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:: 28/jan/2021 . 23:47

LÁGRIMAS DE FOGO

Poema inédito de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Você vivia nas cavernas,

Quase nem erguiam as pernas,

E dos seus olhos frios vazios,

Escorriam lágrimas de fogo.

 

A neve é como poeira branca,

No gelo da estérea Sibéria;

A estepe solavanca como o mar;

O medo corta como lâminas no ar,

E da alma brotam lágrimas de fogo.

 

Os carrascos têm chifres e cascos;

No açoite gemido da bigorna da noite,

O machado sempre sobrevive ao dono,

Testemunho do sanguinário tirano,

Que se alimenta de lágrimas de fogo.

 

As pessoas perderam sua história,

No buraco escuro da memória,

Somos nós, e vocês separados,

Cada qual a puxar seus arados,

Vertendo suas lágrimas de fogo.

 

Temos uma consciência morta,

Toda vida tem a ruptura da aorta,

Nas labaredas das lágrimas de fogo.

 

Não recebo mais carta de Esparta,

Nem dos filósofos da eterna Atenas,

Das belas e das sensuais morenas,

Pra enxugar minhas lágrimas de fogo.

 

A chuva nos traz lembranças,

E com o tempo e o balanço do vento,

A dor se transforma em mudanças,

Pra soprar minhas lágrimas de fogo.

 

Tem porta que só pode ser aberta,

Pelo amor, e sem ele o sangue coagula,

E secam minhas lágrimas de fogo.

 

Acabou a revolução do amor;

Hoje é como beber um copo d´água,

Sem suspiros, sem flores e sem cor,

Nas entranhas das lágrimas de fogo.

 

Cegueira de uma loucura noturna,

Das nuvens que se derretem em suor,

Desse céu que não tem mais ternura,

E dele só caem lágrimas de fogo.

 

Com a matéria que se torna pó.

Galopo nessa desatina sangria,

No meu cavalo de nome Ventania,

Para as montanhas dos lobos uivantes,

Na terra sagrada dos Xavantes,

Para matar as saudades do amor,

E arrancar do meu peito o rancor,

Que desce dessas lágrimas de fogo.

.

Viajo no infinito do horizonte,

Na procura da sonhada fonte,

Levando meu último canto,

Minguado encanto de esperança,

Que o índio acendeu com sua dança,

Rezando minhas lágrimas de fogo.

 

O mestre solitário da cabana,

Da floresta que virou savana,

Extirpou do peito seu coração;

Entoou a canção da crença,

Do espírito tirou toda doença,

Para iluminar o meu caminho,

Me transformar num passarinho,

E me libertar das lágrimas de fogo.

 





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