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“RISCADOS ÁRIDOS DA INFÂNCIA”

Com fotografias do meu amigo fotógrafo, Evandro Teixeira, reconhecido internacionalmente pelas suas imagens da ditadura militar no Brasil e na América do Sul, de Canudos, dentre outras cenas inéditas, do artista plástico Silvio Jessé, que retrata a vida do sertão e dos sertanejos, foi lançado no início deste mês de janeiro, no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, o livro “Riscados Áridos da Infância”, da professora Ester Maria Figueiredo, que tem como cenário a cidade de Canudos. Além do deputado federal Waldenor Pereira e do estadual José Raimundo Fontes, estiveram presentes escritores e intelectuais. O evento contou com uma apresentação musical do maestro João Omar. No final, Evandro Teixeira fez uma explanação de seus trabalhos, destacando as fotos emblemáticas da ditadura civil-militar de 1964 no Brasil, com destaque para a marcha dos 100 mil e dos principais personagens que participaram das manifestações contra o regime, cujo golpe está completando 60 anos e merece ser lembrado para que este episódio nunca mais se repita em nosso país. Na ocasião, Teixeira lançou seu livro de 100 estudantes e militantes que estiveram presentes nos protestos do “Abaixa a Ditadura. “Riscados Áridos da Infância” fala do cotidiano da nossa gente sertaneja, seus costumes e hábitos. É, na verdade, uma obra de memória, com a riqueza das pinturas de Silvio e fotos de Evandro.

TANTAS COISAS

Versos de autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário

“Uma coisa é uma coisa,

Outra coisa é outra coisa”.

 

Tudo que se faz,

É inspirado noutra coisa,

Como esta “Tantas Coisas”.

 

Coisa pode ser

Masculino ou feminino,

Substantivo, verbo e advérbio,

Adjetivo e tanta coisa.

 

Tem o coisa ruim,

Que é o capeta belzebu;

A coisa boa divina azul,

Tanta coisa assim.

 

Vou lhe contar uma coisa:

Você não pode revelar.

Então, não me conte sua coisa.

 

Bate aí nessa viola,

Uma canção, samba ou forró,

E não me deixe aqui tão só.

 

Rapaz, me deu aqui

Uma coisa na espinhela.

Não seria na costela?

Ou outra coisa?

 

Tenho uma coisa por ela,

Que não sei explicar essa coisa.

 

Não me venha com mais coisa,

Que já estou cheio de tanta coisa.

 

Mostre sua coisa,

Que mostro minha coisa.

 

Me dê sua coisa de pitada,

Pra eu dar uma tragada,

E ficar doidão nessa coisa.

 

Vá pra lá com sua coisa,

Que fico com minha coisa,

E quem quiser e vier,

Que acrescente outra coisa.

O LEÃO RUGE, MAS NÃO ASSUSTA

Carlos González – jornalista

O leão da Receita Federal rugiu em Brasília, anunciando a cobrança do Imposto de Renda (IR) sobre os ganhos das lideranças religiosas. A única reação partiu da Bancada da Bíblia no Congresso Nacional. Bispos e pastores interromperam as férias ao lado das famílias no exterior ou em resorts de luxo para iniciar mais uma campanha, com veladas ameaças, contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.  O grupo conservador não aceita o corte de um dos muitos privilégios que recebe.

A tabela do IR para 2024 estabelece que o assalariado, inclusive o aposentado pelo INSS, que recebe mensalmente R$ 2.112,00, sofrerá um desconto de 7,5%, ou seja, R$158,40, suficiente para comprar um botijão de gás de cozinha. No vértice da pirâmide econômica estão encastelados os parlamentares da bancada evangélica, que, na prática, deveriam ser enquadrados pela Receita como “grandes fortunas”.

Entre os privilégios de que gozam na área tributária, os ministros evangélicos estão livres da contribuição previdenciária (Lei 8.212/91). Trata-se da chamada prebenda pastoral, uma forma de retribuir financeiramente ao pastor por sua dedicação à Igreja. Está legalizada a lavagem de dinheiro, – quem viaja pelo interior do Brasil se surpreende com o número de templos evangélicos – operada nas fundações, que se dizem beneficentes, culturais ou educativas, por artistas e atletas famosos.

