abril 2024
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  

:: ‘Notícias’

A EVOLUÇÃO DO POVO JUDEU

Estava lendo alguns textos nos grupos do Zap sobre a evolução tecnológica e cientifica medicinal do povo judeu e seus benefícios para a humanidade, uma exaltação à sua inteligência em contraste com o outro lado vizinho palestino, mas não mostra a outra versão da história.

Por que na outra parte (os palestinos) existe apenas uma pequena faixa de areia estorricada de pobreza e miséria? Ali não passa de um vele de lágrimas, como se fosse um campo de “leprosos” de alta contaminação na era romana. Esse outro lado é burro e desprovido de inteligência e capacidade?

Percebi nos comentários uma visão vesga enviesada e de viés tendencioso seletivo de raça superior. Será que foi intencional ou falta de maior conhecimento do passado? Por que muitas nações africanas, talvez a maioria, que viveram e ainda vivem séculos de colonização e subjugação não conseguiram se desenvolver o bastante para reduzir e erradicar suas desigualdades sociais, e ainda se matam em guerras fraticidas? O mesmo diria das Américas do Sul e Central.

Olhai os lírios dos campos onde uns florescem e outros não, bem como os frutos da terra quando ela é bem fertilizada e adubada, desde que receba os recursos necessários. O pomar do pobre não é igual ao do rico. Será que o dinheiro para Israel se evoluir caiu no deserto como maná vindo do céu?

Por que a Palestina, encurralada e cercada o tempo todo por Israel, é tão pobre ao ponto de até hoje não lhe derem um estado independente? Por que o mundo ocidental, principalmente os Estados Unidos, não criaram seu país? Os incluídos são inteligentes e os excluídos periféricos não? Todos só carecem de condições para provarem seu grau de inteligência. Quem são os culpados pelo que está acontecendo hoje? A grande mídia capitalista é induzida a distorcer os fatos e, ao invés de informar de forma imparcial a opinião pública, desinforma.

É muito fácil citar as proezas de Israel e não procurar as razões do porquê a outra banda vive na pobreza extrema, amontados num curto espaço que mal dá para respirar. Ademais, é bom que se faça um recorte da história desde antes de Cristo quando os hebreus, conduzidos por Moisés e Josué, saíram do Egito para a terra prometida. Depois de muita espera no deserto, eles atacaram a cidade de Jericó e ali cometeram um massacre.

Na história mais recente, logo após a Segunda Guerra Mundial, por volta de 1946/47 ali viviam os árabes, cristãos e palestinos, além de judeus que retornaram desde a Primeira Guerra Mundial. Aquele território foi dominado por vários povos há mais de três mil anos, mas quem estavam lá quando foi criado o Estado de Israel eram os ingleses.

Para forçar a constituição do Estado Israelita, os judeus atuavam com dois grupos principais de terroristas, o Haganá e a Gangue Stern que jogavam bombas em hotéis e instituições diversas. Sempre atacavam com força total reivindicando que aquela terra era deles. Quem colocou em votação na ONU para a criação de Israel foi um brasileiro chamado Graça Aranha.

Por que não foi instituído também o Estado da Palestina, cujo povo foi sendo empurrado e abandonado para uma faixa estreita da Cisjordânia, separada por muros? Quem se lembra da Guerra dos Sete Dias, em 1967, quando Israel, com seu poderio militar e ajuda dos Estados Unidos, avançou mais ainda? Depois de 1948 o Oriente Médio virou um vespeiro e não houve mais paz.

Como um povo oprimido e subjugado há anos pode se evoluir, se não tem infraestrutura, poder político e financeiro, quanto mais alimento para matar a fome? Os curdos também no Iraque, na Turquia e na Síria têm histórias semelhantes. Os Estados Unidos e a Europa Ocidental fizeram vistas grossas para a criação de colônias israelenses do outro lado e negaram a criação do Estado Palestino.

Não estou aqui justificando o ataque sangrento do Hamas em Israel, nenhum um outro tipo de carnificina humana, seja de onde vier, mas a maioria dos países europeus e os norte-americanos não têm moral para chamar qualquer grupo de terrorista, principalmente os ianques que já invadiram com matanças brutais diversas nações, como a Guatemala, Filipinas e o Iraque, só para citar esses povos.

 

VIZINHOS NÃO SE CONHECEM MAIS

Foi-se o tempo em que os vizinhos e moradores da mesma rua numa cidade se conheciam e tinham intimidades. Uns frequentavam as casas dos outros e se ajudavam nos momentos de maior aperto. Colocavam suas cadeiras nos passeios em final de tarde para prosear.

As amizades eram sinceras e sempre havia uma fofoqueira ou fofoqueiro, mas sem muitas maldades e o ambiente era até engraçado. A fofoca fazia parte das conversas e tinha que ter um do tipo repórter social. Havia aquela (ele) que dizia que sua boca era um túmulo, mas soltava tudo que ouvia. Se você tivesse algum segredo, guardasse, mas se queria espalhar era só contar sua notícia no pé do ouvido do fofoqueiro (a).

