AS FOFOQUEIRAS (OS) E O CELULAR
As fofocas nunca se acabam, mesmo com as novas tecnologias de comunicação. As presenciais ainda são melhores e mais proveitosas que as virtuais, as quais têm mais sabor; são mais sentimentais e emocionais.
Falar bem ou mal um do outro vem desde o homem Neandertal. Tem gente que não quer saber da vida alheia, mas tem aqueles ou aquelas fofoqueiras (os) de línguas ferinas que se alimentam dos erros e defeitos dos outros, e nem querem saber das virtudes, só quando morrem. Pura hipocrisia! Fulano era bondoso e um santo; vai fazer muita falta na terra!
Antigamente, nas cidadezinhas do interior havia aquele hábito das pessoas no final da tarde colocarem as cadeiras no passeio para prosear, principalmente as mulheres, mas havia também os compadres que chegavam da roça ou de seus afazeres. Naquele tempo, a grande maioria das mulheres era domésticas. Quando o sol baixava no poente, na hora da Ave Maria, seis horas, todos se benziam e agradeciam o dia com um amém.
Ah, tinha também aquela fofoqueira-mor que ficava na janela ou na porta olhando o movimento calmo dos passantes e sabia da vida de todo mundo, de cabo a rabo, pelo verso e avesso. Era a época onde o tempo parecia ter parado na monotonia das coisas. Nada acontecia de importante, mas a fofoca comia solta de boca em boca. Com as correrias de hoje, as fofocas caíram de produção, mas permanecem vivas.
– Olha, lá vai lá o corno manso do Geraldo. A uma hora dessa a mulher deve estar com outro na cama – dizia a comadre para a outra, e aí a conversa rendia dando linha para a imaginação, o que não falta ao fofoqueiro (a), sempre criativos.
– Aquela “zinha” é uma vagabunda pecadora que fica se atracando com o Ferreirinha do Pão toda vez que o marido vai para o sítio trabalhar.
– E você acha que ele não sabe do sucedido, comadre? Dizem até que ele é meio fresco e “viado”, que até já pegou a mulher no flagrar. Para dar uma de valentão, arrastou um facão e disse apenas que ia cortar os dois na próxima vez.
– Lá vai o “mão de vaca” avarento do Quincas que faz caso até de uma goiaba podre na chácara. Lembra de uma vez que ele teve uma briga feia com o amigo por causa de um tostão? – apontou a outra. Acha que vai levar tudo no caixão quando morrer, e tome falar de quem se atrevia cruzar a rua. Não sobrava nem para crianças (moleques) e idosos.
– Ih, comadre, esqueci de botar mais água no feijão. Já estou sentindo o cheiro de queimado! Vou lá e volto logo. Naquele tempo o fogão era movido a lenha e a luz a motor diesel. Tudo se apagava por volta das dez horas da noite, mas antes tinha o sinal de alerta.
– Ah, comadre, quem passou aqui foi o coronel Juvêncio com seu capanga. Contam até que o cabra é pistoleiro matador pernambucano. Falam por aí que o coronel guarda dinheiro debaixo do colchão e até na cumeeira da casa. É um tipo seu Lunga, ranzinzo. Sabe que ele bate até na mulher?
– Olha o safado do “Caniço”, sonso e dissimulado, metido a moralista! O boato é que ele faz mal para a filha de 13 anos, com sua descaração, e a mulher, coitada, suporta tudo calada! O prefeito e a primeira dama também caiam no pau. O que mais rolavam eram as falcatruas dos dois. – Compraram até carro novo, e ela anda nos trinques!
Não faltavam também os homens fofoqueiros que falavam da seca, da cacimba sem água, das perdas das plantações, das dívidas e do dinheiro escasso, mas o papo também girava em torno de mulheres. Cada um mais machista que o outro.
– E aí, compadre, está sabendo do caso da filha de seu Joaozinho de Calu. Ficou mal falada com um cara aí que veio de São Paulo, todo metido a besta de óculos escuros, e depois foi embora.
– Pois é compadre, e a danada é fogosa das pernas grossas e peitos formosos. Também só anda com aquele vestido decotado, pra lá e pra cá se rebolando, mostrando a bunda para todo mundo. Dizem até que está prenha. É uma vaca!
No pé de ouvido, o outro revelou em segredo que comeu a dona Creuza, a vizinha que não parava de dar mole para ele, com aquela regaterice de sempre, toda serelepe.
– Cuidado compadre que o marido dela caminhoneiro é brabo e contam até que ele já matou um cara quando morava lá para aquelas bandas da Paraíba. Dizem que veio parar aqui corrido da polícia.
É, meus amigos, nos tempos que não existiam telefone com fio e celular móvel, as fofocas, os boatos e as fake news corriam soltos de bocas em bocas, muitas maldosas e outras verdadeiras, mas com exageros. Como no ditado popular: Onde há fumaça, há fogo.
Agora com o celular e as redes sociais, onde quase ninguém bota mais cadeiras nos passeios para papear por causa do progresso que gerou a violência, as fofocas não deixaram de existir. Continuam mais velozes e até mais agressivas, ofensivas e mortais.