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:: ‘De Olho nas Lentes’

NOSSO SARAU TEM HISTÓRIA

Nas lentes das máquinas fotográficas e dos celulares, nos debates de diversos temas, no bate-papo fraternal e acalorado, nas contações de causos, nos casos de pessoas que aqui pernoitaram, nas pessoas que já partiram para o outro lado do além ou para a outra margem do rio, nas declamações de poemas, nas cantorias dos violeiros, nos amores encontrados e nas madrugadas comendo e bebericando, o nosso “Sarau A Estrada”, que já está completando 13 anos (ficou dois anos parado por causa da pandemia da Covid-19), tem muita história para se contar. Daria para se fazer até um documentário com seus personagens, uns polêmicos e outros até engraçados. Tudo começou em 2010 num encontro de amigos entre Jeremias Macário, Manno di Souza e José Carlos D´Almeida quando pintou a ideia de reunirmos um grupo somente para ouvir vinis e tomar vinho. Assim surgiu o “Vinho Vinil”, com o Pérgula e o Dom Bosco. Dessa turma de fundadores, outros amigos foram se incorporando e o formato foi se modificando e se ajustando para até chegar ao “Sarau A Estrada”, tendo como abertura dos trabalhos um temo escolhido democraticamente. O evento é realizado no Espaço Cultural A Estrada. Tem os frequentadores assíduos do tipo professor Itamar Aguiar até gente nova que sempre aparece em nossos encontros. A maioria é composta de artistas. Tem muito mais coisa para contar, mas o que fica de eterno são as trocas de ideias, de conhecimento e aprendizagem. Muitos já dizem que o sarau já é de fato de utilidade pública e que já poderia ter recebido homenagens, reconhecimento e moção de aplausos da Câmara de Vereadores e outras entidades pela sua persistência em continuar existindo. Ah, ia quase me esquecendo de dizer que o sarau é colaborativo onde cada um traz petiscos, comidas e bebidas. É uma muvuca organizada e sadia.

NA VILA DO SÃO JOÃO

O São João, uma festa tipicamente nordestina, apesar de ter sido descarecterizada nos últimos anos com a mistura maléfica de outros ritmos, como do arrocha e da sofrência, caso do cantor Thierry, que foi contratado pela Prefeitura de Vitória da Conquista onde se apresentou no Espaço Glauber Rocha, ainda é o melhor evento festivo popular, superando o bagunçado e elitizado carnaval. Melhor para quem foi à Vila Junina, armada na Praça Nove de Novembro, no centro da cidade, onde se apresentou somente bandas forrozeiras que mantiveram a nossa tradição cultural, sem falar nas comidas e bebidas típicas. Todo ano se fala e se bota a boca no trombone contra deturpação do nosso forró, mas prefeitos, politicamente incorretos e eleitoreiros, continuam contratando bandas sertanejas, de axé music e pagodeiras por altos preços que variam de 300 a 500 mil reais (muitas superfaturadas), ao invés dos autênticos pés-de-serras ou arrasta-pés como eram chamados desde o surgimento do ritmo por volta de 1930 e 1940/50 com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Sivuca e Marinês de saudosas lembranças com o triângulo, a sanfona e o zabumba.

AS LENTES FAZEM TUDO

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Sempre falam que uma boa imagem vale por mil palavras, isto é, dispensa até a linguagem dos textos. Existem matérias jornalísticas que, por mais que sejam bem-feitas, têm que vir acompanhadas de uma ou mais fotos. E por falar em fotografia, vem logo na cabeça a máquina fotográfica profissional que ainda sobrevive (estão comentando que a analógica vai voltar), mesmo com o advento do celular que pode registrar tudo, mas não com aquela resolução desejada. No entanto, o nosso papo aqui são as lentes, as peças mais importantes de uma máquina, que fazem tudo. Elas são delicadas e precisam ser bem cuidadas, senão pegam fungos e estraga tudo. São sensíveis à luz, na abertura e no fechamento, com a velocidade ideal para captar a imagem no foco certo. Desde quando foram inventadas, elas são preciosas e poéticas, a depender da imagem, como uma bela paisagem e até o desabrochar de uma flor, mas são também instrumentos de denúncia e registro de tragédias, catástrofes e da nossa história. Mesmo assim, o bom trabalho delas estão nas mãos, na sensibilidade e no olhar de um grande fotógrafo. Em Vitória da Conquista temos muitos bons profissionais, com seus notáveis legados na imprensa e nos acontecimentos em geral, mas não vamos citar nomes para não cometer injustiças. As lentes fazem tudo e ainda nos impressiona.

