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:: ‘Notícias’

CADÊ A PRESENÇA DA CÂMARA NA CULTURA?

Conversei com alguns membros do Conselho Municipal de Cultura sobre a atual situação do colegiado que não está conseguindo se reunir em suas ordinárias por falta de quórum, embora tenha questões importantes para tratar, como a reforma e abertura dos equipamentos culturais de Vitória da Conquista e a criação do Plano Municipal de Cultura.

De acordo com um conselheiro, o legislativo municipal é um dos maiores culpados por esta falta de quórum, pois seus indicados (dois titulares e dois suplentes) pela Mesa Diretora simplesmente não comparecem aos encontros, sempre marcados para toda segunda-feira de cada mês.

Esse problema sempre foi antigo. Na minha gestão, por exemplo, como presidente do Conselho, de 2021 a 2023, uma das minhas maiores lutas era tentar convencer esses representantes a se fazerem presentes às reuniões, mesmo porque a assembleia, conforme seu regimento interno, não tem a prerrogativa de expulsar os faltosos do poder executivo e legislativo.

Somente os chefes desses poderes podem substituir os indicados que não estejam cumprindo com seus compromissos.  No caso dos eleitos que não comparecem às reuniões (três faltas seguidas), a presidência do Conselho só pode decretar a vacância e convocar nova eleição quando se trata de membros da sociedade civil.

Os vereadores foram eleitos pela população e uma de suas principais responsabilidades é justamente representar o povo através das comissões criadas pela Casa (agora mesmo foram instaladas as de Saúde e Assistência Social e de Fiscalização dos Atos do Executivo) e junto aos conselhos, como o da Cultura.

Essa ausência no Conselho Municipal de Cultura já é uma prática que se repete há anos, tendo em vista que já escutei as mesmas queixas de outros presidentes. Será que a Câmara Municipal de Vereadores de Conquista detesta cultura? Existe alguma discriminação às artes e aos artistas e às suas diversas linguagens?

No momento em que a nossa cultura está atravessando um dos momentos mais difíceis e de abandono em toda sua história, é a ocasião mais do que oportuna da Câmara de Vereadores, representante da nossa sociedade, vir dar seu total apoio e contribuição a este setor, mas parece que ninguém liga para isso porque, como muitos entendem, não dá voto.

Não preciso aqui elencar os inúmeros problemas que praticamente paralisaram a nossa cultura (só está sendo tocada pelos abnegados por conta própria), destacando o fechamento do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal e da Casa Glauber Rocha, cujos imóveis estão sendo destruídos pelo tempo.

Outra questão é a criação de um Plano Municipal de Cultura, de forma que Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia, tenha uma política pública que norteie as atividades culturais. Existem outras inúmeras demandas, mas vamos ficar somente nestes pontos cruciais para começar o processo de revitalização da cultura.

A Câmara Municipal de Vereadores vai continuar em silêncio sobre este assunto? Os indicados ao Conselho não vão participar das reuniões mensais? O legislativo não vai convocar, por exemplo, os artistas, intelectuais, as entidades, as academias e tantos outros interessados para discutir o problema, no sentido de encontrar uma solução ou saída para ressuscitar a nossa cultura do túmulo em que se encontra?  Com a palavra os vereadores.

O MUNDO ESTÁ CAPOTANDO

Está difícil falar de coisas boas – disse para mim um amigo meu lá das bandas do Ceará. Tem até avião capotando em pista de gelo, coisa inédita que aconteceu no aeroporto de Toronto, no Canadá – completou, para logo elencar uma série de fatos que nos dá arrepios e até vontade de ficar longe dos noticiários.

– É, meu camarada, o mundo está mesmo capotando, principalmente agora com esse maluco do Trump que quer invadir o Canal do Panamá, anexar o Canadá, comprar a Groelândia e transformar a Faixa de Gaza num balneário do Oriente. O ruivo está agora fazendo uma aliança com o Putin, da Rússia, o que nos faz lembrar o acordo de Hitler com Stalin, no início da II Guerra Mundial. Deu no que deu!

– Agora é cada um por si no mercado internacional com as taxações das transações comerciais. Estão dizendo que é o trilionário Elom Musk que está governando os Estados Unidos. O próprio filho dele, uma criança de quatro ou cinco anos, (o que ele estava fazendo na Casa Branca?) mandou o Trump calar a boca enquanto o pai soltava o verbo num monte de besteiras.

Até me juntei a ele em suas catilinárias. Parece que o mundo está capotando mesmo com as altas temperaturas batendo recordes. O pior é que muita gente ainda não acredita que estamos em pleno aquecimento global. Até os aparelhos de ar condicionado não estão aguentando o calor de 50 graus. Do jeito que está, não adianta fazer piscina de gelo.

Mesmo com o mundo pegando fogo, os caras só querem saber de perfurar petróleo nas profundezas da terra e dos mares, inclusive o Brasil. – Ora, se a Guiana, nossa vizinha ali do lado pode, nós também podemos e queremos ganhar dinheiro – berrou o presidente da República, que se tornou coisa privada. O Congresso Nacional é o nosso calcanhar de Aquiles, ou um cancro. As emendas parlamentares são as maiores fontes de corrupção.

