A GARIMPAGEM E A CULTURA DIAMANTINA NA BAHIA

Nesse capítulo, os autores e acadêmicos Ronaldo Senna e Itamar e Aguiar falam da Chapada Diamantina como polo produtor e comercial das pedras, atraindo indivíduos de etnias e culturas diferentes. Essa cultura garimpeira, como já foi dito, prosperou mais em Mucugê, Andaraí, Lençóis, Iraquara e Palmeiras onde foram criadas as áreas de proteção ambiental, o Parque Nacional da Chapada e a APA Marimbus Iraquara.

Os autores citam no livro que os pesquisadores alemães Spix e Martius percorreram o interior da Bahia, entre os anos de 1817 e 1820, indo de Malhada de Pedras à capital. Os estrangeiros descreveram os aspectos do solo e as atividades agrícola, pecuária e a mineração, além dos costumes e hábitos dessa gente. Na Villa do Rio de Contas encontraram semelhanças com a região do Tijuco (Diamantina) Minas Gerais.

Como em Minas Gerais, também se verificou a presença do diamante no cascalho aurífero, caso de Rio de Contas. Na obra “Remanso”, ainda são citados os pesquisadores e estudiosos da região, como o engenheiro Teodoro Sampaio e o escritor Afrânio Peixoto.

O primeiro percorreu o Vale do São Francisco e da Chapada pelos anos de 1979 a 1980, tendo visitado Mucugê (Santa Isabel do Paraguaçu) onde teve início a garimpagem do diamante, predominando a etnia mestiça. A Serra do Sincorá foi onde se encontrou grandes quilatagens das gemas (Andaraí, Mucugê, Lençóis, Palmeiras e a Villa de Xiquexique-Igatu).

Os autores constataram em seus trabalhos, que o ciclo do ouro (um século) foi bem mais longo que do diamante (um quarto de século). Em Lençóis, a decadência foi extrema, não se encontrando diamantes de mais de uma oitava, mas os carbonatos (utilizados na indústria de perfuração de túneis) eram mais abundantes.

O segundo indicado no livro foi o romancista e escritor de Lençóis, Júlio de Afrânio Peixoto (1876-1947), membro da Academia Brasileira de Letras, com vários livros que falam da Chapada, narrando costumes e hábitos do povo.  A obra “Bugrinha”, inclusive, serviu de argumento para o roteiro de “Diamante Bruto”, do diretor Orlando Senna, em 1977, filmado em Lençóis.

De acordo com os acadêmicos, a cultura garimpeira se organizou através da economia do diamante e do carbonato. Itamar e Ronaldo descrevem sobre a consciência mineral da magia, com seus mitos, códigos e mitemas, apontando os aspectos folclóricos das festas populares (sacerdotes, brincantes e músicos). A população do município acompanha com fervor a dois principais calendários, de 20 de dezembro a seis de janeiro (reisados) e o 2 de fevereiro, que é a festa do Senhor Bom Jesus dos Passos.

Esses eventos sempre tiveram uma grande participação dos garimpeiros, moradores do município e de vizinhanças da Chapada. Dois hinos neste calendário, o dos garimpeiros e do Senhor dos Passos são citados no livro. “No mês de abril, também era comum alguns terreiros realizarem toques para os caboclos de pena, em função da data do descobrimento do Brasil. Nestes dias, rendem-se homenagens aos índios”.

“Nos dias 7, 17 e 27 de setembro soam os tambores de pau cavalo, herança dos atabaques de feituras dos candomblés nagôs… Os tambores de homens livres ecoam dos quatro cantos da cidade, em louvor aos santos Cosme e Damião. No mês de outubro, algumas casas de Jarê batem atabaques para os meninos, os Êres”.

“Os anos 70 foram uma década importante para o processo de mudanças culturais na cidade, uma vez que nela registra-se a criação da Casa de Cultura Afrânio Peixoto. A cidade foi tombada e transformada em Monumento Histórico, Artístico e Cultural Nacional”. Ainda nesta década aconteceu a filmagem de “Diamante Bruto” e tiveram início as primeiras medidas para a criação do Parque Nacional da Chapada (1985).