Quem veio primeiro, o verbo ou a música? Dizem que a explosão de uma estrela na criação do mundo permitiu a propagação do som em forma de música, mas a palavra estava lá. A música é tão importante quanto a literatura, talvez esta última mais ainda. Outros que sem letra não existe música, mesmo que ela saia antes da composição.

Na verdade, não deixa de ser pontos de vista de cada um na sua interpretação filosófica. No entanto, essa não é a questão primordial, e a discussão pode ser infinita.  O que eu quero mesmo expressar é que a cultura não pode ser resumida apenas na música. Existe uma mentalidade impregnada nas pessoas no conceito de cultura, achando que artista é somente aquele que é cantor e músico.

Essa concepção advém da premissa de que a música tem mais visibilidade do que as outras artes por atingir o maior número de público. Ela é mais fácil de ser captada e atrai muito mais gente do que a literatura, a dança, o teatro, o cinema, as artes plásticas em geral, o artesanato, a oralidade e outras linguagens artísticas.

Aqui em Vitória da Conquista, por exemplo, onde não existe uma política cultural definida, mal ou bem, com raras exceções, só a música tem sido contemplada pela Secretaria de Cultura, principalmente nas festas de São João e Natal. As outras artes são sempre esquecidas, jogadas lá no fundo do baú, e ficam empoeiradas.

Há muito tempo não temos aqui um salão de artes plásticas, um festival de dança, teatro, poesia e audiovisual promovidos pelo poder público em conjunto com o setor privado. Uma cidade do porte de Conquista, a terceira maior da Bahia, com mais de 230 mil habitantes, nunca abrigou uma feira do livro, enquanto outras cidades menores têm realizado com sucesso.

Não estou aqui, de forma alguma, querendo tirar o pão da boca dos músicos por serem os mais beneficiados. Muito pelo contrário, até entendo que é muito pouco o que a Prefeitura Municipal faz pela classe. Só quero afirmar que as outras artes, tanto quanto a música, precisam ganhar seu merecido espaço na cultura.

Essa mentalidade de se trabalhar mais a área musical precisa ser mudada. A literatura, por exemplo, e aqui não estou puxando a sardinha para o meu lado, é a linguagem mais sacrificada, talvez pela grande perda do hábito da leitura e também por ser a menos compreendida pelo público. É a mais difícil de ser entendida.

Digo de mim mesmo que cheguei a publicar meus livros com muito sacrifício e dor, inclusive pensando em desistir no meio do caminho, como foi o caso de “Uma Conquista Cassada”, uma obra de pesquisa que exigiu muito trabalho e poderia ter sido melhor se tivesse tido apoio de recursos de fora. Felizmente, o seu lançamento foi possível graças a ajuda do deputado estadual Jean Fabrício que intermediou sua edição junto à Assembleia Legislativa.

Quanto aos outros, tive que correr atrás pedindo a ajuda de um e de outro para fazer a impressão, sem contar que fui obrigado a colocar dinheiro do meu bolso. Como não sou um Jorge Amado e nem um João Ubaldo da vida, as editoras não têm interesse, e aí o “bicho pega”, como se diz no popular. Por essas e outras, existem hoje muitos talentos engavetados que poderiam até ter virado grandes escritores nacionais.