A arte sempre agrada a uns e a outros não, e isso faz parte do seu sentido de ser, do existir da polêmica e do contraditório. No entanto, o maior pecado é o poder executivo, seja municipal, estadual ou federal retirar obras de um artista de um espaço público, como fez o de Vitória da Conquista, através do seu Conselho de Cultura. No mínimo é uma grande falta de respeito, mas nos tempos atuais virou coisa comum pisotear a cultura e jogá-la no cesto do lixo.

Como exemplo, vou citar aqui dois estilos de obras em Salvador em locais públicos que se transformaram em chacotas e até piadas, mas nem por isso foram expulsas a ponta pe. Uma é do genial Mário Cravo que fica na Cidade Baixa, próximo ao Mercado Modelo. Deram o nome de os “Culhões” de Mário Cravo. A outra são as Gordinhas de Ondina, da mulher do ex-prefeito Mário Kertz. Elas até hoje permanecem em seus lugares há mais de 40 anos.

POR CAPRICHO

Toda essa introdução foi feita para comentar sobre a lamentável retirada das obras do artista Alan Kardec (ou Kard – Museu Kard) do espaço da Avenida Olívia Flores, as quais lá estavam há seis anos, tudo por capricho de um Conselho de Cultura, cuja uma parte de seus membros faz oposição acirrada às peças do escultor e expositor, sem ônus para a Prefeitura Municipal.

Quando uma arte se estabelece num espaço público, ela não pertence mais ao artista, e foi assim que aconteceu com Alan que, através do ex-prefeito Guilherme Menezes, expôs suas obras na Avenida, em 2015, conforme relata. O combinado, segundo Alan, era ficar ali no circuito das pessoas por um ano.

Mesmo assim, de acordo com o escultor, muita gente implicava com as peças, mas Guilherme manteve a mostra porque não havia nada para colocar no local. O assédio contrário continuou. Quando Hérzem Gusmão assumiu a prefeitura, decidiu retirar as obras, mas o professor Ubirajara Brito o convenceu do contrário, argumentando que as obras eram importantes e fundamentais para a cultura de Conquista.

No entanto, o Conselho de Cultura tripartite, composto por representantes do governo e a outra parte da sociedade (professores e profissionais liberais) fez moção em favor da retirada, em 2019. Uma grande parte é de opositores ao trabalho do artista e justificou sua posição de que Alan estava ocupando um espaço em detrimento de outros artistas. “Minhas peças estavam ali sem nenhum custo para o erário”.

O Conselho, então, elaborou um documento onde ressalta a abertura de editais para outros artistas disputarem o espaço ocupado pelas obras de Alan. Para ele, foi uma argumentação tosca. “A prefeita Sheila poderia decidir em manter as peças, mas, para evitar constrangimentos para ela, resolvi antecipar e levar as peças para o Museu Kard onde as pessoas em geral têm ficado encantadas com o projeto”.

Alan considera tudo isso como uma birra do Conselho, “que não me representa. Quem representa a cultura na cidade não está representando o Conselho”. Ele conta que esteve conversando com os prepostos da Cultura e foi recebido com polidez, “mas, se trata de uma polidez diferente. É uma polidez educada, com verniz social falso que por detrás está a hipocrisia. Inclusive um membro fez chacotas e deboches das obras, algo sem respeito”

O escultor prossegue afirmando que o Conselho sempre tem feito uma campanha depreciativa, minando sua participação no espaço público, dando a entender que resolveu retirar as obras por pressão. Ele ainda critica dois sites da cidade (Avoador e Gambiarra) que têm feito matérias tendenciosas contra ele.

“São pseudos jornalistas manipuladores que mutilaram grosseiramente uma entrevista minha. Publicaram uma matéria confusa. Teve um blogueiro que reuniu tudo que era negativo, como se fosse verdade. O lógico seria colocar posições negativas e positivas, e não ser totalmente tendencioso” – desabafou.