abril 2024
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  


“MACUNAÍMA” DE MÁRIO DE ANDRADE

Quando se fala do livro “Macunaíma” lembra-se logo de Mário de Andrade, e o inverso dá no mesmo. Considerado o “Papa do Modernismo”, segundo o crítico literário José de Nicola (Literatura Brasileira – das origens aos nossos dias), Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo, em nove de outubro de 1893, e faleceu na mesma capital, em 25 de fevereiro de 1945, há 77 anos.

No ginasial, na Escola de Comércio Álvares Penteado, abandonou o curso após uma briga com seu professor de português. Em 1911 matricula-se no Conservatório Musical de São Paulo, formando-se em piano.

Em 1917, ano em que trava amizade com Oswald de Andrade, publica seu primeiro livro e “descobre” a artista plástica Anita Malfatti. Foi diretor do Departamento de Cultura de São Paulo. Lecionou história e filosofia da arte na Universidade do Distrito Federal (RJ). De volta a São Paulo, trabalhou no Serviço de Patrimônio Histórico.

No mundo literário, estreou com “Há uma Gota de Sangue em Cada Poema”, no ano de 1917, onde retrata a Primeira Guerra Mundial, ainda sob influência parnasiana, mas encantado com as obras de Anita, segundo ele, revolucionárias. Sua poesia mostrou-se modernista a partir da publicação de “Paulicéia Desvairada”, rompendo com as estruturas do passado. A obra tem como objeto de contestação a São Paulo provinciana, misturada, miscigenada, burguesa, aristocrática e operária.

De acordo com Nicola, o escritor e poeta sempre lutou por uma língua brasileira que estivesse mais próxima do falar do povo. Seus livros revestem-se de nítida crítica social. Escreveu “Amar, Verbo Intransitivo”, um romance que penetra fundo na estrutura familiar da moral paulistana com seus preconceitos. Fala também dos sonhos e da adaptação dos imigrantes que agitaram a pauliceia com seus movimentos anarquistas.

“Macunaíma” (o anti-herói) foi sua obra prima onde o autor enfoca o choque do índio amazônico (que nasceu preto e virou branco) com a tradição e a cultura europeia na cidade de São Paulo. A obra contém figuras folclóricas por ele estudadas.

Com seu pensamento selvagem, o personagem Macunaíma faz as transformações que ele quer. A cidade de São Paulo vira um bicho preguiça; um inglês vira London Bank, colocando as estruturas de pernas para o ar. Macunaíma é o próprio “herói de nossa gente”, como afirma Mário de Andrade na primeira página do romance.

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapannhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma”.

“Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incentivavam a falar, exclamava: – Ai que preguiça”!

NA ESPERA DA ÁGUA E DA COMIDA

Ulisses, depois da Guerra de Troia, passou dez anos vagando pelo mar (Odisseia de Homero) onde enfrentou batalhas, monstros e encontrou amores. Quando retornou à sua terra na Grécia, seu cachorro rosnou quando o viu, levantou-se e foi morrer em seu canto. Seu escravo, no entanto, não o reconheceu. Uma prova da fidelidade e do apego do cão ao seu dono, que atualmente abandona esses animais nas ruas das cidades, com sede e fome, caso específico de Vitória da Conquista. A imagem na foto, clicada pelo jornalista e escritor jeremias Macário, diz tudo, bem como o título acima “na espera da água e da comida”. Esses cachorros de rua dependem que alguém, com sua generosidade, ofereça algum alimento e água. Estressados, doentes, com pernas quebradas em acidentes, famintos e se arrastando eles ficam perambulando pelas ruas e avenidas porque alguém, sem nenhuma piedade, jogou seu fiel amigo para fora de casa. É um crime, mas não existe punição para quem faz isso. Outros fazem isso por falta de condições financeiras de mantê-los em casa por causa da crise econômica e social. São também vítimas da miséria no país. Muitos abrigos particulares de acolhimento já estão cheios, e o poder público nada faz para protegê-los. Há muito tempo que se fala na construção de uma casa de zoonose para tirar esses animais das ruas. Eles são vistos em todos lugares por onde se passa em Conquista, principalmente no centro, como no Terminal Lauro de Freitas (Estação Hérzem Gusmão). Estão sempre na espera de que alguém dê água e comida para, pelo menos, continuarem vagando, e ainda tem gente que apedreja e dar chutes quando um deles late ou está cruzando com uma fêmea, como se fossem culpados.

DOR E MEDO

Poeminha inédito de autora do jornalista e escritor Jeremias Macário

No fio da navalha

Inquietações, niilismo

Ansiedade

Dor e medo, infelicidade

Amor e segredo

Campo de batalha.

 

O homem não é este homem

Vencerá o medo para ser o novo?

Será um outro Deus sem dor?

Sem raça e cor?

 

Misticismos, fantasias

Islamismo, judaico-cristã

Paz, ira e conflito

Mitologias, esperança vã

Volta do passado harmonia

Morrer sem sofrer

Sedução do existir infinito

Culpa dos deuses do fazer

Ilusão do paraíso jardim

Início, meio e fim.

 

Dos romanos flavianos, esplendor

Dinastia dos severos

Odisseia de Homero

Mar de medo, penar e dor.