Por falar em Brasil, meu amigo espírito de porco não contou conversa e mandou sua pesada catapulta para derrubar muralha feita com óleo de baleia. – Porra, o nosso país já está capotado há séculos. É tanto tempo, meu caro, que os brasileiros nem sentem mais que vivem de cabeça para baixo. O sangue corre certinho e ninguém fica asfixiado. Somos os mais resistentes paus-de-arara e povo nenhum ganha para a gente numa olimpíada. Fomos feitos à prova de tortura – esbravejou.

Não seja tão exagerado assim! Tentei contemporizar falando das riquezas naturais, das lindas praias, das belas paisagens das nossas chapadas, sobretudo a nossa aqui da Bahia, a Diamantina, o espírito de solidariedade nas doações, da criatividade que a nossa gente tem para se virar e sair dos maiores perrengues, mas ele não quis conversa e mandou mais torpedo de lá.

– Não me venha com seu blábláblá, com seu palavreado tipo vaselina, graxa de motor ou de parafuso de roda de carro. Vocês ficam ai o tempo todo falando de paz e amor enquanto o planeta arde em ódio, intolerância e ganância. É cada um querendo lascar com o outro. O inferno é aqui mesmo, sem purgatório!

O cara estava mesmo virado no moi de centro ou nos seiscentos que me fez lembrar do filme “Dia de Cão”, que muita gente deve conhecer. Ele afirmou não acreditar mais nesse papo de certos filósofos de que ainda vamos viver numa sociedade humanística e solidária.

Para ele, o mundo está mesmo capotando, e numa ribanceira. Não quis mais alimentar essa prosa cavernosa com cara de funeral. Trocamos umas ideias sobre futebol, música, literatura e poesia. Nem pensar em religião, porque ainda ia ser mais complicado e desgastante. Na certa ia dizer que ela é uma das principais causas do mundo estar capotando.

 

DO ANALÓGICO AO VIRTUAL

Ninguém quer mais saber da época do pilão de café ou fazer uma omelete num prato batendo os ovos com uma colher até ficar no ponto. Era gostoso e dava satisfação. Vivíamos no tempo do analógico onde o telefone fixo e aquela velha televisão de duas cores preto e branco eram nossas maiores invenções, sem contar o antigo rádio a pilha que levavam pancadas quando davam interferências e ruídos. Às vezes, voltavam ao normal.

Como diz um dos ditados mais populares: Éramos felizes e não sabíamos, como nas brincadeiras de criança. Pouco se falava de angústias existenciais, estresses, sintomas de pânicos, traumas diversos e outros problemas psicológicos.

Depressão tinha o nome de fossa e nem se ouvia falar em psicanálise. A sabedoria estava nos mais velhos. Eles hoje nem são mais consultados. Um conselho ao pé do ouvido nos tirava das enrascadas. Atualmente respondemos que se conselho fosse bom, não se dava, se vendia.

Hoje tudo é elétrico e tecnológico, da cozinha ao quarto de dormir e somos vigiados dia e noite pelas câmaras. Vivemos em plena era virtual onde as pessoas passam a maior parte de suas vidas agarrados num celular que lhe enche de informações, umas corretas e milhares de falsas, sem falar que este aparelho conseguiu colocar os bandidos dentro da sua casa para lhe infernizar com seus ardilosos golpes.

É claro que existem as vantagens e as facilidades, principalmente quando se trata de ganhar mais dinheiro, mas reclamamos da correria e de que o tempo passa bem mais rápido, o que é uma tremenda ilusão. O tempo é o mesmo, nós é que não somos mais os mesmos.

Aliás, por mais que sejam os problemas e os aperreios, sempre temos na ponta da língua palavras e expressões de otimismo, de que a vida é bela e que tudo vai melhorar, em nome de Deus. Para as doenças físicas, da alma ou do espírito, como queiram, nos apegamos a todo tipo de autossugestões, seitas e religiões.

Os vídeos virtuais nos mostram que dançar nos acalma, alivia nossas tensões e nos dá paz espiritual. Ter bons sentimentos serve até de remédio no tratamento do câncer. Os programas de televisão estão sempre ditando normas de como devemos agir diante das adversidades e querem nos ensinar como devemos fazer as coisas certas, como se existisse um padrão que valesse para todos, quando, na verdade, cada caso é um caso.

Mesmo com todas essas dicas e antídotos contra o baixo astral e as contrariedades, não podemos esquecer que depois de uma dança relaxante, de uma festa de porre com os amigos, de passar horas ouvindo boas músicas ou cuidando de nossas plantas e hortas, a realidade volta a ser o nosso carrasco, embora sejam meios de revigoramento das forças.

