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A FALTA DE CONFIANÇA DOS ELEITORES
Em minhas andanças como candidato a vereador por Vitória da Conquista, no próximo dia seis de outubro, tenho encontrado vários tipos de eleitores, com os quais procuro fazer minha apresentação e explicar que me sinto preparado para assumir uma cadeira no legislativo.
Nos tempos atuais, não é fácil colocar a “cara na tela”. Confesso que tenho recebido “patadas e coices” de gente revoltada contra os políticos, o que significa a falta de confiança na classe por ter sujado a imagem com falsas promessas, atos de corrupção e ausência deles depois de eleitos.
A gente comenta muito isso na teoria, o que é comprovado na prática. Talvez por esse motivo é que você pouco ver candidato à reeleição pedindo voto. Tudo indica que eles têm medo de fazer o “tete a tete” ou o “olho a olho” com o eleitor e coloca uma equipe para fazer panfletagem.
Tenho recebido muita gente educada e receptiva, ao ponto de bater um papo e até apresentar meu currículo e minhas propostas de defesa da nossa cultura e incentivo aos esportes. Outros fecham a cara e vão logo dizendo que os políticos são todos iguais, e não adianta você convencer que também não é assim. Que não se pode generalizar.
“Vocês só aparecem em épocas de eleições” – disse uma senhora quando me aproximei para entregar meu folheto e o tão conhecido “santinho”. Alguns não gostaram nada do partido de esquerda que escolhi e acharam que deveria estar do outro lado. Tento explicar que se trata de uma questão ideológica e devemos respeitar o pensamento do outro.
Teve um senhor idoso, no bairro Santa Cecília, que já me recebeu de cara feia por ser do PSOL e arrancou do bolso o celular e clicou num vídeo (poderia ser fake news) onde um candidato do partido, no Rio de Janeiro, fumava uma maconha e defendia a descriminalização da droga. Pregava a liberdade de não ser invadido em sua privacidade e ser preso.
“Isso está direito” – indagou com certa raiva o senhor. Apenas disse para ele que cada um tem seu direito de pensar e devemos respeitar a liberdade do outro, desde quando não seja agressivo. Senti, pela sua posição, que ele estava se sentido agredido pelo candidato do PSOL.
O candidato precisa ter a coragem de encarar, e não pode discutir e contrariar o eleitor, que tem a sua razão de não acreditar mais nos políticos porque foram os maus, ao longo desses anos, que criaram essa imagem ruim.
A esta altura, como você vai convencer o eleitor de que é diferente e não faz parte da corja que não presta? O tempo é curto para distribuir sua propaganda e, o mais certo, é você seguir em frente nessa dura caminhada de boas intenções. Por onde passo, procuro, dentro do possível, deixar a imagem de que nem todos são iguais.
Entre a Vila Serrana e a Urbis V, se não me engano, entrei num boteco e fui bem recebido, tanto que deu até tempo para prosear. Um disse ter gostado de mim por ser autêntico por me apresentar como pessoalmente como candidato.
O amigo ao lado levantou-se e disse que todo candidato a vereador deveria ter o curso de nível superior e comparou o processo como se exige nos concursos públicos onde a pessoa tem que ter um certo nível de escolaridade para se habilitar a um emprego.
INSTANTE DE PASSARINHO
(Chico Ribeiro Neto)
Acordei e vi que tinha um passarinho na estante. Pequeno e marronzinho, parecia um pardal. Me aproximei dele e, antes de tocá-lo, ele fugiu. Mas deixou uma lembrança: um cocozinho.
Antes de voar, despertou a atenção de quem estava na estante. Manuel Bandeira olhou embevecido para o passarinho, Pablo Neruda piscou o olho e Vinicius de Moraes fez um poema de amor.