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UM ENTARDECER NA BRUMADO

Com meu amigo e companheiro fotógrafo José Silva registramos o entardecer de ontem (dia 08/06/23), na Avenida Brumado, em pleno feriado de Corpus Christi com a pista pouco movimentada, diferente da agitação de veículos e pessoas em dias normais. Desse lado oeste, o entardecer vem lentamente com suas cores do sertão catingueiro e invade Vitória da Conquista no apagar das luzes, com nuvens sombrias de uma tarde nublada que esconde o vermelho colorido do pôr-do-sol.  O dia se despede para dar lugar à noite e retorna ao seu ciclo em cada amanhecer. É o tempo a girar que pouca gente não dá conta e até esquece que existe a finitude. Durante vida só se pensa em acumular bens e nem se pensa que um dia será arrebatado pelo entardecer, este que não terá mais o amanhã, nem a aurora. Cada um de nós tem seu entardecer e, se refletíssemos mais nisso, talvez o mundo seria bem melhor, sem tantas maldades, ganâncias, ódios e tolerâncias. Talvez assim teríamos mais amor e paz entre todos viventes.

EMBLEMÁTICA

Alguns dizem ser um tribunal de julgamento e outros um simples encontro ou reunião, onde uma pessoa está no centro como réu ou presidindo o evento. A arte por si só já é emblemática e não poderia deixar de ser no Museu de Kard, cujas esculturas são do nosso grande artista Allan Kardeck. No meu olhar é um tribunal e cada uma das estátuas usa uma arma do seu jeito para julgar, como a flor que simboliza a paz, ou uma espada que pode remeter a uma sentença de morte. O Museu de Kard, localizado em Vitória da Conquista, na saída para a cidade de Anagé, hoje um dos maiores do Brasil a céu aberto, possui outras centenas de obras também emblemáticas que somente o autor tem maior precisão para explicar, mas a arte pode ser interpretada de acordo com a visão e a imaginação de cada um. Por isso que a arte é rica e é vida. Recomendo que não deixem de visitar o museu, para exprimir seus pensamentos e viajar na imaginação.

ENTRE ÁRVORES E NUVENS

A Praça Tancredo Neves, antiga Praça das Borboletas, uma das mais bonitas do interior baiano, pode ser vista de diversos ângulos, depende da perspectiva de cada um que passa. Entre as árvores e as nuvens, por exemplo, captei a cruz da catedral, símbolo da fé cristã. Uns vão para namorar, outros para aliviar a mente dos problemas e muitos, de tanto passar em frente todos os dias, nem chega a descobrir os detalhes escondidos da sua beleza. Tem o correr das águas, o frescor e o cheiro das plantas e das árvores, o perfume das flores e as aves que convivem com todo burburinho da cidade. Mais linda seria a praça se ali fosse hoje o Centro Histórico de Vitória da Conquista, mas a ganância do homem se encarregou de destruir o patrimônio arquitetônico (um casarão está em ruínas). Todos as vezes que transito por aquele local consigo ver pontos diferentes, como da cruz lá no alto entre árvores, nuvens e palmeiras, representando o símbolo da cristandade que aqui foi fincado pelos primeiros desbravadores portugueses. Quer queira ou não, a Tancredo Neves, antiga Rua Grande, é o marco primeiro da nossa história.

ARTISTAS DOS SEMÁFOROS

Em tempos bicudos de mais de dez milhões de desempregados no país, cada um se vira como pode, que os digam os sem ocupação trabalhista, que vivem na informalidade e sem emprego. Para seu sustento e das suas famílias, eles precisam fazer seus bicos nos semáforos, vendendo balas, livros, CDs, distribuindo folhetos de propaganda e outros produtos quando o sinal fecha. Eles têm que se “virar nos trinta” ou mais alguns segundos para conseguir uns trocados dos mais abnegados. Eles sabem muito bem na cabeça o tempo que têm para dar conta do recado, pois o tempo não para. É aquele negócio de correr contra o tempo, e ele não perdoa para quem fica parado. Cada segundo é tudo e é preciso ter arte para acompanhar o tic-tac, tic-tac do relógio.

Além desses vendedores, estão lá os artistas dos semáforos que merecem destaque e alguns segundos de atenção pelo que fazem, como este rapaz na foto flagrado pela lente da minha máquina no cruzamento entre a Avenida Luis Eduardo Magalhães com a Juracy Magalhães. Seu malabarismo de jogo de facões (três) para o alto é impressionante, e o mais difícil é pegar todos de volta pelos cabos na descida, sem se ferir. Pela sua agilidade e treino, ele conseguiu chamar a atenção de todos que passavam, não somente dos motoristas, motoqueiros e ciclistas, como dos pedestres. É um verdadeiro artista dos facões, coisa que somente se ver em circos. Pela sua plasticidade e habilidade, sua arte é poesia e coragem. Imagino que deve ter passado muito tempo de treinamento para apresentar suas exibições com destreza e maestria. É o Brasil da criatividade para ganhar um dinheiro, se bem que ainda tem gente indiferente que passa sem nem olhar para o trabalho desses verdadeiros artistas dos semáforos. Ele não brinca apenas com bolas no ar. O mais incrível é que não perde uma e nem deixa um facão cair no asfalto.