Sem ser saudosista, e sendo, na era analógica éramos mais humanos e solidários uns com os outros. Confiámos bem mais nas pessoas e as amizades eram mais sinceras e calorosas. O virtual já diz tudo. Ah, meu amigo, não seja tão duro assim com a vida – estará a esta altura alguém me dando essa repreensão e até me esconjurando. Vai de retro satanás! Será que deve ser a idade?

Hoje somos mais fake news e nem percebemos, ou simulamos que fazer belas e líricas poesias de amor é mais politicamente correto do que falar, por exemplo, do sofrimento, da exploração dos poderosos, da exclusão, da miséria e das desigualdades sociais. Temos mais medos e evitamos discutir ou expor nossas entranhas por receio de sermos excluídos das rodas de bate-papos.

A MELANCIA DO CONDOMÍNIO

(Chico Ribeiro Neto)

A empregada me deu a notícia: estava nascendo um pé de melancia no canteiro do prédio que dá para o “hall”. Foi ela quem – num instante de saudade do interior – plantou num dia em que estava a chupar uma talhada e, displicentemente, jogou uns caroços ali. Pois não é que a planta vingou?!

Comecei a matutar de quem seria essa melancia brotada na chamada área de uso comum. Achei bom iniciar as consultas – talvez até propor uma assembleia geral do condomínio – enquanto ela está pequenininha. Seria cortada em 50 talhadas, proporcionais aos apartamentos do condomínio? Quem jogou as sementes tem direito a uma talhada maior? Quem molhou todo dia também não deve receber mais?

Procurei o Regimento Interno. Tal disposição não figura em nenhuma de suas cláusulas. Pensei, então, em incluir um artigo mais ou menos assim:

Artigo 248 – As frutas ou quaisquer hortigranjeiros plantados em áreas comuns do prédio serão de propriedade do condomínio, a quem compete decidir pelo destino final dos produtos: se serão vendidos ou consumidos pelos próprios condôminos.

Sendo melancia, a segunda hipótese é melhor. Nada como um pedaço de melancia gelada contra uma ressaca domingo de noite. Pelo que sei, o pessoal do prédio ia fazer fila para receber seu quinhão comedidamente repartido pelo síndico.

Outra decisão a ser tomada também em assembleia: iria se limitar as áreas de plantio? Iria se determinar os tipos de hortigranjeiros que poderiam ser plantados? Já pensou se alguém resolver plantar milho, como está se fazendo agora no Terminal da França, graças à leseira total que se abateu sobe a Prefeitura de Salvador? Ou plantar cana, mamão, abacate ou jaca?

Um vizinho levantou outro problema: depois da reforma agrária e da nova Constituição, era preciso se ficar muito atento com relação à posse e uso da terra. A empregada que lançou os caroços da melancia poderia, com o tempo, ficar com direito a uma parte do canteiro, principalmente depois que o usucapião urbano ficou definido a partir de cinco anos.

Para resolver isso, o lançamento das sementes, também conhecido como plantio, somente poderia ser feito por empregado do condomínio ou alguém expressamente autorizado pelo Conselho de Administração para esse fim. Senão, ia se correr o risco de ter que enfrentar uma manifestação, na porta do prédio e com a televisão filmando, com o pessoal gritando palavras de ordem: “Já cheguei/ E não vou/ A melancia é/ De quem plantou”.

Outro assunto a ser discutido é a despesa com adubos e herbicidas, sem contar o salário do agrônomo. Primeiro, ia se verificar se haveria algum agrônomo no prédio pra assumir a assistência técnica dos hortifrúti, ficando dispensado do pagamento do condomínio.

Mais um tributo seria acrescido aos já pagos pelo Condomínio: O Imposto Territorial Rural (ITR), cobrado pelo Incra, que não sei mais se ainda existe, mas, se acabou, já criaram outro órgão para a coisa que esse governo gosta mais de fazer: cobrar.

Faço votos de que, enquanto dure essa discussão, o vigia lance mão de uma amolada faca, numa dessas noites de lua em que o verde da melancia chega a brilhar, e passe no canteiro rapidamente, sorvendo-a em rápidas talhadas, contando com a preciosa ajuda do porteiro, por sinal o autor da ideia de jogar as cascas na lixeira do prédio vizinho.

(Crônica publicada no jornal “A Tarde” em 12/7/1989)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

VIDA SEM VÍCIO NÃO É VIDA

Conheci um amigo colega de trabalho na Assessoria de Comunicação da Federação das Indústrias da Bahia que era viciado em sexo. Eram os velhos tempos das décadas de 70 e 80. Nunca vi um negócio daquele, tanto que servia de piadas e gozações na boca de outros companheiros.

Às vezes ele chegava agoniado pela manhã e lá pelas 10 horas me pedia para segurar as pontas no setor que ia dar uma. Era casado e já havia feito sexo com a mulher. Coisa de louco que me deixava intrigado com aquilo! Todo vicio exagerado como o dele precisa ser controlado e tratado. Não é fácil!

