A última flor do Lácio, descendente do latim, cortou séculos de mudanças e evoluções com seus dialetos e expressões em cada território; sofreu e ainda sofre misturas de outros idiomas, principalmente do inglês no Brasil, mas tem mantido régua e compasso em sua essência, suas raízes e sua árvore genealógica, imortal como o Baobá africano.

Foi comemorado nesta quinta-feira (05/05) o Dia Mundial da Língua Portuguesa, infelizmente sem muitos comentários públicos, a não ser fechados em quatro paredes de algumas instituições, academias e agremiações. Será que ainda é o complexo de vira-latas de que tanto falou o dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues?

Com cerca de 300 milhões de habitantes, dentre os que falam a língua portuguesa estão Portugal, o colonizador, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial, Cabo Verde, Timor Leste e Macau, na Ásia. Devido a opressão do conquistador, os africanos conseguiram suas independências somente nas décadas de 60 e 70.

Em 1996 foi criada a Comunidade de Países da Língua Portuguesa, para tratar, entre outros assuntos políticos e econômicos, sobre a uniformização da língua, quando foi instituída a Nova Ortografia, que não encontrou o respaldo de todos. Uma marca desses países são as ditaduras violentas que atrasaram seus desenvolvimentos e oprimiram milhões.

A quase totalidade dessas nações ainda está na classificação de subdesenvolvidos ou emergentes, sendo diariamente triturados pela globalização do sistema capitalistas perverso. Neles habitam a maior parte da pobreza mundial, excluídos de seus direitos universais básicos, como alimentação, justiça, liberdade, educação, moradia, saneamento e saúde para todos.

No Brasil de mais de 200 milhões de almas, vive-se hoje uma profunda crise de retrocesso em todos os setores, especialmente no âmbito das ideias, voltadas para a época da Idade Média, com suas discriminações e preconceitos. Na verdade, nosso país vem sofrendo um processo de destruição interna, inclusive da sua língua.

Sobre o emprego dessa nossa língua, sua gramática tem sido maltratada diante da baixa qualificação educacional de nossas escolas, sem contar a intervenção das redes sociais da internet com o uso codificado de suas palavras. Outro fator desastroso tem sido a invasão de idiomas estrangeiros em nossa língua, especialmente o inglês, numa mistura danosa de termos, como uma faca afiada que sangra aos poucos suas normas e regras.

No comércio em geral e nos shoppings, as lojas exibem placas, faixas, cartazes e letreiros em inglês que nos faz parecer que estamos nos Estados Unidos ou na Inglaterra. A maioria inculta nada entende, mas adquire camisetas e calças com frases em inglês, e saem por aí felizes da vida exibindo seus troféus.

Na mídia, nas propagandas, nas páginas de economia, em matérias jornalísticas e nos anúncios de reuniões, seminários e congressos, o que mais se ler são palavras, como hatera, cyberbilling, business, happy hour, webnario, workshop, commodities, website, compliance, Food Park Salvador, trolls, drive trhow e tantas outras que infestam nosso português.

Na data do Dia Mundial da Língua Portuguesa só temos mesmo que prestar uma eterna homenagem aos nossos imortais escritores e poetas, verdadeiros artistas das palavras, como Luiz de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Saramago e tantos outros portugueses.

Nos resta ainda homenagear os africanos Mia Couto, Pepetela, Amílcar Cabral, Vanhenga Xitu e os nossos brasileiros José de Alencar, Machado de Assis, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Euclides da Cunha, Gilberto Freire, Afrânio Peixoto, João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Olavo Bilac, Guilherme de Almeida, Castro Alves, Álvaro de Azevedo, Lima Barreto, Luiz Gama e outros milhares que fizeram do nosso português a morada do nosso saber.