O CATINGUEIRO
Um soneto de Jeremias Macário, do seu livro ANDANÇAS
O catingueiro é tempestade do tempo e do vento;
Calmaria da caatinga de cor queimada do sol poente;
No sangue traz a seiva do mandacaru em pedregulhos;
Da seca, o sofrimento que o faz mais forte-resistente.
O catingueiro é cheiro da terra molhada e rachada;
Verde ou cinzenta, prosa cismada e desconfiada;
Poeira do sol a pino no arrasto do cabo da enxada;
Capanga cheia de sinais das nuvens das trovoadas.
O catingueiro carrega no corpo mãos calosas e espinhos;
Na alma, a sagrada palavra da prometida profecia,
De um Deus penitente, sem ler a escrita da sabedoria.
Pergaminho do sertão, cortando vereda e caminho;
Irmão da lua, esperança noturna, fé a lavrar todo dia;
Bicho do mato, tabaréu emboscado pela demagogia.