Como o caso do menino Maicon, que ninguém mais se lembra, as mortes dos ciganos (fato mais recente), a chacina numa periferia de Vitória da Conquista, o assassinato do jornalista João Alberto no final dos anos 90, dentre outros, a morte do jovem Yuri Oliveira, filho do jornalista Tico Oliveira, pelo pelotão Peto da polícia militar, será mais uma ocorrência destinada a ir para o arquivo morto.

Conforme relato de Bianca, esposa da vítima, que deixou dois filhos menores, um de 12 e outro de 10 anos, os policiais invadiram sua residência sem mandado judicial, o que constitui em crime contra a Constituição, e Yuri foi colocado na viatura, possivelmente já morto. Será que eles não sabem que entrar numa residência privada só com um mandado da justiça? Fariam isso se fosse na mansão de um ricaço ou de um político?

Os familiares só foram saber do seu falecimento horas depois, no Hospital de Base. Bianca ainda relatou que implorou para entrar em sua casa no momento da invasão, mas foi impedida pela polícia. Quando conseguiu, a casa estava cheia de sangue, segundo informações da própria.

Como sempre acontecem nessas ocasiões, o comando militar sempre anuncia que vai apurar e investigar a ação irregular de seus subordinados, mas o tempo passa e tudo cai no esquecimento. A mídia também comete o pecado de não acompanhar o resultado da investigação. O sistema já está errado quando é regra geral a polícia investigar polícia, no caso a corregedoria que cheira com corporativismo.

A impunidade neste país é mãe da violência. O pior de tudo isso é que boa parte da sociedade compactua com esses atos, dizendo que a polícia tem mesmo é que matar. Eu mesmo já ouvi muito isso da boca de certas pessoas em Conquista, não imaginando que um dia pode acontecer com elas ou com alguém da sua família.

É mais um fato brutal que nos faz lembrar os tempos da ditadura civil-militar de 1964 e do AI-5 onde os direitos humanos foram simplesmente abolidos. Não importa se a pessoa tem passagem pela polícia, se o procedimento ultrapassa os limites constitucionais e termina em morte que poderia ser evitada através da prisão do perseguido, ainda quando este estava dentro da sua residência. Não dá para entender que uma pessoa sozinha com um revólver vá enfrentar policiais fortemente armados, só se estiver com o intuito de se suicidar.