:: 8/jan/2019 . 23:13
ESQUINA DASDOR
Com seu casaco surrado,
Angústia no peito varado,
Viver ou morrer como for,
Pelo açoite cruel do tempo,
O filho do vento do interior,
Lá das bandas dos cafundós,
Foi pra cidade dos mocós.
Ainda com a poeira nos pés,
Um velho com prato na mão
Olhou bem pra ele e apontou,
Vê aquele verde casarão,
Ali, naquela esquina, moço!
Foi onde nasci e me criei;
Vivi e curti como um rei,
Até perder tudo no jogo
Com mulheres dos cabarés.
Como num caso de sina,
O senhor riscado pela idade,
Contou-me suas histórias
De dias festivos e glórias
Daquela libertina esquina,
Que tinha até assombração,
Como a do diabo Diogo
Que toda a meia noite,
Galopava num cavalo de fogo,
Com um tridente reluzente,
Como o sol quente do sertão.
Nessa penada travessia,
Como fugido clandestino,
Com sua velha capanga vazia,
Sabedoria de pouco ensino,
Ele só via naquela esquina,
Da lanchonete “Formosura”
A linda moça de nome Dasdor
Com seu jeito doce de menina,
Sorriso inocente de uma flor,
Torturada pela dita ditadura.
Naquela histórica esquina,
Onde muita gente conspirou,
Fez-se até golpe e revolução,
Cruzaram escravos e senhor,
Pecador e santo barro de andor,
Viveu um grupo de ideário
Que o tirano cruel ditador
Fez o seu rito sumário
E os rebeldes enforcou,
Sempre nasce outra Dasdor,
E outro sonho libertador.
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