No canto da estante Rubem Braga pensava em nova crônica, parecida com “O Conde e o Passarinho”, onde descreve o Conde Matarazzo passeando pelo parque e de repente aparece um passarinho que leva sua medalhinha de ouro que exibia na lapela: “Bicou a fitinha, puxou, saiu voando com a fitinha e com a medalha.”
Os serenos olhos de Cecília Meireles também viram o passarinho e lembraram o início do poema “Pássaro”:
“Aquilo que ontem cantava
Já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.”
De lá do alto da estante, sentado no seu livro “Cantigas para um passarinho à toa”, Manoel de Barros lembrou: “Achava que os passarinhos são pessoas mais importantes do que aviões. Porque os passarinhos vêm dos inícios do mundo. E os aviões são acessórios.”
Cansado de cagar lá de cima das árvores e dos fios, o que suja a cabeça de muita gente (alguns até acham que é sorte), o passarinho resolveu “se descarregar” na minha estante.
Ele não deixou nenhuma mensagem além do cocozinho. Olhei pela janela e sorri para o mundo. Acho que foi uma mensagem feliz.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
AS REGRAS SÃO CLARAS
Como já dizia o juiz de futebol, Arnaldo César Coelho, as regras são claras e isso serve também para a legislação eleitoral quando a prefeita Sheila Lemos se candidatou à reeleição porque a mãe dela já havia assumido a prefeitura e logo depois entrou a filha após a morte de Hérzem Gusmão.
O mais irônico disso tudo é que a prefeita, que enterrou a nossa cultura e não teve a decência de fazer o rito funerário, sabia desse impeditivo e se candidatou com o propósito de depois culpar a oposição de judicialização da política, de querer ganhar no “tapetão”.
Um time de futebol não pode disputar uma partida com um jogador irregular em sua equipe, sob pena de perder os pontos, mesmo saindo vitorioso. Na verdade, ela agiu ardilosamente porque sabe muito bem que o nosso povo, em sua grande maioria, não entende de leis e vai achar que a prefeita está com razão.
Infelizmente, não temos um país letrado e, Vitória da Conquista, não seria uma exceção. De vilã, ela se faz de vítima e consegue mais adesão dos seus eleitores e até daqueles que que não tinham intenção de votar nela. Esse é o chamado jogo sujo. Seus correligionários sabem disso, mas também fazem de conta que não sabem.
Por essas e outras é que cabe a oposição tornar esse fato mais claro para o povo conquistense, de que as regras são bem claras e a legislação eleitoral está aí para ser cumprida. Não se trata, de forma alguma, querer ganhar a eleição na base do “tapetão” como a própria Sheila já vem anunciando para confundir a cabeça da população, que não tem o devido esclarecimento jurisdicional.
O nosso companheiro jornalista e advogado Paulo Nunes já vinha há tempo alertando para esse problema, mas poucos o escutaram. Se está dentro da lei que a prefeita não poderia se candidatar à reeleição, então que se cumpra as normas estabelecida, só que neste país os inescrupulosos procuram passar por cima e burlar a legislação.
Por falar nesta questão da quebra da regra do jogo, muitos candidatos a vereadores antiéticos e que confiam mais no dinheiro do que na justiça, lamentavelmente morosa, estão cometendo irregularidades, como o uso de carros de som, que é proibido pela legislação eleitoral.
Para estes, o que importa é ser eleito de qualquer forma e depois empurrar o processo pela frente até o final de seus mandatos. A prefeita está nessa mesma linha. Venho aqui falando do uso indevido da máquina, como de candidatos à reeleição que utilizam seu pessoal de gabinete para trabalhar na campanha. Apesar das leis estabelecida, é uma corrida desigual, desleal e injusta.
COMO ACREDITAR NA POLÍTICA?
Não que eu já não soubesse disso, mas, em minhas andanças como candidato pela primeira vez a vereador por Vitória da Conquista, venho percebendo e sentindo na prática como as pessoas (nem todas) tem expressado o seu descrédito e sua desilusão na política e nos políticos.