 

Medo do obscuro que veio

Tudo vai ruir, dor e medo

Espera pela memória do cheio.

 

O BRASILEIRO FICA COM AS PELES E A SOBRA DOS RESTOS DAS FRUTAS

Além das carcaças de frango, os supermercados e feiras estão agora vendendo poções de peles ao preço de R$3,00, no país que é o maior exportador do mundo dessa ave. Em 2021, as vendas para o exterior (cerca de 25 países) totalizaram 4,6 milhões de toneladas, o que representou um recorde.

Isso não é mais vergonha num país onde mais da metade da população sofrem de deficiência alimentar. Está tudo banalizado, e a fome está se tornando uma coisa normal. Estamos no limite da degradação humana, e a maioria que houve esse papo diz que é coisa de comunista.

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a alta no volume das exportações foi de 9% em relação ao ano de 2020, quando foram embarcadas 4,23 milhões de toneladas. Em termos de receita, houve uma elevação de 25,7%, com US$7,66 bilhões registrados em 2021. O mesmo ocorre com a carne bovina onde a pobreza faz filas do osso.

Esse aumento das vendas do frango lá fora se deu mesmo com a redução das compras pela China, que é o principal destino do produto brasileiro. Outros países foram peças chaves para colocar o Brasil como maior exportador global, caso da Arábia Saudita, África do Sul, Japão, Estados Unidos e até para as Filipinas.

Para este ano de 2022, espera-se novo recorde de exportação, enquanto os brasileiros, diante do atual cenário econômico e social, vão continuar comendo pescoço e pernas de frango. A carne mesmo só quando consegue arrumar alguns trocados ou alguma doação das campanhas de Natal.

Ah, isso serve de glorificação para os patriotas ufanistas que carregam no peito o slogan “Pátria Amada”! O Brasil também é o maior exportador de café e soja, bem como, vendedor externo de carne bovina, enquanto por aqui milhões de famintos catam comidas no lixo ou fazem caldo dos ossos.

Com as frutas, o processo não é diferente. O Brasil manda mangas, uvas, melões, maracujá de primeira qualidade para o exterior. As sobras podres e com pragas ficam com os brasileiros da pátria armada de intolerâncias e ódio. Eles, os produtores capitalistas ainda dizem que alimentam nosso povo.

Há séculos que a base das exportações brasileiras é constituída de produtos primários, como grãos, ferro, aço, petróleo cru e outros itens. Temos uma das maiores costas litorâneas do mundo (oito mil quilômetros), mas importamos pescados. Em termos de produção e consumo, temos déficit de trigo e arroz, mas o país prefere exportar tudo para o exterior porque dá mais lucro.

Todos os anos o Brasil registra altos índices de superávit na balança comercial, graças às matérias-primas e o agronegócio. Os dados são exibidos com orgulho, só que as transações em contas correntes, a chamada contas externas têm um rombo de mais de US$28 bilhões.

O negócio é fazer reservas e deixar o povão na miséria. Esse quadro comprova que somos uma país atrasado, subdesenvolvido mesmo, porque vendemos primários e pagamos a preços altos os industrializados, tecnologia, fármacos, química fina, peças sofisticadas e outros itens que ainda não fabricamos.

A DESTRUIÇÃO DA PETROBRÁS

Carlos González – jornalista

O geólogo aposentado Aymar Santos, 84, anda sem destino certo pelas ruas de Botafogo, onde mora no Rio de Janeiro. Suas mãos rugosas seguram um punhado de papéis (desenhos técnicos e mapeamento do subsolo do Recôncavo Baiano). Às poucas pessoas que lhe dão atenção conta como foi seu período de trabalho insalubre nas turmas de prospecção de petróleo, nas décadas de 60 e 70. E conclui sua narrativa lamentando que a Petrobras, a qual dedicou parte de sua juventude, venha sendo arruinada pelos últimos governantes do país.

Lendo recente comentário de meu amigo e colega Jeremias Macário neste mesmo espaço, decidi expressar minha solidariedade a Aymar (ex-colega no extinto Instituto Normal da Bahia), fazendo uma modesta explanação sobre os fatos que lhe deixam indignado, sentimento que é compartilhado por anônimos aposentados, que, no passado, se orgulhavam de serem chamados de petroleiros.

Na cabeça, capacete com o emblema e o nome da empresa; veste inteiriça azul de tecido resistente, com manchas de óleo. Esses trabalhadores eram vistos com frequência nas ruas de Alagoinhas, Catu, Pojuca, Madre de Deus, e nas cidades do Recôncavo, onde os poços de petróleo estavam sendo abertos.

Representavam um orgulho para as populações e uma fonte de renda para os municípios; seus altos salários, deixados no comércio, contribuíram para o desenvolvimento da economia da região, onde há ainda indícios em São Francisco do Conde, no Recôncavo, que mantém o quarto maior PIB do estado, abaixo somente de Salvador, Camaçari e Feira de Santana.

RLAM e “Ruivinha”

A emocionante história do ouro negro no Brasil tem um capítulo especial dedicado à Refinaria Landulpho Alves de Almeida (RLAM), a primeira construída no país, cuja produção e refino do petróleo começaram em setembro de 1950. Aquela construção erguida numa das margens do Rio Mataripe, em São Francisco do Conde, levou o brasileiro a acreditar que o seu país muito breve seria autossuficiente em petróleo, cujos derivados estaríamos exportando.

