Ainda em sua viagem ao Gabão, pelos idos de 2008/09, a terra dos mestres da floresta, os pigmeus, V. S. Naipaul observou que “qualquer que fosse a religião formal professada pela família (cristã, no caso) havia aqueles antigos costumes africanos que tinham de ser honrados e que eram talvez mais prementes do que a fé exterior formal”.

Ele conversou com seu amigo Rossatanga-Rignault que contou a história dos quatros macacos sentados num cemitério com faixas vermelhas nas testas. “ O vermelho é uma cor muito poderosa do Gabão. Estavam perdidos e, por fim, encontraram o caminho de volta para a aldeia.

Por falar em aldeia, Rossatanga diz que, levado pela sua mãe, quis fugir dela. Lembra que, quando chegaram lá, um homem lhes disse que não jogassem lixo, nem qualquer outro elemento poluente, no córrego que passava pela aldeia. Um espírito ou gênio vivia ali e não gostava que o córrego ficasse sujo. Um americano afirmou que aquilo era magia negra e, para provar sua tese, cuspiu no córrego.

Rossatanga narrou para Naipaul que dez minutos depois não havia mais água ali, e o povo gritou e protestou. A aldeia ficou em pé de guerra. “Tivemos que fazer um monte de coisas por meio do curandeiro local para aplacar o gênio do espírito”. Assinala que “gastamos muito dinheiro e, depois de várias cerimônias e rituais, a água voltou depressa”.

Rossatanga se tornara um crente na magia da floresta e, como outros crentes, tinha diversas histórias para provar sua tese. Ele descreve outra passagem sobre uma ponte que tinham que fazer no rio e que a comunidade alertou para que os engenheiros pedissem permissão ao gênio.

Os engenheiros holandeses apenas riram daquilo. “Todos os dias morria um operário na obra. As pessoas ficaram muito assustadas e até mesmo os engenheiros acharam que deviam suspender o trabalho. Disseram que iam trazer um exorcista junto com o curandeiro local para aplacar o gênio. Executaram diversos rituais e, finalmente, tiveram licença para construir a ponte”.

“Acredito que esses espíritos da floresta estão ligados à psique do nosso povo, mesmo das pessoas que vivem na cidade. Essa é uma razão pela qual as igrejas evangélicas americanas tiveram tanto sucesso aqui. Elas também invocam o espírito do Senhor para remover o mal. É parecido com o que fazemos quando vamos ao curandeiro para remover o mal. O princípio é o mesmo. O ponto comum é o espírito”- comentou Rossatanga.

Para ele, não se trata de uma religião, mas de uma crença. Em sua comparação, a crença da floresta, o mundo orgânico, o mundo que conta, é como uma pirâmide. “O primeiro nível são os minerais, o segundo nível são as árvores e a flora, o terceiro são os animais e o quarto são os seres humanos”.

Em falando dos idosos, em seu entendimento, são especiais porque têm o poder e estão próximos aos ancestrais. Somente os ancestrais podem anteceder junto a Deus. “Cada família tem um ancião que consegue falar com o ancestral. Em cada família existe um homem escolhido para a função. O modo de cultuar é através da iniciação, um rito e uma prática fundamental”.