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:: 24/mar/2022 . 23:10

NEM NA FEIRA

É meu amigo, a coisa anda feia até nas feiras livres onde se encontrava produtos frescos com preços mais baixos. Atualmente, com esta carestia, nem na feira o pobre consegue comprar a mesma quantidade de antes, isto com relação há poucos meses. Com a grana escassa, a maioria das pessoas não vai mais com a mesma frequência à feira, um lugar popular onde desde a antiguidade agricultores e consumidores se reuniam para fazer suas trocas e rever os amigos. Quando vou à Ceasa ou à Feirinha do Bairro Brasil, sempre lembro dos meus tempos de menino, em Piritiba, eu ajudando a vender farinha com meu pai. Mas, o assunto aqui é o galope da inflação que está deixando o pobre ainda mais pobre. Há pouco tempo se comprava um litro de andu por cinco reais e hoje mais que dobrou de preço. Além dos combustíveis e dos preços das commodities no mercado internacional, existe ainda o fator psicológico que influi nos custos dos alimentos. Quando se passa do controle, a inflação se comporta como uma onda em cadeia na elevação dos preços, e certos produtos sofrem automaticamente reajustes sem relação alguma com as causas acima citadas. Mesmo sem motivo de ser, o vendedor aponta a alta da gasolina como vilã, e não adianta discutir. Interessante que os preços subiram, enquanto caiu a qualidade das frutas e hortaliças, por exemplo, inclusive nas feiras, que estão mais vazias nos últimos tempos.

RADICAIS DO GELO

Mais um poeminha inédito de autoria de Jeremias Macário

Das rampas voam homens-pássaros;

Suave pouso das pranchas no gelo;

Nos esquis, alturas de aros;

Descidas radicais dos picos:

Montanhas de adrenalina riscos,

Rasgando flocos,

Nos blocos de gelos:

Grass-grass, chaps-chaps!

São Jogos poéticos de Inverno,

De imagens do eterno:

Sê-los atletas radicais do gelo.

 

Radicais do gelo!

Peles macias, plasticidade,

Desafios da gravidade;

Deuses da mocidade:

Sê-los radicais do gelo.

 

Mobilete dos trenós,

Cento e trinta de velocidade,

Seguindo os sinais

Nas curvas de nós:

Lá vão deslizando sem medo,

Os radicais do gelo.

 

Radicais do gelo!

Nos pares patins-patinação:

Arremessos no ar;

Espiral da morte;

Giros espelhados,

No bailado vento esvoaçar;

Ou no individual surreal,

Ao som galopado de Ravel;

Leveza da poesia feminina;

Idade jovial menina:

Sensualidade, sabor de mel,

No sorriso de cada nação:

Sê-los radicais do gelo.

LENDA, ENTREVISTA RAIVOSA E O POLITICAMENTE CORRETO E INCORRETO

Era um final de tarde onde o pôr-do-sol já anunciava o anoitecer. Um cidadão chega aflito e ofegante num posto de saúde, com sintomas de Covid-19, e é atendido por um funcionário. O expediente já era finado.

Mesmo assim, ele o recebe; olha o seu cartão e, ao ver seu nome, meio que espantado diz:

– O senhor é uma lenda, não pode morrer! Começa a clicar várias vezes em seu celular e agenda uma consulta urgente para o paciente que lhe responde:

– Moço, lenda não existe! Não passa de uma imaginação das pessoas! Como posso ser uma lenda diante de tantas contadas pela história? Sou um simples mortal.

– É sim, para mim, que o acompanho há muitos anos, pelo seu caráter, seu comportamento ético, princípios, seriedade, honestidade e reputação ilibada. Também pelo que tem feito, com seu espírito de persistência.

– Não sou nada disso, mas agradeço seu reconhecimento. Moço, como posso marcar um teste para saber se estou contaminado? Venho tentando há dias pela Central de Marcações, mas ninguém atende.