Foi só um sonho. O segundo lar dos velhos petroleiros da área de refino foi vendido em julho do ano passado pelo governo Bolsonaro a um grupo árabe, iniciando um programa de privatização de outras refinarias. Além do preço de venda (US$ 1,65 bi), abaixo do valor do mercado, segundo estudos técnicos, A Federação Única dos Petroleiros (FUP) identificou outras irregularidades, denunciadas às esferas judiciais e ao TCU. A entidade classista prevê que as privatizações vão provocar novos aumentos de preços no gás de cozinha, no óleo diesel e na gasolina.

Em fevereiro do ano passado, na ânsia de trocar, a todo momento, o pessoal do primeiro escalão do seu governo, Jair Bolsonaro contribuiu diretamente para a desvalorização da Petrobras em cerca de R$ 100 bilhões,  interferindo na estatal, inclusive mudando seu comando.

Avaliada em R$ 382,9 bi – suas ações caíram 25% -, a empresa numa semana desabou para R$ 282 bi, prejudicando a União (acionista majoritário), derrubando a Bolsa de Valores, afugentando investidores, elevando o dólar e a inflação. Primeira estatal em valor de mercado, a Vale do Rio Doce ampliou a distância que a separa da Petrobras.

Nesse antipatriótico processo de destruição da Petrobras, Bolsonaro deu sequência ao “trabalho” iniciado em 2014 pelos seus antecessores. Considerado como um dos maiores esquemas de corrupção do mundo, o Petrolão envolveu os presidentes Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de políticos, empreiteiros, diretores da estatal e ministros.

A arquitetura criminosa, demolida pela Polícia Federal e investigada pela Operação Lava-Jato, causou na Petrobras um rombo de R$ 42 bilhões – a recuperação do dinheiro roubado não chega a R$ 10 bi – funcionava da seguinte forma: a estatal, por meio de seus cinco diretores, entregava às empreiteiras obras de grande porte, superfaturadas, como a construção das refinarias de Recife (orçada em US$ 2,3 bi, custou US$ 20,1 bi), Itaipava (RJ) e Araucaria (PR). Os beneficiados tinham a obrigação de alimentar os cofres dos partidos políticos ligados ao governo.

Ministra de Minas e Energia de Lula e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, Dilma foi convocada pelo TCU para explicar a compra da refinaria sucateada de Pasadena, nos EUA, apelidada de “Ruivinha”, por causa da ferrugem em grande parte de suas instalações. A ex-presidente alegou que não teve acesso às informações necessárias, contrárias à aquisição da unidade americana; e foi’ inocentada. Pasadena foi comprada em 2006 por US$ 1,2 bi e vendida em 2019 por US$ 467 mi.

Num país onde cadeia só existe para quem rouba para matar a fome, toda a quadrilha que se beneficiou do dinheiro público, com exceção de três ou quatro membros, está vivendo em imóveis de luxo, longe dos olhares curiosos, principalmente da imprensa. A maioria cumpre prisão domiciliar, com ou sem tornozeleira eletrônica, com dinheiro em contas no exterior; outros pagaram uma irrisória indenização e estão livres; outros trouxeram de volta o famigerado “dedurismo” da ditadura e, sem necessidade de tortura, “entregaram” os companheiros, em troca da liberdade; outros contam os dias para prescrição dos processos. E assim vamos vivendo de amor…, como cantava a saudosa Elza Soares.

 

 

 

 

 

 

A TECNOLOGIA QUE NÃO FUNCIONA NO BRASIL

O repórter passa os números de atendimento e diz que o aplicativo e o site são mais práticos para fazer o agendamento da sua necessidade, como uma consulta média nesses tempos pandêmicos. Siga o passo a passo. No meio sempre dá um problema, e a pessoa tem que começar tudo do zero.

Acontece que dificilmente você consegue. Bate a irritação e o indivíduo fica ainda mais estressado. A nossa tecnologia já nasceu como o DNA da burocracia. Funciona de maneira precária, e poucos têm acesso a ela. Quando possui, é aquela tortura.

Não é querer ser derrotista, mas sempre digo que a única coisa que funciona bem no Brasil é a corrupção. Essa é uma “maravilha”, levando ainda em consideração que ela está aliada à impunidade. Com a propina e o suborno o cara passa pelo porteiro sem ser revistado.

Poderia citar aqui muito setores, como na educação e na saúde, por exemplo, onde o brasileiro pena para marcar uma consulta ou matricular um filho numa escola através de um site ou aplicativo. Vou apontar, porém, o caso do SAC que está resolvendo os problemas do cidadão por agendamento.

Eu sou um testemunho desse sofrimento no processo de renovação da minha carteira de habilitação. Primeiro, com ajuda da minha esposa, tentei agendar pelo site, mas ele nunca abre. Desisti.

Resolvi, então, ir pessoalmente ao serviço no Shopping Boulevard. O moço me indicou uma pequena empresa, um quiosque que fica dentro do Shopping e cobra R$2,50. Lá, em questão de dois minutos ou menos, a moça fez o agendamento. A terceirização mais parece uma máfia porque pelo site do SAC é até impossível.

