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O EMBARQUE DA DOR

(Chico Ribeiro Neto)

Marinheiros soturnos carregam o navio “Amargura” com caixas de dores e de maus humores. Um marinheiro pirata consegue infiltrar, no meio dessa carga pesada, uma caixa de Esperança.

O capitão Cinzento, comandante do navio, que também tem uma perna de pau (a outra o tubarão comeu), berra as últimas ordens ameaçando jogar ao mar quem o desobedecer. Ninguém também ousa desafiar as ordens do Imediato, Carne de Pescoço.

O “Amargura” zarpa do Porto da Vida com o barulho dos seus motores. No cais poucos homens de cinza acenam com lenços cinza. Ninguém chora, só olham e acenam.

O apito do navio é mais triste do que o canto do “rasga-mortalha”, um tipo de coruja do Nordeste que, quando passa piando sobre uma casa, é sinal de que ali tem alguém prestes a morrer.

O capitão Cinzento ameaça jogar ao mar, com as mãos amarradas, aquele que perguntar para onde vai o navio, e depois vai catar cupim na sua perna de pau.

As caixas das dores balançam muito. As embalagens não contêm etiquetas de remetente nem destinatário. Nenhuma diz “Este lado para cima”. A única etiqueta é “Cuidado, Frágil”.

Há dores de todo tipo: de amor, de tristeza, de angústia, de cotovelo, de dedão do pé e de dente.

Os marinheiros do “Amargura”, quando bebem à noite, não cantam animados; dão gritos roucos, grunhidos de angústia e fazem uma dança sem graça que mais parece uma procissão.

Os que bebem demais pensam em jogar no mar a perna de pau que o capitão Cinzento tira pra dormir.

Pendurados no “Amargura”, os quatro botes salva-vidas se chamam “Medo”, “Fuga”, “Remédio” e “Queixa”.

Passa um navio que parece ter outro destino. Seu mome é “X do Problema”. Mais adiante passa o saveiro “Sonho”, tripulado por três crianças.

O “Amargura” cruza o Mar da Alma numa noite terrível. Uma tempestade varre o convés e faz o navio “jogar” muito. Com o balanço, as caixas no porão correm de um lado pra outro. A caixa da Esperança se parte e ela vai rolando até cair no mar. A Esperança não tem as mãos amarradas e sabe nadar.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

LEIAMAISBA.COM

www.leiamaisba.com

 

“O ESTRANHO”

Não consegui um dedo de prosa com esse senhor solitário sentado numa cadeira com seu acampamento ao lado, ou uma espécie de barraca, na Avenida Bartolomeu de Gusmão, por isso que resolvi chamá-lo de “O Estranho”, como se fosse seu nome. Cheguei com minha máquina e tentei emplacar uma conversa para saber da sua graça, de onde vinha e o que fazia ali naquela tarde nublada costurando, se não me engano, uma camisa, calça ou calção. Mal me respondeu e não me deu nenhuma atenção. Quando se está com um problema ou aperreio na vida, cada ser humano age de uma forma diferente. Tem uns que vão logo se abrindo, contam sua história e pede uma ajuda para sobreviver. Outros são introspectivos, se fecham e não querem papo com ninguém. Tem   suas próprias razões para assim se comportar. Na minha jornada jornalística de 50 anos como profissional tenho, em alguns momentos, feito o dublê de psicólogo. Na grande maioria das vezes consegui arrancar até um bom papo e fazer uma entrevista, mas não com “O Estranho”, por mais que tenha tentado, e olha que sou insistente. No entanto, senti que melhor seria dizer um “tá bem” e desejar-lhe sorte. “O Estranho” estava “enfezado” ou banzo e, com certeza, passando por uma situação difícil que a nossa sociedade nem quer saber. Seu gesto foi de protesto e de menosprezo com a minha aproximação. Achei mais sensato não o importunar, se ele deu a entender que o deixasse em paz com sua dor, sua mágoa e sofrimento. “ vida é como ela é” – lembrei de Nelson Rodrigues.

VI O AGUACEIRO BATER

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Como num beijo elétrico,

As nuvens pesadas escuras,

Riscam raios na serra,

Lembro da minha querida terra,

E o trovão celebra as aberturas,

Das chuvas de verão,

Das danças indígenas tupãs,

Chamando seus ancestrais xamãs.

