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:: 14/maio/2021 . 1:25

PASSAR O CHAPÉU

 

 

Não é nenhuma humilhação o artista, por decisão própria dele, seja qual for a sua linguagem, passar o chapéu em lugares públicos para angariar algum dinheiro para o seu sustento, mas é um grande desrespeito quando se trata de um secretário de Cultura mandar em público que ele faça isso para se virar, quando pouco faz para ajudar aqueles que produzem cultura para o povo. É um atestado que o poder público não tem projetos para amparar e fortalecer a nossa cultura. O próprio rei do baião passou o chapéu nas feiras de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, quando saiu do sertão para lançar suas cantorias e composições no sul. Uma coisa, senhor secretário, é o artista se exibir nos metros de Londres, nas praças de Paris e em outros países europeus. A outra é um secretário, ou ministro da Cultura mandar passar o chapéu. São atitudes diferentes. Na Europa, muitos são de outros países que estão de passagem apresentando seus shows e espetáculos e estão até trabalhando de forma clandestina. Mandar passar o chapéu nada mais é que uma humilhação nessa circunstância específica da fala do secretário. Aliás, senhor secretário, muitos artistas estão atravessando uma situação tão difícil e carente que nem têm dinheiro para comprar um  chapéu. Já que a Secretaria quase nada oferece em termos de apoio à classe, e mandou que se passe o chapéu, posso ajudar fazendo uma doação para a pasta, pois possuo uma coleção de mais de 150 peças. Pelo menos a Secretaria entraria com um chapéu para cada um. Como se trata de uma ofensa, creio que os músicos, malabaristas, atores e outros que lidam com a arte não vão aceitar esse desrespeito. Por falar nisso, a OAB está entrando com uma ação judicial contra o desmonte da cultura no país praticado pelo governo federal. O mesmo poderia ser feito com relação a Vitória da Conquista, cuja Prefeitura Municipal abandonou a nossa cultura.

ANDANÇAS

Poema inédito do jornalista e escritor Jeremias Macário, que leva o mesmo nome do seu livro

Oh quantos feixes de lembranças!

Daquela terra estéril e árida,

De gente sofrida de alma cálida,

A esperar algum agito do vento,

Para farfalhar as folhas da plantação,

Quando nessa travessia do tempo,

Resolvi partir em minhas andanças.

 

Como viajante dessas histórias,

Fui rasgar todas as divisórias,

Deixei meus pais e o meu amor,

Com lágrimas bateu no peito a dor,

Cortei pelo cemitério dos anjos,

Bem longe vi as meninas de tranças,

E segui com a mochila das andanças.

 

A noite na roça é fechamento de porta,

Aí fui girar mundo nas andanças,

Passei fome nas esquinas das vidas,

Entrei em muitos becos sem saídas,

Levei rasteiras, tropeços e foras,

Roguei por todas Nossas Senhoras,

Voltei como agrônomo doutor,

Para reanimar essa natureza morta.

 

As estrelas e a lua voltaram ao cio,

Meu amor me beijou quando me viu,

Do chão criamos filhos e bonanças,

Mas meus pais não resistiram o verão,

E se foram durante minhas andanças.





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