No dia marcado, que foi ontem (dia 24/01), às 11 horas, lá fui eu pontualmente com meus papéis na mão. Recebi a senha para ser atendido e, a esta altura, já me sentia relaxado e certo que iria, enfim, solucionar meu “pepino” burocrático.

Para minha surpresa, 10 ou 15 minutos depois, apareceu um funcionário para avisar que o sistema de habilitação estava fora do ar, mas seria por pouco tempo. Aquilo já mexe com os nervos da pessoa. Demorou mais um pouco, e outro preposto comunicou que o problema iria demorar.

Então, me dirigi ao senhor para saber o que faria. Ele olhou para mim, de maneira educada, e recomendou que no meu caso (idoso) melhor seria cancelar o agendamento. Prontamente entreguei minha senha e indaguei o que faria. Respondeu que a saída era fazer outro agendamento, lá no quiosque, pagando mais R$2,50.

Ai, meu amigo, só para agendar já gastei R$5,00, fora o laudo e o médico que irá me examinar para saber se ainda estou apto para dirigir. Tenho que retornar ao SAC na próxima quinta-feira, não mais tendo a certeza que serei atendido porque nossa tecnologia não é confiável, e sempre tem o tal do sistema que sai do ar.

O brasileiro pobre nasceu para sofrer calado, e come o pão que o diabo amassou. Para todo canto que se vai tem uma fila, e a tecnologia, que tanto propagaram que iria facilitar nossas vidas, na maioria das vezes não funciona.

Fico a imaginar que o pobre no Brasil quando morre vai direto para o céu, porque pelo inferno ele já passou. Na portaria, São Pedro nem deve olhar a ficha dele, se é pregressa ou não. Para acabar com essas injustiças, só uma revolução, para eliminar essa corja que infesta a política e nem está aí para o sofrimento do nosso povo.

Por falar em fila, você, por acaso, já viu algum milionário, famoso ou deputado numa fila para tirar e renovar documento ou resolver alguma pendência em um banco ou repartição pública? Se você encontrar, me conte.

A mesma coisa é a tal prova de vida que os governantes colocam aqueles velhinhos aposentados nas filas intermináveis para chegar na carteira do funcionário e dizer que ainda não morreu. Vá tentar fazer através do Aplicativo Meu INSS! Coisa é fazer uma inscrição num edital de concurso!

 

 

UMA SEMANA POLÊMICA DE IDEIAS FUTURISTAS QUE TERMINOU EM RACHA (Final)

“NÓS NÃO SABÍAMOS O QUE QUERÍAMOS, MAS SABÍAMOS O QUE NÃO QUERÍAMOS” – Mário Raul Morais de Andrade, a respeito da Semana de Arte Moderna de 1922. Existia um caráter revolucionário na década de 20, com uma série de transformações políticas e sociais. No dizer de Menotti del Picchia, “houve quem cantasse como galo e latisse como cachorro”. “O que urge fazer: Enforcar o último rei com as tripas do último frade”- charge em “A Lanterna”.

“Eu insulto o burguês!… Eu insulto as aristocracias cautelosas… Morte à gordura… Morte ao burguês mensal… Mas nós morremos de fome! … Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio”… – trechos do poema “ODE AO BURGUÊS”, de Mário de Andrade.

“Estou farto do lirismo comedido/do lirismo bem comportado/do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de acordo com o senhor diretor…/ Abaixo os puristas…/ Quero antes o lirismo dos loucos/ O lirismo dos bêbados/ O lirismo difícil e pungente dos bêbados/ O lirismo dos clowns de Shakespeare/ – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação” – “POÉTICA”, de Manuel Bandeira.

Em “OS SAPOS”, o mesmo Bandeira diz: “Eu ronco que aterra/ Berra o sapo-boi:/- “Meu pai foi à guerra”/ “Não foi”/ – “Foi”/ – “Não foi”. O sapo tanoeiro,/Parnasiano aguado, diz: “Meu cancioneiro/ É bem martelado… Urra o sapo-boi:/ “Meu pai foi rei”/ –  “Foi!” – “Não foi”…  Poema lido durante o evento.

Além da Semana, foram registrados outros fatos importante da nossa história, como a fundação do Partido Comunista Brasileiro, a Revolta do Forte de Copacabana e o Bicentenário da Independência do Brasil.

CURIOSIDADES DA SEMANA: Vila-Lobos fez um concerto de casaca e chinelos. Mário de Andrade realizou uma breve palestra nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo sob vaias e xingamentos. Na política, existia entre os participantes uma mistura de esquerda e direita, como de Plínio Salgado que mais tarde se tornou líder do integralismo fascista. Mesmo sob protestos contra os organizadores, a pianista Guiomar de Morais fez sua apresentação. Monteiro Lobato classificou os quadros de Anita Malfatti de caricaturas, de obras distorcidas, sem muita importância para seu talento.

RUMO A UMA SEMANA DE MUITO BARULHO

Onze anos antes, em 1911, circulou o semanário “O Piralho” (português macarrônico), de Oswald (Di Cavalcante era o desenhista), com um tom humorístico, que funcionou até 1917.

Em 1912, Oswald retornou da Europa com as ideias futuristas de Fillipo Tommaso Marinetti. Nesse ano, escreveu o poema “Último Passeio de um Tuberculoso pela Cidade de Bonde” – versos livres de escárnio ao passado.