 

Naquela tarde calorosa,

Vi o aguaceiro bater,

Na roça do meu gravatá,

O verde todo florescer,

Ao lado de você,

Toda linda charmosa,

E a nambu alegre cantar,

Na campina a perdiz e a juriti,

Vi o sonho clarear.

 

Vi o aguaceiro bater,

O facão brandir no terreiro,

No Nordeste faroeste inteiro,

Senti o cheiro do solo encharcar,

O mandacaru florar,

O mato viçoso exuberante,

O sertanejo forte gigante,

Na escola a criança,

Renascer a fé e a esperança.

 

Vi o aguaceiro bater,

Dentro de mim,

Com alma de poesia,

Minha deusa guia,

Do não e do sim,

Depois da seca danada,

Vi o lavrador com sua enxada,

O chão molhado cavar,

Para a semente semear.

 

Vi a lavoura nascer,

No milagre da natureza,

Espantar toda tristeza,

No aguaceiro a bater.

 

PARDOS-BRANCOS E OUTROS ASSUNTOS

A esta altura no Brasil ainda estamos discutindo, brigando e xingando por causa da cor da pele, se branco, negro, pardo, amarelo, cabo-verde ou caboclo. Não se prega que todos somos iguais perante a Constituição? Dizem que o sertão vai virar mar. Digo que o sertão vai é virar deserto. Não concordo que a voz do povo é a voz de Deus, e que tudo que acontece foi Ele que assim quis.

Essa política de cotas no país, inclusive para LGBT e mulheres, é puro populismo eleitoreiro que, ao invés de unir, só faz separar e criar mais ódio. Desprezamos a meritocracia dos mais esforçados, inclusive do pobre, seja lá qual for o tom da sua cútis, que derramam suor, lágrimas e sacrifícios para alcançar seus objetivos e premiamos muitos que terminam se acomodando com essa reserva de mercado.

Deixamos de enaltecer o mérito e preferimos o contraditório. O patrulhamento nos vigia dia e noite e não podemos emitir nossa opinião contrária, senão seremos logo rotulados de politicamente incorretos, racistas ou outra coisa bem pior.

Nesse entrevero da moléstia, o pardo não pode entrar com um pedido de cota senão ele será processado e execrado como branco oportunista. É o pardo-branco. Num Brasil tão miscigenado, como distinguir que o indivíduo é branco ou pardo? Seus antepassados não contam?

Meu companheiro jornalista Carlos Gonzalez me disse ter consultado a página do IBGE na internet e constatado que os pardos em Vitória da Conquista são maioria. “Na questão da premiação do edital da Lei Paulo Gustavo (citação dele), o beneficiado deveria ser o branco, com apenas 15%”. Não é contraditório e paradoxal?

Para as eleições municipais aprovaram uma carreta de 5 bilhões de reais para os partidos esbanjarem. Os maiores, cujos políticos com mandatos têm uma máquina de benesses e privilégios nas mãos, são os que levam a maior fatia do bolo. Isso é justo?

Não deveria ser o contrário? Como o pequeno vai disputar com esse grande? Ainda existem as cotas. Como resultado, temos a perpetuação no poder por 30, 40 e até 50 anos e, quando o político “velha raposa” larga o osso, deixa para seu herdeiro. As ditas “reformas” são tapa-buracos num barco apodrecido comandado pelos coronéis, não importando se de esquerda, direita, centro ou de extrema.

É a vida como ela é, meu amigo, de um sistema retrógrado que nunca vai mudar esse país. É esse esquema bruto que mantém as profundas desigualdades sociais, a pobreza e a miséria. Eles não querem incentivar a cultura, mas injetar mais ignorância e analfabetismo nas veias do povo. O menor de idade não pode ser responsabilizado pelos seus atos criminalmente, mas tem o direito de votar porque essa categoria é fácil de ser manipulada.

Outra questão que não consigo engolir são esses programas de Fies, Prouni, Sisu e outros que só fazem encher as burras de dinheiro das faculdades privadas. Por que não pegar esses bilhões de reais e investir nas universidades públicas, qualificá-las melhor, ampliar as vagas e torná-las mais atrativas para que todos nelas estudem, sem distinção de cor e gênero? Só queria entender!

Na verdade, a intenção é fazer a política do pai dos pobres ou das minorias e mãe dos ricos e da elite para agradar a todos. O jogo é ficar bem na fita, e ai de quem contestar! O nosso QI é abaixo da média internacional e vamos levando aquela vidinha de pataca.

