MANDAR OS ARTISTAS PASSAREM O CHAPÉU NAS PRAÇAS E FEIRAS LIVRES É NO MÍNIMO UMA FALTA DE RESPEITO COM A CLASSE. É UM ATESTADO DE QUE A PREFEITURA MUNICIPAL ABANDONOU A CULTURA E NÃO TEM NENHUM PROJETO PARA ELA.

Por um bom espaço de tempo, a pandemia da Covid-19 ainda vai ser o assunto mais comentado. Está difícil essa tragédia se apagar das nossas cabeças, embora conheça gente que tem feito todos os esforços para não ligar mais o controle nos noticiários dos meios de comunicação. A doença veio entrelaçada com atos bárbaros de violência e odor de angústia, ansiedade e depressão.

Nesses tempos que já eram tão difíceis, ninguém imaginava que o nosso Brasil e o mundo iriam receber mais essa pancada de um inimigo invisível que parece não desistir do seu fogo cruzado e bater em retirada, mesmo depois de ter feito tombar milhões de vidas nesse planeta já tão castigado pelo homem.

ESQUECIDOS ARTISTAS

Terminei por fazer um “nariz de cera” no jargão jornalístico para entrar no assunto propriamente dito que é sobre a nossa esfarrapada cultura, principalmente aqui em nossa Vitória da Conquista. Sobre ela, existe um certo silêncio. No início do ano passado apareceram aí uns editais para dar alguma ajuda aos abandonados artistas que sempre estiveram na trincheira da resistência em defesa da nossa cultura.

Fala-se muito da pobreza que passa fome e precisa de socorro das doações, dos microempresários que estão falidos, dos informais que penam para sobreviver, das milhares de filas nas portas dos bancos para receber a merreca do auxílio emergencial, dos desempregados e desvalidos, mas pouco sobre a cultura e dos que sempre batalharam para dela tirar o parco sustento.

Os nossos cantores, compositores e músicos, os que fazem literatura, os poetas da vida, os pintores e escultores, os atores e atrizes, os dançarinos, enfim, os que estão inseridos em todas as linguagens artísticas já fazem um tremendo malabarismo para botar comida em suas casas e até passam fome. É a sociedade dos esquecidos, principalmente agora que o governo federal resolveu exterminar os fazedores de cultura como se fossem a escória do país.

No caso específico de Conquista, agora aparece o secretário de Cultura e manda os artistas passarem o chapéu nas ruas, como se dissesse se virem. Fora aqueles editais, inclusive um deles de origem federal (para não dizer que não fez nada), não vejo ações concretas para amparar a nossa cultura e seus produtores.

Infelizmente, a cultura não faz parte da política do governo municipal, e nem a Câmara de Vereadores tem tomado iniciativas concretas para criar um programa permanente nesse sentido, sobretudo nesse momento agudo da pandemia.

É mais que sabido que muitos estão atravessando necessidades, sobretudo músicos que tiravam um dinheirinho nos bares e restaurantes da noite, porque os shows nos calendários de festas (Natal e São João) são escassos e não estão acontecendo por causa da Covid-19. Mesmo assim, esses eventos são pagos com atrasos. A situação ainda é mais grave quando se refere às outras linguagens artísticas que são desprovidas de programas de apoio.

Quanto ao setor privado, os empresários de Vitória da Conquista (sei que serei execrado por isso), com raras exceções, ainda têm aquela mentalidade coronelista de não investir em cultura e esportes.

Suas rendas são carreadas para aplicações em imóveis (os empreendimentos imobiliários estão bombando), fazendas de café, criação de bois e cavalos, e muitos ainda botam o dinheiro debaixo do colchão, ou nos cofres na era moderna.

Um exemplo disso é a triste situação do time de futebol profissional do Vitória da Conquista que por pouco não foi rebaixado do campeonato baiano por falta de recursos para investir em melhores jogadores. Poucas empresas são patrocinadoras, e só recebe alguma coisa quando a equipe está numa boa posição no certame. Ai fica a pergunta: Quem vem primeiro? O ovo ou a galinha?