– Tenho aqui algumas bolsas e mochilas mais baratas com as cores e a bandeira do Brasil, mas ninguém quer. Preferem os materiais escolares com os símbolos, imagens, termos e figuras de heróis norte-americanos – disse um lojista do centro comercial de Vitória da Conquista, não deixando de criticar essa cultura secular de desvalorização pelo nosso produto e às suas personagens folclóricas.

Concordei com sua posição e entrei em algumas papelarias da cidade à procura de materiais escolares em geral (mochilas, cadernos e outros artigos) que trouxessem em suas capas ou nas partes externas figuras que remetessem ao nosso folclore brasileiro, como o saci-pererê, curupira, o boitatá, boto cor de rosa, a iara, cuca, caboclo d´água, a caipora, bem como imagens dos nossos rios e biomas (Pampas, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e a Amazônia).

Para mim não foi nenhuma decepção porque já imaginava que não iria encontrar, mas nos deixa envergonhado de como não valorizamos os que é nosso. Temos mesmo complexo de inferioridade. Não é uma questão de ser um patriota ufanista do tipo integralista e moralista que bate continência para uma bandeira dos Estados Unidos e ainda defende uma intervenção militar.

Nas capas dos cadernos e bolsas só vi figuras de super-heróis dos ianques, como homem aranha, super-homem, the flex, batman, capitão américa, hulk, zorro, mulher maravilha  e tantos outros que nem sei bem os nomes. Você pode também encontrar fotos de pontos turísticos de Paris (França) como Tour Eiffel, Champs Elisée e Museu do Louvre.

Fiquei a imaginar se algum país do mundo usa nossos símbolos em seus objetos escolares. Com certeza que não. A começar pelos EUA, milhões deles nem sabem localizar nosso país geograficamente nas Américas. Muitos chamam o Brasil de Buenos Aires e outros acham até que somos selvagens e exóticos.

É lamentável o desprezo pela nossa cultura ao ver nossas crianças e jovens (também os pais) totalmente absorvidos pela enxurrada de filmes e propagandas que invadem nossos mercados com seus heróis e personagens através dos cinemas e das televisões! Eles passam a cultuar e a idolatrar o que vem de fora e pouco dá valor ao nacional.

Temos um país rico, tanto no seu folclore como em termos de paisagens e parques, como a Chapada Diamantina, na Bahia, Veadeiros, no Centro Oeste, o parque arqueológico, no Piauí, a Serra do Araripe, (Ceará), o pantanal e a floresta amazônica! Não podemos ainda deixar de citar as grutas, cavernas e rios, como o São Francisco, Paraná, Amazonas, Paraguaçu e tantos outros.

Muita parte dessa riqueza está sendo destruída pelos desmatamentos, garimpos e pelo fogo. Para reforçar a consciência ambiental, principalmente nos mais jovens, essas imagens e figuras culturais não poderiam estar estampadas em nossos materiais escolares, ao invés dos estrangeiros?

O Congresso Nacional não poderia criar um projeto de lei, sancionado pelo presidente da República, obrigando os fabricantes desses materiais imprimirem figuras e imagens que representassem o nosso Brasil? Não se trata de censura e de impedimento de se abrir para outras culturas. É uma questão de valorizar nosso patrimônio material e imaterial.

Cada nação mais desenvolvida, como os Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão, Coréia do Sul, Finlândia e os países nórdicos, por exemplo, procuram cuidar bem e preservar suas memórias e histórias. O nosso Brasil vai numa direção contrária quando prestigia mais o que vem do exterior e menospreza o nacional.