CASARÃO EM RUÍNAS

Bem na Praça Tancredo Neves (antiga Praça das Borboletas) onde já foi chamada de Rua Grande, mais um casarão se encontra em ruínas. Há meses a Prefeitura Municipal interditou com um tapume a passagem das pessoas pelo passeio. Fechou uma parte da rua e as vagas de veículos ao lado como forma de prevenção porque a casa pode desmoronar e causar um acidente grave. Nada foi feito até agora para restaurar ou recuperar o estabelecimento. Será que o poder público só está esperando que caia para retirar os entulhos e levantar mais um prédio no local pelo setor imobiliário especulador? Da Catedral até o final da Praça Barão Rio Branco poderia ser hoje o centro histórico de Vitória da Conquista, como existe em grandes cidades. Ao longo dos anos destruíram praticamente todo patrimônio arquitetônico da cidade e o pouco que ainda resta está caiando aos pedaços, como esta velha casa na Tancredo Neves. Para piorar a situação, os equipamentos culturais que deveriam estar abertos para as atividades artísticas, permanecem fechados, como o Teatro Carlos Jheová, o Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha na espera de uma reforma. Cometeram e ainda cometem um tremendo crime de irresponsabilidade contra o patrimônio material de Conquista. Está havendo um verdadeiro apagão da história antiga da cidade.  Aqui nada se preserva, muito pelo contrário.

LEMBRANÇAS DO CAMPO

Já comentei aqui sobre meu simples quintal ou minha aldeia onde pela manhã abro as portas e as janelas e me deparo com minhas flores que levam para bem longe meus pensamentos e perfumam minha alma. Elas desabrocham minhas lembranças e me fazem  voltar às minhas raízes de menino no campo onde nasci e convivi até os meus tempos de moleque. Hoje ainda estou na cidade grande por circunstâncias que não dependem de mim e, para fugir dos cotidianos problemas, fico a olhar para elas (flores) até o clímax de uma hipnose. Chegam os pássaros que entoam seus cantos como numa prece de saudação de que a vida, apesar de tudo, deve seguir o seu rito natural para fechar o seu ciclo lá na frente. O beija-flor, em sintonia com a natureza, faz seu balé dançante no bater de suas asas, enquanto alegremente se alimenta do néctar da flor e depois mergulha no ar com seu fino bico para depois repetir seu ritual poético.

O LÁPIS E O CONSELHO

Quem nasceu primeiro, o lápis ou a pena do tinteiro? Talvez nem um e nem o outro. Na civilização mesopotâmica e egípcia, do vegetal se extraia a tinta e se utilizava algum instrumento rústico, que não eram chamados de lápis e pena para fazer anotações e escrever as histórias em tábuas de barro e papiros. Da evolução antiga para os tempos mais modernos, o lápis e a pena de tinta guardam lembranças na memória de muitas gerações que aprenderam a ler e a escrever com essas invenções. Hoje, embora se faça quase tudo através do teclado do computador (antes era a máquina datilográfica), é a caneta que ainda é empregada para assinar documentos, tratados, contratos, convenções e emitir sentenças de juízes, empresários e até por pessoas simples no ato de compra e venda de algum bem.

Mas, onde entra mesmo essa história de Conselho? É um grupo de gentes notáveis que usas de vários objetos para, deliberar, criticar, aprovar, fiscalizar, julgar e sentenciar um réu ou ente público e privado, sem que antes não tenha passado por uma peça documental assinada pela caneta, que veio do lápis feito da madeira com a introdução de um material da espécie do carvão. Essas duas figuras, tão importantes na história da humanidade (o Conselho pode ser também um Tribunal),  estão em forma de esculturas no Museu de Kard, do grande artista conquistense Alan Kardec. Essas e outras artes estão lá neste museu a céu aberto que muito orgulha a nossa cidade, embora não tenha sido citado no folheto turístico de Vitória da Conquista, lançado recentemente pela Prefeitura Municipal através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Uma pena que o museu não tenha sido incluído no roteiro do visitante, que o órgão pretende promover para atrair o turista da região e de outros estados.





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