Numa troca de tiros, de acordo com versão das polícias militar e civil, mais três ciganos da família Matos, suspeitos do assassinato de dois PMs, no dia 13 de julho último, no distrito de José Gonçalves, foram mortos ontem (dia 28/07) nas imediações do Rio Gavião, em Anagé.

Com essas baixas na ação policial, sobe para nove o número de mortos desde a caçada aos ciganos no dia 13 do mês, incluindo dois menores de 13 e 15 anos e um empresário, dono de restaurante, de nome Diego Santos Souza, de 39 anos, membro da Pastoral da Igreja Católica, sem contar a prisão, com ferimentos, do pai Rodrigo Silva Matos, de 58 anos, interrogado no Distrito Integrado de Segurança Pública.

VILIPÊNDIO

Sobre os mortos, o Instituto dos Ciganos do Brasil (ICB) recebeu um vídeo e fotos dos corpos mostrando a voz de um homem e mais duas pessoas vilipendiando, ou seja, profanando, aviltando, desrespeitando e ultrajando os cadáveres.

Provavelmente, segundo a entidade, o local seria o Hospital de Anagé. O ICB enviou a gravação às autoridades competentes, para que o caso seja rigorosamente apurado, como crime previsto no Código Penal, artigo 212. Pede ainda que o servidor da Prefeitura de Anagé e todos que participaram do vídeo sejam identificados e punidos dentro da lei. O Instituto também requer que as circunstâncias das mortes sejam investigadas. “O vilipêndio causa dor e angústia às pessoas, cujas intimidades são expostas”.

O que se percebe nessas diligências dos policiais é que praticamente ninguém dos envolvidos chegou a ser preso para responder judicialmente pelos seus supostos crimes. O presidente do Instituto, Rogério Ribeiro, esteve em Vitória da Conquista, entre os dias 19 a 22 de julho e declarou que houve excessos por parte de membros da corporação militar, com torturas e espancamentos, inclusive contra uma idosa de 82 anos e três netos adolescentes.

Diante da violência, ainda segundo Rogério, vários ciganos tiveram que ser removidos de Conquista para outras cidades da região, no sentido de proteger essas famílias de mais represálias. Por intermédio de órgãos ligados aos direitos humanos, e com o consentimento das vítimas, cinco mulheres e sete crianças podem ser, em breve, incluídas no Provita (Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas de São Paulo), dependendo tão somente dos tramites burocráticos.

Na ocasião, no último dia 19, estiveram também em Conquista o secretário de Segurança Pública da Bahia, o comandante Geral da Policia Militar da Bahia e a delegada geral da Polícia Civil, quando negaram excessos dos policiais nos atos, e que tudo foi feito dentro da lei, o que foi negado pelo presidente do ICB, Rogério Ribeiro.

Disse que o secretário não foi transparente em nenhum momento. Em seu relatório, enviado para a Promotoria Pública Estadual, Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Conquista e do Congresso Nacional, defensoria pública e outros organismos, as fotos de espancamentos e torturas são chocantes. O documento faz um apelo para que providências sejam tomadas contra os responsáveis, e os crimes sejam punidos.

Esse fato em Conquista lembra os tempos do Brasil Colônia e Império quando os ciganos viviam em correrias, sendo empurrados de um estado para o outro, como corja de sujos, malandros, ladrões e marginais. Os bandidos aproveitavam a presença dos ciganos próximos a seus acampamentos para praticarem seus crimes, sabendo que eles levariam a culpa.