Há dois anos escrevi um texto poético perguntando a esse bicho de olhos rasgados e coroa de espinhos “Quem é Este Coronavid?, que se transformou num vídeo, e dele, muitos outros geraram um curta-metragem. inscrito e classificado entre os ganhadores num edital da Prefeitura de Vitória da Conquista através da Lei Aldir Blanc.

Esse vírus se transformou em muitas outras variantes do alfabeto grego, e hoje estamos convivendo com a terceira onda da ômicrom. Virou o planeta de cabeça para baixo e já ceifou a vida de mais de cinco milhões de habitantes, dos quais mais de 635 mil só no Brasil. Dele não podemos dimensionar a quantidade de lágrimas que já provocou em milhões que ficaram viúvas, viúvos e órfãos de pais e mães.

A ciência deu o nome de Covid-19, que não só matou e deixou sequelas com sua agressividade terrível, mas também criou um emaranhado de ideias, umas mais lúcidas e outras cheias de intrigas negacionistas, fake news, sofismos e até fez separar famílias e amigos quando se inventou vacinas para neutralizar o maldito. Tirou crianças e jovens das escolas, atrasando seus tempos de conhecimento e saber. Oh quanto estrago!

Varreu mentes e invadiu todos países da terra e, com sua impiedade cruel, eliminou mais pobres que ricos. Deixou um rastro de desigualdades sociais, com muita pobreza e miséria, principalmente nos países mais vulneráveis. Inoculou o estresse, o desespero, o fanatismo religioso e conflitos existenciais. As pessoas passaram a usar máscaras nas ruas, ônibus, trens e metrôs como se fossem robôs em filmes de ficção.

Há dois anos de terror, quando você foi chamado até de “gripezinha” por uma tal capitão-presidente, hoje pergunto quando tudo isso vai se acabar? Até quando vamos continuar nessa procissão de sofrimentos, lamentos, desagregação e confusão? Até quando vai nos jogar uns contra os outros? Será castigo contra nossos pecados por maltratar tanto o meio ambiente?

Por falar em natureza, sua voraz sede de morte, em forma de pandemia, produziu mais um agravante de lixo proveniente dos resíduos de objetos usados para combater seu avanço, como agulhas, seringas, caixas coletoras, aparelhos, plásticos, embalagens de medicamentos e outros itens. Qual destino de tudo isso?

A Organização Mundial da Saúde ressalta a ameaça ao meio ambiente, devido ao perigo da proximidade das pessoas aos depósitos de lixões. Calcula-se que já foram gerados mais de 2,6 milhões de toneladas de material plástico e 731 mil litros de compostos químicos nesses dois anos, com tendência de aumento.

De acordo com dados das Nações Unidas, já se foram 140 milhões de kits de testes de detecção, além de mais de oito bilhões de doses de vacinas. Lá se foram 1,5 milhão de equipamentos de proteção, usados pelos profissionais da saúde, algo superior a 87 mil toneladas. Tudo isso está sendo despejado nas periferias das cidades e proximidades de mananciais hídricos, podendo causar mais doenças.

Mais uma vez, dentro da minha mais profunda angústia, indago aos deuses quando tudo isso vai se acabar, se nem a ciência e os mais sábios especialistas infectologistas sabem responder? A literatura continua a narrar sua saga; tenta interpretar seu caminho e origens; sua evolução repentina; e os poetas cancioneiros a entoar na viola sobre seu enigmático poder de desafiar nossa vã filosofia.

Quando tudo isso vai se acabar? Até quando vai nos atacar e nos deixar enjoados, cabeça e intestino congestionados, cérebro confuso, indisposto, moleza no corpo dolorido, pulmões ofegantes, sem o ar que respiramos, sem paladar e olfato, sem falar na intubação de milhões até a morte? Ele nunca se vai totalmente porque sempre nos deixa sequela para ser tratada.

Quando tudo isso vai se acabar? A pergunta pode até ser título de uma canção de lamento em forma de blues, um rock, um galope em busca do final da jornada, um samba, um fulk de Boby Dylan, um rep, um sertanejo triste ou até mesmo um arrocha sofrência. Não importa o ritmo ou a melodia. O que mais importa é que ainda temos a arte que é vida e nos faz mais vivos, com mais força para vencer essa peste, não com a negação dela.