Em 1913, o europeu Lasar Segal realizou a primeira mostra expressionista no Brasil, sem sucesso por causa das críticas dos conservadores. Monteiro Lobato já achava aquilo horrível.

Em 1914 aconteceu a primeira exposição de Anita Malfatti quando da sua volta dos estudos na Alemanha, na Escola de Belas Artes de Berlim. Ela também esteve nos Estados Unidos. No ano seguinte ocorreu o modernismo, em Portugal, a partir da revista “Orpheu”.

Em 1916, o sempre irrequieto Oswald escreve “Memórias Sentimentais de João Miramar”. No ano seguinte, o mesmo conhece Mário de Andrade, no Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo, onde ele proferiu um discurso, condenando as antigas estruturas. Oswald trabalhava como repórter no “Jornal do Comércio” e quando terminou o pronunciamento, disputou no tapa a cópia do escrito com outro colega do “O Estado de São Paulo”. Oswald   levou a melhor.

Nesse mesmo ano, Mário publicou o livro “Há uma Gota de Sangue em Cada Poema”, em que descrevia os horrores da I Guerra Mundial. Menotti del Picchia lança o poema “Juca Mulato” e Guilherme de Almeida “Nós”. Numa transição de estilos, Manuel Bandeira divulga seu livro “As Cinzas das Horas”. Cassiano Ricardo, “A Frauta de Pã”. Di Cavalcante realiza, em São Paulo, sua exposição de caricaturas.

Em 1917, em 12 de dezembro, Anita Malfatti inaugura, em São Paulo, sua exposição de 53 trabalhos, inclusive com suas famosas telas do “Homem Amarelo”, “A Estudante Russa” e o “Japonês”, as quais criaram grande polêmica no meio artístico, tanto que o jornal “O Estado de São Paulo” publicou em sua edição de 20 de dezembro, o artigo “Paranóia ou Manifestação”?, assinado por Monteiro Lobato. Foi o mais importante evento cultural do ano.

Lobato chama a mostra de extravagâncias de Picasso. Diz que Anita possui qualidades e talento, mas que suas obras são distorcidas pela teoria da arte moderna. No texto classificou seu trabalho de caricatura, numa mistura de futurismo, impressionismo e cubismo. Na verdade, ele cometeu um equívoco entre o expressionismo e o impressionismo.

Seu comentário provocou um escândalo no meio artístico e fez com que Mário, Oswald, Di Cavalcante, Guilherme, Menotti e outros formassem um grupo coeso em defesa de Anita Malfatti.

Em 1918, Guilherme de Almeida escreve “Messidor” e Manuel Bandeira aparece com “Carnaval”, muito aceito pelo público.

Em 1920, o grupo descobre um jovem escultor de Roma, Victor Brecheret, que apresentou a maquete do “Monumento às Bandeiras”. Segundo Mário, ele foi o criador do estado de espírito dos modernistas.

Em 1921, o grupo mais unido ideologicamente lançou, em 9 de janeiro, o “Manifesto do Trianon” em homenagem a Menotti del Picchia quando lançou o livro “As Máscaras”. Na ocasião, Oswald aproveitou para criticar os passadistas e defender a arte moderna, chamada de futurista. Conclamou o pessoal para novas lutas.

Em agosto, Mário faz sete artigos “Mestres do Passado”, chamando os parnasianos de malditos pela forma como escrevia. Em novembro ocorreu a exposição “Fantoches da Meia Noite”, de Di Cavalcante, e nela conhece Graça Aranha que retornava da Europa. Na conversa entre os dois nasce a ideia da Semana da Arte Moderna de 1922.

Nas edições de 29 de janeiro de 1922, o “ O Correio” e “O Estado de São Paulo” noticiam a organização do evento. O historiador do modernismo, Mário da Silva Brito chega a citar que a iniciativa do movimento se deveu a Graça Aranha.

OS ESPETÁCULOS E AS DIVERGÊNCIAS

Muitos outros jornais divulgaram o evento, anunciando que o primeiro espetáculo da Semana de Arte Moderna estava previsto para 13 de fevereiro. Graça Aranha se incumbiu de proferir a conferência “A Emoção Estética na Arte Moderna” onde fala de paisagens invertidas e interpretações desvairadas. De acordo com críticos, a palestra de Graça foi confusa e declaratória, cujo público pouco entendeu.

Nesse dia, as pinturas e esculturas expostas provocaram espanto e repúdio do público visitante, no Teatro Municipal de São Paulo. Os artistas mais visados foram Victor Brecheret e Anita Malfatti, mas houve irritação também contra a literatura.

Ainda nesse espetáculo houve apresentações de música de Ernani Braga que fez uma sátira a Chopin. Por causa disso, a pianista Guiomar Novaes protestou contra os organizadores. Na mesma noitada houve uma palestra de Ronald de Carvalho sobre “A Pintura e a Escultura Moderna no Brasil”, três solos de piano de Ernani Braga, três danças africanas de Vila-Lobos e poesias de Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida. Nesse clima de irreverência, ocorreram protestos contra a Semana.