“É lamentável e incompreensível para um governo que se diz reconhecer a importância das religiões”, comentou o coordenador da bancada evangélica neopentecostal, deputado pelo Amazonas Silas Câmara, do Republicanos, partido que indicou um dos seus membros, o deputado Sílvio Costa Filho, para o Ministério de Lula.

Um mês antes de deixar o governo Jair Bolsonaro deu mais um presente aos evangélicos, ampliando o alcance das isenções tributárias aos pastores. A medida, que está sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU), tinha como finalidade reforçar o apoio à reeleição de um presidente antidemocrata. Aquele ato anticonstitucional estimulou os pastores a convencer uma plateia inculta e iletrada a votar nos candidatos da Igreja.

As “campanhas de solidariedade”, que em 2014 beneficiaram os petistas José Genoíno e José Dirceu, foram reforçadas em 2023 com o uso do Pix, para ajudar Bolsonaro a pagar as multas por desobediência civil (circular em público sem máscara durante a pandemia), que somavam R$ 936 mil. A campanha “pague por mim a minha punição”, incentivada pelos evangélicos que se alimentam da fé, arrecadou R$ 20 milhões.

Ameaçando votar contra, nas comissões e em plenário, as matérias de interesse do Executivo, os exploradores da fé – são mais de 140 nas duas casas do Congresso – foram dar seu recado ao ministro da Fazenda. Na saída do gabinete declararam que não voltarão a ser “mordidos” pelo leão da Receita, enquanto Haddad afirmava que a continuidade da isenção será estudada por um grupo de trabalho.

O recado dado por Haddad foi interpretado de outra maneira pelo mundo financeiro e político de Brasília: esperar que a imprensa esqueça – cadê as joias sauditas? – o assunto para que Lula volte a afagar a bancada evangélica, como fez em outras oportunidades com os membros do Centrão. O presidente já não conta com as bancadas da Bala e do Boi. Afinal, há necessidade do país equilibrar as contas públicas.

A ideia de se criar uma república fundamentalista no Brasil não morreu com a eleição de Lula. Seus idealizadores precisam de recursos para serem aplicados nas eleições municipais deste ano. Esses esforços incluíram as recentes eleições para os Conselhos Tutelares em todas as cidades do país. Os novos conselheiros – há exceções, claro – têm como meta doutrinar  a população infanto-juvenil.

 

 

 

 

 

 

 

O NORDESTE VAI VIRAR DESERTO

EM ALGUNS LUGARES, AS CHUVAS COM TEMPORAIS E VENTOS FORTES VÃO ARRASTANDO TUDO PELA FRENTE. LEVAM CASAS E EXTERMINAM SERES HUMANOS. EM OUTROS É A SECA QUE DESERTIFICA A TERRA. TUDO É RESULTADO DA AÇÃO DO HOMEM QUE PROVOCOU O AQUECIMENTO GLOBAL. A TENDÊNCIA É QUE OS ESTRAGOS VÃO SE AGRAVAR. SERÁ QUE TEMOS COMO REVETER ESSAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?

Um dia o profeta disse que o sertão ia virar mar, mas acho que errou ou se referiu às grandes barragens e açudes que inundaram cidades e campos. Na verdade, de acordo com estudos de cientistas, o semiárido do nosso Nordeste, a quem eu denomino de meu sertão, vai é virar deserto, e o fenômeno só avança.

Tem lugares que a terra está se transformando em sal. Tenho até um poeminha com o título “O Sertão Vai virar Deserto” que fala desse tema. Há milhões de anos o sertão era mar, mas agora é outra coisa parecida com engaços e bagaços. Não está dando nem para criar animais e plantar. O sertanejo está perdendo a fé e a esperança. Está chegando o tempo que não adiantam mais rezas e procissões. É a autodestruição da humanidade.

Uns chamam isso de mudanças climáticas da própria natureza e até do El Nino, mas a questão mesmo é do aquecimento global provocado pelo ser humano há séculos. Muitos falam de um futuro de destruição do planeta diante das catástrofes e tragédias, cada vez mais frequentes e letais, mas já estamos dentro desse futuro. Acontece que a ficha ainda não caiu para essa gente estúpida.

Em algumas regiões, de dez a quinze mil quilômetros quadrados entre os estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte desse sertão semiárido, as chuvas são cada vez mais raras e aí vai surgindo a desertificação que os cientistas afirmam puder reverter.

