A reputação do Brasil lá fora é tão baixa diante das práticas de corrupção, atos de violência, barbáries nos presídios medievais, desigualdades sociais profundas, privilégios absurdos nos poderes constituídos e desmandos dos governantes que não tem mais moral e dignidade para separar o joio do trigo quando acontecem fatos escandalosos, como o mais recente da Operação Carne Fraca que detectou irregularidades na produção.

Por mais que se explique, se dê entrevistas, faça força tarefa de fiscalização com visitas programadas, auditorias, reuniões e reuniões, comunicados propagandísticos na mídia e jure de pé firme que a coisa não é assim, não existe mais clima de confiança, e tanto aqui como lá no exterior a pulga sempre vai ficar atrás da orelha. Como o Brasil nunca foi encarado como um país sério na política e, passou a ser da vergonha, fica difícil convencer, por mais que se faça explicações.

De um ponto a outro, mas com o mesmo foco comportamental, fora os delatores da Operação Lava Jato, ainda não apareceu um político, ministro, empresário ou executivo qualquer que viesse a público e confessasse que recebeu propina de doações eleitorais e pedisse perdão pelo erro cometido. Nunca apareceu um que tivesse a hombridade de dizer que roubou e renunciasse ao seu mandato ou entregasse o cargo.

As únicas falas por detrás das máscaras que se ouve deles é de que é inocente, que nunca participou do esquema, que mal conhece o comparsa, que não tem nada a declarar, que tudo não passa de intriga política, que o delator está mentindo, que a acusação é seletiva, que tudo vai ser esclarecido na investigação e que todas as doações foram legais e devidamente registradas no Tribunal Superior Eleitoral, a máquina de lavagem de dinheiro sujo, como todos já bem sabem. Todos negam, como o adúltero que tenta provar que não era ele quem estava ali com a amante ou o amante. Ainda inventa que não cometeu nenhum delito.

Como acreditar e confiar numa nação que rouba merenda escolar, que vende leite misturado com água e outros ingredientes prejudiciais à saúde humana, falsifica medicamentos, maquia carnes e alimentos diversos, vende frango por peru, usa agrotóxicos e substâncias proibidos de forma exagerada nas lavouras, viola os direitos humanos diariamente, não cuida de suas crianças como devia, ainda pratica a escravidão, pretende tirar conquistas trabalhistas e sociais, nunca priorizou a educação, amontoa pacientes em corredores de hospitais, anistiou torturadores da ditadura militar e agora quer também conceder perdão para os larápios do caixa 2, 3, 4 e 5?

De tantas malandragens, enganações e ladroagens, de tantas aberrações e excrescências nas três castas dos poderes lá no Planalto, como o foro privilegiado, as mordomias dos legislativos, as aposentadorias compulsórias de juízes em desvios de conduta, as verbas indenizatórias e outras pilantragens, não dá mais para se confiar nas explicações. É um país que há muito tempo perdeu a moral e a dignidade e não consegue convencer em seus argumentos.

Agora mesmo os acusados da Lava Jato se arvoram a fazer uma reforma política e só falam na nefasta lista fechada, mas nada de voto facultativo, limitação do número de mandatos, fim da reeleição, limitação do número de siglas partidárias, redução do número de senadores, deputados e vereadores e fim das polpudas verbas indenizatórias e outras mordomias.

No caso específico e recente da “Carne Fraca”, por exemplo, o presidente mordomo de Drácula reúne ministros e embaixadores e manda montar uma força tarefa para fiscalizar os frigoríficos, num atestado de que existem falhas e de que a rigorosidade de que tanta alardeia, não é tão assim. O governo diz que o Ministério da Agricultura tem 11 mil funcionários, mas deixou de apontar quantos são mesmo fiscais.

Na questão das carnes, sabemos que a fiscalização para o consumo interno não é o mesma que é feita para as exportações que requerem muito mais rigor, inclusive sob acompanhamento de prepostos dos importadores. Nós mortais consumidores não temos fiscais para detectar se a carne ou outro produto estão dentro do padrão de comercialização. Estamos entregues à própria sorte como cegos em tiroteio.

O próprio ministro da Agricultura, Blairo Maggi, determina a suspensão da licença de exportação de 21 frigoríficos sob investigação na operação da polícia federal, mas permitiu a venda dos produtos para o mercado interno. Segundo ele, as medidas dentro do país são mais brandas porque há controle rígido nos procedimentos que protegem o consumidor brasileiro. Dá para acreditar nisso? Não soa contraditório?

Não é levando ministros, políticos, diplomatas e embaixadores para uma churrascaria sofisticada e cara de carne importada, gastando o suado dinheiro do povo, que se vai restaurar a confiança, mesmo porque não acreditamos mais neles. Tudo não passa de teatro aos nossos olhos e aos olhos dos países lá fora. É muito triste termos chegado a este ponto, mas é a pura verdade.

Como acreditar num país que tem 1,7 milhão de leis, mas que só 53 mil estão em vigor? O Brasil tem 3,7 milhões de normas judiciais, uma média de 517 por dia. Como confiar numa nação que já teve até lei declarando extinta a pobreza?  Em 2013 a ex-presidente Dilma anunciou redução de 18% na conta de energia elétrica e depois veio o aumento bem maior do que este percentual. No início deste ano descobriu-se que os consumidores pagaram 1,8 bilhão de reais pela energia da Usina Nuclear de Angra 3 que nunca funcionou. Como acreditar neste país?

Eu mesmo não acredito neste capitalismo selvagem e explorador, nem nessa gente que diz me representar. JBS (Friboi e Seara) e BRF (Sadia e Perdigão) são mais algumas siglas que se juntam a outras de partidos que só pensam em seus interesses particulares e nos lucros exorbitantes que fazem conluios com os poderes.