No segundo espetáculo, muita algazarra no dia 15 de fevereiro. Mesmo com uma carta de repúdio ao evento, publicada em “O Estado de São Paulo”, a pianista Guiomar Novaes fez sua apresentação. Menotti del Picchia falou sobre “Arte e Estética”, com ilustração de textos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Plínio Salgado que anos mais tarde aderiu ao ver-amarelismo integralista. A cada apresentação, muitas vaias e latidos. Ronald de Carvalho leu o poema “Sapos”, de Manuel Bandeira, numa crítica ao estilo parnasiano.

Muitas vaias, latidos e xingamentos nas apresentações, mas, mesmo assim, Mário de Andrade, das escadarias do teatro, fez um discurso e leu trechos de “A Escrava que Não é Isaura”. Numa breve palestra, destacou a expressão das artes plásticas, justificando as criações dos pintores futuristas.

Vinte anos mais tarde, em 1942, na Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, Mário confessa em entrevista que foi muita coragem fazer aquele pronunciamento nas escadarias do teatro porque só recebeu ofensas e protestos. No entanto, destaca que o movimento não foi apenas artístico, como também político e social.

Menotti comentou que os conservadores iam enforcar os modernistas com vaias. “Nossa estética é de reação. Aceitamos o termo guerra por ser um desafio. Abomino a escola de Marinetti com seu dogmatismo e liturgia. No Brasil não há razão lógica e social para o futurismo ortodoxo”. Em um trecho do seu discurso, exalta o novo. “Queremos idealismo, luz, ar, e que o rufo de um automóvel espante da poesia o último deus homérico que ficou anacronicamente a dormir…” Disse que o grupo pretendia fazer uma arte genuinamente brasileira. No entanto, houve reação quando revelou a prosa e a poesia modernas declamadas pelos seus autores.

No dia 17 ocorreu o terceiro espetáculo da Semana, com músicas de Vila-Lobos em trajes de casaca e chinelos. Houve pouca lotação de público. Mais vaias pela sua irreverência, mas ele explicou que o uso dos chinelos foi porque estava com um calo nos pés.

Durante o evento, Oswald leu “Os Condenados” e Agenor Barbosa foi aplaudido com “os Pássaros de Aço”. Nem todos escritores tiveram coragem de enfrentar o barulhento palco do Teatro Municipal.

Com foco na realidade brasileira, finalmente foi realizada a Semana que renovava a mentalidade nacional e brigava pela autonomia artística e literária. A Semana foi patrocinada pelo setor financeiro, com maior cobertura do “Correio Paulistano”.

REAÇÕES DOS JORNAIS

Sobre as atividades, a “Folha da Noite”, de São Paulo, em sua edição do dia 16/02, trouxe uma matéria classificando a Semana de mal, um fracasso, atraso mental e uma droga. Antes disso, no dia 30 de janeiro, A Gazeta já noticiava sobre o evento como um sarau futurista de escândalo artístico e revolucionário. Tratava a arte nova como extravagância e criticava Marinetti.

O movimento teve seu lado político de ataque à aristocracia. Di Cavalcanti disse ter sugerido a Semana a Paulo Prado, comentando que seria um escândalo. Mário de Andrade defendia a livre métrica e a rima, pois, segundo ele, a preocupação com essas regras prejudica a naturalidade de liberdade do lirismo objetivado.

Não foram só contestações, no dia 18/02, “O Correio” fez um comentário criticando os indivíduos que simplesmente ladravam e cacarejavam. Elogiou aqueles que aplaudiram com calor os libertadores da arte.

O jornal “O Estado de São Paulo”, numa matéria sobre a Semana, em sua edição do dia 29 de janeiro, fez menção a Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Álvaro Carvalho, Oswald, Menotti, Renato Almeida, Luis Aranha, Mário Raul de Morais Andrade, Ribeiro Couto, Agenor Barbosa, Moacir de Abreu, Rodrigues de Almeida, Afonso Schmidt (adepto do grupo Zumbi) e Sérgio Milliet que participaram do evento.

Nessa lista faltaram Cândido Motta Filho, Armando Pamplona (cineasta), Plínio Salgado, Rubens Borba de Morais, Tacito de Almeida e outros. Os nomes de Rodrigues e Moacir desapareceram no decorrer das campanhas polêmicas.

O PAU BRASIL, ANTROPOFAGIA E DESDOBRAMENTOS

Após a Semana foram surgindo outros acontecimentos relacionados ao evento. Em 18 de março, Oswald publicou no jornal “Correio da Manhã” vários artigos que resultaram no livro “Pau Brasil”, ilustrado pela artista Tarsila do Amaral. Propunha uma literatura vinculada à realidade brasileira (redescoberta do Brasil). Pregava o uso da língua sem arcaísmos e erudição, como falamos e somos.

Em 15 de maio, ele lançou a revista “Klaxon” (buzina externa dos automóveis) para propagar seu movimento antropofágico, com ideias inovadoras e atuais.

Nesse ano de 22 foram registrados fatos importantes da nossa história, como a Fundação do Partido Comunista Brasileiro (congresso de 25 a 27 de março de 1922), revolta militar do Forte de Copacabana, que depois gerou o tenentismo, em São Paulo (durou um mês) e se comemorou o Bicentenário da Independência do Brasil.