Quem manda nesse Brasil (o maior problema) é o sistema financeiro bancário. Os quatro maiores bancos tiveram um lucro de 25 bilhões de reais no último trimestre. Por dia, essas instituições lucram 400 milhões de reais e dois bilhões por semana. Os outros não passam de idiotas otários sem capacidade para refletir ou discernir o certo do errado.

Quem comunga e concorda com essas pontuações feitas por mim (não me incomoda a ira e podem jogar suas pedras que não me atingem) é considerado portador de uma linguagem direitista e atrasada porque toca na ferida deles. Preferem que as coisas continuem como estão. Confundem o que é esquerda progressista e o que é direita conservadora. Muitas ideias parecem ser de esquerda, mas não são, e vice-versa.

Para finalizar minha salada de questionamentos, as pessoas hoje estão sendo classificadas e rotuladas através de siglas e letras como se fossem placas de veículos. Não vai demorar e logo nossos nomes vão ser trocados por esses ícones nas certidões de nascimentos. Não temos mais privacidades. As câmaras vigiam nossos passos e logo a inteligência artificial vai revelar nossos pensamentos.

 

RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E SAÚDE

Carlos Alberto González

O Brasil tem mais instituições religiosas do que a soma de organizações escolares e de saúde. Os dados foram apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Censo 2022/2023. Os números não chegam a surpreender às pessoas que, por diferentes motivos, visitam os bairros das periferias das grandes cidades, ou viajam pelo interior do Brasil. A percepção que têm é de o evangelismo de matriz pentecostal está evoluindo, no sentido de que, a partir da próxima década, deixemos de ser “a nação mais católica do mundo”.

O último recenseamento revelou que o Brasil possui 579.800 entidades religiosas (igrejas, templos, terreiros, centros espíritas, sinagogas, mesquitas e outros), ante 264.400 unidades de ensino e 247.400 clínicas médicas, postos de saúde e hospitais. Essa desigualdade numa escala de valores – excetuam-se São Paulo, Piauí e os três estados do Sul – não deixa dúvidas de que nossos governantes não priorizam as necessidades básicas das populações, mesmo levando em conta o aumento daqueles que abraçam a “doutrina do dízimo”.

A coleta de dados pelo IBGE deveria merecer uma análise dos poderes públicos. Por exemplo, uma média de 17 templos evangélicos é aberta diariamente nos 5.568 municípios brasileiros, muitos deles sem alvarás de funcionamento da prefeitura e do Corpo de Bombeiros, e sem o CNPJ fornecido pela Receita Federal. Como as fundações criadas por jogadores de futebol e artistas famosos, essas casas, adjetivadas de religiosas, isentas do pagamento de impostos, assumem as despesas do seu dono.

Quando apuramos os números da Bahia verificamos que dos nove milhões de endereços encontrados nos 417 municípios do Estado, 52.939 pertencem a instituições religiosas, o dobro dos estabelecimentos de ensino (28.315) e o triplo dos relacionados como de saúde (16.347). A média é maior do que a nacional. Segundo as coordenadas, seis em cada 10 municípios, incluindo Salvador, a soma de escolas e de unidades médicas e hospitalares é inferior a de igrejas e templos.

Ao analisarmos Salvador, observamos que 6.032 imóveis rotulados de religiosos (média de 2,5 para cada 1.000 habitantes) configuram o dobro dos estabelecimentos de ensino (3.018) e quatro vezes os de saúde (1.509). Este último dado é assustador, porque revela que nos dias atuais o soteropolitano, principalmente aqueles que dependem de assistência médica do Estado ou do município, está permanentemente sujeito a contrair uma doença virótica. O Carnaval acabou, mas as festas com aglomerações continuam, incentivadas ou organizadas pela prefeitura, o que resulta na propagação da dengue.

Os números coletados pelo último Censo em Vitória da Conquista são um reflexo do quadro nacional. Cristãos, umbandistas e espíritas contam com 1.162 locais para professar sua fé ou crença, ante 430 que se ocupam do ensino e 488 unidades de saúde (postos, hospitais e clínicas). Não há necessidade do uso da calculadora para ver que o conquistense está se dedicando mais à salvação da alma do que do corpo, e que há milhares de crianças e jovens longe dos bancos escolares.

Na opinião do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, essa transição religiosa – hoje há 50% de católicos e 30% de protestantes, incluindo missionários (Batista, Presbiteriana e Metodista), pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil e Deus é Amor) e neopentecostais (Universal e Renascer em Cristo) – se deve a um enfraquecimento do catolicismo, notadamente nas periferias das cidades, onde as igrejas permanecem fechadas por falta de um padre.

Pentecostais e neopentecostais se aproveitam dessa ausência para introduzir a sua doutrina, que consiste, basicamente, em vender a felicidade ao homem fragilizado pela pobreza e abandonado pelo poder público. Em troca, aquele humilde de espírito faz sua doação, em dinheiro ou em bens, para a igreja. No Brasil e nos países africanos – a Igreja Universal e a TV Record foram expulsas de Angola, acusadas de vários crimes – os “mercadores da fé” encontram terreno fértil para plantar a doutrina da conversão e da salvação.

Em centenas de municípios brasileiros, localizados em sua maioria no Norte e Nordeste, o dinheiro circulante é fruto das aposentadorias pelo Funrural ou dos auxílios do governo federal. O dízimo doado mensalmente para quem ganha um salário mínimo corresponde a R$141, o preço de um botijão de gás de cozinha. Uma semente de feijão foi vendida por um “apóstolo” a R$ 1.000 como remédio para a cura da Covid-19. Fundada em julho de 1977 pelo bispo Edir Macedo – sua fortuna é avaliada em R$ 6 bi -, a IURD possui 12.500 templos em 143 países. No Brasil está em 2.319 cidades, totalizando 5.500 edificações.

Há 10 anos um líder da Igreja Anglicana no Brasil denunciava um plano, que qualificamos de terrorista, agregando religião e política, e arquitetado por influenciadores evangélicos, com o objetivo de tomar o poder no Brasil. Aqui seria criado um estado fundamentalista, com abolição de práticas de outras religiões, perseguição aos adeptos dos cultos de raízes africanas e limitação dos direitos humanos às mulheres, que seriam obrigadas a usar a burka e “aposentar” o biquini. Jair Bolsonaro emerge do baixo clero da Câmara dos Deputados para assumir a chefia do talisbã tupiniquim. A pandemia impediu (ou adiou) a execução do plano delatado pelo bispo anglicano.

 

APROVAR O ALUNO SEM SABER PODE LHE RENDER UMA REPROVAÇÃO LÁ NA FRENTE

Quando falamos de um passado feliz de brincadeiras de criança e como funcionava o sistema de ensino nas escolas públicas, o respeito aos professores, aos pais e aos mais velhos, logo aparece alguém para dizer que as coisas mudaram e até que você é um atrasado.

Não vou aqui questionar de que as mudanças são inevitáveis e muitas são até salutares, advindas do progresso e agora com o avanço das novas tecnologias da informática. No entanto, por razões diferentes, como a deficiência escolar, a maioria das mudanças vieram para piorar o ser humano, hoje tão desumano.

Essa abertura serviu apenas para entrarmos no assunto principal que é a aprovação do estudante de um ano para o outro, mesmo que suas notas nas matérias ou disciplinas não sejam suficientes para tanto. A fala do governador Jerônimo, do PT, deixou claro que a escola que reprova é uma instituição arbitrária e condenou a reprovação.

Em minha opinião, acho isso um absurdo dos absurdos e até mesmo uma maldade contra a criança e o jovem, além de ser um desrespeito ao professor. O estudante de hoje, que pouco interesse tem pelos estudos (nem todos), e isso é sim uma falha da Educação, deve concordar com o governador, mas não tem a capacidade de refletir que ele será o maior prejudicado no futuro.

Como o próprio título do meu comentário já diz, aprovar o aluno sem saber pode lhe render uma tremenda dor de cabeça lá na frente. O que adianta ele tirar um diploma de ensino médio, por exemplo, sem conhecimento básico, principalmente do português e da matemática, e depois ser reprovado pelo mercado de trabalho por ser um semianalfabeto?

Quem será o mais prejudicado nessa história? Isso o jovem só vai constatar e descobrir quando se sentir rejeitado em qualquer contratação de trabalho por não saber escrever um parágrafo e não fazer as principais operações de matemática. Como se diz no popular, aí é que sua ficha vai cair de verdade, de que foi enganado e lesado. Ele vai cair na zona escura do subemprego, ficar de fora ou ter que tomar  um curso.  Essa tese da não reprovação, sr. Governador, não passa de um estelionato.

