Um poema do jornalista e escritor Jeremias Macário em homenagem aos torturados e mortos pela ditadura civil-militar de 1964 e que faz parte do seu livro “ANDANÇAS”

De algum lugar da selva,

De gente pobre submissa,

O guerrilheiro firme resiste,

Redigindo sua carta,

Para sua amada Marta,

Acreditando na vitória,

De construir uma justiça,

Para mudar nossa história.

 

De algum lugar da selva,

Vive uma senhora lavradora,

Onde as réstias da luz do sol,

Disputam espaços nas folhas,

Revigorando o social ideário,

De um guerrilheiro solitário,

Que foi crivado de balas.

Pela tirana metralhadora.

 

Veio a fúria do vento forte,

Cuspindo fogo pelas ventas,

No disfarce de uma chicória,

Que com seu cutelo da morte,

Devorou a nossa memória.

 

Sem o direito de nem pensar,

Quanto mais de se expressar,

Os contras foram torturados,

E sacrificados no altar.

 

Os sobreviventes dos horrores,

Ainda temem seus algozes,

Como os cães mais raivosos,

Que ainda causam as dores,

Ultrajando nossa memória.

 

De uma noite para o dia,

A lua cheia ficou vazia;

Foi-se embora toda ternura,

Porque o carrasco teve anistia,

E a família do desaparecido,

Ficou sem fazer sua sepultura.

 

Pior ainda é perdurar as trevas,

Sem a punição dos assassinos,

Que executaram nossos meninos,

E agora querem outra vez voltar,

Para massacrar e humilhar,

Quem já foi tirado do seu lar.

 

Está entalado em nossa garganta,

O grito proibido da verdade,

Dessa memória ensanguentada.

Que ainda não saiu do porão,

Para punir toda brutalidade,

Dos carrascos de plantão.