LINHA PROVINCIAL

No decorrer do ano de 1879 a Companhia volta a sofrer outras dificuldades financeiras na contratação do trecho Onha – Santo Antônio de Jesus. Apesar dos problemas, em 7 de setembro de 1880 foram inauguradas várias estações, inclusive a de Santo Antônio de Jesus no quilômetro 33,746 a partir da Estação de Nazaré, passando a ser conhecida como Linha Provincial.

De fabricação francesa, o trem inaugural foi puxado pela locomotiva Lucena (número 3) em homenagem ao presidente da Província Henrique Pereira de Lucena, ou Barão de Lucena. Após oito anos de situação difícil, termina sendo constituída a Tram-Road Nazaré (linha Nazaré – Santo Antônio).

Como não conseguiu superar a crise, a Companhia requereu da Assembléia Legislativa, em março de 1882, a dispensa de pagamento de juros de 7% ao ano. A Assembléia aprovou, mas o presidente da Província, Pedro Luis Pereira de Souza vetou. Em 1884, com a entrega de 2.500 ações, a Companhia liquida seu débito com a Província que passa a ser a acionista do projeto.

Rodovia pela Ferrovia - Cópia

 

A partir de 1885 começa o traçado para a vila de Amargosa, passando por São Miguel depois de atravessar tabuleiros, rios, vales e riachos num terreno bastante acidentado.

O autor do estudo Alberto Oliveira descreve ser essa área de Amargosa o maior centro agrícola da Bahia, cortado pelos rios Dona, Corta-Mâo, Ribeirão e Jequiriçá, com muitas matas virgens. Café, açúcar e fumo eram os principais produtos. Da Tram-Road de Nazaré, a linha Santo Antônio – São Miguel até Amargosa era a mais remunerativa.

Em março de 1886, a Assembléia Geral de Acionista aprova a elevação do capital da Companhia para construção da linha até São Miguel. A diretoria se dirige ao imperador D. Pedro II e consegue ajuda para a obra, com privilégios e juros mais baixos para a Estrada Santo Antônio-Amargosa na extensão de 63 quilômetros. Ajudou muito na empreitada a nova verba  aprovada por lei imperial, em outubro de 1889, além de empréstimos com o Banco da Bahia.

RAMAL DE AMARGOSA

As obras foram iniciadas no final de 1889, dividindo a linha em quatro secções: Rio da Dona; de São Miguel; Corta-Mâo e Amargosa. Depois de muitos obstáculos, a empresa abriu o tráfego até Corta-Mâo, em fevereiro de 1892, numa distância de 42 quilômetros. Em dezembro estava concluída  a Linha Federal até Amargosa, distante 65 quilômetros de Santo Antônio de Jesus.

Entregue a Estação de Amargosa ao serviço público, a Estrada ficou sujeita a dois regimes de administração. O trecho Nazaré – Santo Antônio sob a fiscalização do Estado e o de Santo Antônio a Amargosa sob a fiscalização da União.

Em agosto de 1905 o Governo do Estado resolve encampar a Tram-Road de Nazaré. Já em maio de 1906, a União transfere ao Estado da Bahia o direito de resgate do trecho Santo Antônio-Amargosa e a construir em três anos a linha até Jequié.

A escritura definitiva de transferência para o Estado foi lavrada em outubro do mesmo ano, mediante pagamento de 4.500 apólices da dívida pública estadual no valor nominal de um conto de réis cada uma. Em dezembro de 1906, o Governo mudou a denominação de Tram-Road de Nazaré para Estrada de Ferro Nazaré, incorporando à Estrada de São Miguel a Areia.

As primeiras locomotivas foram adquiridas da Companhia Fives Lille em 1872. Ambas foram pioneiras das estradas de ferro, seguidas pela locomotiva Lucena que inaugurou a linha Santo Antônio de Jesus em 7 de setembro de 1880, de fabricação francesa.

A “São Lourenço” foi restaurada em 1949, considerada relíquia histórica da Estrada Nazaré. Já a Saraiva inaugurou a Estação Onha em 1875; trabalhou na construção da Estrada São Miguel à Areia e depois foi vendida como sucata. De maior capacidade, a Lucena foi desmontada e, até pouco tempo, sua caldeira estava nas Oficinas Gerais de Nazaré. Já a locomotiva Baroneza foi a primeira máquina a vapor que correu sobre os trilhos do país, pertencente a Estrada de Ferro Central do Brasil.

Para transportar todo material como máquinas, ferros, peças, trilhos necessários à construção da Estrada Nazaré, os barcos a vela e a Companhia de Navegação Bahia tiveram papel fundamental.  Quase toda Estrada, especialmente de Santo Antônio a Amargosa, é cortada por planícies e montanhas com largas produções de café, cacau, cana-de-açúcar, cereais, mandioca e outros produtos.

VALE DO JEQUIRIÇÁ

O Vale do Jequiriçá é outra região fértil produtora de cacau, café e fumo, precisando exportar suas produções e importar os gêneros de primeira necessidade. Visando desenvolver a região, o Governo estabeleceu em 1893 o Plano Geral de Viação do Estado para as Estradas de Ferro. Em 1895, o Estado contratou com a Cia. Tram-Road de Nazaré, a construção da Estrada São Miguel a Areia. Por falta de dinheiro, o contrato foi rescindido e em 1898 e o Governo resolveu fazer a obra.

Nesse mesmo ano, o engenheiro Aluízio Augusto Ramos contratou com o Governo os estudos da Estrada Corta-Mâo, passando pela vila Nova de Jequiriçá até Areia, numa extensão de 55 quilômetros.  Essa nova via teve como ponto de partida a vila de São Miguel e o povoado de Corta-Mão (Km 72) em direção ao povoado de Nova Laje.

É bom lembrar que se tratava de um trecho bastante acidentado e de difícil acesso. Mesmo assim, foram erguidas importantes obras de arte. Na época, Luis Viana era o governador da Bahia que inaugurou os serviços de terraplenagem em março de 1899.  Já no final do mesmo ano, foram contratados 70 carros para passageiros e mercadorias.

O assentamento da linha foi iniciado em março de 1900, ano em que o Governo firmou contrato com a Tram-Road e a Estrada São Miguel – Areia para regular as condições de tráfego. Possuía a Estrada duas locomotivas Baldwin – a Rio de Contas e a Jequiriçá – além de uma Consolidation, denominada Nova Laje.

Essa Estrada sofreu muitos atrasos na sua construção, principalmente em decorrência de doenças por febres palustres. Toda zona vivia em péssimo estado sanitário. A seca nos anos 89/99 foi outro fator que prejudicou o andamento da obra, deixando as economias do Estado em precária situação.

Num relatório ao Governo, o engenheiro Joseph Gomes Neto recomenda o prolongamento da Estrada até a cidade de Condeúba, de menor custo por causa do terreno plano.