Se o estudante não pode ser reprovado, então ele não precisa mais frequentar a escola, fazer provas, exercícios escolares ou pegar num livro para ler. A criança já entra no primeiro ano sabendo que não vai ser reprovado. É mais um incentivo à evasão escolar.

É também um estímulo à preguiça de estudar. Por sua vez, o professor não pode fazer nenhuma advertência (isso hoje já é até proibido) porque o aluno vai responder que ele não pode lhe reprovar. As notas em si não têm nenhum valor. Se já temos uma geração de alienados, com essa vamos ter uma país de ignorantes em sua totalidade.

Não vou aqui ficar enchendo o saco de vocês para descrever como a escola pública era eficiente nos anos 40, 50 e 60, ao ponto da demanda dos pais por esta ser maior do que pelo ensino particular. De lá para cá houve uma degradação e uma inversão de valores.

O resultado de tudo isso todos sabem hoje no comportamento das pessoas, especialmente da nossa juventude, onde poucos querem saber de cultura e ler a obra de um escritor. O que temos hoje nas escolas é violência, desacato ao mestre e desobediência aos país. O comando hoje é do celular, e a grande maioria vira a cara quando ver um idoso.

E as brincadeiras de meninos e meninas naquele tempo! Sem essa de saudosismos baratos, mas éramos felizes e não sabíamos. Havia brigas e apelidos, mas depois todos estavam se abraçando. O maior medo era tirar uma nota vermelha ou praticar alguma desordem na escola. Os pais chegavam juntos para repreender. No mais, a velha geração sabe contar causos, casos e histórias de como era bom aqueles tempos.

SÓ FALTAM INSTALAR AS CÂMARAS DE GÁS PARA COMPLETAR O HOLOCAUSTO

É um espetáculo dantesco do inferno de Dante. Os expectadores são os extremistas de plantão, os chefes de Estado e seus súditos. Nesses mais de 100 dias de bombardeios na Palestina, o exército de Israel já matou mais de 30 mil pessoas, dos quais 10 mil crianças, a maior taxa registrada no século XXI. O pequeno território virou um cemitério de crianças, segundo a Unicef.

Nesses mais de 100 dias foram lançadas milhares de bombas de duas mil libras; 80% dos famintos do mundo estão em Gaza; 169 escritórios da imprensa desalojados e 100 jornalistas mortos; 400 mil casas estão em ruínas, bem como todo sistema de saúde (637 médicos alvejados); dois milhões de pessoas deslocadas, o que equivale a 90% da população “vivendo” em gaiolas ou guetos; e mais de 300 escolas bombardeadas.

Não vou entrar aqui na questão histórica da formação dos povos judeus e palestinos, mesmo porque já tratei, como muitos outros, desse assunto em meus comentários. Na realidade atual, o que menos importa agora é o debate academicistas das origens. Não adianta ficar divagando ou fazendo conjecturas filosóficas e teológicas.

Desde o ataque do Hamas, há mais de 100 dias, o que o mundo tem presenciado estarrecido é um banho de sangue dos judeus, comandados pelo neonazista Benjamin Natanyahu, o “Bibi”. Digo dos judeus porque, de um modo geral, estão consentindo e apoiando esse genocídio, com raras personalidades que se posicionaram contra.

Não me venham com essa de que toda culpa é a do “Bibi”, como sempre assim julgaram o Hitler, que contou com a adesão dos poderosos empresários e de quase toda população alemã. Vocês acham que Hitler, Stalin e outros tirânicos facínoras fizeram tudo sozinhos? Todos são culpados, como somos pelas mazelas existentes em nossa sociedade em que vivemos.

Não tenho visto manifestações em Israel condenando a ação do tirano “Bibi”. Então, sem essa de inocentes. Um grupo só aparece para pedir de volta os reféns e, a grande maioria, acata esse extermínio e o fim dos palestinos. Não vejo protestos nas praças de Israel pedindo um basta nessa guerra genocida. O governo corrupto de extrema direita está é cada vez mais forte e firme.

Todos sabem muito bem que os judeus sempre colocaram o holocausto de seis milhões como marketing político para praticar mortes, invadir território palestino com suas colônias, erguer muros e justificar suas atrocidades na base das pesadas armas de destruição, como tanques e bombas.

