Por volta de 1682, final do século XVII, o bandeirante paulista Manuel de Borba Gato era um fugitivo da lei por acusação de ter matado o fidalgo português Rodrigo de Castelo, administrador das Minas. Com seu bando, se embrenhou na região do Rio das Velhas onde estava localizada a Serra de Sabarabuçu, atual município de Sabará.

Naquela época, como descreve o jornalista e escritor Laurentino Gomes, a Coroa Portuguesa estava falida e ávida por encontrar ouro em terras brasis, e foi isso que Borba conseguiu naquele ermo de mundo. Pelo seu feito, ele obteve o perdão real pelo crime do qual era acusado.

Em troca da localização das minas, o rei D. Pedro II, não só anistiou ou indultou o bandeirante, como lhe encheu de honrarias e terras nas quais poderia explorar os depósitos. Borba Gato deixou de ser considerado um criminoso para ser promovido ao posto de guarda-mor das minas de Caetés, tornando-se fidalgo do rei, conforme especificava a carta patente.

Borba Gato é hoje homenageado com uma estátua de dez metros de altura e vinte toneladas de peso no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Esse é só um dos exemplos para ilustrar como historicamente bandidos e malfeitores sempre são recompensados no Brasil através da “lei da impunidade”. É uma herança colonial impregnada em nossa cultura.

O caso do deputado Daniel, Silveira que praticou atentados contra a democracia e ameaçou ministros do Supremo Tribunal Federal, é parecido com o do bandeirante Borba Gato. Julgado pela corte, o rei lhe concedeu a graça do indulto, e o Congresso Nacional completou com cargos em comissões.

No Palácio, o deputado foi recebido pelo rei que lhe deu uma moldura do indulto, faltando apenas mandar construir uma estátua em sua homenagem, mas isso ainda pode ser possível. Infelizmente, isso aqui virou uma republiqueta de bananas dos tempos coloniais.

O parlamentar não descobriu nenhuma mina de ouro que tirasse o país dessa falência, ou tenha realizado uma grande obra, mas foi o porta voz do rei que ataca a democracia, a liberdade de expressão, destrói o meio ambiente, pede AI-5 e intervenção militar, ou seja, um regime de ditadura para o país, introduzindo a tortura para aqueles que se posicionarem contra as ideias retrógradas e fascistas do rei.

Por falar em Borba Gato com seu monumento em São Paulo, temos no Brasil de hoje inúmeras estátuas, prédios, pontes, viadutos, ruas, avenidas e praças com nomes de pessoas que cometeram crimes de torturas durante as ditaduras brasileiras; mandaram matar adversários; fizeram malvadezas com o povo e até foram exímios corruptos. A maioria passa por esses homenageados e nem sabe quem foram eles, isto porque não tem memória e história.