O historiador Nelson Werneck Sodré, em “História da Literatura Brasileira” narra que dentro do movimento houve muitos atos na disputa pelo poder político, como as manifestações da classe média.

Um mês depois da Semana, em primeiro de março, se deu a escolha na presidência da República para o sucessor de Epitácio Pessoa. A vitória foi de Artur Bernardes contra Nilo Peçanha. Bernardes decretou estado de sítio, censura à imprensa e intervenções nos estados. Mesmo assim, houve a marcha revolucionária dos militares que exigiam o fim da corrupção.

Mário, que sempre foi de direita, pequeno burguês, ingressou no Partido Democrático, em 1926. Ele conta que naquela época, após o movimento festeiro da Semana, tudo começou a estourar em intrigas entre casais de artistas, amigos e família.

O movimento, segundo Mário, teve o caráter anárquico, moderno, original, de consciência nacional e polêmico, mas também o sentido destruidor quando se partiu para o radicalismo. Tinha muito a ver com os tempos atuais.

Os revoltosos do tenentismo, entre 1923/24, vão para o interior onde se encontram com as tropas vindas do Rio Grande do Sul, comandadas por Luis Carlos Prestes que formou a Coluna de mil homens e percorreu 24 mil quilômetros, se internando depois na Bolívia.

Nessa onda de tendências, em 1924, na esteira do Pau Brasil e do antropofagismo de Oswald, apareceu o surrealismo com André Breton (1896 – 1970), que foi um participante do Dadaísmo de vanguarda no entre guerras. Era mais próximo do expressionismo, na busca da liberdade, do inconsciente na arte. Prevalece a não razão, com a exaltação à criança e o selvagem que existem dentro de nós. Foi uma ruptura com Breton, e optava-se pelo revolucionário marxista.

De 1922 a 1930 (rompimento de todas estruturas do passado), e até 1945, viveu-se um período áureo da fase moderna, tanto que Mário descreve como oito anos de orgias intelectuais que a história artística do país vivenciou.

MANIFESTOS PELOS ESTADOS

Ainda no rastro da Semana surgiu uma onda de manifestos pelos estados no período de 1925 a 1930. O Nordeste, por exemplo, criou o Centro Regionalista (edição de uma revista), em Recife, por volta de 1926. Grandes escritores, como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Américo, Jorge Amado e João Cabral de Melo Neto são incluídos por críticos literários como regionalistas.

Em Minas Gerais, em 27 de janeiro de 1928 foi editada a revista “Verde Cataguazes”, com cinco edições. No rio de Janeiro, (1924), a revista “Estética”. Em São Paulo, em 1926, a “Terra Roxa e outras Terras” onde Mário Raul de Morais Andrade (1893 – 1945), formado em piano no Conservatório Musical de São Paulo, professor e diretor do Departamento Cultural de São Paulo, era um dos colaboradores.

Nesse tempo, Oswald cria o “Manifesto Antropofágico” através da Revista de Antropofagia em duas fases, a primeira com 10 edições, entre maio de 1928 e fevereiro de 1929 (direção de Antônio Machado). Na segunda etapa, a revista circulou nas páginas do “Diário de São Paulo”, com 16 números, de março a agosto do mesmo ano, com Geraldo Ferraz.

A primeira revista foi uma miscelânea ideológica de Oswald, Alcântara Machado e Mário de Andrade. Nela foi publicado o primeiro capítulo do livro “Macunaíma”. No terceiro número apareceu o poema “No Meio do Caminho, de Carlos Drummond, incluindo ainda artigos de Plínio e desenhos de Tarsila, na língua tupi e poesias de Guilherme de Almeida. Na segunda fase da revista houve uma ruptura com Mário.

Ficaram na linha antropofágica, Oswald, Raul Bopp, Geraldo Ferraz, Tarsila e Patrícia Galvão, a Pagu. Dou outro lado, Mário, Alcântara, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Menotti e Plínio Salgado. Os antropofágicos foram taxados de Preguiçosos no Mapa Mundi do Brasil.

Numa nova etapa do “Pau Brasil”, o movimento visava valorizar o índio e defender a nossa língua fosse falada pelo povo, bem como que nossa história fosse repensada. A origem do Pau Brasil surgiu da tela de Tarsila do Amaral, presenteada ao marido Oswald em seu aniversário de 1928. Oswald e Raul Bopp batizaram o quadro de Abaporu – homem que come, na linguagem indígena.

A intenção era dar uma resposta ao “verde-amarelismo” do “Grupo Anta” de Plínio Salgado que lançou as sementes do nacionalismo ufanista e fascista juntamente com Menotti, Guilherme e Cassiano Ricardo. Se debatiam o nacionalismo crítico das esquerdas contra o ufanismo exagerado de extrema direita, xenófoba e chauvinista. Oswald, Mário, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti, Cassiano, Guilherme de Almeida e Plínio àquela altura não se entendiam mais.

Era o verde-amarelismo ufanista e integralista de Plínio contra o nacionalismo afrancesado de Oswald que atacava os adversários em sua coluna “Feira das Quintas”, no “Jornal do Comércio”

Na verdade, foi um período fértil em manifestos e lançamento de revistas, mas em 1929 houve a quebradeira da Bolsa de Valores, último ano da Velha República, com a Revolução de 30.