O vício não é apenas um privilégio dos homens. As mulheres também, inclusive por sexo. Um amigo me disse uma vez que não estava mais aguentando com a esposa que queria dar mais de uma por dia. – Bicho , que vez que fico com as pernas bambas e ela numa boa. Tem aquelas que tomam um porre daqueles! Falam as más línguas que um dos vícios principais da mulher é a fofoca. E quando se juntam duas ou mais mulheres! Não me chamem de machista.

Na verdade, todo mundo tem seu vício, uns bons e outros ruins, mas até os virtuosos passam do limite como passar o tempo rezando ou meditando. O nosso amigo professor Itamar Aguiar, que me despertou para o assunto, disse que a pessoa que não tem vício é viciada em não ter vício. Quando é demais, não é nada bom para o espírito e para o corpo.

Nos nossos tempos atuais dos avanços tecnológicos, um dos maiores vícios da humanidade é o uso contínuo do celular, isto é, ficar navegando na internet, horas e horas até ficar doente da cuca, principalmente nossos jovens.

Do outro lado, temos os mais raros e saudáveis que são os vícios da leitura, do estudar e o do conhecer. Sem esses vícios, nossa alma fica sem vida e entra em decadência. Talvez seja o mal do século.

Os vícios podem se tornar compulsivos e existem os coletivos e culturais. No Brasil, por exemplo, a falta de pontualidade nos eventos e o ímpeto pela corrupção estão em nós impregnados desde a época colonial, herdada, principalmente, dos portugueses.

Vamos, então, elencar aqui um montão de vícios que cada um traz consigo, e muitos não percebem quer carregam eles consigo na cacunda, e não adianta dizer que têm porque negam e até ficam aporrinhados e contrariados. Poderiam ser chamados de vícios inconscientes, não perceptíveis pelos seus próprios donos?

Existem vícios para todos os gostos e prazeres do freguês. Morei com um amigo numa república, José Gomes, onde ele tinha mania de limpeza, de não deixar dobras nos lençóis das camas e colocar as toalhas de rostos uma rente com a outra, milimetricamente.

– Porra, caralho, alguém aqui usou a toalha e não deixou no lugar certo – gritava ele de lá do banheiro, dando aquele esporro. Um colega fazia a bagunça de sacanagem só para ver a reação dele. Qualquer cisco que ele via na sala ou na cozinha tocava a reclamar. Era um tormento conviver com ele.

Aquele comportamento me fazia lembrar de um filme norte-americano onde o personagem principal tinha esse vício e sempre estava no banheiro olhando se as toalhinhas estavam com as pontas corretas, todas em seus devidos lugares. Não podia uma mudar de posição com a outra.

Fumar e beber são vícios comuns do nosso cotidiano, como o meu, mas existem as drogas pesadas, como crack, cocaína, anfetaminas que fazem um estrago danado na mente e no organismo. Em demasia, a chamada overdose, mata. Estes são difíceis de serem extintos pelos usuários, só com um longo tratamento.

O fanático religioso e político também é um viciado perigoso e pode até se transformar num criminoso. A maioria é contaminada por uma lavagem cerebral de anos ouvindo pregações. Outros por conta do reacionarismo e até por interpretar os fatos de maneira errada.

Tem aquele de ficar o dia todo ou uma tarde jogando dominó na esquina. Existe o noveleiro e o que fica o tempo todo em frente de uma televisão. A maioria é de idosos aposentados que, por um motivo ou outro de oportunidades, vive sem uma atividade para ocupar o tempo que não para.

Ao longo da minha vida já tive vários vícios, dentre os quais muitos cortei e outros os maneirei por questão de idade. Quem não tem vício na vida que levante a primeira pedra. Uns, como dita as leis da sociedade, são lícitos, outros ilícitos que podem dar cadeia, mas a vida sem vício não é vida.

IPHAN É O MAIOR RESPONSÁVEL PELA QUEDA DO TETO DO SÃO FRANCISCO

Um amigo meu compadre e ex-colega de seminário me ligou de Salvador lamentando a queda do teto da Igreja da Ordem Primeira de São Francisco onde me abriguei com sua ajuda por um certo   período de forma clandestina. Foi um tempo de sofrer onde me refugiei para aliviar minhas dores.

Ele trabalhava na portaria e relembramos antigas histórias. Ficava praticamente escondido e isolado no quarto, mas conheci por dentro boa parte desse grandioso monumento secular. Uma das coisas que mais me chamava a atenção eram os painéis de azulejos, sem falar das pinturas e esculturas de artistas famosos.

Bem, essas lembranças são irrelevantes diante da tragédia anunciada (aliás, no Brasil quase todas são) que aconteceu recentemente com a queda do teto do convento que vitimou uma pessoa e feriu outras cinco. O pior de tudo é a impunidade.

Não temos dúvidas de que o maior responsável por esse desabamento foi o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por incompetência do seu presidente e desleixo com relação à nossa memória. Coisas dessa natureza sempre estão ocorrendo em Salvador e em todo Brasil, um dos países do mundo que menos preserva sua história.

Infelizmente, somos um povo sem memória. Aqui em Vitória da Conquista, por exemplo, nossos equipamentos culturais estão fechados e o tempo se encarregando de corroê-los. O poder executivo já deveria ter sido criminalizado pelo Justiça. O tempo passa e tudo continua no mesmo estado. Os artistas, os intelectuais e toda sociedade também têm sua parcela de culpa.

Quanto a Igreja do São Francisco, construída pelos portugueses entre os séculos XVII e XVIII, cujo teto veio abaixo, em minha opinião, o presidente do Iphan deveria ter sido demitido sumariamente pela ministra da Cultura Margaret Menezes, mas lhe falta pulso e também competência para dirigir nossa cultura.

Uma das funções do Iphan é justamente proteger nossos bens culturais. Sobre a situação precária do teto, o órgão foi avisado com antecedência e não deu a devida atenção de urgência. Depois o presidente fica com a cara de tacho diante da imprensa e saiu pela tangente querendo culpar os frades da ordem franciscana. Falou das obras de recuperação dos azulejos. O que tem a ver uma coisa com a outra?

Penso que o Iphan, criado em 1937, com seus técnicos – se é que existem – deveria por obrigação fazer uma vistoria quinzenalmente ou mensalmente em todos os equipamentos históricos sob sua responsabilidade, como forma de prevenção para evitar tais desastres.  As agências e institutos no Brasil têm sido utilizados como cabide de empregos e, muitas vezes, colocam um diretor à frente que nada entende do riscado.

A Igreja do Ouro (tem 800 quilos) como é conhecida a do São Francisco é uma das maiores expressões do barroco no Brasil e está entre as sete maravilhas de origem portuguesa no mundo. Por essa grande importância e significado cultural, não era para acontecer essa tragédia que nos deixa envergonhados perante o mundo, como um país do improviso e sem planejamento. Não é um país sério.

No Brasil, as maiores maravilhas históricas patrimoniais são Ouro Preto, o Centro de Olinda, o Pelourinho, em Salvador – a igreja de São Francisco está em seu entorno – A Estação da Luz, em São Paulo, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro e o Teatro Amazonas.

Conheci muito bem o velho Pelourinho na época em que seus casarões e monumentos estavam caindo aos pedaços. Ainda bem que deram um socorro a tempo, mas ainda deixa muito a desejar em termos de proteção e segurança. Nas outras maravilhas, vez ou outra, acontecem desabamentos e até incêndios por falta de preservação.

 

SARAU DEBATE NEANDERTAL ÀS GRANDES CIVILIZAÇÕES HUMANAS

Foi uma noite de intensos debates culturais, proposições, pronunciamentos emocionantes, declamação de poemas e contação de causos durante mais um Sarau A Estrada, realizado no último sábado (dia 08/02), no Espaço Cultural do mesmo nome. Podemos dizer que todos participantes respiraram cultura numa interação cordial na troca de ideias, conhecimento e saber.

Os trabalhos foram abertos pelo membro da comissão diretora Dall Farias, seguidos de vários informes, com destaque para o andamento do registro oficial do sarau, que está completando 15 anos de existência agora em julho. O companheiro Eduardo Morais nos informou que o processo está em seus detalhes finais de conclusão.

Na ocasião, Carlos Maia nos chamou à atenção para o movimento dos artistas e intelectuais em geral em prol da abertura dos equipamentos culturais do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal e da Casa Glauber Rocha. O Sarau A Estrada se colocou como parte integrante dessa mobilização e até assinou um documento que pede providências urgentes e prioridade do poder executivo para que essa reivindicação seja logo atendida.

Da Casa da Cultura, Rose e Odete falaram da atual situação da entidade e do tremendo esforço para continuar fazendo cultura e nos convidou para participarmos de seus eventos. O professor Itamar Aguiar nos deu uma boa notícia de que em breve estará lançando seu mais novo livro, mas não adiantou o assunto.

Logo após as informações dos presentes, o tema “Do Neandertal às Grandes Civilizações Humanas” foi abordado pelo jornalista e escritor Jeremias Macário, destacando os povos sumérios e egípcios.  Ele procurou fazer uma síntese levando em consideração que o assunto e vasto e carecia de um bom tempo para ser explanado. Eduardo até brincou de que o tema vale um seminário.

Sobre o homem neandertal, o jornalista assinalou que viveu há cerca de três milhões de anos e sobrevivia da caça, da pesca e da colheita de frutos nas florestas. Era ainda um ser que vivia feliz e tinha como sentido o viver a vida, sem preocupações com o passado e o futuro.

Naquela época ele nem sabia que era um reprodutor e achava que a mulher ficava grávida por picadas de insetos e por causa da lua cheia. Fazia sexo grupal, por simples prazer, e não por culpa. Com o passar do tempo, a mulher, que domesticou o homem e passava o dia em sua caverna, foi observando o comportamento dos animais e descobriu o porquê da fêmea ficar grávida.

Com as sementes dos frutos que o homem trazia das matas, ela ensinou o companheiro a plantar e assim foi criada a agricultura que gerou mais tarde o poder de ter uma propriedade. Com as demarcações das terras vieram os conflitos. Por causa da herança familiar, o homem criou a monogamia, exigindo que a mulher ficasse somente com ele para evitar partilhar seus bens com outros herdeiros.

