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:: 19/out/2021 . 23:30

A FOME E OS OSSOS

Retratos dantescos de pessoas no Rio de Janeiro disputando os melhores ossos, cartilagens e pelancas de bovinos num depósito insalubre e num caminhão estacionado correram o mundo. Esse é o nosso país do slogan de Pátria Amada, ou Pátria Esfomeada?

O bispo do santuário de Nossa Senhora Aparecida a chamou de Pátria Armada. Ele me fez lembrar as falas de D. Helder Câmara quando sempre clamou por justiça social, dizendo que isso não é comunismo. Como sentir orgulho de ser brasileiro quando milhões passam fome e catam restos de comida no lixo? Tudo nos faz voltar aos tempos do romance “Os Miseráveis”, de Victor Hugo.

Não se trata de ser de esquerda ou de direita. No século XVI a falta de trabalho penalizou toda Europa Ocidental. Houve uma invasão dos indigentes, e os reis decretavam leis proibindo a mendicância e a vagabundagem. Os mendigos eram marcados com ferro em brasa. Qual dos dois era o pior? A fome roendo no estômago, ou o ferro? Nem precisa responder.

Em nosso Brasil de hoje, conforme pesquisas do IBGE, mais de 20 milhões de brasileiros passam 24 horas sem ter o que comer por alguns dias. Dependem de uma cesta básica das campanhas de doações. Nem todos conseguem mais ajudar porque as famílias estão endividas com a alta da inflação.

Ainda de acordo com as pesquisas, 24 milhões de pessoas não têm certeza de como vão se alimentar no dia a dia, e já reduziram a quantidade de alimentos ingeridos. Nesse cenário macabro, não se dá mais para se falar em qualidade por causa da substituição de um produto por outro mais barato.

Pelas contas do IBGE, 74 milhões também estão mergulhados na incerteza se vão ingressar na penúria. Ronda aquele clima de ansiedade e até depressão quando se houve os noticiários na mídia quanto a escalda nos preços dos alimentos, e a possibilidade de amanhã fazer parte do contingente dos mais de 14 milhões de desempregados.

Com a vacinação acelerando e o número de mortes e casos reduzindo, talvez agora o maior medo seja a fome, principalmente dos milhões que recebem um ou dois salários mínimos e têm família para sustentar. Estamos no país do medo, vivendo num presente de pobreza sem futuro.

Pode até ser desanimador e exagero demasiado, mas quem hoje ainda come um pedaço de carne misturada com feijão e arroz pode amanhã estar catando osso e pelancas num carro fedorento, ou num túnel de lixo, servindo de imagem para registrar a degradação humana.

O desespero pode levar o povo faminto a invasões em estabelecimentos, a chamada convulsão social, se bem que o brasileiro não chega a se rebelar a esse ponto. As leis dos reis vão proibir a mendicância e ferrar com brasa os mendigos?





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