o final da Guerra Fria. A tendência é o isolamento e, para que isto ocorra, basta um acordo entre os mais poderosos. O monstro está sendo o mentor do suicídio da sua própria nação.

Nos últimos anos, entre os países mais desenvolvidos do mundo, os Estados Unidos foram os que mais sofreram quedas nos índices de desigualdade humana. Na verdade, é um império em declínio, e o monstro agora joga toda culpa nos imigrantes, como Hitler culpava os judeus no meado dos anos 30.

Com sua decadência, os Estados Unidos agora estão pagando pelo que fizeram no passado como imperialistas, quando massacraram milhões de pessoas com suas invasões sangrentas e incentivaram ditaduras por todas as partes do planeta. Sua presunção de superioridade está chegando ao fim. Aliás, o Trump monstro e coveiro é o início do fim.

Os Estados Unidos são hoje uma nação dividida e, as ações do monstro Trump, afetam o social e os direitos humanos, comprometendo a segurança nacional com aumento da violência. Suas ameaças de taxação de 100% das exportações dos países do BRICS (Brasil, África do Sul, Índia, Coréia do Sul, Rússia e outros que acabaram de entrar na organização) são mais demonstração de fraqueza que de força.

Este monstro, ou AntiCristo, está mais para coveiro de uma República enfraquecida do que um salvador da pátria. Tripudia o Brasil como se fosse um lixo, de que eles não precisam de nós, mas o pior é que nós brasileiros sempre carregamos a pecha de vira-latas, como disse o escritor Nelson Rodrigues, e nos submetemos às suas regras.

O Brasil Colônia imitava a França e depois passou a ser o Brasil dos Estados Unidos. Um turista ianque entra em nosso país com a maior facilidade e ainda estendemos tapetes vermelhos para eles. Quando é o contrário, o brasileiro se humilha nas embaixadas e consulados para tirar um passaporte e viajar para a terra do Tio Sam.

ALI PASSAVA UM RIO

(Chico Ribeiro Neto)

Ali passava um rio. Lembro como hoje. Carregado de aventuras, trazendo na enchente bois aflitos, melancias e árvores; e pedaços de barrancos se desmanchando igual sorvete.

Ali passa um rio. Leva lenços e saudades, amor e amizades, a lembrança dos que foram.

A garrafa com farinha no fundo do Rio de Contas, em Ipiaú (BA), para pegar piabas. Meu irmão Cleomar engoliu duas, vivas inteirinhas, para aprender a nadar.

Há alguns anos, no Rio do Antônio, em Caculé (BA), o dono de uma carroça, com água no tornozelo, retirava areia do leito do rio com uma pá. Apontei a máquina fotográfica e ele ainda fez pose.

Ali passa um rio pela memória, com lavadeiras, sorrindo e xingando,  batendo o lençol na pedra para alvejar. Tudo acontecia ali, na beira do rio.

Hoje, as pessoas andam pelo leito seco e lembram: “Foi ali, perto daquela pedra, que eu quase me afoguei um dia”.

Onde só vejo garranchos e pedras ali passava um rio. Hoje, um triste córrego. No fundo de cada roça uma bomba de puxar água suga o que resta. E depois se queixam da seca e o prefeito pede decretação do estado de emergência.

De noite, namorar na beira do rio ou no fundo da igreja. O fundo era o preferido, pois lá Deus enxergava menos.

Ali passava um rio (acho que foi em Alagoinhas), onde o pessoal amarrou a garrafa de cachaça numa raiz que entrava no rio. E misturava com caju. A pinga estava sempre gelada.

Ali passava um rio. Só ver a água descendo já acalmava.

Ali passava um rio. Foi ali que morei. Ali passou uma vida.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

O PRECONCEITO CONTRA OS “FORASTEIROS”

Não sei porque “cargas d´água” sempre confundi forasteiro com faroeste dos filmes bang-bang norte-americanos. Quando entrava um cavaleiro ou cauboy desconhecido numa cidadezinha daquelas de cenário bucólico, todos saiam nas janelas e nas portas para olhar o sujeito, e cada um fazia suas conjecturas sobre quem era, donde vinha, o que queria, se seria de paz ou mais um justiceiro pistoleiro.

