É muita cara de pau ministro e parlamentar pedirem sacrifícios ao povo para as reformas previdenciária e trabalhista! Em meio aos protestos justos e legítimos desta sexta-feira não vi nenhuma alusão contra os privilégios de ganhos e benefícios de um Congresso Nacional retrógrado que legisla de costas para o povo e de frente para os interesses particulares dos próprios deputados e senadores.

A questão não é somente o “bota fora Temer” que comprou a Câmara e o Senado com jantares, almoços, agrados, acordos e cargos. Pelo jeito fica parecendo que os parlamentares são vítimas quando são os verdadeiros vilões com suas bancadas das corrupções, da bala, rural e dos evangélicos conservadores e oportunistas.

Por que os movimentos dos trabalhadores não estampam cartazes de “bota fora do Congresso Nacional” com o pedido especial de uma nova Constituinte e um novo parlamento? Este Congresso conseguiu a proeza de promover o baixo clero insignificante de mente atrasada e repressora para alto clero que agora conduz as reformas e fala em ética e moral. A Casa não tem pressa em fazer uma reforma política séria e limpa, justamente porque seus membros querem se perpetuar no poder hereditário.

Esqueceram que foi este mesmo Congresso corrupto que decretou o impeachment de Dilma e está fazendo uma reforma previdenciária e trabalhista que está levando o trabalhador à escravidão e a morrer sem uma digna aposentadoria. As manifestações têm que apontar o dedo para a maior ferida que faz sangrar o Brasil dia e noite.

Em Vitória da Conquista, que tem uma imagem de cidade política e cultural, o movimento foi tímido e fraco, com a inusitada determinação final do prefeito Hérzem Gusmão em não liberar os servidores para os protestos, se bem que antes teria se manifestado a favor. É ruim para sua imagem que vai se desgastando com o tempo.

Na cidade, as atividades comerciais e os serviços funcionaram praticamente dentro da normalidade, com algum vazio por conta da greve dos motoristas de ônibus que há dias estão parados em razão das reivindicações por aumento salarial e outros benefícios. No mais, não houve paralisações como nas 26 capitais e no Distrito Federal.

A elite e a classe empresarial brasileira em geral apoiam maciçamente as reformas achando que vão lucrar e encher as burras de dinheiro com a exploração, só que não percebem que estão levando o país para um atraso maior em médio prazo com o encolhimento da demanda consumidora e, consequentemente, da economia. As reformas são um tiro no pé do próprio empresariado que apoia.

A terceirização, por exemplo, vai fazer o trabalhador ganhar menos, com mão de obra desqualificada e, com isso, o empresário vai perder lá na frente com baixa produtividade e menor consumo. Na reforma trabalhista eles metem o papo de globalização e de que os países desenvolvidos já adotam a flexibilização nos contratos entre patrões e empregados.

Esquecem que o Brasil ainda é país de terceiro mundo com problemas graves na educação, onde o trabalhador não tem nenhum poder de barganha para negociar. Com sindicatos desmantelados, o empregado vai receber quanto o empregador determinar. Caso contrário, ele fica no olho da rua. O negociado vai valer mais que o legislado, o que significa o desamparo da lei. No mais, é ilusão e engodo.