De nômades a sedentários, o homem foi se tornando sapiens (150 a 130 mil anos) criador da “civitas”, do latim que significa cidade e civilização. Dentre as maiores civilizações, o palestrante destacou os sumérios (oito a cinco mil anos a.C.) e os egípcios que vieram logo depois, embora existam controvérsias de historiadores quanto a esta ordem.

Os egípcios, que tiveram três mil anos de faraós, chegaram a acreditar que eles fossem os pioneiros da civilização. O faraó Psamético resolveu fazer um experimento com crianças e até se pensou que os frígios fossem os primeiros, mas não foi bem assim.

Os sumérios, da cidade de Sumer (outros descrevem que foram bárbaros vindos das montanhas do Cáucaso e dos Balcãs) viveram na região do Crescente Fértil chamada de Jardim do Éden pela Bíblia, uma longa faixa de terra da Mesopotâmia (Iraque) entre os rios Tigres e Eufrates. Meso (meio) e tâmia (rios).

Com terra fértil e dois rios, os sumérios puderam criar uma grande civilização de reis, religiões, deuses, prosperidade e até impérios. Se organizaram em comunidades em forma de cooperativas e inventaram a técnica da irrigação, da roda, da medição de lotes, a matemática; observou o fluxo das águas para conter as enchentes; criaram a forma de impostos, o comércio, a contabilidade e a escrita cuneiforme que controlou todo processo de plantio e produção.

Com essa ordem empreendedora, os sumérios passaram a ter mais tempo para outros inventos e conquistar tribos diferentes. O rei Sargão I, por exemplo, criou o primeiro império da Mesopotâmia. Com a ascendência, tivemos o esplendor da Babilônia, do rei Nabucodonosor que chegou a escravizar os judeus, povos de Israel. Outro grande rei foi o Ciro, da Pérsia (Irã), que libertou os judeus. Ao longo do tempo houve também reis sanguinários.

Quanto aos egípcios, Macário fez uma viagem pelos faraós que reinaram por três mil anos. Citou o faraó Akenaton, o primeiro a estabelecer o monoteísmo, do deus único Aton. Além disso, foi um rei que se dedicou à cultura e às artes de uma forma geral, como a poesia, artes plásticas e outras linguagens. Dizem os historiadores que Moisés, fundador do judaísmo, foi seu sacerdote que, mais tarde, guiou os hebreus pelo deserto até a terra prometida de Jericó, uma das cidades mais antigas do mundo ainda existente, na Palestina.

No bate-papo, também foram citadas as construções das pirâmides Quepes, Quéfren e Miquerinos, as maiores entre muitas outras. Por volta de 160 a 150 anos a.C., os reis deixaram de construir essas pirâmides por causa dos ladrões de túmulos que saqueavam esses locais para ficar com os tesouros e vender clandestinamente para turistas do exterior.

Os corpos passaram a ser enterrados nos areais e em rochedos, numa área que a denominaram de Vale dos Reis. A civilização egípcia passou a ser mais conhecida no ocidente a partir da invasão de Napoleão e seus sábios quando descobriram a Pedra de Roseta.

Também o livro de Domique Vivant, “Descrição do Egito”, proporcionou ainda mais essa abertura para a vinda de arqueólogos ingleses, alemães e norte-americanos ao Cairo, por volta do século XIX, quando descobriram os túmulos e as múmias dos faraós Tutucâmon, final de 1922, Amosis I, Tumés III e Ramsés II, o grande e todo poderoso, aquele que teve um embate com os hebreus.

Logo após essa conversa interativa e proveitosa, várias pessoas declamaram seus poemas autorais, como Itamar Aguiar, Regina, Carlos Maia, Dall Farias, Macário e Vandilza Gonçalves, a anfitriã da casa que nos brindou com um delicioso cozido de carneiro, Aurelício Amorim e tantos outros. Tivemos ainda os parabéns aos aniversariantes do mês nas pessoas de Jeremias Macário, Regina, José Carlos d ´Almeida, Maria José e Cleu Flôr.

 

CACHAÇA COM METANOL E REQUEIJÃO COM MAISENA

(Chico Ribeiro Neto)

(Crônica publicada no jornal A Tarde em 1/8/1990)

A tragédia da cachaça de Santo Amaro, que já resultou na morte de 13 pessoas, se serviu para mostrar a absoluta falta de controle na distribuição de bebidas e a extrema lentidão de nossas autoridades sanitárias e policiais, serviu também para aflorar episódios pitorescos em torno do caso.

Afinal, onde há cachaça existe uma graça, mesmo em meio a situações de morte. Não é por menos que os velórios do interior são quase sempre regados a uma purinha, e tome-lhe piada. O cômico está sempre perto do trágico.

Esperamos, contudo, que os responsáveis por essa desgraça que se abateu sobre Santo Amaro sejam punidos com o maior rigor e que, vacinados pela tragédia, possamos agora dispor de um real controle exercido pelas autoridades de saúde nas destilarias e alambiques de fundo de quintal, onde o que importa é ganhar dinheiro e o resto que morra.

