Antes uma peça que fazia parte da indumentária do homem e da mulher, com toda sua elegância nas ruas, restaurantes e eventos festivos, o chapéu é por muitos visto hoje de forma discriminatória e com preconceito. Em tempos passados, ele desfilava soberano, inclusive pela nobreza, reis e rainhas.

Para o homem, por exemplo, ele não é aceito em determinados lugares solenes, reuniões, seminários, e nunca numa audiência judicial em frente ao um juiz. Numa entrevista de emprego, nem pensar! O cara que se atrever a ir de chapéu, será logo eliminado.

Lembro ainda menino que meu pai me obrigava a usar o chapéu na roça e quando ia à cidade, sob o argumento de proteção contra o sol. Com seu jeito matuto catingueiro de ser, ele dizia que o sol “cozinhava o juízo”, o que não deixa de ter certa razão. Livrei-me dessa exigência quando fui estudar, mas voltei ao hábito nos finais de semana nos anos 70, porque como repórter de redação, o jornal não admitia no trabalho.

No entanto, passei a adotar o chapéu, com maior frequência, quando vim assumir a Sucursal do “A Tarde”, em Vitória da Conquista, em 1991. Nos últimos anos, ele passou a ser minha marca registrada e não saio sem ele, embora impedido, ou autocensurado quando raramente entro num templo religioso, como na Igreja Católica.

Podem me criticar e até me chamarem de ignorante, mas não consigo entender o porquê consideram ofensa entrar numa Igreja de chapéu! Ele é tão imoral que constitui uma profanação à Santíssima Trindade? Na Igreja ele é um excomungado! Não posso falar com o Senhor Cristo com o meu chapéu? Será que Ele deixa de me atender por isso?

Por que o tabaréu, principalmente, quando fala em Deus tem que tirar o chapéu? Por que não se pode orar ou rezar com o chapéu? Ele é tão pecaminoso e símbolo de heresia?  Esses conceitos não entram em minha cabeça que sempre está coberta pelo meu querido companheiro chapéus.

Outra discriminação é quando se entra num restaurante. Na hora de comer, o sujeito tem que tirar o chapéu para não ser julgado como mal-educado e desrespeitoso com o ambiente. Existe alguma explicação plausível para isso? Se o argumento for bem lógico, quem sabe, poderei acatar, mas meu chapéu não vai gostar nada disso, e nunca vou abandoná-lo. Vai ficar magoado e com traumas para o resto da vida, mas ainda do que ele já sofre.

Bem, tenho uma pequena coleção de cerca de 160 a 170 chapéus, e sempre digo a eles que tudo isso não passa de mais um preconceito. Quando vou sair, é uma gritaria danada para me acompanhar. Para agradar a todos, costumo sempre sair com um diferente, muitas vezes de acordo com as estações do ano.

Tenho procurado, com meu jeito de conversar, contentar a todos e dar uma de psicólogo para que não se sintam rejeitados ou frustrados por essa gente preconceituosa. Só pediria que deixem meu chapéu viver em paz. Não incomoda, e nem fala mal de ninguém.