– Pronto! O senhor já está agendado com o médico para logo mais amanhã cedo. Procure descansar, porque o senhor é mesmo uma lenda, e não pode ir assim levado por esse vírus.

Ele foi para casa imaginando: Quem sou eu para ser uma lenda, apenas um contribuinte entre tantos milhões, que dedicou toda sua vida batalhando e pagando seus impostos e, quando precisa do Estado, é considerado como mais um número esquecido lá no canto.

Mesmo assim, ele se sentiu recompensado e envaidecido, porque pelo menos uma pessoa reconheceu seu valor.  Mas, não sou nenhuma lenda – responde para si mesmo. Será que lenda tem a ver com travessia de vida?

De um polo ao outro, quero aqui aproveitar o momento para repudiar o tratamento rústico, fanático e radical praticado por dois radialistas conquistenses contra duas professoras sindicalistas, numa entrevista de bate-boca, quando as representantes da entidade tentavam explicar o aumento do piso do governo federal aos profissionais da educação.

As mulheres foram interrompidas abruptamente. Confesso que, em toda minha vida jornalística de 50 anos, fiquei horrorizado com o que vi e ouvi. Foi uma aula de como fazer antijornalismo e antiradialismo, sem nenhuma compostura e ética profissional. Uma entrevista raivosa, mais para conversas atravessadas de botequins. Os entrevistadores pareciam dois ferozes pits bull em ataque descontrolado, sem o devido traquejo jornalístico!

Simplesmente, foi uma aula de como não se deve fazer uma entrevista. Foi lamentável, para não dizer, uma vergonha para imagem do nosso jornalismo e da nossa cidade de Vitória da Conquista! Ao invés da mídia ser agredida, como geralmente acontece, foi a mídia quem agrediu as pessoas que ali estavam sendo entrevistadas. Nunca vi tanta descompostura no ar!

Mas, nessa mistura que hoje resolvi fazer, falo agora do politicamente correto e do politicamente incorreto. Os dicionaristas deveriam eliminar certas palavras de seus compêndios de significados e traduções.

Aqueles radialistas até podem vestir o manto do politicamente correto, recomendado pelo falso sistema, mas sempre vão estar com suas unhas afiadas para cravar no pescoço de alguém que esteja do outro lado do seu pensamento político. Tudo requer formação e profissionalismo no que está se fazendo.

Detesto esse politicamente correto porque remete à censura. Um amigo poeta-letrista me disse que não coloca o termo “zumbi” em suas músicas porque é pejorativo e racista. Afirmei para ele que uso a palavra “zumbi” e outras quando for necessário, para dar ênfase à narrativa, não com o fito de destilar ódio e intolerância racial.

Ora, voltando ao caso da lenda, ela pode ser empregada como metáfora para reforçar o texto, sem essa de preconceito e racismo. Tudo depende como empregar. O cara pode não usar a palavra “zumbi” por temer ser julgado e jogado na fogueira da inquisição. No entanto, isso não quer dizer que ele não seja racista. Não se pode falar em lobisomem?

Certa vez fui repreendido numa conversa porque falei a expressão denegrir, no sentido de outrem tentar caluniar ou manchar a reputação de outro. Entendo esse tipo de coisa como patrulhamento ideológico. Então, tenho que me policiar o tempo todo, para não ser visto como preconceituoso?

Entendo como preconceituoso o indivíduo que se vigia o tempo todo, ou se esconde numa couraça do politicamente correto, para agradar e enganar. O politicamente correto pode ser um farsante racista de primeira, ou um lobo na pele de cordeiro. O racismo existe, como o complexo de inferioridade, onde em tudo ver preconceito e racismo.

SOBRANDO NESSA TERRA…

São tantas coisas acontecendo, gente matando gente; tanta raiva e contradição, de uns querendo impor suas ideias aos outros, sem diálogo e compaixão, na base da truculência, que às vezes fico a conversar com meus solitários botões, que aqui estou sobrando nessa terra onde plantando tudo dá. Estão plantando mais veneno que bondade e compreensão!

