São tantas coisas acontecendo, gente matando gente; tanta raiva e contradição, de uns querendo impor suas ideias aos outros, sem diálogo e compaixão, na base da truculência, que às vezes fico a conversar com meus solitários botões, que aqui estou sobrando nessa terra onde plantando tudo dá. Estão plantando mais veneno que bondade e compreensão!

Mesmo assim, continuo seguindo em frente, assuntando barbaridades e agressões; lutando com minhas últimas forças para manter firme e incólume minha formação que recebi desde minhas raízes pequeninas, para não arredar pé dos meus princípios e não entrar no buraco dos ratos, para não transar com os ratos, como já disse nosso poeta cancioneiro Raul Seixas.

Foi dele também quando denunciou que tem gente que reza a Deus, para agradar o diabo. Fala-se de pátria amada, para maltratar nossos filhos; contaminar nossos rios com lixo e esgotos; derrubar florestas e tocar fogo na Amazônia. Fala-se em desejar bem ao Brasil, mas só querem embriagar-se no poder, não importando se o mal vai nos corroer. Estou matutando…

Penso que estou sobrando nessa terra da cega polarização política, que nenhum bem vai nos trazer. Ficar no mesmo lugar com o satanás, ou voltar ao passado traidor que nos prometeu fé e esperança e nos entregou separação, roubo, raiva e intolerância.

Nem um, nem o outro. Nem o presente maléfico, nem o passado de escândalos, misturado com cabras da pior espécie, do “nós contra eles”. Prefiro vislumbrar um futuro, mesmo que seja um risco. Se você não tem a coragem de enfrentar o desafio, nunca vai saber se dá certo ou errado. Um passo para frente, ou um passo para trás?

Não nasci para ser escravo de ninguém, mas, mas esse sistema bruto está sempre nos empurrando para essa escravidão. De tanto violar nossos direitos, de tanto nos injustiçar, de tantas mentiras propaladas, de tanto nos humilhar, de tantas asneiras, de tanto radicalismo fanático, de tanta negação da ciência, de tanta brutalidade e estupidez de uns contra os outros, sinto que estou mesmo sobrando nessa terra.

Há mais de dez anos calculei que essa terra iria ser extremada, que em seu chão iria germinar muito fundamentalismo porque estavam plantando árvores daninhas. Elas se espalharam por todos os cantos, como joios no trigo, cujo cultivo ficou sufocado. Os radicais, tanto de um lado como do outro, engrossaram suas fileiras e dizem que só pensam em fertilizar a terra. Será que não é mesmo torná-la mais árida, seca, agreste e infértil?

Pois é, meus amigos camaradas, que me perdoem o atrevimento, longe de ser o dono da verdade absoluta, mas sinto-me como um ente sobrando nessa terra. Posso até ser uma sobra, ou uma voz que clama no deserto, sem ser profeta da maldição. Apenas extravaso meus sentimentos, sem nenhuma presunção de ser guia ou guru de ninguém.

No quadro atual, não importa muito ser de direita ou de esquerda. O que mais conta é ter juízo menino, como falava nossos pais. Os de hoje estão mais preocupados no ter que no ser. Estão mais para competir de qualquer maneira, mesmo passando rasteiras, para sobreviver nesse mundo cão e ganhar algum dinheiro para alimentar os seus. Outros são ainda mais vampiros ganancioso, e até roubam, sem nenhum pejo.

Acho que nessa terra sobra cegueira e soberba e falta mais humildade e raciocínio lógico para consertar os erros; fazer uma sincera mea culpa e não repetir a história. Passo aqui nessa terra, mais um dia cheio de informações truncadas, catando as sobras que os caras do alto de suas sacadas jogam para os que estão no asfalto.

Diante de toda essa parafernália, o tempo parece correr mais rápido, de forma mais desumana, mas ele continua no mesmo compasso. Nós que aceleramos demais os passos, e nem olhamos mais para trás, nem paramos para construir o futuro. Muitos deixaram de dar suas opiniões com medo de levar umas bordoadas, e alega que não tem mais tempo para isso. Será que não estou sobrando?…