Eles ficam furiosos quando se compara massacres dessa natureza com o holocausto, como o que está ocorrendo na Palestina onde mais de trinta mil foram mortos cruelmente pelas bombas assassinas, sem contar os campos de concentração onde o povo fica vagando com fome e sede de um canto para o outro. Até a entrada de ajuda humanitária de alimentos as forças israelenses vêm barrando.

Que está existindo um criminoso genocídio não restam mais dúvidas. Para se tornar um holocausto verdadeiro como dos judeus na Segunda Guerra Mundial, só está faltando o “Bibi” instalar as câmaras de gás, mas nem é preciso fazer isso porque aí seria a loucura das loucuras.

Para completar sua maldade de carrasco, ele agora está com um plano de anexar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, com sua militarização indefinida, o que implica em acabar de vez com os palestinos. Aliás, desde o início sua intenção era essa mesma. O estopim e o pretexto para tal foi o ataque do Hamas em sete de outubro. Os judeus, com poucas exceções, não querem um Estado Palestino, e não é só o “Bibi”.

Ficam falando por aí, para contemporizar, e com medo de dizer a verdade, que nada se pode comprar ao holocausto judeu. Em minha opinião, não concordo. Façam um retrospecto histórico dos massacres e das matanças perpetrados pelos tirânicos ditadores.

O que aconteceu na Bósnia no início dos anos 90 do século passado? Os genocídios do imperialismo espanhol contra os índios na América do Sul foi um holocausto nas mesmas proporções. A invasão da Itália na Etiópia. Os belgas no Congo. Os colonizadores (Inglaterra, França, Espanha e Portugal) contra os povos africanos. O próprio Tibério, 40 anos antes de Cristo, fez uma carnificina em Jerusalém naquele mesmo chão de sangue de hoje. E o que os turcos fizeram contra os armênios?

Mais recentemente, os próprios sírios opositores de Bashar al-Assad foram vítimas de um holocausto e ainda são. Cenas e imagens estarrecedoras correram o mundo mostrando os refugiados, furando fronteiras de armes farpados e procurando abrigo em outros países e sendo escorraçados como bichos animais. A fome africana e de outros milhões (quase um bilhão) de miseráveis pelo planeta a fora é um holocausto.

Existem tantos outros exemplos de terror e matanças em massa na história da humanidade, mas o holocausto é reivindicado só pelos judeus. Sem essa de que não se pode fazer correlações. Se fizer você é linchado político e moralmente, sem falar que corre o risco de ser fuzilado como antissemita. Os próprios judeus se esquecem que usaram do terrorismo após a II Guerra para conquistar seu Estado.

 

“A MÁSCARA DA ÁFRICA-VISLUMBRES DAS CRENÇAS AFRICANAS”

OS REIS OU OS KABAKAS (CHEFES) CRUEIS DE UGANDA (BUGANDA) DO POVO BAGANDA DO SÉCULO XIX, A CULTURA TRADICIONAL DO CULTO AOS ESPÍRITOS ANCESTRAIS, OS SACRIFÍCIOS HUMANOS E A INVSÃO DAS RELIGIÕES ESTRANGEIRAS (O CRISTIANISMO E O ISLAMISMO).

O Prêmio Nobel de literatura de 2021, V. S. Naipaul, que escreveu “A Máscara da África” empreendeu uma viagem pelo continente em 1966 (revisitada 40 anos depois) e sentiu as mudanças, resultantes do progresso e da influência exercida pelo mundo exterior. Uganda virou uma bagunça e aumentou consideravelmente a pobreza e a miséria.

Mesmo expostos às grandes religiões do cristianismo e do islamismo, o sistema antigo de crenças, herdadas dos antepassados, ainda persistem. De Uganda, depois de mais de 40 anos, o escritor passou pela Nigéria, Gana, Costa do Marfim, Gabão e África do Sul, entre 2008 e 2009, visitando locais sagrados e conversando com intelectuais, autoridades políticas, chefes religiosos e pessoas comuns.

Em sua observação, constatou que ainda existem os laços que vinculam às crenças e práticas religiosas ancestrais. Neste livro, Naipaul, nascido na ilha de Trinidad, em 1932, graduado na Universidade de Oxford, nos oferece um amplo panorama dos dilemas enfrentados pela África de hoje. Seu romance mais famoso foi “Uma Casa para o Sr. Biswas”, escrito em 1961. Vale a pena viajar nas obras desse escritor.