Botar metanol na cachaça já é um reflexo do que se faz neste país, onde se mistura tudo com tudo: álcool com gasolina, leite com água, requeijão com maisena, PMDB com PFL, banha com manteiga, algodão com poliéster, prata com latão e abará com fubá de milho. Não importa a qualidade do produto nem a saúde do consumidor. O negócio é misturar para ganhar mais.

Cachaça se mistura com tudo, ou quase tudo. É folha, cobra, casca de laranja, capuco de milho, umbu, seriguela, coco, raiz, raspa de unha, jiló, o diabo, sim, com este também e às vezes de preferência.

– Vai querer com quê? – pergunta logo o dono do boteco.

Há misturas inesquecíveis, como a do falecido “Popular Cabelinho Rei do Limão”. Hoje, a “Gabriela” de Edinho da Ceasa do Rio Vermelho chega perto. Tem cravo e tem canela, antes de um bom prato de cozido.

Muito famosa antigamente, a cachaça de Santo Amaro vai demorar para se reabilitar. A simples menção do seu nome já faz tremer – mais do que o normal – o mais assíduo biriteiro. Nos bares que só vendem cerveja por causa da “Lei Seca”, os santo-amarenses já comentam: “É a cachaça Sofia. Você bebe de manhã e morre meio-dia”. (“Sofia” é o apelido do comerciante responsável pela criminosa distribuição da cachaça com metanol).

Dizem que quando começou a vigorar a “Lei Seca” – os bares só podem vender cerveja, nada de bebida quente – um grupo de biriteiros mais contumazes resolveu fazer uma passeata na Praça da Matriz contra a proibição. No meio da discussão sobre a forma de fazer o protesto, uma questão importante: quem iria conseguir segurar, sem tremer, as faixas e cartazes?

As piadas começam a chover. Segundo o cartunista Douglas, as igrejas de Santo Amaro estão ficando vazias. Sabe por quê? Porque o sujeito vai tomar uma cachaça, dá pro santo e o santo “bufo”.

Até mesmo em Salvador qualquer cachaça sem rótulo, a chamada “lava jega” ou “poca olho”, está sendo logo rejeitada. Ninguém quer conversa. Se não tiver rótulo, a rejeição é imediata. Até as que têm rótulo já inspiram uma certa desconfiança. Conta-se que em Feira de Santana tem depósito de bebidas onde entra um caminhão de cachaça por uma porta e saem dois por outra. Não tem controle de qualidade que dê jeito.

A trágica cachaça de Santo Amaro já ganhou muitos apelidos. Nenhum, no entanto, tão apropriado quanto o que recebeu do jornalista, compositor e poeta Béu Machado: “Essa, sim, é a autêntica saideira. O sujeito toma uma e sai dessa pra outra”.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

SE BEBER, NÃO PEGUE NO CELULAR

Bem, não me lembro qual foi a pessoa sensata, mas já ouvi de um amigo a recomendação de que se beber, não pegue no celular, talvez porque tenha se estrepado. O certo é que o alerta tem procedência e fundamento, como no caso de não dirigir bebendo. Confesso que eu mesmo já fiz muitas besteiras no volante e até no celular.

O bêbado ou a bêbada no celular faz bobagens, digita palavras erradas, assassina o português (isso já é normal mesmo sem beber), forma frases desconexas, troca as bolas e termina mandando mensagens erradas para alguém que não era o alvo. Imagina quando se trata de coisa íntima, de amante para amante e cai em outras mãos! Dá aquele quiproquó!

Conheci um amigo que encheu a cara num bar, arrumou uma gata de programa e de lá foi parar no motel. Quando estava no bem bom, a mulher liga e ele prontamente, sem se tocar, responde que estava no motel. Quando a ficha caiu, já era tarde demais!

Em casa ele tentou convencer que falou que estava no restaurante do hotel com os amigos. – Ah, mulher, estava cheio do “mé” e você entendeu errado. Na hora a língua embolou e falei motel, só que seu papo não colou, deu aquela confusão. Por isso, se beber, não pegue no celular que é bronca e pode até gerar um BO.

Mesmo quando não havia internet para ficar navegando, existia gente que quando bebia costumava apresentar vários comportamentos estranhos. Tem uns que se incorporam em pais de santos, orixás, caboclos e até saem do armário quanto ao seu gênero. Tem de todo tipo. Outros ficam ricos e se metem a comprar tudo. Agora, imagina gente assim com um celular na mão!

Certa vez, lá em Salvador, conheci um colega que era assim. Fomos a uma exposição agropecuária e ele insistiu em entrar num leilão de gado. A gente já estava naquele embalo, de tomar uma ali e outra acolá nas barracas de comidas e bebidas.

