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:: 11/mar/2024 . 22:59

A BURKA SUBSTITUIRÁ O BIQUINI

  • Carlos González – jornalista

“Se os evangélicos entrarem na política, o Brasil irá para o fundo do poço. Haverá um enorme retrocesso neste país em todos os sentidos”. A profecia foi feita há 20 anos por Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. O líder trabalhista gaúcho condenou em várias ocasiões a intolerância religiosa, com perseguições aos cultos africanos, que ele atribuía aos neopentecostais: “A falta de cultura é uma coisa séria”.

Dez anos depois, o reverendo Carlos Eduardo Calvani, da Igreja Anglicana, num artigo publicado na imprensa, escreveu que o fundamentalismo evangélico ameaçava a democracia no Brasil.

Entre outras restrições, como o Carnaval, infligidas à população, limitava a liberdade das mulheres: o biquíni seria proibido e obrigatório o uso da burka (vestimenta que cobre todo o corpo, exceto os olhos).

Ameaçado de morte, Calvani abrandou suas declarações. Afirmou  que estava se referindo a algumas lideranças evangélicas – citou o bispo Silas Malafaia, – que alimentavam um projeto de tomar o poder no país. Esse desejo de conquista continua mais vivo nos dias de hoje, haja vista a participação de pastores no governo Bolsonaro (2018-2022) e as estratégias que vêm sendo postas em prática através de uma junção perigosa entre fundamentalistas religiosos e políticos ultraconservadores.

Com sua popularidade em baixa, a idade avançada, e emitindo declarações polêmicas, feitas de improviso, quando se acha longe de casa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se apercebe – sua confiança, em termos de segurança, está unicamente depositada na Polícia Federal (PF) – que o inimigo está avançando em todas as frentes em direção ao Palácio do Planalto.

O Superior Tribunal Federal (STF) tem sido o guardião da democracia. No outro lado da Praça dos Três Poderes, deputados da base governista, exceção ao PT, PSOL, PCdoB e PV, “navegam” de acordo com o vento. Recentemente, alguns deles assinaram o pedido de impeachment de Lula.

Na semana passada, lulistas fecharam os olhos para a eleição da deputada Carol de Toni (PL-SC), bolsonarista de raiz, sem um voto contra, para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara. Ex-aluna de Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo, Carol tem votado contra projetos que trariam benefícios às mulheres, inclusive a equiparação salarial com os homens. Sua prioridade, como declarou, é anistiar os golpistas do 8 de janeiro, certamente o ex-presidente.

Em outra importante Comissão, a de Educação, o PL (o maior partido no Congresso) colocou o mineiro Nikolas Ferreira, desafeto de Lula, a quem chama de ladrão, mesmo quando ocupa a tribuna. Enquanto o deputado Tiririca (PL-SP) atravessou três mandatos sem abrir a boca, Nikolas não tem certeza se a Terra é redonda, plana ou oval.

Enquanto o governo dorme e Lula viaja, nuvens cinzentas estão se formando sobre Brasília. O alerta partiu do Tribunal de Contas da União (TCU): mais de 5 mil criminosos (homicidas, traficantes, assaltantes, etc), fugitivos da Justiça, adquiriram e registraram armas (o pedido de registro teria que ser acompanhado por atestados de bons antecedentes fornecidos pelos órgãos competentes) durante o governo de Jair Bolsonaro. Há poucos dias, a polícia descobriu num apartamento em Campinas 110 armas, granadas de mão e munição; no porto de Santos, a Aduana apreendeu armamento contrabandeado procedente dos Estados Unidos.

Sem explicação

“Não precisa explicar. Eu só queria entender”. O bordão utilizado pelo macaco Sócrates, um dos mais de 300 personagens criados pelo incomparável Jô Soares, colocaria hoje em dúvida a dificuldade da comunidade evangélica no Brasil de justificar o apoio ao Estado de Israel nas ações genocidas contra os palestinos. O judaísmo não reconhece Jesus Cristo como filho de Deus.

Presidente por mais de 40 anos do Rabinato em Congregação Israelita Paulista, Henry Sobel foi um defensor dos direitos humanos no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985). Perguntado sobre a importância de Cristo para sua religião, respondeu: “Acreditamos que Jesus foi um grande homem, um grande mestre. Porém não o aceitamos como Messias ou Salvador, pois o judaísmo não reconhece um filho de Deus que se destaca e se eleva acima dos outros seres humanos. A convicção judaica é a de que todos os homens são iguais”.

Evangélico por segundos interesses, Bolsonaro vai pedir permissão ao STF – seu passaporte foi apreendido – para visitar Israel, a convite do primeiro-ministro Benjamin (Bi-Bi) Netanyahu. O motivo não foi explicado. Por trás desse inesperado encontro pode haver um plano para derrubar Lula. Contrariando o capitão expulso do exército, a opinião pública mundial, a qual se juntou o presidente Joe Biden, dos EUA, pede um imediato cessar-fogo. No entanto, existe o receio de que o exército israelense bombardeie a cidade de Rafah, onde há mais de um milhão de refugiados palestinos.





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