Continuação dos nossos versos sobre personagens nordestinos num formato de peça teatral e estilo cordelista. Autoria de Jeremias Macário

De lá parti para a primeira nação de silvestres Piauí,

E no calor de Teresina, um rolé pelo Mercado Popular,

E na Capivara decifrar as rochas rupestres inscrições,

Dos povos que deixaram em seus traçados as lições,

Delas fui parlar com o estudioso sábio Assis Brasil,

Poeta e escritor de mão cheia do “Gavião Vaqueiro”,

Que me jurou ter saído das curvas do “Delta do Parnaíba”,

Sua terra que lhe escrevinhou “A Aventura no Mar”,

E ainda narrou como se deu a saga do “Cavalo Cobridor”;

Citou Graciliano, seu Rosa, Clarice Lispector, sim senhor!

 

Cruzei travessias de cruzes e fui lá pro meu Ceará,

Torrão Tapuia da tribo “Guarani” de José de Alencar,

Que me mostrou seu tinteiro e a sua pena de pincel,

Que de “Iracema “ fizeram a índia dos lábios de mel,

E depois segui a rota do “Falcão” pela noite Fortaleza;

Me amarrei de primeira com uma cubana havanesa,

E de ressaca da farra fui pra praça da Catedral da Sé,

De onde parti para ouvir o canto de Patativa do Assaré,

Que fez rasgar a sanfona 12 baixos de Luiz Gonzaga,

No som profundo cordelista da sua “Triste Partida”,

Como na voz da cotovia, se perde de vista na correria

O nordestino magro faminto que foi levantar a paulista.

 

Nas asas da Patativa de lá voei alto ao som de Ravel,

Pelas corredeiras e cachoeiras vi paisagens de rapel;

Renovei minha alma aflita pra riscar versos sertanejos,

Com Humberto Teixeira lá na cidade velha de Iguatu,

E saber como ele parceirou e criou o “Rei do Forró”,

Que se eternizou no mundo no voo da “Assa Branca”,

Puxando baião e xaxado teclado no dó, ré, mi, fá, lá sol,

Nas feiras caipiras, onde conquistou gregos e troianos,

Estrangeiros viajantes do túnel e até nômades ciganos.

 

Pelas pegadas do santo guerreiro de nome “Conselheiro”,

Ouvi sua pregação espiritual de criar sua comunidade,

De almas seguidoras sagradas nas profundezas da Bahia,

Onde profetizou em Sobradinho que o sertão ia virar mar,

E armou sua comuna aldeia Canudos onde fincou sua cruz,

Que o exército tirano do Brasil massacrou mais de 100 mil,

Num banho de sangue de cabeças cortadas e nas balas de fuzil,

Mas o monte de fiéis até o último homem com bravura resistiu,

A mais uma barbárie da história contraditória que nos traduz.