Não sou especialista no assunto, mas sou incrédulo. Não acredito nisso porque a poluição dos gases tóxicos no ar só cresce, principalmente com o uso dos combustíveis fósseis. Ninguém quer parar de produzir (Estados Unidos, países árabes, Rússia, Venezuela e até o Brasil) esse tipo de energia suja e vai tentando enganar o meio ambiente com essa de redução paulatina, com a venda de carbono, reciclagem ou da economia sustentável.

Ouço isso há mais de 50 anos. O papo é o de sempre nas reuniões climáticas. Protestos e assinaturas de cartas de intenções e tudo permanece no mesmo, cada um olhando para o crescimento do seu bendito PIB (Produto Interno Bruto). Enquanto isso, a terra está se lascando. Nas camadas polares, no Alasca e na Groelândia, as geleiras só derretem.

No caso do nosso pobre Nordeste, trata-se de áreas há séculos castigadas que são as primeiras a sofrer, como na África e outros continentes onde predomina a pobreza extrema. É assim, os ricos são os que mais depredam a natureza e o aquecimento global incide com mais intensidade os habitantes mais vulneráveis financeiramente.

Na Bahia também, como no norte (Juazeiro e região) existem pontos onde o deserto é visível. A situação é cada vez mais crítica, sobretudo onde ocorrem as prolongadas estiagens de seca. A vegetação vai desaparecendo e nem o bode resiste. A terra fica ressecada e o sertanejo não tem outra saída senão se retirar ou morrer de fome com sua família.

Até a produção de energia eólica, mal programada e planejada, está acarretando impactos ambientais, como em Urandi, na Bahia, onde os ventos fortes provenientes das hélices estão aterrando nascentes do rio Cachoeiras. Camponeses estão sofrendo com a instalação de torres perto de suas casas. O nordestino sofre de todos os lados. É um saco de pancada.

OS 60 DO ENEM, OS 500 MIL REAIS DA CÂMARA E O NAUFRÁGIO ANUNCIADO

São tantos assuntos que nos instigam a comentar, a dar uma opinião nessa vastidão de absurdos na Bahia e no Brasil que somente poucos se arriscam a palpitar e colocar a cara a tapa. Dizem alguns que eu sou inquieto, um tanto polêmico e até que não devo me meter nisso porque não vou mudar as coisas ou consertar o que na minha visão está errado ou merece ser corrigido.

No meu comentário de hoje vamos começar pelos 60 estudantes, de um universo de 2,7 milhões de participantes, que tiraram mil na prova de redação do Enem do ano passado. As notas médias foram 516 em linguagens, 522 em ciências humanas, 497 em ciências da natureza e 534 em matemática. Na redação, a nota média foi de 641.

Alguém colocou nas redes sociais que não há muito o que comemorar. Também digo o mesmo, mas esses 60 foram anunciados com estardalhaços, e quem conseguiu mil foi considerado como gênio. E se a gente mandasse esses 60 para uma olimpíada internacional de língua? Será que teríamos um primeiro lugar?

Para maior vergonha do nosso ensino, desses, somente quatro foram alcançados por alunos da rede pública. Um internauta postou que isso só demonstra a profunda desigualdade na educação do país, aprofundada mais ainda com o “novo” ensino médio.

Do total de mil nas provas redacionais, vinte e cinco foram do Nordeste, 18 do Sudeste, sete do Sul, cinco da região do Centro Oeste e cinco do Norte. Até que o nosso Nordeste, tão discriminado pelos sulistas, se saiu bem, mesmo quando se faz uma comparação em termos proporcionais, sendo 26,91% de nordestinos, 41,78% (Sudeste) e 14,74% (Sul).

Outro tema para uma reflexão foi o anúncio de devolução de 500 mil reais de sobras do orçamento da Câmara de Vereadores para a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. “Estou sensibilizado. Vou chorar. Será que nossas excelências foram afagadas pela deusa da Honestidade? Mandem essa notícia para os famintos do “Centrão” – cutucou um comentarista virtual.

Para a ativista cultural Maris Stella, do Grupo a Estrada, do nosso sarau de mesmo nome, em seu entendimento, essa devolução não tem nada de heroica. Segundo ela, numa postagem do Grupo, existe uma Comissão de Cultura e Educação na Casa que poderia utilizar essa vultosa verba no sentido de viabilizar projetos para o Memorial onde prestaria um melhor serviço para a população. Também, ainda Stella, para publicação de livros, entre outras ações.

Na minha opinião, é uma prova que o orçamento da Câmara é polpudo, tanto que os vereadores deram aumento em suas verbas de gabinete e as cadeiras dos edis vão passar de 21 para 23. É tudo uma questão eleitoreira de campanha.

Esses 500 mil bem que poderiam ser direcionados para reformar os equipamentos culturais do Teatro Carlos Jheová, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha. Outra alternativa seria doar para o Fundo Municipal de Cultura, a ser gerido pelo Conselho. Por acaso eles querem saber de cultura? Já disseram por aí que o setor não dá voto.

Vamos agora tratar do naufrágio anunciado de um barco entre Salvador e Madre de Deus que resultou em seis vítimas fatais. Só para rememorar (afirmam que o brasileiro não tem memória) há poucos anos houve um acidente dessa mesma natureza em Itaparica com muito mais mortes.

Quando ocorrem essas tragédias anunciadas, logo aparecem as “autoridades” da Marinha, delegados, comandantes, entre outros, dando entrevistas montadas, informando que vão apurar os fatos e estabelecem 90 dias para conclusão das investigações. Ora, fica uma pergunta no ar que a nossa mídia não faz.

Por que nesses locais de atracações não existe um fiscal para impedir que embarcações irregulares ou superlotadas naveguem nessas condições precárias? Só depois é que falam que o veleiro particular não tinha permissão para realizar rotas com passageiros.

São coisas absurdas que só acontecem em nossa Bahia e em nosso Brasil atrasados, como se fossem terra de qualquer um, da impunidade e sem leis. Depois esses processos levam anos na justiça e os responsáveis nunca são exemplarmente punidos. Por outro lado, essas “autoridades” são as maiores culpadas porque a tragédia poderia muito bem ter sido evitada.

 

AS PRÁTICAS HOMOSSEXUAIS NA BERBÉRIA E AS CRUELDADES NOS BANHOS PÚBLICOS

SOBRE AS TAVERNAS NOS BANHOS PÚBLICOS, MISSIONÁRIOS MANIFESTAVAM SUA REPULSA PELO QUE VIAM, CHAMANDO DE LUGARES ABOMINÁVEIS ONDE HOMENS COMETIAM CRIMES TERRÍVEIS. A MAIORIA DOS CRIMES FOI APRENDIDO COM OS TURCOS. UMA TENEBROSA LIBERTINAGEM RESULTADO DA EMBRIAGUEZ.

AS NARRATIVAS DO ESCRAVO JOÃO MASCARENHAS FORAM PUBLICADAS EM 1627 NA FORMA DE PANFLETO, EXEMPLO DE LITERATURE COLPORTAGE, DIFUNDIDA NO INÍCIO DA IDADE MODERNA. FOI ADQUIRIDFO POR PORTUGAL POR LIVREIROS INTINERANTES QUE COMERCIALIZAVAM COM O NOME DE LITERATURA DE CORDEL, POIS OS VOLUMES ERAM AMARRADOS UNS AOS OUTROS COM BARBANTES PARA SEREM VENDIDOS EM VÁRIOS LUGARES.

Os senhores proprietários, turcos, mouros, paxás e reis da Costa da Berbéria (Argel, Túnis e Trípoli) se aproveitavam dos escravos novos cristãos para práticas sexuais, na maioria das vezes forçados a isso, sem falar do homossexualismo existente nos banhos públicos superlotados, considerados por pesquisadores e testemunhos da época (séculos XVI a XVIII) como campos de concentração, semelhantes aos nazistas e aos gulag soviéticos.

Alguns chegaram a contestar as crueldades e torturas dos senhores, como as que existiram contra os escravos africanos trazidos para as Américas (12 milhões) em mais de três séculos, mas foram comprovadas por cativos cristãos brancos.

Diferente do que ocorreu com os mercados de gente na Costa Africana, cujas memórias dos locais foram preservadas, esses banhos públicos foram destruídos entre os séculos XVIII e XIX, principalmente com a invasão francesa a Argel em 1830. Essa escravidão na Berbéria era uma represália religiosa. Os muçulmanos também foram cativos dos cristãos, sobretudo na Espanha, Portugal e Itália durante as guerras dos dois impérios (cristãos e muçulmanos).

O historiador e pesquisador Robert Davis, que escreveu a obra “Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos”, se debruçou sobre esse tema pouco explorado e conta também as brigas internas que existiam entre católicos e não católicos. No livro, ele cita por diversas vezes testemunhas do escravo d´Aranda sobre uma intriga entre russos ortodoxos e espanhóis italianos.

“Um deles foi até o pequeno cômodo (banho público ou prisão) onde se encontravam os russos moscovitas saudando-os da seguinte forma: cães, hereges, selvagens, inimigos de Deus, o banho agora está trancado (era fechado ao entardecer), e o zelador (o feitor) mandou dizer que, se tiverem coragem de lutar, vocês deveriam sair dessa sua toca, aí veremos quem leva a melhor”.

Robert Davis ressalta que qualquer divisão secular, como língua ou política, servia de justificativa para gerar discórdia entre os escravos, tanto quanto as crenças religiosas, e há indicativos de que esses subgrupos, provenientes de culturas mais próximas, eram os que mais estavam propensos a trocar farpas entre si.

DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO

As brigas constantes, segundo ele, entre espanhóis, franceses, portugueses ou italianos são inícios de que esses escravos se entendiam o suficiente para trocar insultos. Entretanto, as dificuldades de comunicação entre escravos e seus senhores era uma fonte inesgotável de conflitos na Berbéria, como aconteceu com os africanos de primeira geração nas Américas.

Para desenrolar esse entrave, havia uma língua franca (pidgin), modelo para todas as outras línguas francas ao redor do mundo. A predominância era dos espanhóis do Mediterrâneo, parte da Berbéria e do italiano no leste. Essa língua (uma versão do europeu românico) tinha suas raízes nos idiomas dos marinheiros e mercadores e preencheu suas lacunas com uma série de palavras locais (árabe, turco e grego). Servia para dar ordens aos escravos.

Nas galés, no entanto, os escravos eram proibidos de falar uns com os outros em qualquer outra língua que não fosse a franca, para que seus capatazes pudessem compreender o que discutiam ou tramavam. Não era um idioma muito fácil de ser entendido, principalmente em situações tensas.

Às vezes o senhor usava termos em espanhol e o italiano para humilhar o escravo com a palavra cão (perro cane ou cani perru). Alguns termos evoluíram, como do italiano mangiar no sentido de comer, ser consumido. Outras palavras eram derivadas do árabe ou do turco.

Quanto aos banhos públicos, o pesquisador da obra, diz ser difícil quantificar a população escrava, mesmo porque alguns zeladores alugavam suas dependências a proprietários individuais de cativos, as quais serviam para armazenar a mercadoria humana quando não queriam manter esses escravos dentro de casa. Eles eram obrigados depois a reembolsar seus senhores pelos custos desses alojamentos, com a venda de água ou até roubando.

Com o declínio das galés corsárias (final do século XVIII), a relação entre escravos públicos de banhos e os privados sofreu uma queda. Em 1696, padre Lorance, vigário de Argel, observou que o número de escravos particulares excedia em muito ao de públicos confinados nos banhos.

ABANDONADOS

Os banhos privados começaram a ser abandonados a partir de 1700, inclusive o maior deles do poderoso Ali Pegelin, que por volta de 1640 mantinha cerca de 800 homens dentro de seu estabelecimento. Durante o forte declínio da escravidão na Berbéria, entre 1690 e 170, a maioria dos escravos deve ter vivido com mais conforto, nas casas de seus senhores. Porém, no transcorrer do século XVIII, o número de escravos particulares caiu e o do Estado permaneceu estável.

TORTURAS E TORMENTOS

A respeito das crueldades e torturas, alguns eram céticos. No entanto, o padre Pierre Dan conta todas as penúrias impostas aos escravos cristãos, e ele fez um catálogo dos tormentos que lhes foram infligidos pelos muçulmanos. Os editores intercalaram prosa com um conjunto de ilustrações horrendas. Muitos foram esmagados vivos, outros empalados, queimados e crucificados.

O escravo John Foss, por exemplo, dedicou um capítulo inteiro ao assunto, denominando-o de “As punições mais comuns para cativos cristãos pelas mais diferentes ofensas”. Robert destaca que tais castigos cruéis, sem motivos aparentes, tinham razão de ser, pois costumavam garantir a disciplina entre os escravos.

As surras tinham o condão de encourager les autres, como alerta aos outros para que mantivessem bom comportamento. O Estado e o Ali Pegelin chegavam a matar alguns deles. Esses tipos de violências eram também difundidos entre proprietários e feitores de escravos nas Américas. Como declarou um fazendeiro no sul dos Estados Unidos: “O medo da punição é o princípio a que deveríamos e temos de recorrer, se quisermos manter os cativos atordoados e obedientes”.

O pesquisador Stephen Clissold concluiu que os escravos da Berbéria descreviam uma vida nos banhos como uma mistura entre um campo de concentração nazista, uma prisão inglesa e um campo de trabalhos forçados soviéticos, os gulag. Os cativos eram largados à própria sorte pelos paxás. Eram vítimas de surras aleatórias, alimentação e acomodações miseráveis, roupas degradantes, além do celibato forçado.

Os públicos eram condenados pelo resto de suas vidas, não por um processo judicial, mas em razão de seu status. Quem pertencia ao Estado não era ninguém. Não contava com um senhor privado para libertá-lo ou pagar seu resgate.  O escravo João Mascarenhas dizia que estes homens nunca vão embora, já que não serão libertados.

 

 

MAIS UM POSTO SEM MÉDICO

As reclamações são constantes em Vitória da Conquista com relação a postos de saúde da família sem médico, o que demonstra a precariedade do setor em nossa cidade.  Estive ontem (dia 18/01/23) no Posto Nestor Guimarães, no Bairro Felícia, Guanabara ou Jurema, a depender da classificação de cada um, para solicitar uma indicação onde realizar um teste de covid. A recepcionista (parecia nova na função e era a única funcionária) foi logo me dizendo que não existia médico e que eu teria que entrar no site da Prefeitura Municipal (coisa complicada) para fazer a marcação. Ao meu lado tinha uma senhora idoso que pedia um exame, recomendado pelo seu médico anestesista, com a finalidade de proceder sua operação de catarata. A moça disse que ela teria que esperar três meses. Ora, como uma pessoa tem que aguardar três meses por um exame, para realizar uma cirurgia nas vistas quando se trata de um procedimento de urgência para a doença não piorar mais ainda? Me intrometi na conversa em defesa da senhora e lembrei que está completando agora dois anos que marquei um exame no mesmo posto para uma consulta com um otorrino e até o momento não me chamaram, isto quando tive covid em fevereiro de 2022. Como se não bastasse a cultura, a saúde em Conquista está abandonada e muitos chegam até a morrer antes do tempo por falta de atendimento. Como um médico sai de férias e outro não é colocado em seu lugar, como se fosse um empregado auxiliar de escritório onde a empresa pode até acumular a função com outra pessoa. Afinal de contas, estamos tratando de vidas humanas. Isso é um absurdo, para não se dizer uma vergonha. Quanto ao meu teste de covid, tive que fazer numa farmácia particular.

ACORDA GENTE!

Poema de autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário

Ave Maria, Nossa Senhora!

Que conhece nossa história:

De derrota e vitória.

Acorda gente!

Que o aguaceiro bateu toda noite,

E foi trovoada de açoite,

Nessa seca caatinga cinzenta,

De dores e sabores,

Onde chuva é água benta:

Hora de plantar a semente,

Pra colher o fruto da terra,

Sem essa de guerra.

 

Acorda gente!

Que Lampião já levantou,

Pra varar todo sertão,

Com seu apetrecho e bornal,

Carabina e punhal.

 

Acorda gente!

Vamos embora trabalhar!

Olha os pássaros a cantar,

Os sapos a coaxar na lagoa;

O gavião alto voa,

Até o bezerro faz sua festa,

A nambu e a juriti

Cantam de lá,

Que o verde vai voltar.

 

Acorda gente!

Do campo e da cidade!

Viva a liberdade!

Todos juntos acreditar,

Porque ainda vale a pena,

Entrar nessa cena,

Lutar e sonhar.

OS MATERIAIS ESCOLARES SÓ TRAZEM SÍMBOLOS E FIGURAS DE HERÓIS DOS EUA

– Tenho aqui algumas bolsas e mochilas mais baratas com as cores e a bandeira do Brasil, mas ninguém quer. Preferem os materiais escolares com os símbolos, imagens, termos e figuras de heróis norte-americanos – disse um lojista do centro comercial de Vitória da Conquista, não deixando de criticar essa cultura secular de desvalorização pelo nosso produto e às suas personagens folclóricas.

Concordei com sua posição e entrei em algumas papelarias da cidade à procura de materiais escolares em geral (mochilas, cadernos e outros artigos) que trouxessem em suas capas ou nas partes externas figuras que remetessem ao nosso folclore brasileiro, como o saci-pererê, curupira, o boitatá, boto cor de rosa, a iara, cuca, caboclo d´água, a caipora, bem como imagens dos nossos rios e biomas (Pampas, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e a Amazônia).

Para mim não foi nenhuma decepção porque já imaginava que não iria encontrar, mas nos deixa envergonhado de como não valorizamos os que é nosso. Temos mesmo complexo de inferioridade. Não é uma questão de ser um patriota ufanista do tipo integralista e moralista que bate continência para uma bandeira dos Estados Unidos e ainda defende uma intervenção militar.

Nas capas dos cadernos e bolsas só vi figuras de super-heróis dos ianques, como homem aranha, super-homem, the flex, batman, capitão américa, hulk, zorro, mulher maravilha  e tantos outros que nem sei bem os nomes. Você pode também encontrar fotos de pontos turísticos de Paris (França) como Tour Eiffel, Champs Elisée e Museu do Louvre.

Fiquei a imaginar se algum país do mundo usa nossos símbolos em seus objetos escolares. Com certeza que não. A começar pelos EUA, milhões deles nem sabem localizar nosso país geograficamente nas Américas. Muitos chamam o Brasil de Buenos Aires e outros acham até que somos selvagens e exóticos.

É lamentável o desprezo pela nossa cultura ao ver nossas crianças e jovens (também os pais) totalmente absorvidos pela enxurrada de filmes e propagandas que invadem nossos mercados com seus heróis e personagens através dos cinemas e das televisões! Eles passam a cultuar e a idolatrar o que vem de fora e pouco dá valor ao nacional.

Temos um país rico, tanto no seu folclore como em termos de paisagens e parques, como a Chapada Diamantina, na Bahia, Veadeiros, no Centro Oeste, o parque arqueológico, no Piauí, a Serra do Araripe, (Ceará), o pantanal e a floresta amazônica! Não podemos ainda deixar de citar as grutas, cavernas e rios, como o São Francisco, Paraná, Amazonas, Paraguaçu e tantos outros.

Muita parte dessa riqueza está sendo destruída pelos desmatamentos, garimpos e pelo fogo. Para reforçar a consciência ambiental, principalmente nos mais jovens, essas imagens e figuras culturais não poderiam estar estampadas em nossos materiais escolares, ao invés dos estrangeiros?

O Congresso Nacional não poderia criar um projeto de lei, sancionado pelo presidente da República, obrigando os fabricantes desses materiais imprimirem figuras e imagens que representassem o nosso Brasil? Não se trata de censura e de impedimento de se abrir para outras culturas. É uma questão de valorizar nosso patrimônio material e imaterial.

Cada nação mais desenvolvida, como os Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão, Coréia do Sul, Finlândia e os países nórdicos, por exemplo, procuram cuidar bem e preservar suas memórias e histórias. O nosso Brasil vai numa direção contrária quando prestigia mais o que vem do exterior e menospreza o nacional.

 

SORRIA! VOCÊ ESTÁ NA BAHIA

Carlos González – jornalista

Depois de desembarcar no Aeroporto 2 de Julho e atravessar o verdejante bambuzal, o viajante é convidado a sorrir, por estar chegando à Bahia. O turista, que já recebeu o “bem-vindo” de uma “baiana” com traje excessivamente colorido, abre um sorriso de orelha a orelha. Mas, o morador de Salvador, que está indo para a Barra e bairros vizinhos, já prevê o que vai encontrar nesta época do ano.

A virada do ano, que se estende por quatro dias, abre o calendário de festas em Salvador, que, normalmente, deveria ir até o Carnaval. Nada disso. Criado por Carlinhos Brown, o “Arrastão” reúne timbaleiros e foliões no desfile que contraria os católicos, por coincidir com o início da Quaresma. Em 2019, os vereadores votaram (38 a 2) pelo fim da manifestação, mas o prefeito na época ACM Neto vetou o projeto de lei.

Nesses três primeiros meses do ano, Salvador se transforma na “Capital da Folia”. São ensaios de blocos, lavagens de escadarias e de becos, bênçãos das terças-feiras, festivais, fuzuê, pôr do sol no Farol, homenagem a Santinha, coroação do Rei Momo, pré-Carnaval nos bairros da periferia, lançamento de camarotes, banhos a fantasia e os embalos da ressaca (na semana seguinte ao Carnaval).

Candidato a reeleição, o prefeito Bruno Reis vira “arroz de festa”. Comparece inclusive às festinhas pré-carnavalescas, animadas por um cantor sertanejo, nos bairros da periferia da cidade, promovidas por candidatos a uma cadeira na “gaiola de ouro da Praça Municipal”.

Segundo o último Censo, a população de Salvador é de 2.418.005 habitantes. Nos últimos 12 anos a capital perdeu 257 mil residentes, que migraram para municípios vizinhos, em busca de emprego, segurança e de serenidade. A cidade ocupa a 17ª posição no quesito per capita familiar entre as 27 capitais do país e o Distrito Federal. No Nordeste está abaixo de Fortaleza, Recife, João Pessoa, Aracaju e Natal.

Meu colega e amigo Jeremias Macário lembrou neste mesmo espaço que há em Salvador mais beneficiários dos programas de renda do governo federal do que em São Paulo. Jovens de famílias pobres estão migrando para o Paraná e Santa Catarina, onde, além de sofrerem discriminação por serem nordestinos, se submetem a trabalhos análogos a escravidão.

Com apoio da Rede Bahia, Reis aposta todas as suas fichas em manter o circo armado até o dia das eleições municipais. Ele calcula que bilhões vão abarrotar os cofres da prefeitura com a chegada para o Carnaval de 800 mil turistas a Salvador, sem fazer correção dos que trazem a barraca nas costas e acampam em qualquer lugar, e dos que estão hospedados em navios de cruzeiros.

Depois da abertura do Circuito Dodô (Barra-Ondina), o Carnaval virou uma indústria que beneficia uma minoria, com a colaboração de uma massa que não tem consciência da realidade em que vive. O complexo industrial da folia, onde o Rei Momo é uma figura decorativa, é constituído pelos empresários musicais, cantores de axé, donos de blocos e de camarotes, corretores de imóveis, e os ramos de bebidas, hotéis, bares e restaurantes. Pequenos comerciantes de lanches e bebidas, comprimidos pelos foliões, passam uma semana em suas barracas, em péssimas condições higiênicas.

SOS Barra

“Tire este camarote do meu caminho que eu quero passar”. Este apelo está numa das faixas colocadas em vários pontos da Avenida Oceânica. O protesto é de iniciativa da Amabarra (Associação dos Moradores e Amigos da Barra), que há anos vem pleiteando junto aos gestores municipais e ao Ministério Público a mudança do Circuito Dodô para outro local.

Uma pesquisa feita no ano passado desaprovou a transferência para a avenida Octávio Mangabeira (trecho da Boca do Rio). A votação se estendeu a toda cidade, quando deveria ficar restrita aos residentes na Barra e Graça, que nesta época do ano são prisioneiros em suas próprias casas.

O Carnaval na Barra foi um dos motivos que me trouxe a Conquista. Por nove anos, como morador do bairro, onde se paga o IPTU mais caro de Salvador, testemunhei a ocupação do espaço público por enormes camarotes, que começam a ser montados um mês antes. Este ano, o dono de um deles levantou muros num dos trechos da praia de Ondina, com acesso exclusivo para os frequentadores, que pagam uma fortuna por um ingresso.

Participei de reuniões da Amabarra, onde comerciantes que nada têm a ver com o Carnaval fecham seus estabelecimentos por mais de uma semana; associados sobressaltados davam conhecimento da presença nas ruas do bairro de assaltantes de diversos pontos da cidade; outros manifestavam o receio de caminhar ou usar a bicicleta nas pistas da avenida devido a construção dos camarotes sobre os passeios; outros relatavam os entraves causados aos veículos, inclusive ambulâncias.

Podem me chamar de saudosista, mas do autêntico Carnaval da avenida Sete, das cadeiras amarradas nas árvores e postes, do desfile das grandes sociedades (Fantoches, Cruz Vermelha e Inocentes em Progresso) e dos bailes nos clubes sociais, sobraram o trio elétrico de “Armandinho, Dodô e Osmar”, a passagem dos blocos afros e o bloco sexagenário “Paroano Sai Milhó”, “um oásis no Carnaval de Salvador”, como definiu Caetano Veloso.

 

 

 

 

 

 

 





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