Numa coisa existe relação. Quando chega alguém de outro lugar para trabalhar, colaborar, progredir, participar das atividades e começa a expressar suas opiniões e críticas visando melhorias, alguém da terra, com sua raiz preconceituosa, logo parte de lá chamando a pessoa de “forasteiro”, sem direito, e tenta excluí-lo do convívio da comunidade, muitas vezes até com ameaças de expulsão.

Interessante notar que muitos nativos nascidos no município não dão tanto valor à sua terra legítima quanto a grande maioria dos chamados “forasteiros”. Tenho observado que filhos adotivos de Conquista conhecem mais da sua história, de seus costumes, origens e hábitos do que certos conquistenses que discriminam os ditos “forasteiros. Infelizmente, isso também acontece em outras cidades.

Ao tratar dessa questão “forasteiro”, o nosso mestre professor Durval Menezes nos deu uma lição sobre o termo e lembrou de um deslize cometido pelo ex-prefeito e ex-deputado Edvaldo Flores nos anos 80, se não me engano. Como candidato ao executivo ele usou, de forma infeliz, uma frase que quase lhe tirou sua vitória.

Num comício chegou a dizer que não precisava dos votos dos “forasteiros” para ganhar as eleições, numa época em que já existiam muitos nordestinos e de outros estados brasileiros na cidade. O líder Gerson Salles, então, pediu desculpas aos “forasteiros” pelas palavras pronunciadas por Edvaldo.

Eu mesmo confesso que fui vítima desse preconceito de ser “forasteiro” quando de Salvador, como jornalista, vim para Vitória da Conquista assumir a chefia da Sucursal do jornal A Tarde. Ora, dentro da nossa profissão, um dos papeis principais é criticar e denunciar as coisas erradas dos prefeitos e das lideranças dos variados segmentos da sociedade.

Por este comportando, sempre atentando para a ética, seriedade e honestidade, fui por muitas vezes xingado e chamado de “forasteiro”, que deveria ser expulso por estar, na visão dessas pessoas, manchando a imagem da cidade. Tentaram até fazer um abaixo-assinado para me tirar daqui, sem contar as ameaças. Sempre enfrentei tudo isso de cabeça erguida, cônscio do que estava fazendo.

Enfrentei o preconceito, e a ação equivocada dessa gente me fortaleceu mais ainda a prosseguir em minha caminhada e em meu trabalho. As reações fizeram eu gostar mais ainda de Vitória da Conquista e a prestar a ela meus serviços no sentido de somar e não desagregar.

Não vou aqui expor os meus feitos porque estes devem ser julgados pelos outros, se foram de grande valia ou não para o desenvolvimento e o progresso social, político, cultural e econômico da cidade. Cabe à sociedade fazer essa avaliação, sabendo que nunca vai haver unanimidade, o que é normal, porque não tem como agradar a todos.

Só sei que me considero um conquistense (tive a honra de receber o título de cidadão e outros prêmios), mas nunca vou deixar de expor meus pontos de vista contra ou a favor quando for necessário. Em minha vida, passei por outros lugares e sempre procurei deixar minha modesta contribuição.

Como disse o nosso professor Durval, a base da economia de Conquista foi e é formada por “forasteiros”, ou migrantes, como da comunidade de São Miguel das Matas, retratada em sua obra “A República dos Miguelenses”, e de tantos outros que aqui chegaram. Quem vem morar aqui quer mais é trabalhar e produzir, gerando mais empregos, qualidade de vida e bem-estar social.

Não somente na área do comércio, como na indústria e na construção civil, grande parte desse bolo, que cria milhares de empregos, está nas mãos de empresários de fora, inclusive do sul do país. No segmento cultural, artístico e intelectual também ocorre o mesmo e temos grandes vultos que engrandeceram e engrandecem Conquista, como nosso poeta e escritor Camilo de Jesus Lima que era de Caetité.

O que seria de São Paulo, por exemplo, se não fossem as mãos calosas e fortes dos nordestinos, embora não sejam bem tratados como deveriam? É claro que existem certos tipos de “forasteiros” que são indesejáveis, mas estes não merecem ser reconhecidos, nem tampouco citados.