Mesmo assim, continuo seguindo em frente, assuntando barbaridades e agressões; lutando com minhas últimas forças para manter firme e incólume minha formação que recebi desde minhas raízes pequeninas, para não arredar pé dos meus princípios e não entrar no buraco dos ratos, para não transar com os ratos, como já disse nosso poeta cancioneiro Raul Seixas.

Foi dele também quando denunciou que tem gente que reza a Deus, para agradar o diabo. Fala-se de pátria amada, para maltratar nossos filhos; contaminar nossos rios com lixo e esgotos; derrubar florestas e tocar fogo na Amazônia. Fala-se em desejar bem ao Brasil, mas só querem embriagar-se no poder, não importando se o mal vai nos corroer. Estou matutando…

Penso que estou sobrando nessa terra da cega polarização política, que nenhum bem vai nos trazer. Ficar no mesmo lugar com o satanás, ou voltar ao passado traidor que nos prometeu fé e esperança e nos entregou separação, roubo, raiva e intolerância.

Nem um, nem o outro. Nem o presente maléfico, nem o passado de escândalos, misturado com cabras da pior espécie, do “nós contra eles”. Prefiro vislumbrar um futuro, mesmo que seja um risco. Se você não tem a coragem de enfrentar o desafio, nunca vai saber se dá certo ou errado. Um passo para frente, ou um passo para trás?

Não nasci para ser escravo de ninguém, mas, mas esse sistema bruto está sempre nos empurrando para essa escravidão. De tanto violar nossos direitos, de tanto nos injustiçar, de tantas mentiras propaladas, de tanto nos humilhar, de tantas asneiras, de tanto radicalismo fanático, de tanta negação da ciência, de tanta brutalidade e estupidez de uns contra os outros, sinto que estou mesmo sobrando nessa terra.

Há mais de dez anos calculei que essa terra iria ser extremada, que em seu chão iria germinar muito fundamentalismo porque estavam plantando árvores daninhas. Elas se espalharam por todos os cantos, como joios no trigo, cujo cultivo ficou sufocado. Os radicais, tanto de um lado como do outro, engrossaram suas fileiras e dizem que só pensam em fertilizar a terra. Será que não é mesmo torná-la mais árida, seca, agreste e infértil?

Pois é, meus amigos camaradas, que me perdoem o atrevimento, longe de ser o dono da verdade absoluta, mas sinto-me como um ente sobrando nessa terra. Posso até ser uma sobra, ou uma voz que clama no deserto, sem ser profeta da maldição. Apenas extravaso meus sentimentos, sem nenhuma presunção de ser guia ou guru de ninguém.

No quadro atual, não importa muito ser de direita ou de esquerda. O que mais conta é ter juízo menino, como falava nossos pais. Os de hoje estão mais preocupados no ter que no ser. Estão mais para competir de qualquer maneira, mesmo passando rasteiras, para sobreviver nesse mundo cão e ganhar algum dinheiro para alimentar os seus. Outros são ainda mais vampiros ganancioso, e até roubam, sem nenhum pejo.

Acho que nessa terra sobra cegueira e soberba e falta mais humildade e raciocínio lógico para consertar os erros; fazer uma sincera mea culpa e não repetir a história. Passo aqui nessa terra, mais um dia cheio de informações truncadas, catando as sobras que os caras do alto de suas sacadas jogam para os que estão no asfalto.

Diante de toda essa parafernália, o tempo parece correr mais rápido, de forma mais desumana, mas ele continua no mesmo compasso. Nós que aceleramos demais os passos, e nem olhamos mais para trás, nem paramos para construir o futuro. Muitos deixaram de dar suas opiniões com medo de levar umas bordoadas, e alega que não tem mais tempo para isso. Será que não estou sobrando?…





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