“A Tumba de Kasubi” é o primeiro capítulo da obra “A Máscara da África” onde ele descreve sobre os kabakas cruéis Sunna e seu filho Mutesa, passando por Idi Amim, entre 1971 até 1979 (dizem que matou mais de 150 mil pessoas), e pelo governo do feroz Milton Obete, de 1981 a 1985. Entre 2008 e 2009, apesar do deslocamento de 1,5 milhão de pessoas e da epidemia da aids ainda havia 30 a 40 milhões de habitantes vivendo em Uganda (Buganda).

Nesse capítulo “A Tumba de Kasubi”, vamos falar um pouco de Sunna e Mutesa, bem como das mudanças com a invasão das religiões estrangeiras (anglicana, a presbiteriana e o islã) que chegaram prometendo a vida além da morte, enquanto o povo tradicional praticava a cultura de venerar os espíritos ancestrais que viviam nas florestas e eram seus guias. Foi aí que Uganda se deteriorou.

Em sua viagem por Uganda, Naipaul fala do kabaka Sunna, do meado do século XIX, conhecido pela sua grande crueldade, e a chegada dos árabes que espalharam o islamismo. Depois vieram as igrejas eclesiásticas narradas pelo escritor, em 2008/09. “Nas áreas nobres superconstruídas havia estruturas cristãs “evangélicas”. Também havia mesquitas concorrentes de vários tipos, como sunitas, xiitas e ismaelitas”.

De acordo com Naipaul, até os anos 1840, Uganda tinha ficado isolada, vivendo para si mesma, até a chegada dos mercadores árabes que foram bem acolhidos por Sunna. Seu filho sucessor Mutesa, que chegou a receber o explorador John Hanning Speke, em 1861/62, era tão cruel quanto o pai.

Speke presenteou o kabaka com armas, bússola, espelho e outros instrumentos, mas o povo baganda, com seu dom para a organização social e disciplina militar, possuía sua própria civilização. “Construíam estradas tão retas quanto as dos romanos; tinham a higiene em alta conta; e dispunham de uma frota no Lago Vitória, o maior da África.

“O fruto dessa decisão de mais de 139 anos atrás podia ser visto agora em Kampala (capital). A religião estrangeira, a julgar pelos edifícios eclesiásticos que competiam entre si nos morros, era como uma doença impregnada e contagiosa, que não curava nada, não oferecia nenhuma resposta definitiva, mantinha a todos num estado de nervos, travando batalhas erradas e estreitando a mente”. Essas religiões estrangeiras, segundo Naipaul, possuíam uma teologia complexa.

O príncipe Kassim, no entanto, tinha uma outra interpretação. Em uma conversa, o príncipe disse que ambas as religiões ofereciam para os africanos um além-vida, davam às pessoas uma visão de si mesmas vivendo depois da morte. A religião africana era mais etérea, oferecendo apenas o mundo dos espíritos e os ancestrais.

Em sua visita à Tumba de Kasubi, ele conheceu uma velha guardiã do túmulo de um kabaka, considerada privilegiada por ser uma das esposas. “Os kabakas não morriam. Desapareciam e iam para a floresta, que ficava bem em frente, na parte interna da tumba”.

Quanto ao funeral de um kabaka, conta em sua narração de viagem, que envolvia rituais que teriam vindo do passado distante. O cadáver do rei tinha que ser dessecado sobre um fogo brando durante três meses. O maxilar era retirado e adornado com contas ou cauris (conchas).

Nos velhos tempos, o sacrifício humano era uma prática comum quando se levantavam as pilastras ou se assentavam as fundações de uma tumba. Ressaltou que, quando Speke veio a Uganda, em 1861, Mutesa era kabaka, exercendo o mais despótico tipo de poder em sua corte, matando pessoas “feito galinhas”.

Certa vez, numa histeria, sem nenhum motivo aparente, levou a lança consigo ao harém e matou mulheres até que sua sede de sangue fosse saciada. Nessa época, nem havia sido coroado. Em 1886, o jovem sucessor de Mutesa, Mwanga, farto das novas religiões tão inconvenientes, ordenou que seus 22 pajens cristãos fossem queimados. Antes foram espancados a pauladas e chicoteados pelos carrascos do palácio e logo picotados a machadadas.

A tradição baganda ditava que o sangue de príncipes não era algo que pudesse ser espalhado. Era uma proibição religiosa e, por isso, não poderia haver pauladas e chicotadas para eles. Só podiam ser queimados em esteiras de junco.

A LEI PAULO GUSTAVO E O PROJETO SOBRE A MEMÓRIA DA FOTOGRAFIA

Estive na Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer-Sectel (deveria ter sido desmembrada para abrigar só a Cultura) para ver minhas notas a respeito do projeto sobre a “Memória da Fotografia em Vitória da Conquista”, no edital da Lei Paulo Gustavo.  Comprovei ter ficado de fora ou na suplência dos pareceristas por causa da questão de cotas destinadas a negros e a gênero, o que considero um absurdo dos absurdos.

Não entrei com nenhum recurso como muitos me recomendaram por considerar ainda mais irritante e estressante nesta minha idade. Além do mais, não iria haver nenhuma mudança e, para mim, basta a plena consciência de que minha proposição foi inédita, bem fundamentada e seria um bom projeto para a cidade. Repito, mais uma vez, que não sou eu quem vai perder.

Bem, vamos aos fatos concretos para demonstrar que fui “eliminado” por outros motivos fixados pela própria Lei Paulo Gustavo, os quais, na minha concepção, não justificam. Nas notas dadas pelos pareceristas no âmbito da Pontuação Qualidade foi dez; Relevância da Ação, dez; Aspectos de Integração, nove; Orçamento (quinze mil reais), oito; Coerência, Objetivos e Metas, dez; Ficha Técnica da Atividade, nove; Trajetória Artística Cultural (curriculum vitae), dez; e Contrapartida, dez, sem contar o cinco que é o peso por idade.

No entanto, nada de pontuação no campo gênero e no relacionado a negros e indígenas, embora eu seja pardo para todos efeitos, inclusive científicos. Como o projeto foi na área de literatura, no lugar da obra sobre a História da Fotografia em Conquista optaram em escolher a proposta de um livro de poesia, se não me engano, sobre a Mulher Cordial.

Não tenho nada contra a poesia, muito pelo contrário. É uma das vertentes artísticas que eu mais admiro ao lado da música. Até entendo que o mundo conturbado e desmano de hoje precisa de muita poesia. Não se trata de desqualificação. O que não consigo engolir e aceitar é que um projeto cultural para ser aprovado tenha como diferencial a cor da pele e o gênero. Até quando vamos continuar adotando esses métodos como critérios de qualificação para um projeto?

Para ser sincero, também não concordo com esse peso cinco por conta de ser idoso. O que tem que ser levado em consideração é a importância e o mérito do trabalho proposto, inclusive seu benefício para a memória e a cultura da cidade. Conforme soube, todos pareceristas foram de fora.

Não se trata de uma questão de contestar por ter sido “reprovado”, mesmo com boas notas. Sempre fui um crítico desses editais, primeira pela sua própria natureza burocrática que aqui denominei de “burrocrático” pelas suas intrincadas exigências, Como se não bastasse, agora colocam um percentual para as cotas.

DE UM TUDO

(Chico Ribeiro Neto)

Eu e meu irmão Cleomar, meninos no Porto da Barra, cavamos um túnel na areia da praia. Um cavando de cada lado até nossas mãos se encontrarem. “Como vai o senhor?”, nos cumprimentamos embaixo do túnel, sorrimos e mergulhamos.

XXX

De um punhado de farinha apareceu uma rainha que tem que contar sete histórias para sobreviver.

XXX

Descobri que a lágrima é salgada e que há sorrisos doces e sorrisos amargos.

XXX

Descobri que gosto das pontes pequenas, principalmente daquelas pontes japonesas.

XXX

– Do que foi que senhor mais gostou?

– De um, tudo.

XXX

Aquele cisco doía no olho ou na alma?

XXX

Tinha (ou ainda tem) uma bolacha chamada Paciência.

XXX

Aprendi que se apontar para uma estrela nasce uma verruga na mão, que o mistério está dentro do peixe e que o melhor silêncio está no fundo do mar.

XXX

“De tudo ficou um pouco.

Do meu medo.

Do teu asco.

Dos gritos gagos. Da rosa

ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz

captada no chapéu.

Nos olhos do rufião

de ternura ficou um pouco

(muito pouco).

Mas de tudo fica um pouco.

Da ponte bombardeada,

de duas folhas de grama,

do maço

– vazio – de cigarros, ficou um pouco (…)”

(Trecho do poema “Resíduo”, de Carlos Drummond de Andrade).

 

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 





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