 

 

NA COMEMORAÇÃO DE SEUS 15 ANOS, SARAU A ESTRADA BUSCA SEU REGISTRO

Numa reunião realizada ontem à noite (dia 20/01/2025), no Espaço Cultural A Estrada, pela comissão organizadora, demos o primeiro passo para o registro definitivo do nosso “Sarau A Estrada” que agora está entrando nos seus 15 anos de existência a serem completados no próximo mês de julho.

Participaram das discussões preliminares a presidente Cleu Flor, Dal Farias, Alex Baducha, Eduardo Moraes, Karine Gris, Jeremias Macário e Vandilza Gonçalves. Na ocasião, discutimos o esboço do Estatuto da Associação Artística e Cultural Sarau Estradeiros, ou Associação Cultural Estradeiros do Sarau, elaborado pelo nosso companheiro e membro Eduardo Moraes.

Entre outras coisas, ficou definido uma redação final com um preâmbulo resumido a história do sarau e como ele foi fundado há 15 anos, mantendo as normas estatutárias exigidas para seu registro em cartório, como denominação, sede, finalidades, exercício social, competências dos associados e associadas, da diretoria (mandato de dois anos), dos conselhos de administração e fiscal, das assembleias, patrimônio e disposições gerais.

Além da questão do registro, foram discutidos e apresentadas sugestões para celebramos esses 15 anos do sarau, o mais longevo de Vitória da Conquista e talvez da Bahia, como confecção de camisas com a logomarca da entidade, um possível show musical e artístico literário no Centro de Cultura, bem como a realização de um documentário mostrando toda trajetória do sarau nesse período de tempo.

Foi uma reunião proveitosa e, em breve, teremos o selo definitivo do registro oficial, com todas suas regras e leis de funcionamento, direitos e deveres dos associados, ações, planos e projetos, tornando o nosso sarau numa entidade de utilidade pública, não somente visando o benefício de seus associados como de toda comunidade, preservando sua essência do fomento cultural.

SUA HISTÓRIA

Tudo começou numa noite frienta de julho de 2010 numa roda de conversas e bate-papos entre os amigos Jeremias Macário, Manno di Souza e José Carlos D´Almeida quando pintou a ideia de reunirmos um grupo somente para ouvir vinis e tomar vinho.

Assim surgiu o grupo “Vinho Vinil” com o propósito de escutarmos somente músicas de vinis e tomarmos vinho, bem como discutirmos temas culturais e declamarmos poesias autorais. Dessa turma de fundadores, outros amigos foram se incorporando e o formato foi se modificando e se ajustando para até chegarmos ao “Sarau A Estrada”.

Em sua estrutura decidimos, democraticamente, colocar um tema para debatermos, tanto que não se abordasse questões de política partidária. O evento sempre foi realizado, em sua grande maioria, no “Espaço Cultural A Estrada”, de dois em dois meses num sábado à noite.

Temos aqueles frequentadores mais assíduos e antigos do tipo professor Itamar Aguiar, mas há uma constante renovação de pessoas. Nesse período, já passaram pelo sarau mais de 500 pessoas, entre jovens, idosos, professores, artistas, intelectuais e interessados pela cultura. O local já foi palco até de lançamento de filme, com a presença de artistas de outros estados.

Existem mais coisas para contar, mas o que fica de eterno são as trocas de ideias, de conhecimento e aprendizagem. Muitos comentam que o sarau já é de fato de utilidade pública e até foi agraciado com o troféu Glauber Rocha, concedido pelo Conselho Municipal de Cultura. Também foi realizada uma apresentação em público no Teatro Carlos Jheovah.

Para que não houvesse interrupção de suas atividades, durante a pandemia foram produzidos vídeos de textos poéticos divulgados nas redes sociais com produção do sarau, além de encontros virtuais. Outro fato importante foi a criação de um CD com músicas e declamações de poemas autorais.

O Sarau é um evento organizado para discutir cultura, temas sociais, econômicos, literários, educacionais, políticos e históricos. Funciona como um tripé, tendo como carro-chefe um tema escolhido, cantorias de viola e declamação de poemas, causos e piadas.

Durantes estes 15 anos foram inúmeros os assuntos abordados, tais como Educação, Cinema, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, Machado de Assis, os fatos revolucionários dos movimentos de 1968, na França e no mundo, Escravidão, Glauber Rocha, história e formação de Vitória da Conquista, tropeiros, o jornalismo impresso e a mídia virtual, entre tantos outros.

 





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