Ao abordar com o pedido de voto e na entrega dos meus materiais, muitos simplesmente viram a cara e dizem que não querem saber de política. Isso é muito triste porque deveria ser ao contrário, uma vez que a política, especialmente a partidária, é um instrumento de representação popular e democrática no sentido de melhoria do povo e da nação através do voto consciente.
O povo não é culpado por essa indiferença e, até mesmo, esse ódio e essa repulsa velados, estampados em seus rostos sofridos de tantos anos de promessas e pouco comprometimento, têm suas razões de ser. Para rebater essa descrença, sempre tenho dito nas minhas rápidas conversas de que nem todos são iguais, sabendo que não é o bastante para convencer.
São nessas horas que me bate a angústia de que a receptividade poderia ser diferente e cordial, mas me vem aquele ditado popular de que os bons pagam pelos pecadores que, durante anos e anos fizeram e ainda fazem mal no uso errado da política, quando o político só entra nela para se locupletar e transforma o público em seu bem privado.
De tanto corromper, de tanto enganar, de tantos malfeitos, de tantas sujeiras, de tanto prometer e não fazer, de tantas trapaças, de tanto só pensar em se enriquecer no cargo e viver suas mordomias, de tanta falta de ética, seriedade e honradez, grande parte da nossa população passou a desacreditar na política e nos políticos.
Quando decidi fazer parte dessa disputa ingrata e tão desigual, sobretudo na utilização dos recursos e da máquina, seja no legislativo ou no executivo, ouvi de alguns amigos de que caísse fora disso porque “política é patifaria” e que só iria sujar minhas mãos.
Como posso dizer ao eleitor de que sempre tenho pautado minha vida dentro da ética e da seriedade, se ele não confia mais em ninguém, e pouco me conhece? Como recuperar essa credibilidade perdida há anos e, porque não falar, há séculos? Será possível? É como a queima de uma floresta que dura 50 ou 100 anos para ser renovada.
De tanto que já passei de desafios e lutas, essa será mais uma experiência de vida para colocar em minha bagagem, ou no meu surrado alforje. É como um laboratório de aprendizagem. Tem coisa que você tem que vivenciar para depois ter a propriedade de contar.
Além daqueles que não acreditam mais em política e nos políticos, também existem os que se deixam vender por dinheiro e por favores. Estes são piores que os outros e não têm moral de xingar os políticos. Tem ainda os que se deixam levar pelos outros, os extremistas fanáticos e uma parte mais consciente e educada.
Como um assunto puxa outro, gostaria de me referir aqui aos jovens estudantes que também fazem parte do bloco que não quer se envolver em política. Esses, infelizmente, também fazem parte do grupo dos desiludidos.
Isso me faz lembrar dos anos 50, 60 e até os 70, em plena ditadura civil-militar-burguesa, quando estudantes se mobilizavam nas ruas e tinham a força de eleger vereador, prefeito, deputado, governador e até presidente da República. Tudo isso se acabou e só nos restou o bagaço ou uma bagaceira.
O HOMEM DA BICICLETA
Os mais antigos, principalmente do interior, quando nem se pensava que um dia iam inventar a internet e as redes sociais, lembram muito bem das brincadeiras de moleque, e como era tudo divertido. Quem não se recorda da chegada do circo e do palhaço perna de pau que a meninada acompanhava e depois recebia um carimbo no braço com direito a ir ao espetáculo à noite? Não dava para tomar banho senão tirava a marca.
Hoje, veio-me à mente o homem da bicicleta que rodava as cidades e ficava 24 horas pedalando na magricela (não era bem equipada como atualmente) em redor da praça principal. Esse resistente ciclista passou pela cidadezinha de Piritiba, na região de Mundo Novo e Miguel Calmon, onde cursei meu primário no Colégio Almirante Barroso.
Fiquei tão encantado com aquela proeza que no dia “matei” algumas aulas e a banca de estudos para ver o homem da bicicleta e terminei entrando pela madrugada. Não sei bem se eram mesmo 24 horas de show do moço que pedalava de forma cadenciada durante todo aquele tempo.
O que me chamava mais atenção era como ele conseguia fazer tudo aquilo sem se alimentar e ir ao sanitário, mas depois me disseram que o cara fazia uma paradinha de uns cinco minutos para se hidratar e retornar ao batente.
Isso foi no final dos anos 50 para o início dos 60 e tudo indicava que era uma apresentação patrocinada por alguma fábrica visando incentivar e uso da bicicleta. Pouca gente tinha uma. Tudo era feito no jumento. Diziam também que a Prefeitura Municipal entrava com alguma ajuda ou apoio. Muita gente ficava em torno da praça, especialmente a molecada, para apreciar o feito inédito do homem da bicicleta.
A vida naquele tempo no interior era só alegria e diversão. Não ouvia se falar em ladrão – aparecia algum de galinha, frutas e mantimentos nas roças – e a cadeia passava o maior parte do tempo vazia. Coisa rara um assassinato. A cidade tinha no máximo dois soldados e um delegado chamado calça-curta que tinham pouco trabalho, a não ser apaziguar algumas brigas de vizinhos que eram logo resolvidas. As pessoas podiam dormir de portas abertas.
Meus pais viviam na roça para cuidar das lavouras e eu morava na casa de um casal de amigos. Meu pai pagava as despesas para eu estudar na escola municipal através de um pouco de dinheiro e outra parte com farinha, feijão e milho. Para ter alguns trocados para comprar bolas de gude e revistas de gibis era agueiro, maleiro na estação de trem e vendia lenha nas casas (não havia fogão elétrico).
Fora o homem da bicicleta, nunca deixei de esquecer do circo e dos pequenos parques, com o sistema de autofalante, que passava aquelas músicas saudosas oferecidas aos namorados. A música mais pedida era “Diana” (não sei se esses era o título), bem romântica. João oferece essa música para Maria, com muito amor e carinho. Bons tempos aqueles que não voltam mais.
E VAI FICAR AINDA MAIS ASSUSTADOR
O Brasil está em chamas! Estampa a mídia em seus noticiários. Em muitas partes, a terra queimada e cheia de tocos mais parece com a face de um planeta desértico. Os parques ambientais estão sendo destruídos. Tudo dá a impressão de um filme de ficção. Será que meu texto é assustador? Muitos vão dizer que é pessimismo e derrotismo demais.
As labaredas lambem as copas altas das árvores. Por onde se anda, só carcaças de animais mortos. O fogo vai arrastando tudo pela frente. As fumaças intoxicam as grandes cidades, as pessoas e o ar. A seca esvazia os rios e seus leitos rachados estão repletos de peixes e crustáceos mortos.
O quadro é assustador – exclamou um cientista-ambientalista, mas toda essa tragédia já vem sendo anunciada há anos, mas, mesmo assim, a ficha ainda não caiu para a humanidade e muitos ainda falam no aquecimento global como se fosse coisa do futuro.
A catástrofe terráquea só está começando. Ainda vamos ver coisa muito mais assustadora. Quem viver, verá daqui a cinquenta ou cem anos. As chamadas mudanças climáticas nada mais são que o começo do aquecimento global. Segundo as previsões, os níveis dos oceanos devem subir em torno de 20 centímetros nos próximos cinquenta anos.
Ora, estamos pagando pelo que fizemos lá atrás e continuamos fazendo, sem olhar para o futuro mais assustador. Os poetas, escritores, cancioneiros e repentistas podem aproveitar esta macabra matéria-prima e descrever sobre essas cenas realistas, as quais não são mais futuristas.
Aliás, para o futuro, encham seus cantos de horror e escrevam seus livros apocalípticos de muito choro e ranger de dentes. Digam que somos irracionais autodestruidores, que só pensamos em cada vez mais competir e consumir, cada um ao seu modo individual de ser.
Gritem que somos monstros e, nisso, não há nenhum exagero. Não se trata mais de ser pessimista e catastrófico. A besta já está solta e se anuncia o fim. Basta olhar em torno da sua casa que ela vai desmoronar, mais cedo ou mais tarde, e não existe mais retorno.
Não se trata apenas dos incêndios no Brasil e em outros países. O ar está poluído por outros tipos de gases tóxicos, oriundos das fábricas, das bombas nas guerras e da queima dos combustíveis fósseis, como do petróleo e do carvão. As perspectivas são sombrias e não precisa ser nenhum profeta para sair por aí anunciando o fim assustador.
Não mais adiantam essas medidas paliativas, ou ser otimista de que a situação pode ser revertida, porque o rombo já foi feito em proporções alarmantemente maiores do que está se fazendo para tapar o buraco feito na camada de ozônio Estamos apenas estrepando as novas gerações para o precipício, ou para o abismo ainda mais assustador.
“O QUE PREVALECE EM CONQUISTA É A DESTRUIÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO”
Desde os idos do século XIX para cá, os últimos intendentes e as administrações passadas só fizeram destruir o patrimônio arquitetônico de Vitória da Conquista, ao ponto de a cidade atual, de cerca de 400 mil habitantes, não mais possuir um Centro Histórico, como existe em muitas outras do seu mesmo porte pela Bahia e outros estados.
Sempre falo que me sinto envergonhado quando recebo um amigo turista e me pede para visitar o Centro Histórico e tenho que responder que não tem porque foi destruído ao longo dos anos, a começar pela chamada Rua Grande, cheia de casarões, onde hoje está a Praça Tancredo Neves até a Barão do Rio Branco.
Em conversa com uma amiga minha sobre este assunto, ela me disse que sempre tem dito que, em “Conquista o que prevalece é a destruição do patrimônio público”. Lembrou que destruíram uma escola antiga (Macaúbas) para construir o prédio do Fórum, que poderia ser erguido em outro lugar.
Ela também citou o caso do Museu Cajaíba que está sendo destruído pelo tempo lá na Serra do Periperi. “Em qualquer outro lugar, ele teria sido preservado e seria um ponto que iria atrair turistas. A cidade só ganharia com isso” – acrescentou, para completar que tinha mais coisas para enumerar sobre a destruição da cidade.
Foi criado um Núcleo de Preservação do Patrimônio Arquitetônico que há anos deixou de funcionar. Como a administração atual enterrou nossa cultura e não teve e decência de fazer o rito funerário, vez ou outra derrubam um casarão, como ocorreu recentemente em frente da Tancredo Neves.
Durante as décadas de 60 (construção da BR-116 (Rio-Bahia) até 90, durante 30 anos destruíram, impiedosamente, a própria Serra do Periperi, com a retirada de areia, pedras, madeiras e cascalhos, justamente para construírem prédios novos no lugar dos antigos. A serra hoje está mais para Serra Pelada e, quando chove, desce tudo lá de cima acabando com as ruas.
Sobre as artes do artista Cajaíba, esculturas de gente famosa e de presidentes do país, o Conselho Municipal de Cultura, na minha gestão, apresentou um requerimento à Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer, no sentido de ser criado um projeto do museu, mas nada foi feito.
POR QUE?
Esse tal de o porquê está em todos lugares, no jornalismo e em nossas vidas cotidianas. Tudo que se faz tem um porquê. Por que milhões seguem um influenciador (a) falando um monte de besteiras nas redes sociais e fazem o que ele ou ela manda, inclusive terminam sendo ludibriados e caem no conto do vigário? Tem gente que até se mutila, outros mudam de comportamento e desobedecem aos pais, sobretudo os nossos jovens de hoje.
Por que negros, gays, mulheres e pobres votam nos candidatos do capitão e ex-presidente Bozó, que é racista, negativista, homofóbico, xenófobo e misógino? Por que o Brasil é a oitava ou nona economia do mundo e tem os piores índices de desigualdade social? Essa pergunta é até mais fácil de se responder.
Cada um que faça suas reflexões porque as respostas são diferentes, mesmo contraditórias e paradoxais. Quanto, por exemplo, aos seguidores imbecis que se deixam ser levados mentalmente por esses influenciadores, só posso entender que está na própria decadência da humanidade.
Existe hoje um vazio humano onde as pessoas se agarram a impostores e a falsos pregadores que aparecem vendendo ilusões. Essa gente sem ética, formação moral e capacidade acha que vai ser famosa, poderosa e rica da maneira fácil. A maioria desses influenciadores, rotulados pela mídia, não passa de estelionatária da ideologia, e os seguidores são pressas vulneráveis, sem personalidade própria.
Quanto aos negros, mulheres e pobres que votam nesses extremistas, fica complicado responder. Como se diz no popular, só Freud explica. Talvez sejam masoquistas conservadores que adoram sofrer. Não estou aqui falando que sigam a esquerda, mas que, pelo menos, tenham amor próprio.
Como é que alguém me despreza, me chuta, me renega, me repudia, me xinga, me maltrata, me bate e, mesmo assim, ainda admiro o cara e o defendo? É um comportamento estranho, quando, na verdade, a vítima poderia reagir diferente e ter repulsa.
Se você surra um animal doméstico, como no caso específico de um cachorro, ele passa a ficar raivoso, agressivo e a ter ódio do dono, mesmo que venha a obedecer às ordens do agressor, tudo por causa do medo de apanhar.
Como explicar essa conduta de servidão e submissão ao seu algoz quando se trata de ser humano, considerado racional? Politicamente seria apenas uma forma individual de se colocar contrário ao outro opositor, sem olhar as consequências coletivas?
BUROCRACIA E DESIGUALDADES
Tem aqueles que seguem as normas, são corretos e éticos, mas terminam sendo penalizados porque o errado se tornou normal neste país. Tem aqueles que burlam as leis, usam de artifícios ilegais e acabam sendo premiados porque, infelizmente, a maioria do nosso povo é inculta e não sabe julgar os inescrupulosos trapaceiros.
Estou falando das eleições, ou poderia estar me referindo a um outro assunto qualquer neste nosso Brasil, onde predominam a burocracia e as desigualdades, não somente no âmbito econômico-social. A Justiça Eleitoral exige um monte de burocracia para o candidato se registrar, inclusive na prestação de contas, como se isso fosse criar um pleito igual para todos.
No entanto, sabemos muito bem que não é isso que ocorre quando o juiz fala em igualdade na corrida eleitoral. Quem tem mais recursos sai na frente com seus santinhos, praguinhas e outros materiais de propaganda, e aí é onde reside a desigualdade, sem falar em vereadores que estão no páreo à reeleição e usam seu pessoal de gabinete por debaixo do pano na caça ao voto.
Quem fiscaliza o uso dessas armas ilegais pelos astutos, que não faz parte do jogo? Igualdade na disputa, senhor juiz, só existe na teoria ou no faz de conta. Quem possui mais condições financeiras já está nas ruas com suas equipes de trabalho desde o início da campanha, se não me engano no meado de agosto.
Outros, com sua ética, seriedade e honradez, cumpridores das leis e preocupados em não deixar “rabo” na justiça fazem o que podem, dentro das suas possibilidades, para conquistar e mostrar para o eleitor que avalie com consciência um nome certo na hora de votar para ser seu representante na Câmara de Vereadores.
Lamentável, mas, em muitos casos, ainda vence o outro lado da moeda suja que frauda as leis burocráticas e não tem nenhuma ideologia e compromisso com o povo. Sempre dizemos que Vitória da Conquista merece um legislativo à altura da cidade, pelo seu tamanho e importância no cenário baiano.