 

ENTRE ENGAÇOS E BAGAÇOS

A paisagem clicada pelas minhas lentes pode ser feia ou bonita, mas isso depende do ponto de vista de cada um. O colorido também pode ser sem graça e até triste para alguns. Mesmo entre os engaços e bagaços da terra árida do sertão nordestino, sempre existe uma ponta de verde em alguma árvore no cenário cinzento de pedregulho, como se fosse um tufo de esperança para o homem resistente às secas. Não é somente o cacto e o mandacaru que aguentam a sequidão e sobrevivem às intempéries. Com as recentes chuvas que bateram em praticamente todas regiões, imaginamos essa imagem verde, mas é só o sol voltar a castigar e tudo volta ao mesmo estado, como no ciclo da vida de altos e baixos. Como a lente de uma máquina fotográfica, nosso eu interior a tudo registra, o verde e o seco, os bons tempos e os ruins, e temos que seguir em frente para não afogarmos no deserto, nem perecermos nas águas.

INFINITO REVOLTO SERENO

Um ser cativo tão pequeno,

A mirar o infinito revolto sereno,

De fortes correntes e ventos,

É o mar dos descobrimentos,

Esse revolto sereno.

 

Rios correm invisíveis ativos,

Nesse infinito sacrário,

Nos sentidos anti e horário,

Para outra banda continental,

De jangada, caravela e nau,

Navegaram polinésios nativos,

Bartolomeu, Vasco, Colombo e Cabral.

 

Nesse infinito revolto sereno,

Do cabo fervente diabo Bojador,

Do Boa Esperança até a Índia,

Mar mistério negreiro cemitério,

Infinito sereno de prazer e dor.

 

Infinito revolto sereno,

Do Pau Brasil que já sumiu,

Rota dos escravos Benim Ajudá,

Me cure dessa saudade veneno,

Do amor que ficou do lado de lá.

UMA PETROBRÁS ESQUARTEJADA

Só os mais velhos (muitos já se foram) se lembram da campanha, há cerca de 80 anos, do petróleo é nosso. Nos últimos anos, a Petrobrás, símbolo desse pertencimento nacional, foi sendo esquartejada, primeiro pela corrupção a partir do governo petista, e logo depois pela venda de seus ativos.  Triste país onde cada títere maluco e psicopata se incube de depená-lo!

Nos áureos tempos do passado, quem aí imaginaria que a Refinaria Landulpho Alves (RLAM) de Mataripe, na Bahia, seria vendida a preço de banana para um grupo árabe? Primeiro foram os poços do recôncavo, as distribuidoras e outras empresas. Nosso país está virando pó! Cada governante mete o seu machado na lasca, e a nação vai se transformando em gravetos.

Como na reforma trabalhista, ou melhor escravista, do Temer (o mordomo de Drácula) em que os empresários do capitalismo predador disseram que serviria para aumentar o número de empregos, o mesmo está acontecendo com o esquartejamento da Petrobrás. São todos mentirosos que nem pensem em seus filhos que vão ficar com essa maldita herança.

A saída da Petrobrás da Bahia gerou uma das piores crises de sua história na geração de emprego e renda, conforme assinalam os economistas Claudiane de Jesus e Pedro Gilberto Filho, em coluna assinada no jornal “A Tarde”.

De acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE, comparando a média anual dos trimestres de 2021, enquanto o volume de trabalhadores do setor no Brasil reduziu 2,4%, passando de pouco mais de 159 mil, em 2020, para mais de 155 mil no ano passado, no estado a queda foi em torno de 30% (25.788 em 2020, para 18.328 em 2021).

De um modo geral, segundo a pesquisa, também houve drástica redução da renda média dos trabalhadores na Bahia, especialmente no ramo de óleo e gás, na faixa de 23%. Disseram que que a saída da Petrobrás de alguns segmentos iria surtir efeitos positivos na criação de novos postos de trabalho.

Está comprovado que a desintegração da empresa estatal não foi nada benéfica para a economia brasileira e baiana, muito menos para o consumidor baiano que agora está pagando um combustível bem mais caro com a venda da refinaria em relação a outros estados da federação. Agora são os sultões e xeiques árabes que ditam os preços. Cadê os sindicatos? Cadê a “oposição de merda” no Congresso? São todos cafajestes e farinha do mesmo saco!

Não me venham com essa colocar a culpa na pandemia. O esquartejamento da Petrobrás já vem ocorrendo há quase 20 anos, desde a roubalheira e os desinvestimentos da estatal a partir de 2015. Nesse ano, quando se deu a venda dos campos terrestres do recôncavo baiano, no terceiro trimestre o setor de óleo e gás empregava quase 38 mil pessoas. Hoje são 8.760 postos na região, conforme dados do terceiro trimestre da PNAD 2021.

Estamos mesmo lascados, sem ninguém para apelar! São verdadeiros bandidos salteadores dos nossos bens públicos que deveriam ser condenados por uma corte internacional, já que não existe justiça no Brasil. O que fizeram com o nosso dinheiro? Sempre gastam em orgias e em mesas de carteados em seus prostíbulos e cassinos clandestinos. Os ladrões estão todos soltos, e a Lava-Jato foi dissolvida pelo ácido assassino.





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia