DIA DO FOLCLORE – 22 DE AGOSTO.

Quando se fala em folclore lembra-se logo do grande escritor potiguar Luis da Câmara Cascudo que se dedicou ao tema. Com o estrangeirismo na nossa língua e o complexo de se imitar tudo que vem de fora, infelizmente nossa juventude prefere incorporar, em corpo e alma, os super-heróis norte-americanos (falha da nossa educação) até em cadernos escolares e esquece dos nossos personagens folclóricos. Em meio a essa perda de identidade, poucos comemoram o dia 22 de agosto, dedicado ao nosso rico folclore brasileiro. Outros nem sabem o que seja folclore.

Primeiro vamos conhecer um pouco sobre o mestre nesse assunto, Câmara Cascudo, que veio lá do Rio Grande do Norte. O professor Osmar Barbosa nos apresenta que ele iniciou sua carreira literária como jornalista do periódico “A Imprensa”, de Natal, de propriedade do próprio pai. Iniciou seus estudos de medicina na Bahia, mas por questões financeiras, se bacharelou em Direito pela Faculdade de Recife.

Câmara nasceu em 30 de dezembro de 1898 e faleceu em 30 de junho de 1986 (coincidência do 30). Era filho do coronel Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria da Câmara Cascudo. Na juventude, viveu na chácara Villa Cascudo, no bairro Tirol. Em sua casa acompanhava desde criança as reuniões literárias que ocorriam entre a família e amigos. Com 19 anos ingressou no jornal do seu pai, e sua primeira crônica foi “Tempo e Eu”.

Em 1920 escreveu a introdução e as notas na antológica poética de Lourival Açucena, intitulada “Versos Reunidos”. Em 1941 fundou a Sociedade Brasileira de Folclore. Foi professor de Direito Internacional entre os anos 50 e 60. Em sua viagem pelo exterior, esteve em Angola, Guiné, Congo, São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Com resultado, escreveu “A Cozinha Africana no Brasil” (1964) e “História da Alimentação no Brasil”, entre 1967 e 1968.

Aos 21 anos, Câmara lançou seu primeiro livro “Alma Patrícia” sobre autores do Rio Grande do Norte onde foi professor de Direito Internacional. Em sua vida, publicou mais de 50 volumes.  Sempre manteve suas raízes fincadas em sua terra natal, cercado de pessoas humildes e velhos amigos, quando poderia ter gozado de grandes prestígios em outros centros culturais do país.

Diz o professor Osmar, que Câmara fez-se notável folclorista dedicando todo seu tempo a buscar conhecimento no assunto. Foi o primeiro a compor um Dicionário do Folclore Brasileiro. Entre seus trabalhos merecem destaque Vaqueiros e Cantadores, Lendas Brasileiras, Contos Tradicionais do Brasil, Geografia dos Mitos Brasileiros, Trinta Estórias Brasileiras, Vida e Conto de Cangaceiros e Tradição e Ciência do Povo.

“Lendas Brasileiras” contém 21 histórias, tais como A Lenda de Iara, Cobra Nonato, Lenda da Sapucaia-Roca e Barba-Ruiva relacionadas à região Norte. Com referência ao Nordeste, destacam-se A Cidade Encantada de Jericoacoara, Carro Caído, Senhor do Corpo Santo, As Mangas de Jasmim de Itamaracá e A Morte de Zumbi. Para o oeste, O Frade e a Freira, A Serpente Emplumada da Lapa e O Sonho de Paraguaçu. Para a região Sul, O Negrinho do Pastoreio, A Lenda da Gralha Azul, Fonte dos Amores, A Virgem Aparecida e a Lenda de Itararé. Para o Centro, Tatus Brancos, A Missa dos Mortos, Chico Rei e Romãozinho. São lendas oriundas do folclore e da poesia dos estados brasileiros.

De acordo com o professor Osmar, não se faz literatura sem tradição popular. “O próprio classicismo termina se inspirando nas fontes mitológicas da velha Grécia. O folclore é um ramo da ciência antropológica que estuda as manifestações coletivas da cultura popular, abrangendo estudos e classificação de países civilizados através de contos, lendas, fábulas, canções, crendices, superstições, usos, costumes e adivinhações”, entre outras.

“Ainda hoje em todo mundo os estudiosos do tema examinam objetos, utensílios, tipos de habitação e trajes típicos regionalistas. Em todos países existem lendas, apólogos, costumes e superstições, unindo a tradição popular que faz parte da alma de um povo”. Para o professor, “os contos populares do Brasil têm o sabor de uma fruta do mato, o cheiro agreste da flor mais viçosa, a fantasia colorida com as tintas da nossa selva e o encanto de um primitivismo tropical”.

O escritor João Ribeiro dizia que “o folclore é uma pesquisa de psicologia dos povos, das suas ideias e seus sentimentos comuns, do seu inconsciente, constituindo a fonte viva donde saem os gênios…”. No folclore, a literatura encontra o veio certo para produzir obras imortais da arte que dão glória a um povo.

“Vaqueiros e Cantadores” – folclore poético do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de Luis da Câmara Cascudo, fala dos temas O Desafio, A Donzela Teodoro, Boi Surubim, O Padre Cícero, Pedro Malasarte, As Lendas de Pedro Cem, a Criação do Mundo, A Princesa Magalona e Sertão d´Inverno.

“Tanto pego boi no fechado como canto desafio”. Câmara afirma que neste livro ele reúne quinze anos de sua vida. Notas, leituras, observações, tudo compendiei pensando um dia neste “Vaqueiros e Cantadores”. Diz o autor que o material foi colhido diariamente na memória de uma infância sertaneja, despreocupada e livre.

“Vivi no sertão típico agora desaparecido. A luz elétrica não aparecera. O gramofone era um deslumbramento. O velho João de Holanda, de Caiana, perto de Augusto Severo, ajoelhou-se no meio da estrada e confessou, aos berros, todos os pecados, quando avistou, ao sol-se-pôr, o primeiro automóvel”.