O FRIO ME CONSOME
Poema inédito de autoria de Jeremias Macário
O frio me consome,
Nessa solidão que lambe,
O meu verbo poemar,
Entre ondas geladas do mar,
Com a neve a engolir o ar.
O tempo parece não se mover,
Sem nunca esquecer de você.
Imagino o colorido da cigana,
Da dança religiosa-profana,
De temperatura-tortura,
Sem vontade de levantar,
Nem da vida o lidar.
Vejo até leão na savana,
Do outro lado de lá.
Rodando minha cabana.
Tomo uma taça de vinho,
Sinto o cheiro do cio,
Com as ideias no ninho.
Não consigo respirar;
Entender a alma latina,
De tanta gente com fome,
Do poder da mão assassina,
Nesse frio que me consome.
Da boca sai a fumaça,
Desse frio carrasco,
Que meu neurônio se assa,
Preso num frasco.
No alerta do radar
Vem o desejo de amar.
Estou condenado,
A ficar aqui isolado,
Sem saber se sou homem,
Lobo ou lobisomem.
Foi-se o mentiroso sol;
Minha mente escrava cativa,
Liga em Assaré Patativa,
Do agreste nordestino,
Nuvem Orixá, ente divino.
Esse frio me consome;
Preciso me aquecer;
Rogo voltar pra mim,
Com seu cheiro de alecrim.
Esse frio me consome,
Às vezes troco seu nome,
Mas grudou o amor que ardia,
Naquele verão do lindo dia,
Que me ensinou a te amar,
Em qualquer lugar.
Como vira-lata enlatado,
Aqui todo enrolado,
Como pacote fechado,
Sem forças para respirar
Nesse louco frio,
Que me rouba o brio,
Pensando pegar a pista,
Da minha querida Conquista,
Pra Juazeiro, Piauí ou Ceará
Natal ou até o Pará.
Seu moço,
Esse frio me consome,
Me impede de circular,
Mas sempre vou te amar.
O corpo arqueado doído
Fica ainda mais dolorido,
E o espírito pede passagem,
Para outra viagem,
No calor do meu amor.
O frio me consome,
Solitário de mim,
Em meus diários,
De segredos sagrados,
Como relicários.
Minha alma banha em lágrimas,
Nessa garoa fria e calma;
E só o amor me guia,
Nessa acelerada via,
Errante, pensante, delirante,
Nesse frio que me consome.