Os mais velhos lembram bem quando uma comadre batia na porta da outra comadre pedindo uma xícara de açúcar, um pouco de sal, uns ovos para fazer uma omelete, um pó de café, uma porção de farinha ou feijão porque a situação não estava boa. O compadre recorria ao outro solicitando um dinheirinho emprestado.

Hoje, principalmente nas grandes cidades, o vizinho nem sabe quem mora ao lado, e quando se batem de frente na vida de correria, não passam de um bom dia. Tem casos que nem isso. São sinais de quanto o progresso desumanizou as pessoas e acabou com os bons relacionamentos.

Às vezes o funcionário dos Correios ou de uma empresa qualquer de entregas confunde-se com o endereço e bate na porta errada quando a encomenda, na verdade, é do vizinho ao lado. Mesmo citando o nome, de Daniel, Mateus ou seu José, o cara que atende diz desconhecer. Certifica-se que a rua está correta, mas não conhece a pessoa.

O mesmo ocorre com os motoqueiros entregadores de comida, com agentes de saúde e outros prestadores de serviços quando existe uma troca no número da casa. Na maioria das vezes, o pedido foi feito pelo vizinho ao lado que o outro afirma desconhecer, mesmo citando o nome. “Não é aqui a casa de dona Dalva”? A rua é esta, mas não sei quem é esta Dalva – responde o vizinho. A Dalva é a vizinha.

Nos tempos de hoje, o vizinho desconhece a existência do outro que mora ao lado, divididos apenas por uma parede. Pior ainda são moradores de uma mesma rua que se cruzam para o trabalho ou seus afazeres do dia a dia e um não sabe o nome do outro.

Quando alguém morre ou acontece uma tragédia e começa a juntar gente na porta, o cara do outro lado, no meio ou na ponta da rua começa a indagar o que está ocorrendo e quem é a vítima que mora naquela casa. Quando descobre por outras bocas, apenas diz que sempre passava pela pessoa, quase que diariamente.

Não adianta pedir informações a um morador sobre outro que reside na mesma artéria. Vivemos na mesma aldeia, na mesma rua, travessa, praça ou avenida com problemas parecidos, cada um com suas dores e sofrimentos, mas todos são desconhecidos.

Ainda se encontra um calor humano quem vive no campo, na zona rural onde o tempo do progresso e da tecnologia ainda não acelerou tanto como nas cidades. Nos distritos e povoados, mesmo onde uma moradia é distante da outra, as pessoas se conhecem. Qualquer problema, especialmente se for grave, é só gritar por socorro. Ah, ainda tem os adjutórios nas roças, os chamados mutirões.

Ainda existe aquele hábito do compadre ou da comadre correr até o vizinho (nem tanto) para solicitar uma ajuda quando está necessitado, quer seja na forma de comida, dinheiro e em caso de doença.

Ainda bem que vivem mais distantes dessa loucura que se tornou nosso mundo, todo fragmentado, cheio de guerras, ódio e intolerância. No entanto, lá já chegou o celular, o rádio e a televisão (nem em todos lugares), mas as pessoas ainda preservam o sentimento humano e o respeito de um para com o outro.

 

SOLTARAM UM AÍ!

(Chico Ribeiro Neto)

“Quem primeiro sentiu, do buraco saiu” – sentenciava mamãe Cleonice, que dizia saber identificar o peido de cada um lá em casa: “Esse é de Waldemar (papai), esse é de Luiz, esse é de Zé Carlos. Ah, esse eu já conheço, é de Cleomar, e esse já sei que foi de Chico”, citando os filhos.  Menino tem arte. A gente soltava um embaixo da coberta pra ficar sentindo o “aroma”.

A velha sempre repetia um velho ditado sobre um casal: “Quem gosta dos beijos gosta dos peidos”. Haja amor!

Uma amiga me contou que, menina, estava no recreio da escola, quando uma colega muito afoita gritou: “Você peidou”. E ela, muito tímida, disse que não. A outra insistia, ela negava e já se formava a roda de meninas. “Peidou, sim, que eu vi seu short tremer”.

Piada que surgiu na pandemia: antes, a gente tossia pra disfarçar o peido. Hoje, a gente peida pra disfarçar a tosse.

Muita gente tenta disfarçar quando solta um peido. Alguns procuram sair rapidamente do local da detonação, outros dão um sorriso constrangido ou começam a falar sem parar, como se a voz dissipasse o gás. Impossível disfarçar mesmo é quando você vai descendo sozinho no elevador, solta um e entra alguém.

Ele é também chamado de bufa, trovão de baixo, traque, bomba. Tem uns que assoviam, mas o pior é aquele que não faz barulho. Esse é igual a um escapamento de gás, fruuuuu, que quando começa vem sibilante e contamina todo o ambiente em questão de segundos. O que faz barulho não passa de um pum que logo se dissolve.

Uma vez, um amigo presenciou uma cena inusitada dentro de um ônibus Viaduto da Sé – Brotas, em Salvador. Entrou um bêbado e ficou em pé, quando um passageiro que estava sentado cedeu o lugar para uma mulher cheia de embrulhos. Quando ela se curvou para colocar o embrulho maior na poltrona deixou escapulir um sonoro peido. Ouvido de bêbado é o diabo e ele foi logo arrematando: “Minha senhora, a senhora peidou, não tenha vergonha, não. Todo mundo peida. Eu peido, o papa peida, o presidente Geisel peida, o cobrador peida, o motorista peida…” e aí houve logo um freio de arrumação. O motorista ouviu e veio tirar satisfação com o bêbado: “Você me ofendeu”. “Mas você peida ou não peida? “Peido, sim, mas você está me faltando com o respeito e vai descer do ônibus agora”. Motorista e cobrador agarraram o bêbado e o colocaram pra fora do ônibus. Quando o carro arrastou, ouviu-se a indignação do bêbado: “Quer dizer que ela peida e quem desce sou eu”.

Em Ipiaú, minha terra natal, existiu o Cine Bufa, assim descrito pelo jornalista José Américo Castro: “No ano de 1969, Dren (José de Assis Filho) inaugura na Rua Castro Alves, em um antigo armazém de cacau, uma sala com o seu próprio nome. O Cine Dren roubou do Cine Éden o público mais vibrante e ganhou, por motivos óbvios, o honroso apelido de “Cine Bufa” (…) No meio da projeção costumava-se ouvir: “Bufaram aqui, tá um fedor retado!” (…) Quando a coisa chegava às raias do insuportável, Dren interrompia a projeção e saía cheirando o cangote de cada cinéfilo. Aos cascudos, o principal suspeito era expulso do recinto”. (Fonte: livro “Porta do Éden – A poética de José Américo Castro e o Imaginário Coletivo de Ipiaú”, org. Paulo Andrade Magalhães).

Uma vez, Dren recebeu uma intimação do delegado de Polícia por causa da exibição de filmes de putaria. Diz o mesmo livro: “A queixa foi prestada pelas freiras do Instituto Sagrada Família, que moravam na vizinhança do cinema. Elas estavam incomodadas com os chiados indecentes dos atores e com as frases ditas em voz alta pela plateia. As mais moderadas eram do tipo: “vai, sacaninha…”

Lembro ainda de um colega de pensão que gostava de se exibir no quarto  soltando um pum e riscando um fósforo para que a plateia visse a chama. Acho que ele foi parar num circo.

Zorra! Queimaram um aí!

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

UMA GUERRA QUE VAI NOS ATINGIR

Carlos González – jornalista

Um povo oprimido há mais de meio século por homens e mulheres refugiados do regime nazista que, ao longo desses anos, aparelhou um dos mais bem respeitados exércitos do mundo, reage um dia violentamente, sem imaginar que a retaliação do inimigo será devastadora, apoiada por parceiros poderosos e pela imprensa internacional.  Esse é o enredo da peça teatral encenada no teatro de guerra do Oriente Médio, que, provavelmente, não irá passar do primeiro ato, devido a desproporção de forças. Os mais antigos diriam que o Hamas mexeu numa casa de marimbondos.

No último sábado, 7, o mundo recebeu com perplexidade e pavor a notícia de que o grupo Hamas, uma espécie de braço armado da Autoridade Nacional Palestina, promovia um derramamento de sangue em solo israelense. A organização, de natureza religiosa,  criada em 1987, tem como um dos seus lemas, reproduzido na sua Carta de Princípios, a frase: “Morrer pela causa de Alá é nossa maior esperança”.

Nos últimos dias o termo terrorismo vem sendo aplicado para caracterizar esse ataque suicida do Hamas, organização considerada pelos Estados Unidos e pela União Europeia como terrorista. No passado,  Israel se valeu dos grupos terroristas Haganá e Gangue Stern nas ações belicosas contra os palestinos. Como podemos classificar a invasão dos Estados Unidos e do Reino Unido ao Iraque, sob a justificativa de que o país asiático armazenava armas nucleares, químicas e biológicas, que nunca foram encontradas? Os 148 mil soldados das forças de coalização destruíram em pouco mais de 20 dias a frágil defesa inimiga, perdendo pouco mais de 120 homens. No lado iraquiano morreram 24 mil militares e 7.500 civis, entre eles o presidente Saddam Hussein, condenado à forca.

Inicialmente, o objetivo do Hamas era uma reivindicação antiga do povo palestino, a criação de um Estado autônomo, com capital em Jerusalém, vivendo em paz com seus vizinhos israelenses. Esse clima de harmonia nunca existiu por conta da implantação de acampamentos judaicos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e dos frequentes conflitos entre os dois povos. Eram comuns imagens de jovens palestinos atirando pedras nos soldados israelenses, que respondiam com munição letal.

Nessa inimaginável escalada bélica, que a inteligência militar judaica não percebeu, o Hamas lançou milhares de foguetes, ao tempo que seus militantes, nos ataques por terra, cometiam atrocidades que chocaram o mundo. Entre esses atos, considerados como crimes de guerra, foram relatados mortes de bebês e crianças, ataque a um festival de música que deixou mais de 400 mortos, execuções, tortura e estupros.

Os mais de 100 israelenses feitos prisioneiros estão ameaçados de execução, caso Israel mantenha os ataques com mísseis a alvos palestinos. Os números de mortes dos dois lados são desencontrados, mas, segundo os correspondentes de guerra, 260 mil palestinos já deixaram suas casas em busca de um lugar seguro.

Os que ficaram em Gaza, incluindo 25 brasileiros, estão condenados à morte, como prevê o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, numa entrevista à “Folha”: “Nossos irmãos estão sendo submetidos a um ataque de “terra queimada”, referindo-se ao cerco por terra, mar e ar das forças armadas de Israel. “Ou se morre vítima dos bombardeios ou por falta de medicamentos, comidae água”, acrescentou.

O advogado e diplomata brasileiro Osvaldo Aranha tem o reconhecimento do povo judeu por ter se empenhado, como presidente da Assembleia Geral da ONU, pela criação do Estado de Israel na histórica sessão de 14 de maio de 1948, concedendo 53,5% do território sob domínio britânico aos refugiados da 2ª Guerra Mundial e 45,4% aos palestinos, que ocupavam a região. O nome do brasileiro batiza pelo menos ruas e praças de quatro cidades israelenses.

A recusa de não ter atendido uma antiga reivindicação palestina, o direito a um Estado – um processo que se arrasta até hoje -, a ONU estimulou o conflito entre os dois povos, que já completou sete décadas, com milhares de perdas de vida, principalmente entre os árabes, que se veem na condição de alvos de um apartheid. Apoiados por grandes grupos financeiros de origem judaica localizados no Ocidente, notadamente nos Estados Unidos, Israel, pelo seu poderia militar, é visto como uma ameaça aos países árabes que o cercam.

A negativa dos ricos judeus alemães de financiar os planos do regime nazista de Adolf Hitler foi um dos pilares do Holocausto. Entre 1933 e 1945, mais de 6 milhões de judeus foram assassinados nos campos de concentração nazista. Os que conseguiram sobreviver e não perderam seu patrimônio emigraram para o território palestino, onde aguardaram a decisão da Assembleia Geral da ONU.

Geograficamente, Israel está situado na Ásia, mas seu ciclo de vida como nação está direcionado para a Europa.  O seu povo tem características que o aproximam do europeu; não são boas suas relações com as nações do Oriente Médio; organismos europeus aceitam a participação dos israelenses, inclusive a UEFA (a seleção judaica disputa as eliminatórias da Copa do Mundo e da Eurocopa contra as equipes europeias) .

A guerra no Oriente Médio ascendeu a polarização entre direita e esquerda no Brasil. Apesar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter divulgado nota condenando o que chamou de ataque terrorista do Hamas, o seu antecessor não perdeu a oportunidade para propagar mais juma mentira, vinculando o PT ao grupo palestino. Depois que Jair Bolsonaro foi mergulhado nas águas do Rio Jordão, Jerusalém se transformou numa espécie de Meca para os evangélicos brasileiros.

Numa rápida iniciativa do governo brasileiro, aviões da FAB estão retirando os quase 1.700 brasileiros que residiam ou faziam turismo em Israel. A maioria deles, com dupla nacionalidade, eleitores de Bolsonaro, deixou o Brasil para estudar nas universidades locais, para trabalhar voluntariamente nos kibutz (agrupamentos que funcionam como cooperativas com caráter socialista) ou para servir ao exército. No período em que fui aluno do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), em Salvador, dois companheiros israelitas (nascidos fora de Israel, mas professam a religião judaica) do curso de Artilharia revelaram que gostariam de vestir o uniforme do exército de Israel.

Se a guerra Rússia – Ucrânia vem afetando há mais de um ano a vida do brasileiro, que a todo instante é penalizado com aumentos da gasolina e do gás de cozinha, com reflexos nos produtos de maior consumo, esse novo conflito que se desenrola no Oriente Médio irá trazer maiores sacrifícios ao nosso povo. Vamos acabar construindo o nosso próprio Muro das Lamentações.

 

 

OS “MENINOS” MALVADOS

Sabe daquelas histórias do menino malvado (hoje existem muitos) que tinha prazer de maltratar os animais, do moleque “diabinho” que amarrava latas no rabo do gato e depois soltava o bichano que corria em disparada? O mais capeta botava uma bombinha na ponta da corda amarrada no rabo do felino. Imagine o desespero do animal! Só os mais velhos sabem dessas presepadas.

Como se tratava de coisa de criança, sem a devida consciência do mal que estava fazendo, merece nosso perdão, mas se o pai pegasse o filho fazendo isso era aquela surra. Hoje em nossa sociedade, temos vários meninos malvados, malcriados e que não respeitam nem os idosos, quanto mais outras estripulias como bater em professores. Não podem ser mais punidos com castigo.

É só uma metáfora para falar dos “meninos” malvados adultos que, além de devastar nosso planeta com desmatamentos, queimadas, lixo e gases tóxicos, provocando o aquecimento global e colocando a culpa no “El Nino” (O Menino), agora fazem terror com as guerras impiedosas de extermínio da raça humana.

Esses “meninos” malvados, com todo seu poderio, inteligência e ganância capital estão varrendo a própria humanidade da face da terra. Como se não bastassem as tragédias e as catástrofes climáticas anunciadas como início do fim – calor de mais de 40 graus em quase todos os continentes e regiões, ciclones, tufões, enxurradas e terremotos – o mundo está pegando fogo literalmente através dos foguetes e armas de alta destruição.

É a inteligência, inclusive a artificial, destruindo a própria inteligência, que há séculos vem dizendo que tudo vem sendo feito em benefício do ser humano. Os bobos da corte só fazem aplaudir. Sem nenhuma moral, uns ficam chamando os outros de terroristas. São como os Neros malvados que tocam harpa enquanto Roma é consumida pelas chamas.

É só ler a história desde séculos antes de Cristo e você vai entender que não existe essa de mocinhos e bandidos, de bons e maus, de bonitos e feios. Revise toda história da humanidade e você vai descobrir e compreender quem primeiro jogou a pedra ou apertou o gatilho, inclusive me refiro ao caso atual de Israel a partir das matanças indiscriminadas para tomar Canaã, a terra prometida, sob o comando de Moisés e depois de Josué. Aquele pedaço de território já era habitado.

O interessante é que cada um deles tem o seu deus protetor e se acha com a razão. Os deuses deles que se virem e briguem entre si para defender o seu povo maluco e estúpido. Oram nas mesquitas, nas igrejas, nas sinagogas e mosteiros para que ajudem a realizar suas carnificinas com sucesso.

A história é longa de revides e revanches com terrorismos dos dois lados. A situação piorou mais ainda com a criação do Estado de Israel, em 1948, de comum acordo com as nações poderosas, no caso principal a Inglaterra e os Estados Unidos. Por que deixaram os palestinos num curral, ou matadouro, e não instituíram seu Estado?

Antes disso, quem foram os “meninos” malvados que praticaram atos de terror contra árabes, cristãos e palestinos, para forçar a construção de um Estado? Quem administrava aquela região depois da Segunda Guerra Mundial eram os ingleses.

A panela de pressão sempre está explodindo e vai continuar assim, porque é assim que querem esses “meninos” malvados e sádicos, que também são responsáveis pelo “fumacê” que está poluindo todo nosso ar e deixando o planeta sufocado. Não se enganem de que vamos reverter essa autodestruição humanitária, ou apocalipse final.

 

 

 

UM DIA ADVERSO

Pense num dia em que você sai de casa com tudo planejado na cabeça para resolver os pepinos e as coisas terminam saindo do seu comando! É o chamado dia adverso onde só dá o avesso. No sábado passado aconteceu isso comigo, e aí lembrei daquele filme norte-americano “Um Dia de Cão” quando o cara se desespera no trânsito engarrafado e destila toda sua raiva nos outros, como se fosse um louco psicopata.

Não cheguei a este ponto, mas fui obrigado a fazer outras coisas que não estavam em meus planos. Primeiro, marquei uma reunião na casa de um amigo e quando lá cheguei no horário ele havia saído parta socorrer um colega de trabalho, coisa de carro. Entrei em contato e ele me pediu desculpas. Antes passei no banco e minha conta estava negativa. Comecei com o pé esquerdo, ou direito, sei lá!

Quando estava para visitar um companheiro jornalista e tomar umas geladas, conforme o combinado, recebo um áudio de uma amiga me solicitando socorro para pegá-la num hotel lá na Avenida Integração. A pessoa estava muita avexada e não parava de passar mensagens porque ela teria que deixar o hotel meio-dia para não ter que pagar outra diária.

Tomei dois goles da cerveja agoniado e lá foi eu. Pequei um engarrafamento na Avenida Spínola e o horário estava se esgotando. Da Avenida Integração tocamos para uma pousada na Avenida Juracy Magalhães para pegar uma mala pesada que deu a maior trabalheira para descer as escadas.

De lá, retornarmos para a Integração (antiga Rio-Bahia) e tornei a subir mais escadas arrastando essa mala enorme. Os antigos hotéis não têm nenhuma acessibilidade e nem elevadores. Era pouco mais de meio dia e a fome bateu com a fraqueza.

Nessa ida e volta ela foi me contando que foi desempregada e ainda havia sido vítima de assédio sexual. Esse é um assunto delicado que prefiro não entrar em detalhes, mas fiquei chocado com sua situação e o aperto em que estava passado. Muitas vezes pensamos que nosso sofrimento é maior que dos outros.

Para não me alongar muito na história (ocorreram outros percalços) terminei indo para a Feirinha do Bairro Brasil, coisa que não estava em meu roteiro do dia. Comprei um tilápia fresca em um daqueles galpões de carnes e fui tomar uma gelada e um caldo de buchada para aliviar a tensão e a fome. Àquela altura, o relógio marcava pra lá das 14 horas.

Antes de fazer o pedido, perguntei à moça da barraca (estava com pouco dinheiro) quanto era o caldo. Respondeu que era sete reais. Pedi uma cerveja “periquete” de quatro reais, segundo a mesma mulher que me atendeu.

Quando fui pagar a conta, veio a dona do estabelecimento, uma senhora já meio idosa, e me cobrou quinze reais quando deveria ser onze. Entrei em discussão e chamei a menina, supostamente sua filha, que ficou atarantada porque havia me passado os preços errados. “É, subiu tudo”. Imaginei: em questão de minutos! Que inflação varada!

Outra vez passou pela minha cabeça o filme “Um Dia de Cão” e tive que me controlar para evitar um quebra-quebra e ir parra na delegacia. Acontecem coisas em nossas vidas que não sabemos explicar. Uns dizem que são coisas do destino. Moral da história é que nem tudo que você planeja dá certo quando o dia é adverso.

DIA DO NORDESTINO

Não poderia deixar aqui batido o “Dia do Nordestino”, comemorado em 8 de outubro, do nosso sertão profundo, de gente simples sofredora, não o do cerrado cheio de águas e cachoeiras do famoso escritor Guimarães Rosa (com todo respeito), mas lhe parodiando, o da Caatinga Veredas, que nos leva às histórias de lutas, do cangaço, de Lampião, da Coluna Prestes, dos milagres, do Conselheiro, do “Padim Ciço” e demais personagens que fazem parte da nossa cultura.

Foi aqui em nosso Nordeste, que possui o único bioma do mundo, que proliferou a poesia do cordel e gerou grandes escritores, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, José de Alencar, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, dentre tantos outros, sem falar no Águia de Haia, Ruy Barbosa, e no poeta dos poetas condoreiro Castro Alves em Espumas Flutuantes.

É também o nosso Nordeste dos repentistas, dos trovadores, contadores de causos e chulas, dos grandes compositores músicos como Zé Ramalho, Geraldo Vandré, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga com sua sanfona ao som de Assa Branca, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Tom Zé, Novos Baianos e toda uma geração conhecida mundialmente.

Neste “Dia do Nordestino”, quero também falar da nossa terra de bravos, mulheres e homens anônimos que fizeram e fazem parte da nossa história e da nossa rica cultura, cheia de mistérios, fé e religião. Nosso sertão é único, cinzento nos engaços e bagaços misturados com o mandacaru quando bate a seca, e verde e colorido quando chegam as trovoadas de final de ano.

Essa paisagem do seu solo e da sua gente queimada e mestiça do sol já é pura poesia e matéria-prima para as artes em suas diversas linguagens. É também o Nordeste dos retirantes, dos casos de pau-de-arara que daqui saíram na “Triste Partida”, de Patativa do Assaré, para construir São Paulo em terras estranhas e depois retornam com saudades do seu chão querido.

É o Nordeste da Bahia, dos heróis que consolidaram a independência do Brasil, do Maranhão, do Ceará, do Piauí, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas e Sergipe. Por aqui atravessa o São Francisco, o “Velho Chico”, com suas águas dando vida aos ribeirinhos, banhando nossas margens e abrindo canais de irrigação para nossa agricultura.

É esse Nordeste que reverencio, do qual tenho orgulho de dizer que dele sou filho e repudio os preconceituosos e racistas que em muito contribuíram para que houvesse essa desigualdade regional, desde os tempos coloniais, passando pelo Império e pela República. Daqui exploraram nosso suor e ainda nos chamam de atrasados, mas, como diz a Bíblia, perdoai Senhor, porque eles não sabem o que dizem.

3 X 4 PEDACINHO DE NOSSA HISTÓRIA

(Chico Ribeiro Neto)

A gente só tirava fotos 3 x 4 em momentos importantes da vida: entrar no ginásio, matricular-se no colégio, na faculdade, carteira de identidade, certificado de reservista, primeiro crachá de emprego, e por aí vaí.

Eu ia tirar meia dúzia de 3 x 4 nos Lambe-Lambe do Relógio de São Pedro ou no Terreiro de Jesus, em Salvador. Quando acabava, o fotógrafo perguntava se você não queria levar 8 fotos pagando um pouco mais. A gente só precisava de 4 fotos, mas acabava levando as 8 e dava as restantes a parentes e à namorada, mas a dedicatória tinha que ser bem curta. Um “Te amo” resolvia tudo. De tão pequeno, o 3 x 4 era difícil de rasgar na hora de acabar o namoro.

Tinha 3 x 4 que desbotava com o tempo, uns ficavam amarelados. Quem tinha mais dinheiro tirava os 3 x 4 num Foto, uma loja num shopping onde a coisa era mais arrumada, tinha uma sala acarpetada cheia de luzes, ar condicionado e um banquinho vermelho acolchoado. O espelho era fundamental. Tirava de manhã pra ir pegar as fotos de tarde. Vinham numa cartela de plástico com o nome do Foto. Havia uma loja que colocava seu comercial na cartela onde vinham as fotos: “Nossa dúzia tem 14 fotos”.

O site da Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete (MG) tem um texto cujo título é “Saiba como ser tirada a foto para a Carteira de Identidade”, a seguir: “O fotografado deve apresentar fisionomia neutra ou um sorriso discreto, desde que em ambos os casos mantenha os lábios fechados, sem franzir o rosto” (conselheirolafaiete.mg.leg.br).

Fui pesquisar a 3 x 4 na música. Tem a “Retrato 3×4”, da banda Agito Capilar, que diz num trecho:

“Me dá um retrato 3 x 4

Que é pra eu botar na minha carteira

Se a saudade apertar

O retrato eu vou olhar

Durante a semana inteira”.

Belchior gravou “Fotografia 3 x 4”, em 1976, em plena ditadura, mostrando a saga dos jovens que saíam do interior do interior do Ceará para o Sul. Segue um trecho:

“Em cada esquina que eu passava um guarda me parava

Pedia os meus documentos e depois sorria

Examinando o três-por-quatro da fotografia

E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha”.

E tem a brilhante “Devolva-me”, de Renato Barros e Lilian Knapp, gravada em 1966 pela dupla Leno & Lilian e brilhantemente regravada anos depois por Adriana Calcanhotto, cujo trecho segue:

“O retrato que eu te dei

Se ainda tens, não sei

Mas se tiver, devolva-me!”

Não sei se a foto era 3 x 4, mas que a música é linda, isso é. Segue uma lembrança.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

EU ACEITO E NÃO ACUSO

Eu aceito sua mão em casamento. Juro amor eterno, ser fiel no respeito, na alegria e na tristeza, nos momentos mais difíceis, na pobreza e na riqueza. São palavras do altar que também faço na vida real, na minha aldeia e na tribo em que vivo. São compromissos não cumpridos.

O tempo vai se arrastando até a monotonia, e esse elo um dia se quebra quando batem as adversidades. Priorizei os direitos em detrimento dos deveres. Não acuso a mim mesmo como sou e nem reviso o passado como aprendizagem. Eu aceito porque acho que deve ser assim o viver sem acusar, aqui no sentido de contestar. Nem pedi para vir ao mundo.  Não passo de um sopro.

O enlace matrimonial é apenas um contrato social como qualquer outro nesse sistema capitalista de aparências e vaidades onde sou levado a seguir normas como manda o figurino da ordem das coisas. A tudo eu aceito, mas não acuso nem os meus próprios atos.

Eu aceito fazer parte dessa engrenagem, ver o progresso destruir o ser humano e a própria máquina me triturar. A própria evolução da inteligência acaba de engolir ela mesma, porque é cativa e escrava do mercado e não está a serviço do humanizar. Aceito tudo que diz essa mídia vazia, sem conteúdo.

Não passo apenas de uma matéria-prima do poder selecionador das raças que cuida em eliminar, lentamente, de morte os mais fracos, e eu aceito e não acuso esse processo perverso do massacre. Eu aceito a violência e as matanças, as corrupções, os conluios e as injustiças sociais como se fizessem parte de uma lei natural, sem reversão. Aceito que as coisas são assim e não há como mudar.

Eu não acuso o meu comodismo, individualismo, meu egoísmo e passividade diante dos horrores da vida daqueles que padecem na fome e na exclusão total, sem a usufruir da dignidade merecida. Às vezes entro com um auxílio de doações solidárias para enganar minha consciência de que ela está em paz comigo mesmo.

Eu aceito ser apenas uma peça ou parafuso para fazer a máquina girar e nem questiono e acuso se ela tirou milhares de empregos dos excluídos que não tiveram formação escolar e ensino para acompanhar sua engenharia. Eu estou sentado sobre um iceberg derretendo e nem percebo. Não passo de um burguês-puritano dentro da barriga de uma baleia, como o Jonas da Bíblia.

Se tenho uma casa para morar, um carrinho na garagem ou na porta para rodar, um bar para tomar umas geladas com os falsos amigos, eu aceito o meu mudinho mesquinho e não acuso a decadência e o declínio da humanidade que está auto se destruindo.

Nem acuso o aquecimento global, os desmatamentos, as queimadas, os tufões e os ciclones, o consumismo do lixo e vou seguindo minha vidinha monótona, sem graça e nem penso na morte que pode bater em minha porta a qualquer hora. Sou um idiota imbecil que acha que já cumpriu sua missão na terra.

Eu aceito o anormal como normal, o errado como o certo e o desonesto como um bom predicado do “vencedor” a qualquer preço. Aceito o levar vantagem em tudo, ser bicho toupeira ou a avestruz que mete a cabeça no chão. Aceito tudo aquilo que os outros aceitam.

Não acuso quem rouba e só quero mesmo é passar o dia no celular hipnotizado nas redes sociais, lendo besteiras e fake news, disseminando o ódio e a intolerância. Não acuso a ignorância e aceito ser patrulhado em minha liberdade de expressão. Tenho medo de externar livremente o que penso para não ser moralmente linchado. Aceito a censura voluntária.

Por tanto aceitar, eu termino entrando em isolamento e depressão, o mal do século que eu não acuso como consequência dessa sociedade construída com pilares de areia. Como nas juras de amor, não passo de um traidor de mim mesmo, um simples carvão.

Eu aceito e não acuso porque sempre ando a dizer que não tenho tempo para refletir, conversar com os outros, responder as mensagens e só faço me encantar e concordar com as inovações tecnológicas (inteligência artificial), sem fazer indagações. Se os outros aceitam e acham ser bom para a humanidade, eu também aceito. Não quero entrar nessa de filosofar porque isso é coisa de intelectual desocupado.

CENAS DE VELÓRIOS E ENTERROS

Cada povo ou tribo tem seus rituais característicos nos funerais, desde a etapa do velório até o enterro e esses costumes são ancestrais, com suas origens nas primeiras civilizações, mas os comportamentos das pessoas são estranhos, falsos, hilários e dão belas matérias-primas, com todo respeito, para contos literários, peças teatrais, causos, programas humorísticos e até poesias.

Mais uma vez aqui vou citar o meu pai, um homem rústico do campo que era um predestinado para acompanhar o doente terminal na cabeceira da cama com orações, seguir pelo velório, fazer o caixão do defunto (era lavrador, carpinteiro, marceneiro e até pedreiro) e só terminava no rito do enterro. Naquelas redondezas onde morava ele era a pessoa requisitada para esses serviços, sem nada ganhar. Perdia noites de sono depois de um cansativo dia de trabalho.

Só para começar, os hábitos das pessoas da zona rural (pelos menos naqueles velhos tempos) têm pequenas nuances em relação aos velórios e enterros das cidades. Tem ainda o cerimonial do pobre e o do rico. Lembro na zona rural, ainda menino, por exemplo, que meu pai fazia o caixão com suas tábuas e na hora de fechar batia os pregos com martelo na cara do defunto. Se a pessoa não tivesse morrido em definitivo, era capaz de levantar do caixão ao ponto de colocar todo mundo em disparada correria.

No campo, as pessoas são mais simples, honestas, sem maldades e fingimentos, mas não faltam as ladainhas das rezadeiras, os choros, alguns histéricos, um café com biscoitos, cuscuz, canjica, bolos e claro, uma cachaça para esquentar o papo dos compadres e comadres e ter a disposição para correr quilômetros com o caixão para o enterro no povoado mais perto. São os momentos de muitas fofocas e prosear nas salas e nos terreiros.

No entanto, o que quero mesmo falar aqui é sobre os cenários esquisitos que se vê nos velórios e enterros.  Ah, ia esquecendo, quando morria um rico ou um “coronel”, gente ruim, malvada, carrasco e malquista, a família contratava, em alguns lugares ainda se faz isso, as carpideiras, as mulheres que ganhavam para chorar pelo defunto, com direito a revezamentos. A mulher e os filhos nem se lamentavam com sua partida para o outro mundo.

Velório de pobre não tem gente de óculos escuros para fingir que derramou muitas lágrimas pelo falecido. No de rico, muitas pessoas chegam de óculos escuros falando baixo e dizendo para o outro: lá se foi uma grande figura, gente boa, generosa, honesta, de caráter, nem que não tenha essas qualidades. Para os parentes, minhas condolências, pêsames e sentimentos em voz bem emotiva.

Quando morre um idoso e a viúva é nova e bonitona, aparece um conquistador galã nos apertos acolchoados já de olho na dita cuja, mesmo garantindo que era muito amigo do defunto, que deixa de ter defeitos. Quando a família não é muito unida e existem brigas entre irmãos, um já olha para o outro como adversário na partilha dos bens e imaginando que não vai deixar ninguém passar a rasteira nele, mesmo que sejam poucos dotes. Em muitos casos acontecem até mortes. Os noticiários não negam.

O que mais aparece num velório e num enterro é a hipocrisia velada, aquela de doer na alma, cheia de elogios falsos e chama o falecido ou falecida de irmão e irmã queridos do coração. E quando o indivíduo tem amantes é um vexame só. A mulher abraça o ex no caixão copiosamente chorando. Às vezes, a viúva nem sabia do caso ou quando já tem conhecimento parte para os tapas, classificando a adversária de vagabunda, puta e vadia. É um escândalo só no meio do velório. Uns começam a discutir ali mesmo pela herança, sem nenhum escrúpulo.

É, meus amigos, cenas de velório e enterro merecem ser registradas na caneta, gravadas e filmadas no celular. Dão bons filmes e são pratos cheios para a literatura, até do cordel. E quando morre um famoso (a) ou uma celebridade? É onde tem mais gente de óculos escuros, com aquela empáfia. Coisa rara de se ouvir: já foi tarde, mas se escuta que os bons se vão logo e que os ruins são duros na queda.

As entrevistas são sempre as mesmas de que é uma grande perda, insubstituível na sua profissão, deixa um grande legado e nos ensinou muitas coisas como mestre das artes e da política. Só aparecem as qualidades, mesmo que seja um ou uma ranzinza, pedante ou metido (a) a besta, dono (a) da verdade. As palavras são quase as mesmas e as frases parecem ser decoradas, recheadas de bordões.





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia