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:: 11/mar/2022 . 22:12

CURIOSIDADES DO TRÁFICO NEGREIRO (III)

O livro de Laurentino Gomes, “ESCRAVIDÃO” mostra muitas curiosidades do tráfico negreiro, muitas das quais de horror, mas que precisam ser conhecidas por historiadores, estudantes e todos brasileiros sobre o que aconteceu nos quase 350 anos de escravidão no Brasil.

Em prosseguimento aos relatos do autor, vamos destacar alguns deles:

O padrão das viagens foi mudado ao longo dos tempos, conforme demonstra o autor em sua obra. “No caso de Portugal, de início, todos os navios saíam de Lisboa ou de Algarve, recolhiam escravos na África e retornavam aos portos portugueses, onde os cativos eram redistribuídos para diferentes destinos, na América, nas Ilhas Atlânticas (Madeira, Cabo Verde) ou mesmo na Europa”.

Aos poucos, o negócio foi se transferindo para o Brasil. A partir do século XVIII, nove em cada dez expedições negreiras eram organizadas para o Brasil. Uma série histórica de viagens de navios atracados em Luanda (Angola), entre 1736 e 1770, mostra que 41% saiam do Rio de Janeiro, 22% de Pernambuco e a mesma percentagem da Bahia. Apenas 15% de Portugal.

Nessa época, os brasileiros tinham domínio quase absoluto sobre o tráfico de escravos. O Rio de Janeiro, principal centro organizador, respondeu sozinho pelo transporte de 1,5 milhão de escravos, seguido de Salvador com 1,4 milhão, e Liverpool (Inglaterra) com 1,3 milhão.

“O domínio brasileiro era tão acentuado que o arcebispo da Bahia, criado em 1776, tinha jurisdição sobre as dioceses de Olinda, Rio de Janeiro e bispados do Congo, Angola e São Tomé, englobando a Costa da Mina (Gana).

Haviam os roubos de cargas, os chamados piratas. O capitão John Hawkins, sócio da rainha Elizabeth I, roubou uma carga de seis embarcações portuguesas que estavam prontas para zarpar rumo a Cabo Verde. Na década de 1820, os jornais do Rio de Janeiro registraram dezesseis ataques de piratas a navios negreiros, a maior parte deles praticados por corsários norte-americanos”.

Em 1660, foi criada em Londres, a Company of Royal Adventures of England Trading with Africa, renomeada depois para Royal African Company ( RAC), para ter o monopólio do tráfico negreiro por mil anos. Na lista de investidores incluía quatro membros da família real e da nobreza britânica, entre eles o próprio rei Charles II.

No capítulo sobre “os lucros do tráfico”, Laurentino fala de como eram feitos os embarques e desembarques dos cativos. Diz que, enquanto os capturados aguardavam os embarques, os africanos estavam sujeitos a ser contaminados por uma infinidade de doenças endêmicas na costa da África, como malária, febre amarela e a temida varíola, sem contar a disenteria e até o escorbuto. Por isso, o objetivo do capitão era fazer a carga e partir rapidamente.

Conta o autor do livro que entre 1827 e 1830, navios brasileiros que faziam o tráfico a partir do Rio de Janeiro, demoravam por volta de cinco meses na costa da África antes de completar a carga. No século XVII, a média para as embarcações da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais era de cem dias. Quando tinha muita espera, capitães compravam e vendiam escravos entre si.

Ao longo da costa africana, os europeus construíram fortificações, castelos e feitorias onde os escravos eram estocados nos porões à espera da chegada dos navios. Muitos desses fortes e castelos existem até hoje e se tornaram atrações turísticas em países como Senegal, Gana, Benin, Nigéria e Angola. Só em Gana são mais de sessenta dessas construções.

Ainda sobre as empresas do tráfico, Laurentino cita, além da famosa Royal African Company (RAC), as francesas Companhia do Senegal e da Guiné; a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais e várias iniciativas da Coroa Portuguesa, como a Companhia Geral de Comércio do Brasil, fundada em 1649, e a Companhia de Comércio do Maranhão, de 1682.

Sobre a RAC britânica, a mando da empresa, o corsário Robert Holmes atacou as Ilhas de Cabo Verde e ocupou o Cape Coast Castle, no litoral de Gana, que se encontrava nas mãos dos holandeses. Depois cruzou o Atlântico e tomou a Ilha de Nova Amsterdã, situada na foz do rio Hudson, renomeada como Nova York, hoje a meca do comércio.

No final do século XVII, três quartos do faturamento da RAC vinham do fornecimento de cativos para as colônias inglesas no Caribe e na América do Norte. Os britânicos se consolidaram como os maiores traficantes do século seguinte, ou seja, XVIII.

 

 





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