– Isso não vai dar certo – pensei comigo e falei para ele, mas não teve jeito, não parava de me chamar para esse leilão. Lá fomos nós quase que cambaleando e trocando as pernas. Só passava fazendeiro de chapéu e bengala na mão em direção ao espaço do  leilão. Todos acompanhados daquelas amazonas morenas.

Nesse tipo de leilão, rola muito uísque e, quem faz um arremate, logo aparecem aquelas mulheres bonitas e não param de encher o seu copo. É para o cara ficar bebum mesmo, empolgado e cheio de vaidades!

Depois de encher a cara, o Martins Pereira começou a dar seus preços, e o leiloeiro só gritava mais e mais até chegar ao ponto de bater o martelo do maior lance. Vendido, vendido, vendido para o pecuarista seu Vivaldo, lá naquela mesa!

– Cara, para com essa merda, com essa putaria de ser rico! Não adiantou o aviso. Ele continuou entusiasmado até que arrematou um boi bonito chamado “Zulu”. Foi aquela loucura de descer uísque! O boi fica para aquele cidadão – gritou de lá o leiloeiro.

– Porra, bicho, como é que você compra um boi e nem tem pasto e fazenda para colocar o animal? Simplesmente respondeu, com a cara de pau e numa boa, que depois ia dar um jeito. O que ele queria conseguiu que foi tirar uma onda de ricaço fazendeiro.

Como conhecia um compadre amigo meu que tinha uma pequena fazenda, sugeri que ele botasse o boi naquele pasto e pagasse o aluguel ou dividisse meio a meio. Problema foi fretar um caminhão para levar o bovino até o local.

Tudo acertado e resolvido, só que dias depois veio-se descobrir que o boi bonitão e cheio de estampa era viado, bicha mesmo. Não queria saber de cruzar com as vacas do pasto. Tentou-se de tudo, mas nada. O boi era brocha. Nem precisa dizer que foi só decepção e prejuízo.

– Cara, você não aprende, deixa de dar uma de rico depois que bebe – esbravejei com ele, que já havia comprado um cavalo e uma barraca de cachaça depois de ter tomado aquelas biritas brabas. Discutiu com o dono e terminou comprando o estabelecimento. O Pereira não se emendava. Pense num moço desse nos tempos atuais com um celular enfiado na mão? Se beber, não pegue no celular.

VÁRIOS ESTADOS DOMINADOS POR BANDIDOS DENTRO DE OUTRO ESTADO

Como se não bastassem as diferenças regionais, principalmente entre Norte/Nordeste e o Sul do país, que já perduram há mais de cinco séculos, desde os tempos coloniais, temos no Brasil de hoje um Estado impotente onde existem outros estados dominados pela   bandidagem.

Esses estados funcionam como territórios, zonas e bairros próprios, com suas leis e suas regras, onde seus moradores são obrigados a se submeter às ordens emanadas de seus chefões do tráfico, dos contraventores, dos milicianos e de outros grupos de quadrilhas organizadas, sob pena de serem mortos de forma bárbara e impiedosa.

Antigamente, esses estados praticamente estavam encrustados nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. Nos últimos anos eles se espalharam e estão em quase todas capitais e grandes cidades. O mais irônico é que funcionam como se fossem países diferentes com suas fronteiras demarcadas na base dos fuzis e das metralhadoras.

Para visitar esses estados, o cidadão brasileiro precisa de permissão, um tipo de passaporte. Quando entra por engano é sumariamente fuzilado e fica por isso mesmo, não dá em nada. A Justiça não funciona e não manda nesses estados.  Entre um Estado e outro, o pobre do contribuinte paga duas vezes impostos e taxas se quiser viver. Ambos são violentos e truculentos.

O mais lamentável nessa situação é que o Estado de Direito e oficializado só ultrapassa a linha desses outros estados com o uso de tanques de guerra, bombas, e armas pesadas. Antes de chegar em suas fronteiras, seus agentes fardados são recebidos à bala. Até para prestar algum serviço à comunidade é necessário que haja uma espécie de negociação e acordo.

Há anos que a estratégia do Estado Brasil usa métodos de violência, com mais homens e armas de grosso calibre, alegando que é a única forma de combater e acabar com esses estados do crime, só que os resultados são cada vez piores.  Eles, que se dizem do lado do bem, não se convencem que estão errados.

O povo desses locais perigosos vive no fogo cruzado e já chegou ao ponto de confiar mais no outro lado, porque muitos governantes e políticos também fazem parte dessa bandidagem de traficantes, contraventores e milicianos. No lugar do social, oferecem mais violência.

Muitos dos membros dessas corporações militares terminam usando mais a força e cometendo crimes bárbaros, o que provoca mais revolta da população. Do outro lado, outros se deixaram contaminar pela corrupção e o suborno e são mais bandidos do que aqueles que já vivem no mundo da criminalidade.

Quando se fala em reformar e repensar a polícia militar, por exemplo, a única existente no mundo como essa denominação, os coronéis e comandantes revidam com argumentos vazios de que não se pode acabar com uma instituição secular, mas a questão não é o seu extermínio, mas realizar mudanças em suas estruturas. O sistema em si está podre.

 





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