GALEANO RENEGA “AS VEIAS ABERTAS…”

Traduzido para mais de 12 idiomas (vendeu mais de um milhão de cópias) e recomendado pelas principais universidades do mundo, o livro “As Veias Abertas da América Latina” foi renegado pelo seu próprio autor, o uruguaio Eduardo Galeano. Ninguém esperava por essa, e poucos se atreveram em público criticar e condenar seu trabalho.

O texto canônico, anticolonialista e antiamericano foi escrito logo no início dos anos 70 e conta como o povo da América Latina foi expoliado, esmagado e massacrado pela Espanha, Inglaterra e pelos próprios Estados Unidos, desde o final do século XV no descobrimento de Cristóvão Colombo aos tempos atuais.

Pois é, somente agora o escritor de 73 anos deu uma entrevista à mídia declarando que não tinha qualificação para tratar do assunto e que o texto foi mal escrito. Foi assim que escreveu o comentarista do The New York Times (suplemento A Tarde), Larry Rohter.

Em uma feira literária no Brasil chegou a dizer que “Veias Abertas tentou ser um livro sobre economia política, mas eu ainda não tinha o treinamento necessário e tampouco o preparo”, e acrescentou: “Eu não conseguiria ler esse livro novamente; eu desmaiaria. Para mim, essa narrativa da esquerda tradicional é extremamente carregada, e a minha constituição física não consegue tolerá-la”.

Quando Eduardo Galeano escreveu o livro, em 1971(300 páginas), boa parte da região era governada por ditaduras militares repressivas apoiadas pelos Estados Unidos. Atraídos pelo ouro e o açúcar, segundo o escritor, os colonizadores europeus fizeram uma verdadeira pilhagem na América Latina, levando seu povo ao subdesenvolvimento crônico.

Apesar de se considerar como homem de esquerda, Galeano afirmou no Brasil que, às vezes, essa corrente comete erros graves quando está no poder. Alguns entenderam seu recado como uma crítica a Cuba e ao gerenciamento da Venezuela. Do outro lado, elogiou os experimentos da social democracia. Vá entender!

Muitos ficaram surpresos com a declaração do uruguaio, inclusive a chilena Isabel Allende que escreveu o prefácio da edição inglesa. Ela confessou que, quando jovem, devorou o livro e o levou em seu exílio após Pinochet tomar o poder em seu país. Em meados da década de 90, escritores defensores do livre mercado, incluindo aí o peruano Vargas Llosa, consideraram “Veias Abertas” como “a bíblia do imbecil”.

A obra narra como se deu o saque europeu ao povo da América Latina, com dados históricos e números do que o autor denominou de pilhagem. Num dos trechos diz que a concentração internacional da riqueza em benefício da Europa impediu, nas regiões saqueadas, o salto para a acumulação de capital industrial.

Talvez o escritor tenha renegado o livro a partir de críticas direcionadas a determinadas políticas governistas da época. Ele fala de diversidade humana, mas não se aprofundou na questão da autocrítica. Passados 43 anos, o contexto político é outro, mas, mesmo assim, quem não leu o livro deve ler para conhecer como aconteceu historicamente o colonialismo na América Latina.