Além da burocracia e das desigualdades, contamos ainda com as mentiras e engodos no horário eleitoral, como colocar a questão da segurança como se fosse coisa da alçada municipal, quando a proteção ao cidadão contra a violência é de responsabilidade dos governos estadual e federal, mas poucos eleitores sabem fazer essa distinção.
Essa é uma das maneiras de ludibriar a Justiça Eleitoral, sem ser punido, porque fica difícil detectar a safadeza do marqueteiro. Alguém já disse, não sei se o estadista inglês Churchill, ou até um filósofo, que numa guerra, a maior vítima é a verdade. O mesmo vale para um pleito eleitoral.
O FILHO DO PALHAÇO TÁ COM FEBRE
(Chico Ribeiro Neto)
Chegou o circo em Ipiaú, Bahia. De dia, a gente ia ver o movimento de armação da lona, o leão comendo, o elefante cagando e a bailarina se exercitando.
Mais tarde, um palhaço de perna de pau percorria a cidade jogando ingressos e bombons para a garotada.
Começa o espetáculo. As luzes são lindas, a pipoca é mais gostosa, a orquestra ataca e entram todos os artistas para a apresentação inicial.
“Todo mundo vai ao circo
Menos eu, menos eu
Como pagar ingresso
Se eu não tenho nada
Fico de fora escutando a gargalhada
A minha vida é um circo
Sou acrobata na raça
Só não posso é ser palhaço
Porque eu vivo sem graça”
(Música “O Circo”, de Batatinha).
O mágico faz um bocado de coisa sumir e aparecer. Todos aplaudem. “Rapaz, você viu?” “Como é que ele consegue fazer aquilo?”
E o Globo da Morte? “Rapaz, eram três motos. Teve uma hora que cheguei a fechar o olho com medo das motos bater”.
O furo na meia da trapezista, bem na batata da perna, não conseguia afetar a sua beleza. Na hora do salto mais perigoso a bateria tocava e nosso coração pulava. Aquele salto foi demais!
Vi um circo mambembe uma vez em Amoreiras, na ilha de Itaparica. Sem leão, sem elefante e sem trapezista, sua maior atração era a rumbeira: “Se preparem que agora vocês vão assistir a mais famosa rumbeira das Américas. Vinda diretamente de Cuba, vem aí a espetacular, a sensual, a eletrizante, aquela que faz o espectador pegar fogo. Com vocês, a sensacional A-ni-ta Do-min-guez”. Tan-tam-tam-tarantan-tam… Chovia muito, lona furada, goteira na cabeça e a rumbeira no palco. Podia pingar à vontade…
Menino, eu admirava os ciganos. Tinha uns 10 anos, fui com a turma ver um acampamento de ciganos que estava montado perto da Rua da Imperatriz, na Cidade Baixa, onde morei,. Lá, uma cigana me pediu para comprar um quilo de açúcar no armazém, fui e ganhei uma moeda na volta. Cheguei em casa e contei à minha mãe Cleonice, que logo esbravejou: “Pois é, quando eu peço pra ir no armazém você faz logo cara feia. Agora, foi só a cigana pedir que você foi bonitinho. Sendo assim, pode ir embora morar com a cigana.” Saí escabriado.
Voltando ao circo. O famoso ator Bemvindo Sequeira me contou que conviveu uns dias com os artistas de um circo mambembe no subúrbio de Salvador. Ele disse que numa noite, durante uma apresentação, um dos palhaços tinha um filho, ainda bebê, que estava com febre alta. Ele fazia as graças e piruetas e nos intervalos ia aferir a temperatura da criança, cujo berço estava atrás das cortinas. E voltava ao picadeiro para fazer novas graças. Bemvindo disse que nunca se esqueceria daquela cena.
Depois de uma tarde no circo, a gente volta mais feliz pro berço do mundo.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)